"MUSEU NACIONAL
(TODAS AS VOZES
DO FOGO)"
ou
(QUE RENASÇA
A "FÊNIX"!)
ou
(NÃO EXISTE ACASO,
QUANDO HÁ
(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados.)
Tudo começou há dez anos e “pegou de jeito” todos os amantes do bom TEATRO. Formada por atores já conhecidos, por tantas montagens, surgiu a “CIA. BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS”, depois de muitos meses de viagem, pelo Brasil com o espetáculo "Gonzagão - A Lenda". Mas foi em 2016, na minha opinião, que a "BARCA" "causou", apresentando uma das melhores surpresas que o TEATRO já havia, até então, oferecido, com um espetáculo difícil de ser identificado, em se tratando de “gênero”, visto que misturava muitas linguagens, porém fácil de se admirar e aplaudir: “Auê”.
Nascida em 2012, para comemorar dez anos “de
janela”, depois de seis consagradas "viagens" ("Gonzagão - A Lenda", "Ópera do Malandro", "Auê", "Suassuna - O Auto do Reino do Sol", "Macunaíma" e "Jacksons do Pandeiro".), a “BARCA” volta a “atracar num cais carioca”,
o Teatro Riachuelo – Rio, com um ótimo espetáculo, “bem a
cara deles”. Eles são ADRÉN ALVES, ALFREDO DEL-PENHO, BETO LEMOS, EDUARDO RIOS
e RICCA BARROS. Na formação inicial, eram sete; Fábio
Enriquez e Renato Luciano “seguiram viagem por
outros mares”. Mas os “tripulantes” da “BARCA”
precisavam de reforços, para mais uma longa viagem, a sétima de seu repertório (Espero
que o espetáculo se mantenha em cartaz por muitos anos, “singrando as águas de
um grande mar chamado Brasil”). A eles, como convidados, se juntaram ADASSA
MARTINS, ALINE GONÇALVES, ANA CARBATTI, FELIPE
FRAZÃO, JÚLIA TIZUMBA, LUCAS DOS PRAZERES e ROSA
PEIXOTO. E o espetáculo em questão é “MUSEU NACIONAL (TODAS AS VOZES DO
FOGO)”.
Quem ama o TEATRO MUSICAL e
acompanha a trajetória da “BARCA”, tão logo eles dão por encerrada a
temporada de um espetáculo, fica atento e ávido por uma nova surpresa. “O
que esses meninos vão aprontar agora?”. E sempre vem algo bom. Desta
vez, confesso, eles foram muito além do que eu poderia imaginar, embora a idealização
da montagem deva ser creditada a ANDRÉA ALVES, “comandante”
de uma “barca” chamada “Sarau Agência de Cultura
Brasileira”. Quando soube que “o próximo trabalho da ‘BARCA’ será
sobre o incêndio do Museu Nacional”, fiquei imaginando como esse
lamentável fato, um dos maiores desastres para a CULTURA mundial,
poderia render um espetáculo teatral, até que consegui conferir e fiquei
encantado com o que vi.
Parceiro,
de longa data, da “Sarau”, VINICIUS CALDERONI foi
capaz de criar uma dramaturgia sobre aquele sinistro e ficou encarregado da
direção da peça. Para avivar a memória, o Museu Nacional foi destruído por um
incêndio de grandes proporções, em setembro de 2018, ano de seu bicentenário,
perdendo grande parte do seu impressionante acervo, de cerca de 20 milhões de
itens. “A tragédia – em todo o seu valor real e simbólico –, foi o ponto
de partida para a criação do espetáculo inédito...”.
“‘MUSEU
NACIONAL (TODAS AS VOZES DO FOGO)’ é um estudo de como um país cultiva,
armazena e conserva sua memória – e todas as suas implicações simbólicas e
concretas. É um mergulho imaginativo e lírico em múltiplas camadas de passado,
para pensar, de maneira urgente, nosso presente imediato e o futuro que estamos
construindo”, resume ANDRÉA ALVES, diretora de produção e
idealizadora do espetáculo. Acho que ANDRÉA foi precisa, em sua
declaração, e confesso que é difícil dizer mais sobre esta peça; é preciso
assistir a ela, já que nem toneladas de palavras seria capaz de traduzir
o que se vê no palco.
