quarta-feira, 26 de abril de 2017


.VIOLETA.EU

.ELAS.JULIETA.

(RELEITURA GENIAL,

E MUITO CRIATIVA,

DA HISTÓRIA

DOS AMANTES DE VERONA.)



 


            Não sei como reagiriam os shakespearianos ortodoxos, diante de uma montagem totalmente moderna e criativa, revolucionária, arrojada, do clássico “ROMEU E JULIETA”, em cartaz, infelizmente, apenas até o próximo dia 30 (abril de 2017), no Teatro II do SESC Tijuca.

Talvez se revoltassem ou, no mínimo, se retirariam do teatro, indignados com uma, na visão deles, “blasfêmia”, uma “heresia’, cometida contra o bardo inglês, o grande poeta e, acima de tudo, dramaturgo WILLIAM SHAKESPEARE, que nasceu e morreu num dia 23 de abril. E foi no último dia 23 de abril que tive o grato prazer de assistir a “.VIOLETA.EU.ELAS.JULIETA”, uma espetacular releitura de uma das mais conhecidas e apreciadas peças de SHAKESPEARE, sempre encenada, há mais de quatro séculos (foi escrita entre 1591 e 1595), recebendo tratamentos os mais diversos possíveis.

            Já perdi a conta de a quantas versões desse magnífico texto já assisti e guardo gratas recordações de várias, como a magnífica do Grupo Galpão e outra, tão excelente quanto, feita por quatro excelentes atores, que recebeu o nome de “RJ de Shakespeare”.



A versão aqui analisada tem a duração de apenas 60 minutos, e nisso reside um dos motivos que me levaram a gostar tanto do espetáculo, uma vez que a genialidade do adaptador e diretor da peça, RODRIGO TURAZZI, conseguiu contar a tragédia, aqui com algumas pinceladas de comédia, sem abortar nada do que seja necessário para a compreensão da narrativa. Talvez, para alguns, que não conheçam a história – o que acredito se resumir a uma ínfima parcela dos que vão a TEATRO – possa o enredo parecer um pouco “complicado”, uma vez que um ator e duas atrizes fazem todos os papéis da peça, cerca de quinze, alternando-se em personagens, de ambos os sexos. Um mesmo personagem é feito por mais de um ator/atriz, assim como o ator representa personagens femininas e as duas atrizes interpretam, de vez em quando, os homens da trama.

            A adaptação, eliminando o que poderia ser considerado “gorduras” (PELO AMOR DE DEUS! NÃO ESTOU DIZENDO QUE HÁ “GORDURAS” NA VERSÃO ORIGINAL!!!), ganha um dinamismo impressionante, graças à brilhante e inventiva direção de TURAZZI e a perfeita interpretação do trio: RODRIGO TURAZZI, DUDA PAIVA e CAROLINA ALFRADIQUE.




            São três jovens artistas completos, talentosíssimos, prontos para o estrelato, que sabem explorar a parte corporal e a voz, para o que devem ter trabalhado bastante. Fazem personagens jovens, velhos, caricatos com uma naturalidade impressionante.

            Não consigo pôr nenhum dos três num patamar superior ao dos outros. O trio disputa a mesma plataforma, em termos de competência, brindando a plateia com um trabalho digno de todos os elogios. E não tenham a menor dúvida de que se trata de um árduo trabalho.

            RODRIGO foi muito feliz na sua primeira experiência como diretor e concebeu esta montagem da forma mais despojada possível de elementos cênicos (a crise tem suas vantagens). Praticamente, o que vemos é um palco nu, com apenas uma mesa, ao lado, sobre a qual estão duas outras, pequenas, uma de som e outra de luz, sendo que estes dois elementos são operados, o tempo todo, pelos três em cena, tarefa das mais difíceis, uma vez que não se pode pensar na possibilidade de erros. Quanta responsabilidade!!!

