terça-feira, 18 de abril de 2023

 "MUSEU NACIONAL

(TODAS AS VOZES

DO FOGO)"

ou

(QUE RENASÇA

A "FÊNIX"!)

ou

(NÃO EXISTE ACASO,

 QUANDO HÁ

NEGLIGÊNCIA.)


(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados.)

 



         Tudo começou há dez anos e “pegou de jeito” todos os amantes do bom TEATRO. Formada por atores já conhecidos, por tantas montagens, surgiu a “CIA. BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS”, depois de muitos meses de viagem, pelo Brasil com o espetáculo "Gonzagão - A Lenda". Mas foi em 2016, na minha opinião, que a "BARCA" "causou", apresentando uma das melhores surpresas que o TEATRO já havia, até então, oferecido, com um espetáculo difícil de ser identificado, em se tratando de “gênero”, visto que misturava muitas linguagens, porém fácil de se admirar e aplaudir: “Auê”.




          Nascida em 2012, para comemorar dez anos “de janela”, depois de seis consagradas "viagens" ("Gonzagão - A Lenda", "Ópera do Malandro", "Auê", "Suassuna - O Auto do Reino do Sol", "Macunaíma" e "Jacksons do Pandeiro".), a “BARCA” volta a “atracar num cais carioca”, o Teatro Riachuelo – Rio, com um ótimo espetáculo, “bem a cara deles”. Eles são ADRÉN ALVES, ALFREDO DEL-PENHOBETO LEMOSEDUARDO RIOSRICCA BARROS. Na formação inicial, eram sete; Fábio Enriquez e Renato Luciano “seguiram viagem por outros mares”. Mas os “tripulantes” da “BARCA” precisavam de reforços, para mais uma longa viagem, a sétima de seu repertório (Espero que o espetáculo se mantenha em cartaz por muitos anos, “singrando as águas de um grande mar chamado Brasil”). A eles, como convidados, se juntaram ADASSA MARTINSALINE GONÇALVESANA CARBATTIFELIPE FRAZÃOJÚLIA TIZUMBALUCAS DOS PRAZERES e ROSA PEIXOTO. E o espetáculo em questão é “MUSEU NACIONAL (TODAS AS VOZES DO FOGO)”.




     Quem ama o TEATRO MUSICAL e acompanha a trajetória da “BARCA”, tão logo eles dão por encerrada a temporada de um espetáculo, fica atento e ávido por uma nova surpresa. “O que esses meninos vão aprontar agora?”. E sempre vem algo bom. Desta vez, confesso, eles foram muito além do que eu poderia imaginar, embora a idealização da montagem deva ser creditada a ANDRÉA ALVES, “comandante” de uma “barca” chamada “Sarau Agência de Cultura Brasileira”. Quando soube que “o próximo trabalho da ‘BARCA’ será sobre o incêndio do Museu Nacional”, fiquei imaginando como esse lamentável fato, um dos maiores desastres para a CULTURA mundial, poderia render um espetáculo teatral, até que consegui conferir e fiquei encantado com o que vi.




       Parceiro, de longa data, da “Sarau”, VINICIUS CALDERONI foi capaz de criar uma dramaturgia sobre aquele sinistro e ficou encarregado da direção da peça. Para avivar a memória, o Museu Nacional foi destruído por um incêndio de grandes proporções, em setembro de 2018, ano de seu bicentenário, perdendo grande parte do seu impressionante acervo, de cerca de 20 milhões de itens. “A tragédia – em todo o seu valor real e simbólico –, foi o ponto de partida para a criação do espetáculo inédito...”.




        “‘MUSEU NACIONAL (TODAS AS VOZES DO FOGO)’ é um estudo de como um país cultiva, armazena e conserva sua memória – e todas as suas implicações simbólicas e concretas. É um mergulho imaginativo e lírico em múltiplas camadas de passado, para pensar, de maneira urgente, nosso presente imediato e o futuro que estamos construindo”, resume ANDRÉA ALVES, diretora de produção e idealizadora do espetáculo. Acho que ANDRÉA foi precisa, em sua declaração, e confesso que é difícil dizer mais sobre esta peça; é preciso assistir a ela, já que nem toneladas de palavras seria capaz de traduzir o que se vê no palco.




