“ALZIRA POWER”
OU
(UMA ANARQUISTA,
“GRAÇAS A DEUS”!)
(NOTA: Em função da grande
quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do
“31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São
Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico,
de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais
objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados e a escritura das
críticas.)
Por motivos pessoais, por uma questão de memória afetiva, tinha
grande interesse em assistir à peça “ALZIRA POWER”, quando de sua
primeira temporada no Teatro Gláucio Gill, no Rio de Janeiro,
porém, infelizmente, não tive a oportunidade. Finalmente, consegui conferir a atual
encenação, no apagar das luzes de sua segunda temporada, no Teatro Laura
Alvim (Casa de Cultura Laura Alvim) (VER SERVIÇO.).
Trata-se de uma leitura bem contemporânea, feita pelo diretor,
JOÃO FONSECA, de um texto que, embora escrito em 1969 e encenado,
pela primeira vez, no mesmo ano, no Teatro Ruth Escobar, São Paulo, em plena
ditadura militar, continua atualíssimo. Seu autor é o consagrado dramaturgo
ANTÔNIO BIVAR, infelizmente falecido, já octogenário, em julho de
2020, mais uma das vítimas do “vírus assassino”.
“ALZIRA POWER”, que tem um subtítulo, “O Cão Siamês”, é o meu texto preferido, do autor, conquanto outros me agradem bastante, como “O Princípio É Sempre Difícil, Cordélia Brasil. Vamos Tentar Outra vez” (“Prêmio Molière - 1970”), “Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã” e “Longe Daqui, Aqui Mesmo”, todas da década de 1970.
SINOPSE:
Alzira (STELLA MARIA RODRIGUES) é uma funcionária pública aposentada,
mulher madura, culta e solitária. E “estranha”.
Estranha aos olhos dos outros, por tomar atitudes pouco comuns, para seu
tempo, encara a vida com a rebeldia dos que se recusam a se enquadrar num padrão de comportam,ento "nomal".
Um dia, deixando, propositalmente, a porta de casa aberta e fingindo ter
perdido seu cãozinho, atrai o jovem vendedor Ernesto (ANDRÉ
CELANT) para dentro.
O rapaz, de 25 anos (Alzira é uma jovem senhora, de 56.),
casado e com dois filhos, é uma pessoa sem sonhos e conformada com sua vida
mediana.
As provocações e jogos mentais de Alzira fazem com que Ernesto
se sinta, cada vez mais, humilhado e pressionado.
A situação se agrava, quando ela tranca a porta e joga a chave pela
janela.
Acuado, tenta se desvencilhar, seduzindo a mulher.
Mas o anarquismo de Alzira não se rende aos métodos previsíveis de Ernesto.
O ótimo texto, de BIVAR, flerta um pouco com
situações surrealistas e nos proporciona, “a cada esquina”, uma
surpresa maior que a anterior, fator que leva o público a ficar bastante atento
ao que se passa no palco. É recheado de situações esdrúxulas, temperado com humor ácido. O dramaturgo explora, como
temas principais desta COMÉDIA Dramática, uma reflexão sobre solidão,
incomunicabilidade, violência e ruptura de parâmetros.
Antônio Bivar.
Fiquei extremamente satisfeito
com a direção, de JOÃO FONSECA, que não titubeou em acrescentar,
em sua encenação, elementos modernos, com referências bem atuais, no texto,
além da quebra da quarta parede, com rubricas ditas pelo casal de atores ou estes
fazendo comentários fora do texto, mas totalmente pertinentes. Sua ideia de fazer
com que, ao adentrar o auditório do Teatro, o público já encontre uma
mulher sentada numa poltrona, lendo um livro (Alzira ou STELLA?), é excelente
e funciona bastante, pois esta passa a fazer comentários, direcionados à
plateia, sobre o que está lendo. Isso vai criando uma certa “intimidade”
entre o público e ela, o que, por outro lado, confunde algumas pessoas, a ponto
de, como aconteceu na sessão em que estive presente, um homem perguntar à atriz
quem estava falando com ele (Alzira ou STELLA?). Mas vejo essa
possibilidade como válida.