            Os figurinos são simples: apenas malhas pretas e um casaco, que é uma espécie de curinga, servindo a várias cenas, como adereços e complementos do próprio figurino. Excelente ideia!

            Como objetos de cena, o diretor optou por cinco pedaços de um conduíte, de plástico flexível, na cor preta, que se transformam, contando com a imaginação e percepção da plateia, em vários objetos de cena, principalmente as armas utilizadas nos duelos, entre os Capuleto e os Montecchio. Outra brilhante ideia!




Para RODRIGO TURAZZI, um multiartista, à frente da MÚLTIPLA CIA. TEATRAL, que realiza o espetáculo, e de diversos outros trabalhos nas Artes Cênicas e Audiovisual, “referenciar o amor de ROMEU e JULIETA é, também, trazer, à tona, reflexões sobre o amor, a mulher e as relações afetivas contemporâneas, com muito humor e dinamismo. Essa clássica história de amor atravessa o tempo e se mantém viva, como uma potente forma de se olhar para os relacionamentos atuais.

A ficha técnica, reúne profissionais renomados, como os colaboradores HELENA VARVAKI, atriz consagrada e premiada, e CIRLLO LUNA, fundador da MÚLTIPLA CIA. TEATRAL; o excelente iluminador RENATO MACHADO, que projetou uma linda luz; o figurinista expoente da nova geração, TIAGO RIBEIRO; e GERALO CÔRTES, brilhante na sua trilha sonora original.

Acho totalmente desnecessária uma sinopse da peça, entretanto passo a reproduzir a "sugestão" feita pela produção do espetáculo, mais do que suficiente, para aguçar o interesse de quem me lê:  



SINOPSE SUGERIDA:
Comédia dramática faz reflexões sobre o amor e a mulher, nas relações afetivas contemporâneas, a partir da clássica tragédia “ROMEU E JULIETA”.




FICHA TÉCNICA:
Texto Original: William Shakespeare
Adaptação: Rodrigo Turazzi
Direção: Rodrigo Turazzi
Elenco: Carolina Alfradique, Duda Paiva e Rodrigo Turazzi
Colaboração Artística: Helena Varvaki e Cirillo Luna
Iluminação: Renato Machado
Cenário: Rodrigo Turazzi
Figurino: Tiago Ribeiro
Trilha Sonora Original: Geraldo Côrtes
Produção: Turazzi Produções
Realização: Múltipla Companhia Teatral
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias (Carlos Gilberto e Fábio Amaral)


 


SERVIÇO:
Temporada: De 7 a 30 de abril de 2017.
Local: Teatro II – SESC Tijuca.
Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539, Tijuca – Rio de Janeiro.
Telefone – (21) 3238-2167.
Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 19h.
Capacidade: 50 lugares
Valor dos Ingressos: R$25,00 (inteira), R$12,00 ( meia-entrada*) e R$ 6,00 (Associados SESC). *Concedida, mediante apresentação de documentos comprobatórios, a estudantes, professores, idosos, pessoas com deficiência.
Duração: 60 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Gênero: Comédia Dramática
Horário de funcionamento da bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 7h às 20h, sábado e domingo, das 9h às 20h.
Reservas para grupos: produção.multipla@gmail.com
Formas de pagamento: Dinheiro e cartão.




 



           Por ter gostado bastante da proposta e por acreditar no potencial de todos os envolvidos no projeto, principalmente em RODRIGO, DUDA e CAROLINA, pelo que me mostraram em cena, recomendo o espetáculo, na certeza de que os que seguirem a minha indicação não haverão de se arrepender.


 




(FOTOS: RODRIGO TURAZZI.)























                                                                                                            





segunda-feira, 24 de abril de 2017


INIMIGO OCULTO

 

(MA NON TROPPO...)



 



 
 


O mestre disse que “TODO ARTISTA TEM DE IR AONDE O POVO ESTÁ”. O mestre tem razão, mas eu acho que o povo também deve ir à procura do artista. No caso do TEATRO, TEM de ir ao teatro, mas também DEVE ir a outro qualquer espaço em que esteja sendo apresentado um espetáculo teatral, seja esse espaço qual for.