         O texto é brilhante e, se eu tivesse que destacar alguma parte, talvez ficasse com um longo texto dito pelo ator LUCAS DOS PRAZERES, que se identifica como o “fogo”. “O mais antigo remanescente humano encontrado no país – a mulher de traços afro-indígenas, batizada de Luzia –, cujo crânio resistiu ao incêndio no Museu, ganha vida e assume o papel de narradora atemporal do espetáculo, criando pontes entre diferentes momentos da história, na pele da atriz ANA CARBATTI”. Faço, porém, uma ressalva: para mim, o espetáculo ficou muito longo, - duração de 120 minutos -, o que não é um problema, entretanto, se ESTIVESSE NA MINHA dependência, eu faria a subtração de algumas cenas, ainda que sejam muito boas as ideias que o dramaturgo teve, para criar o roteiro. Isso não desabona, em nada, a montagem. Apenas, por mais que seja excelente o produto final, fica um pouco "cansativo", o que, talvez, possa ter acontecido só comigo, visto que estava extremamente exausto, recém-chegado de uma cansativa, mas adorável, viagem.




 A estrutura dramatúrgica do espetáculo, conquanto não haja intervalos entre atos, é desenvolvida em três partes distintas - detalhe, talvez, nem percebido pelo "espectador comum" -, com focos lançados sobre diferentes intenções: na primeira, num tom mais lírico, identificamos uma espécie de visita guiada, pelo edifício interditado pelo fogo, pelos setores do museu e suas peças, sob a condução de Luzia; depois, num tom mais paródico, cáustico, o Museu Nacional se transforma em “uma metáfora da memória do Brasil”, começando pela origem escravocrata, as oligarquias brancas, os povos originários e os povos negros; finalmente, a parte que, com certeza, é a que mais toca o espectador, quando, de forma mais realista, sóbria, sem artifícios, é tratado o momento atual, a devastação do museu e do próprio país.       



 

       Ao dirigir atores, num texto escrito por si próprio, parece-me que o diretor se sente mais à vontade. Afinal de contas, ninguém melhor do que ele para codificar, teatralmente, o que deseja comunicar à plateia. As soluções que VINÍCIUS encontrou, para cada cena, são sempre de excelente qualidade. Aplaudo essa direção.




  Com relação aos elementos de criação, o conjunto cenografia / figurinos / iluminação atua harmoniosamente, do ponto de vista da plasticidade, em prol de uma bela encenação.




Para o tipo de trabalho que caracteriza a “BARCA”, dinâmico, por excelência, é necessário que haja um palco bem amplo e vazio, com o mínimo de elementos cenográficos, o que ANDRÉ CORTEZ seguiu à risca, em sua proposta de cenografia.





 Cores múltiplas, tecidos estampados e cortes incomuns, nas vestes dos personagens, também estão presentes, nesta peça, como em todas as obras do Grupo, e KIKA LOPES e ROCIO MOURE, presentes também nos trabalhos anteriores da CIA., só fizeram seguir a mesma linha de criação das outras montagens, com relação aos figurinos, todos favoráveis às muitas movimentações de cada um dos atores, com uma bela consequência.




  Sem, absolutamente, desmerecer os outros dois, dos três elementos de criação, valorizo mais o desenho de luz, criado por WAGNER ANTÔNIO, que quase funciona como um 13º actante em cena. Todas as luzes e sua ausência, todas as intensidades e sombras dialogam, muito de perto, com tudo o que está sendo representado, valorizando, em muito, cada cena.






 Cerca de 20 canções inéditas, sob a forma de diversos ritmos genuinamente brasileiros, com letras agregadas à dramaturgia da peça, como deve sempre ocorrer num musical, estão incluídas na trilha sonora de “MUSEU NACIONAL...”, todas compostas por ALFREDO DEL-PENHO e BETO LEMOS, os quais são responsáveis pela excelente direção musical do espetáculo, e, também, por VINICIUS CALDERONI e pelos atores, músicos e compositores ADRÉN ALVESLUCAS DOS PRAZERESRICCA BARROS e ROSA PEIXOTO, cantadas e tocadas por todo o elenco. Todos os 12 artistas são bastante versáteis e, além da atuação e do canto, também tocam vários instrumentos.




 FABRÍCIO LICURSI executou um ótimo trabalho de direção de movimento e coreografia.