A despeito de ser uma produção
modesta, retrato dos dias atuais, para os produtores, e não contar com
nenhum tipo de patrocínio, é um espetáculo bastante “honesto” e
feito com capricho, dentro das possibilidades orçamentárias, com total respeito
ao público.
Bem fiel à época em que se passa
a ação, o cenário, de NELLO MARRESE, transporta o espectador a
uma sala de estar de uma casa modesta, pertencente a uma funcionária pública,
aposentada, dos final da década de 1969 e início dos anos 70: uma
poltrona confortável; um certo ar de desarrumação, próximo a um “caos”
estético, representado por muitos livros e discos de vinil, espalhados no chão,
próximo à referida poltrona. Um móvel, sobre o qual se encontram alguns objetos,
com destaque para um abajur de época, e algumas malas, no chão, completam a cenografia,
que ocupa todo o espaço cênico. O diretor optou por não haver, no palco,
dois elementos importantes, no cenário: uma porta, por onde o
rapaz é “abduzido”, e uma janela, sobre a qual não falarei
mais nada, para não dar “spoilers”.
NELLO também é responsável pelos figurinos,
totalmente inseridos no contexto do espetáculo.
Uma iluminação bem simples,
todavia ajustada à proposta da direção, é assinada por PAULO CESAR MEDEIROS.
JOÃO FONSECA foi buscar, no universo da dança, um dos mais
competentes coreógrafos brasileiros, ALEX NEORAL, para fazer a direção
de movimento do espetáculo. O destaque maior para esse elemento de criação
se faz presente numa cena, quase ao final da encenação, quando Alzira
propõe, à sua “vítima”, um “flashback” e o casal de
atores reproduz trechos da peça, até então, já encenados, como um filme visto
de trás para frente.
Tanto a veterana, e excelente, atriz
e cantora, STELLA MARIA RODRIGUES, que sempre se destaca nos
musicais em que atua, quanto o jovem ator ANDRÉ CELANT, cuja avó
interpretou a personagem feminina da peça, na década de 1970, defendem
muito bem seus personagens, apostando em tudo de melhor e de mais “estranho”
que ambos carregam em suas “personas”. A plateia, de certa forma,
se identifica com o “drama” por que passa o personagem masculino, nas "garras" daquela “louca”, mas não consegue deixar de rir com as sandices
ditas e praticadas por Alzira, muito em função do grande carisma
e capacidade de interação de STELLA.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia: Antônio Bivar
Direção: João Fonseca
Elenco: Stella Maria Rodrigues e André Celant
Cenografia: Nello Marrese
Figurino: Nello Marrese
Iluminação: Paulo César Medeiros
Direção de Movimento: Alex Neoral
"Design" Gráfico: Candela Comunicação
Produção: Colombo Produções
Assessoria de Imprensa: Julyana Caldas – JC Assessoria de
Imprensa
Gênero: COMÉDIA Dramática.
SERVIÇO:
Temporada: De 24 de março a 23 de abril de 2023.
Local: Teatro Laura Alvim.
Endereço: Avenida Vieira Souto, nº 176 - Ipanema – Rio de Janeiro.
Capacidade: 190 lugares, com acessibilidade.
Dias e Horários: Às sextas-feiras e sábados, às 20h; domingos, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 55 minutos.
Classificação Indicativa: 16 anos.
Gênero: COMÉDIA Dramática.
Por tudo exposto, ainda que de forma bem sucinta, por total
falta de tempo e acúmulo de trabalho, recomendo este espetáculo, cuja temporada
terminaria hoje, dia 16 de abril de 2023, mas, devido ao sucesso de público,
foi esticada até o próximo domingo, dia 23.
FOTOS: ROBERTO CARDOSO
GALERIA PARTICULAR:
Com João Fonseca.
Com Stella Maria Rodrigues,
André Celant e João Fonseca.
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