Como crítico teatral e jurado de um Prêmio de TEATRO, o PRÊMIO BOTEQUIM CULTURAL, além de colaborador, no “site” “RIO ENCENA”, sinto-me na obrigação, E COM MUITO PRAZER, de ir ao encontro do artista, numa lona cultural do mais distante subúrbio, numa fábrica desativada, num prédio abandonado, na rua, num apartamento... E não apenas os “globais” me interessam. Procuro prestigiar e incentivar a todos.

No último sábado (22 de abril de 2017), visitei um apartamento, em Copacabana (por questão de segurança, o endereço só é revelado a quem se propõe a assistir à peça, minutos antes do seu início, num ponto de encontro, marcado próximo ao local da exibição), para assistir a um espetáculo, feito para apenas dez espectadores.
 
 
 
 
 






Tudo acontece num apartamento minúsculo, classe média, onde as pessoas se acotovelam, a fim de assistir, durante 60 minutos, a pequenas cenas, que retratam o cotidiano da violência doméstica, que não dá mais para ser varrida para debaixo do tapete.

O tema, felizmente, vem sendo discutido cada vez mais; infelizmente, porém, quase na mesma proporção em que os crimes contra a mulher continuam acontecendo, a despeito de uma “Lei Maria da Penha” e das denúncias que vêm a público todos os dias, pelas mais diversas mídias.

 
 

 
 
 
 
 
 

 
SINOPSE:
 
 
Um marido que estupra a esposa, por ter certeza de que a certidão de casamento é um alvará de consentimento.
 
O tio, pastor, desejando “salvar” a castidade de uma sobrinha, prestes a abusar da pobre jovem.
 
Um namorado machista e possessivo, que culpa as mulheres que “pedem para ser estupradas”, por seu “mau comportamento”. 
 
Um marido que não procura a mulher por não achá-la mais atraente e a ignora até como ser humano.
 
Estupro coletivo.
 
Essas são algumas das situações fictícias, na prática teatral, porém mais que realistas, no dia a dia, no Brasil e no mundo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 

 

Um pouco do “release” da peça, enviado pela assessoria de imprensa (TÁSSIA DI CARVALHO), com pequenas interferências:

“‘INIMIGO OCULTO’ revela nuances da violência doméstica no Brasil. Você pode pensar que situações de violência contra a mulher estão longe do seu cotidiano. Mas será que estão mesmo? Seria isso verdade? Quem não viveu uma violência doméstica, de qualquer tipo ou origem, ou não conhece quem a tenha vivenciado? No singular e/ou no plural? O que se lê, na sinopse, são apenas algumas das cenas que compõem o espetáculo “INIMIGO OCULTO”, da COMPANHIA CICLUS. 

É impossível sair das apresentações, sem sentir e refletir sobre as nuances e variações das violências nossas de todos os dias: machismo, sexismo, racismo e tantos outros ‘ismos’.

O palco é um apartamento, por cujos cômodos os espectadores são conduzidos e assistem a cenas curtas, compostas por fragmentos de várias histórias, que dispensam narração, pois todas são contadas através dos silêncios, diálogos e ações, traduzindo, de forma real, as diversas tipificações de violência à mulher: simbólica, psicológica, física, sexual e moral, sofridas em diversos papéis, como o de filha, esposa, namorada, sobrinha...

A peça coloca o público como ‘voyeur’, na medida em que o espectador se percebe em um cenário do cotidiano, no qual as ações são cometidas pela maioria das famílias; quando não, pelo menos, sabidas por todos. 

‘Possibilitamos que as pessoas vejam o quanto naturalizamos diversas violências, transmitindo um olhar diferenciado sobre as relações abusivas’, dizem os idealizadores do espetáculo.
 