  A reunião dos artistas da “BARCA” com os convidados “rendeu uma liga” irrepreensível. Quando faço um esforço hercúleo, para tentar apontar quem faz a melhor presença naquele palco, percebo que só fiz perder meu tempo, uma vez que me parece haver um nivelamento total, entre todas as atuações, com o detalhe de que cada um deles tem seu(s) momento(s) de “solo”, a oportunidade de mostrar, com mais profundidade, seu talento individual. ADRÉN ALVES, ALFREDO DEL-PENHO, BETO LEMOS, EDUARDO RIOS, RICCA BARROS, ADASSA MARTINS, ALINE GONÇALVES, ANA CARBATTI, FELIPE FRAZÃO, JÚLIA TIZUMBA, LUCAS DOS PRAZERES e ROSA PEIXOTO são Artistas “com ‘A’ maiúsculo”. Não há personagens fixos, de sorte que o elenco se alterna, em dezenas de personagens, sejam pessoas ou objetos, o que é muito interessante e um grande desafio de interpretação.




 

 FICHA TÉCNICA: 

Texto: Vinicius Calderoni

Direção: Vinícius Calderoni

Assistência de Direção: Leticia Medella

 

Elenco: CIA. BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS (Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros) e CONVIDADOS: Adassa Martins, Aline Gonçalves, Ana Carbatti, Felipe Frazão, Júlia Tizumba, Lucas dos Prazeres e Rosa Peixoto

 

Direção Musical: Alfredo Del-Penho e Beto Lemos

Música Original:  Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Lucas dos Prazeres, Ricca Barros, Rosa Peixoto e Vinicius Calderoni

Direção de Movimento e Coreografia: Fabricio Licursi

Cenografia: André Cortez

Figurino: Kika Lopes e Rocio Moure

Iluminação: Wagner Antônio

Desenho de Som: André Breda e Gabriel D’Angelo

Caracterização: Cora Marinho

Direção de Produção e Idealização: Andréa Alves

Coordenação de Produção: Rafael Lydio

Produção Executiva: Matheus Castro

Texto “Museu do Futuro”: Ana Carbatti e Luiza Loroza

Colaboração texto “Museu do Futuro”: Aline Gonçalves, Felipe Frazão e Lucas dos Prazeres  

Fotos de Cena: Annelize Tozzeto 

Patrocínio “Master”: Instituto Cultural Vale

Patrocínio: Eletrobras Furnas 

 


 





 SERVIÇO:

Temporada: De 30 de março a 30 de abril de 2023.

Local: Teatro Riachuelo - Rio.

Endereço: Rua do Passeio, nº 38/40 – Centro – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 3554-2934.

Dias e Horários: De quinta-feira a sábado, às 20h; domingo, às 18h.

OBSERVAÇÃO: Nos dias 22 e 29 de abril, haverá sessão extra, às 16h, além das regulares, às 20h.

Valor dos Ingressos (inteira / meia entrada): R$120,00 e R$60,00 (Plateia VIP); R$100,00 e R$50,00 (Plateia); R$80,00 e R$40,00 (Balcão Nobre); e R$50,00 e R$25,00 (Balcão Simples).

Vendas: sympla.com.br e bilheteria (Na Bilheteria, de terça-feira a sábado, das 12h às 20h, e domingos e feriados, das 12h às 19h).

Duração: 120 minutos.

Classificação Indicativa: 12 anos.

Capacidade: 999 lugares.

Estacionamento no local.

Acessibilidade.

Haverá audiodescrição e libras em todas as sessões.

 


 



      Aprendi muita coisa sobre a história do “MUSEU” e discordo, frontalmente, de uma pessoa que, ao me perguntar se eu havia gostado do espetáculo, e eu disse que sim, que gostara muito, achou um "absurdo" e rotulou o musical como “panfletário”. Ele passa muito longe de tal adjetivo; afasta-se dadialética e se aproxima da lógica. No momento, no Brasil, não só uma, mas várias coisas estão “fora da ordem” – muitas surgidas nos últimos quatro anos de obscurantismo por que passou o país -, que se faz necessário, sim, gritar, e muito, apontar as mazelas e cobrar, das autoridades, um maior respeito à Ciência e à CULTURA, e a valorização desses dois esteios de uma civilização.




Recomendo, com o maior entusiasmo, o espetáculo.





FOTOS: ANNELIZE TOZZETO

 

VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

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