O
texto é brilhante e, se eu tivesse que destacar alguma parte, talvez
ficasse com um longo texto dito pelo ator LUCAS DOS PRAZERES, que se identifica como o “fogo”.
“O mais antigo remanescente humano encontrado no país – a mulher de
traços afro-indígenas, batizada de Luzia –, cujo crânio resistiu ao incêndio no
Museu, ganha vida e assume o papel de narradora atemporal do espetáculo,
criando pontes entre diferentes momentos da história, na pele da atriz ANA
CARBATTI”. Faço, porém, uma ressalva: para mim, o espetáculo ficou
muito longo, - duração de 120 minutos -, o que não é um problema,
entretanto, se ESTIVESSE NA MINHA dependência, eu faria a subtração de algumas cenas, ainda que
sejam muito boas as ideias que o dramaturgo teve, para criar o roteiro. Isso
não desabona, em nada, a montagem. Apenas, por mais que seja excelente o produto final, fica um pouco "cansativo", o que, talvez, possa ter acontecido só comigo, visto que estava extremamente exausto, recém-chegado de uma cansativa, mas adorável, viagem.
A estrutura dramatúrgica do espetáculo, conquanto não haja intervalos entre atos, é desenvolvida em três partes distintas - detalhe, talvez, nem percebido pelo "espectador comum" -, com focos lançados sobre diferentes intenções: na primeira, num tom mais lírico, identificamos uma espécie de visita guiada, pelo edifício interditado pelo fogo, pelos setores do museu e suas peças, sob a condução de Luzia; depois, num tom mais paródico, cáustico, o Museu Nacional se transforma em “uma metáfora da memória do Brasil”, começando pela origem escravocrata, as oligarquias brancas, os povos originários e os povos negros; finalmente, a parte que, com certeza, é a que mais toca o espectador, quando, de forma mais realista, sóbria, sem artifícios, é tratado o momento atual, a devastação do museu e do próprio país.
Ao
dirigir atores, num texto escrito por si próprio, parece-me que o diretor se
sente mais à vontade. Afinal de contas, ninguém melhor do que ele para
codificar, teatralmente, o que deseja comunicar à plateia. As soluções que VINÍCIUS
encontrou, para cada cena, são sempre de excelente qualidade. Aplaudo essa
direção.
Com
relação aos elementos de criação, o conjunto cenografia / figurinos / iluminação
atua harmoniosamente, do ponto de vista da plasticidade, em prol de uma bela
encenação.
Para o tipo de trabalho que caracteriza a “BARCA”,
dinâmico, por excelência, é necessário que haja um palco bem amplo e vazio, com
o mínimo de elementos cenográficos, o que ANDRÉ CORTEZ seguiu à risca, em
sua proposta de cenografia.
Cores múltiplas, tecidos estampados e cortes incomuns, nas vestes
dos personagens, também estão presentes, nesta peça, como em todas as obras do Grupo,
e KIKA LOPES e ROCIO MOURE, presentes também nos trabalhos anteriores
da CIA., só fizeram seguir a mesma linha de criação das outras montagens,
com relação aos figurinos, todos favoráveis às muitas movimentações de cada um dos atores, com uma bela consequência.
Sem, absolutamente, desmerecer os outros dois,
dos três elementos de criação, valorizo mais o desenho de luz, criado por WAGNER ANTÔNIO,
que quase funciona como um 13º actante em cena. Todas as luzes e sua ausência,
todas as intensidades e sombras dialogam, muito de perto, com tudo o que está
sendo representado, valorizando, em muito, cada cena.
Cerca de 20 canções inéditas, sob a
forma de diversos ritmos genuinamente brasileiros, com letras agregadas à dramaturgia da peça, como deve sempre ocorrer num musical,
estão incluídas na trilha sonora de “MUSEU NACIONAL...”, todas compostas
por ALFREDO DEL-PENHO e BETO LEMOS, os quais são
responsáveis pela excelente direção musical do espetáculo, e, também,
por VINICIUS CALDERONI e pelos atores, músicos e
compositores ADRÉN ALVES, LUCAS DOS PRAZERES, RICCA
BARROS e ROSA PEIXOTO, cantadas e tocadas por todo o
elenco. Todos os 12 artistas são bastante versáteis e, além da atuação e
do canto, também tocam vários instrumentos.
FABRÍCIO LICURSI executou um ótimo trabalho de direção de movimento e coreografia.