 
 
 
 
 
 
 








Embora a violência sofrida pelas mulheres seja o mote da peça, as cenas são compostas de muita sutileza, mas nem por isso menos angustiantes, pois a interferência realista é maior do que a ficcional.

 O cenário ‘doméstico’, inclusive, foi escolhido intencionalmente, como palco dessa encenação, para aproximar o público da realidade, causar empatia imediata e provocar sentimentos, no mínimo, desconfortáveis.

O “release” é bem elucidativo e ninguém consegue viver outras experiências e emoções que não as nele tratadas.

A ideia de montar o espetáculo dentro de um acanhado apartamento, para poucos espectadores funciona perfeitamente. Cada um fica incomodado, num determinado grau, de forma normalmente controlável, porém fora de sua zona de conforto, diante do que vê e ouve, a um metro de distância, respirando o mesmo ar, sentindo os mesmos odores, projetando-se para cima da cama ou do sofá ou para o interior do minúsculo box do banheiro. É extremamente realista aquela ficção. A peça incomoda, sim, no sentido de fazer pensar no que eu posso fazer para aplacar aquela ira, para vingar aquela mulher, para ensinar aquele cafajeste a ser HOMEM, não “macho”.

A produção do espetáculo, ainda que modesta, é bastante cuidadosa e atenciosa, para com os “visitantes”. Os elementos técnicos cênicos, como luz, som, cenário e figurino, estão totalmente ajustados à ideia, assim como vai no caminho certo a direção, seguida, de perto, por um grupo de abnegados atores, alguns com um pouco mais de experiência, outros um tanto quanto incipientes, porém, todos dedicados ao trabalho e engajados no projeto. Coisa bonita e comovente de se ver!!!

 

 



 
 
 
 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Roberta Simoni e Rodrigo França
Direção: Andréa Bordadágua e Rodrigo França
Trilha Sonora Original (ao vivo): João Vinícius Pereira
 
Elenco: Gi Durães, Marcela Fróes, Mery Delmond, Neliana Apem, Vanessa Ferreira, Andreyuri, Bruno Guimarães, Bruno Urco, Hélder Sátiro, Luciano Segne, Márcio Panno e Tyago Caetano.
 
Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni e João Gioia
Direção de Arte (cenografia e figurino): Joana Couto
Designer: Juliana Barbosa
Assessoria de Imprensa: Tássia Di Carvalho
Mídias Virtuais: Julyana Moreira e Bruno Guimarães
Contabilidade: Thiago Araújo
Finanças: Gi Durães
Direção de Produção: Mery Delmond
Produção: Diverso Cultura e Desenvolvimento
Realização: Companhia Ciclus
 
CENAS/ATORES:
FAMÍLIA: GI DURÃES (MÃE), HÉLDER SÁTIRO (PAI) e TYAGO CAETANO (FILHO).
 
INTERFERÊNCIA: MARCELA FRÓES (PÚBLICO - ESPOSA) e LUCIANO SEGNE (PÚBLICO - MARIDO).
 
BANHEIRO: NELIANA APEM (MULHER OPRIMIDA).
 
ABUSO DA FÉ: VANESSA FERREIRA (SOBRINHA) e BRUNO URCO (TIO - PASTOR).
 
CASTIDADE: MERY DELMOND (ESPOSA REJEITADA) e ANDREYURI (MARIDO).
 
DESPEDIDA: NELIANA APEM (ESPOSA) e BRUNO GUIMARÃES (MARIDO).
 
ENGANADA: MARCELA FRÓES (ESPOSA CONTAMINADA).
 
SENTENÇA: GI DURÃES (ESPOSA ESTUPRADA), BRUNO GUIMARÃES (EX-MARIDO ESTUPRADOR). – Em “off”: MÁRCIO PANNO (JUIZ), MARCELA FRÓES (PROMOTORA) e HÉLDER SÁTIRO (ADVOGADO DE DEFESA).
 
CICLO VICIOSO: VANESSA FERREIRA (NAMORADA) e TYAGO CAETANO (NAMORADO)
 

 
 
 


 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 10 de março a 30 de abril de 2017.
Local: Um apartamento do Bairro Peixoto, em Copacabana, Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De sexta-feira a domingo, em duas sessões: às 19h e às 20h. 
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia-entrada).
 Lotação: Dez pessoas por sessão.
 Informações e agendamentos através do WhatsApp (021) 98394-1991.
 
OBSERVAÇÃO: A produção marcará um ponto de encontro, de onde todos serão levados ao local do espetáculo.
 

 
 
 
 


Elenco e Equipe.

 
 
Gostei do espetáculo, achei-o bem interessante e desafiadora a proposta, motivos que me levam, sem muito pensar, a  recomendá-lo, lembrando que só há mais três dias em cartaz, o próximo final de semana.

É intenção da Companhia levar a montagem a outros espaços urbanos do Rio de Janeiro, em qualquer bairro da cidade. Tomara que o consigam e aproveito para sugerir que, se possível, com algum patrocínio, consigam fazer um curta-metragem, para que o espetáculo possa ser visto por um número maior de pessoas.

 
 

 



  

 
 
 
(FOTOS: ROBERTA SIMONI.)

quinta-feira, 20 de abril de 2017


O MISANTROPO

 

 

(TEXTO DE MOLIÈRE, INÉDITO, NO BRASIL,

EM EXCELENTE MONTAGEM.)

 

 

           

            Os brasileiros amantes do bom TEATRO somos fãs, incondicionais, da genialidade de MOLIÈRE, que já teve grande parte de sua vasta obra encenada entre nós, por alguns dos nossos melhores diretores, com os personagens interpretados pela nata dos atores e atrizes deste país.

“O MISANTROPO” (“Le Misenthrope”), no entanto, é uma de suas peças que não tínhamos tido, ainda, o prazer e o privilégio de ver encenada. Agora, essa oportunidade ímpar nos chega de São Paulo, onde o espetáculo cumpriu uma longa e vitoriosa temporada, sucesso de público e de crítica.

            A comédia foi escrita há, exatamente, 341 anos (1666) e é impressionante como é atual e toca nas “mutretas oficiais”, praticadas pelos corruptos que dizem governar o Brasil e legislar sobre o povo brasileiro. A contemporaneidade do texto é vista a olho nu. Até a citação dos “homens de preto”, que estariam à procura de um infrator, está em cena.

            O original francês foi traduzido e adaptado, para esta montagem, por WASHINGTON LUIZ GONZÁLES, sob a direção do premiado e reconhecido encenador MÁRCIO AURÉLIO.

Reproduzindo parte do “release” da peça, enviado por JULIE DUARTE (BARATA COMUNICAÇÃO), “A comédia do dramaturgo francês desnuda conceitos filosóficos de visão de mundo e da humanidade, questiona o comportamento social, ditado por convenções comportamentais esvaziadas de sentido, moral e ética, na Versalhes de Luís XIV. Nesta montagem, esses questionamentos são transportados para o Brasil atual, onde o jogo do poder está fundamentado nas aparências e nos interesses particulares dos que movem a máquina da governabilidade, alheios aos princípios, mas preso aos fins”.

        
 
 


 
SINOPSE:
 
É dia de festa no apartamento de cobertura de CELIMENE (PAULA BURLAMAQUI), uma viúva alegre e rica.
 
Amigos, familiares e amores dessa dama da sociedade se reúnem, para confraternizar, beber, dançar, comer e… “praticar o esporte preferido da época”: falar da vida alheia!
 
Nesse ambiente festivo, ALCESTE (WASHINGTON LUIZ), o misantropo, vê-se confrontado pela sua visão de mundo e as convenções sociais dos convidados presentes e de sua amada anfitriã.
 
E, como tudo pode acontecer numa grande festa, o cinismo e a incoerência do que chamamos “bom comportamento” vão se revelando, fazendo-nos reavaliar, sob o olhar preciso da comédia, nossas próprias atitudes e comportamentos sociais.
 