A reunião dos artistas da “BARCA” com
os convidados “rendeu uma liga” irrepreensível. Quando faço um
esforço hercúleo, para tentar apontar quem faz a melhor presença naquele palco,
percebo que só fiz perder meu tempo, uma vez que me parece haver um nivelamento
total, entre todas as atuações, com o detalhe de que cada um deles tem seu(s)
momento(s) de “solo”, a oportunidade de mostrar, com mais
profundidade, seu talento individual. ADRÉN ALVES, ALFREDO
DEL-PENHO, BETO LEMOS, EDUARDO RIOS, RICCA
BARROS, ADASSA MARTINS, ALINE GONÇALVES, ANA
CARBATTI, FELIPE FRAZÃO, JÚLIA TIZUMBA, LUCAS
DOS PRAZERES e ROSA PEIXOTO são Artistas “com ‘A’ maiúsculo”.
Não há personagens fixos, de sorte que o elenco se alterna, em dezenas de
personagens, sejam pessoas ou objetos, o que é muito interessante e um grande
desafio de interpretação.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Vinicius Calderoni
Direção: Vinícius Calderoni
Assistência de Direção: Leticia Medella
Elenco: CIA. BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS (Adrén
Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca
Barros) e CONVIDADOS: Adassa Martins, Aline Gonçalves, Ana
Carbatti, Felipe Frazão, Júlia Tizumba, Lucas dos
Prazeres e Rosa Peixoto
Direção Musical: Alfredo
Del-Penho e Beto Lemos
Música Original: Adrén
Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Lucas dos
Prazeres, Ricca Barros, Rosa Peixoto e Vinicius Calderoni
Direção de Movimento e Coreografia: Fabricio
Licursi
Cenografia: André Cortez
Figurino: Kika Lopes e Rocio Moure
Iluminação: Wagner Antônio
Desenho de Som: André
Breda e Gabriel D’Angelo
Caracterização: Cora Marinho
Direção de Produção e Idealização: Andréa
Alves
Coordenação de Produção: Rafael Lydio
Produção Executiva: Matheus Castro
Texto “Museu do Futuro”: Ana
Carbatti e Luiza Loroza
Colaboração texto “Museu do Futuro”: Aline Gonçalves, Felipe Frazão e Lucas dos Prazeres
Fotos de Cena: Annelize Tozzeto
Patrocínio “Master”: Instituto Cultural Vale
Patrocínio: Eletrobras Furnas
SERVIÇO:
Temporada: De 30 de março a 30 de abril de
2023.
Local: Teatro Riachuelo - Rio.
Endereço: Rua do Passeio, nº 38/40 – Centro –
Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3554-2934.
Dias e Horários: De quinta-feira a sábado, às 20h;
domingo, às 18h.
OBSERVAÇÃO: Nos dias 22 e 29 de abril, haverá
sessão extra, às 16h, além das regulares, às 20h.
Valor dos Ingressos (inteira / meia entrada): R$120,00 e R$60,00 (Plateia VIP); R$100,00 e R$50,00 (Plateia); R$80,00 e R$40,00 (Balcão Nobre); e R$50,00 e R$25,00 (Balcão Simples).
Vendas: sympla.com.br e bilheteria (Na Bilheteria, de terça-feira a sábado, das
12h às 20h, e domingos e feriados, das 12h às 19h).
Duração: 120 minutos.
Classificação Indicativa: 12 anos.
Capacidade: 999 lugares.
Estacionamento no local.
Acessibilidade.
Haverá audiodescrição e libras em todas as sessões.
Aprendi
muita coisa sobre a história do “MUSEU” e discordo, frontalmente, de uma
pessoa que, ao me perguntar se eu havia gostado do espetáculo, e eu disse que
sim, que gostara muito, achou um "absurdo" e rotulou o musical como “panfletário”. Ele
passa muito longe de tal adjetivo; afasta-se dadialética e se aproxima da lógica. No momento, no Brasil, não só uma, mas várias coisas estão “fora
da ordem” – muitas surgidas nos últimos quatro anos de obscurantismo
por que passou o país -, que se faz necessário, sim, gritar, e muito,
apontar as mazelas e cobrar, das autoridades, um maior respeito à Ciência e à
CULTURA, e a valorização desses dois esteios de uma civilização.
Recomendo, com o maior entusiasmo, o
espetáculo.
FOTOS: ANNELIZE TOZZETO
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!
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O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
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