 

 

 

 

            Segundo os dicionaristas, chamamos de “misantropo” o indivíduo que odeia a humanidade ou sente aversão às pessoas; o oposto de “filantropo”. Também pode ser quase equivalente ao sentido de “ermitão”, uma vez que também é aplicável àquele que prefere a solidão, não tem vida social, não gosta da convivência com outras pessoas. No caso da peça em tela, a segunda acepção se aproxima mais do protagonista.

            Falar de MOLIÈRE é, praticamente, dispensável, por se tratar de um dos nomes mais representativos do TEATRO universal, considerado “O Pai da Comédia”. Seu verdadeiro nome era Jean-Baptiste Poquelin (Paris, 15 de janeiro de 1622  Paris, 17 de Fevereiro de 1673).

Além de dramaturgo, foi, também, ator e diretor, considerado um dos mestres da comédia satírica. Teve um papel de destaque na dramaturgia francesa, dando início, praticamente, a um estilo original, próprio, do TEATRO francês.

MOLIÈRE usou as suas obras para criticar os costumes da época. É considerado, indiretamente, o fundador da Comédie-Française.

É dos dramaturgos mais famosos de todos os tempos e viveu no século XVII, convivendo com toda a frivolidade cortesã da corte de Luís XIV. Frequentou-a, na verdade, sendo, portanto, um atento observador dos defeitos morais da sociedade francesa do seu tempo. Captou-lhe os tiques, as fraquezas morais, as modas da classe dirigente, a “entourage” que vivia à sua custa. Sentia-se uma ilha: ele, cercado de hipocrisia por todos os lados. As suas peças são, em sua grande maioria, comédias satíricas, que visam, de modo direto e ferino, aos costumes sociais, quase sempre, muito censuráveis.

Em “O MISANTROPO”, a figura central é um homem, ALCESTE (WASHINGTON LUIZ), que chega a ser “inconveniente”, por seu extremado comportamento antissocial e crítico da humanidade. Para ele, todos tinham os mais profundos defeitos e ele mesmo não conseguia enxergar dois dos seus, que o punham em negativa evidência, que eram o excesso de sinceridade e, o que ele achava uma questão de honra, não fazer concessões a quem quer que fosse, em hipótese alguma. Considerava-se superior a tudo e a todos.

            O original foi escrito em cinco atos, entretanto a ótima tradução e adaptação, de WASHINGTON LUIZ, conseguiu condensá-lo em apenas um, de cerca de 90 minutos, o suficiente para nos divertir à farta e tocar, profundamente, nas feridas expostas e precisando de um tratamento.
 
 
 
 
 

            É admirável - como o são todos - este texto de MOLIÈRE, que parece ter caído nas mãos certas, para se fazer conhecido entre nós. Não me refiro, apenas, à forma como o texto nos chega, excepcionalmente adaptado, com elementos próprios da nossa atual realidade político-social, mas também à inteligente e criativa direção de MÁRCIO AURÉLIO, o qual partiu para uma estética puxada para o “carnavalesco”, no que, a meu juízo, acertou em cheio. O espetáculo tornou-se leve e dinâmico.

            Confesso que, logo na primeira cena, com a entrada dos atores, sob a execução de um “sambão”, animado por uma bateria de escola e samba, diante de, apenas, algumas cadeiras de acrílico, na arena, temi pelo que vinha. Pensei que enfrentaria alguma forma de “heresia”, que pudesse fazer MOLIÈRE se debater no túmulo. Fiquei muito assustado com aquele “novo”, que sempre incomoda um pouco, de início, mesmo a quem vai ao TEATRO todos os dias, praticamente, como eu, e está acostumado a ver de um tudo, em matéria de “novidades”, a maioria de gosto duvidoso. Mas não demorou muito, para eu entrar no jogo da direção e compreender-lhe a intenção e a linha adotada para contar a história. Adorei!!!

            O espectador, após aquele impactante início, fica atento para quaisquer outras “novidades”. Para ser sincero, chega a ansiar por elas. Mas o que mais atrai mesmo, no espetáculo, é o texto e as verdades nele ditas, sob a forma de ironias, sarcasmos e deboches rasgados. Os personagens, principalmente o protagonista, falam por nós, não têm o menor pudor em julgar o próximo e falar aquilo que, no fundo, muitas vezes, é o que desejamos dizer. E fazer.

            Falar mais do texto torna-se desnecessário. O mesmo se aplica à excelente direção, cabendo apenas acrescentar que os propositais exageros gestuais e afetações vocais dão um toque especial à composição dos personagens. É muito interessante a parte final da peça, em que os atores se alternam, entre personagens e narradores, para agilizar e dinamizar o que poderia ser enfadonho e prolongado, se representado como no original. Isso aguça a atenção do público para o desfecho da peça.

            O elenco está muito bem preparado para encarar uma comédia, o que não é fácil, como julgam muitos, tem uma ótima atuação, homogênea, muito bem nivelada, o que me faz optar por não fazer nenhum comentário individual, a fim de não incorrer em injustiças.

Obedecendo à ordem alfabética, os méritos vão para ALEXANDRE BACCI (ACÁCIO), EDUARDO REYES (FILINTO), JOCA ANDREAZZA (ORONTE), PAULA BURLAMAQUI (CELIMENE), REGINA FRANÇA (ARICENE), RENATA MAIA (ELIANE) e WASHINGTON LUIZ (ALCESTE).

 
 


 
FICHA TÉCNICA:
 
 
Texto: Molière
Tradução e Adaptação: Washington Luiz Gonzáles
Encenação: Márcio Aurélio
Assistente de Encenação Lígia Pereira
 
Elenco (em ordem alfabética): Alexandre Bacci (Acácio), Eduardo Reyes (Filinto), Joca Andreazza (Oronte), Paula Burlamaqui (Celimene), Regina França (Aricene), Renata Maia (Eliane), Washington Luiz (Alceste)
 
Cenário: Márcio Aurélio
Figurino: Márcio Aurélio e André Liber Mundi
Iluminação: Márcio Aurélio e Kadu Moratori
Sonoplastia: Márcio Aurélio
Preparação Vocal: Marcelo Boffat
Preparação Corporal: Marize Piva
Assistente de Produção: Roberta Viana
Direção de Produção: Rosí Fer
Produção: Criola Filmes Idealização Ó Artes e Espetáculos
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação
 

 
 
 


 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 13 de abril a 7 de maio de 2017.
Local: Sesc Copacabana – Arena.
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.
Informações: (21) 2547-0156.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h30min; aos domingos, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$25,00 (inteira); R$12,00 (meia-entrada); R&6,00 (associados do SESC).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, sendo de 3ª feira a sábado, das 13h às 21h, e, aos domingos, das 13h às 20h.
Duração: 90 min.
Recomendação Etária: 12 anos
Gênero: Comédia
 

 

 

 
 
            Muito distante de concordar com quem pensa que não se deve fazer intervenções pessoais em textos clássicos, acho que o TEATRO é uma arte que vive da renovação, da reinvenção, do saber ser criativo sobre o que já foi criado, de fazer e refazer, sem descaracterizar, completamente, uma obra original. Achei extremamente válida esta leitura de “O MISANTROPO” e torço para que a curta temporada, no SESC Copacabana, possa ter prosseguimento, em outros teatros do Rio de Janeiro. O lucro maior será de quem puder assistir a esta deliciosa surpresa teatral, numa época tão difícil, para o TEATRO e para as artes, em geral, no Brasil “odebrechtiano”. (Eu não disse “brechtiano”.)

            Recomendo o espetáculo e muito feliz ficarei, se puder encontrar um tempo, na minha agenda, para poder revê-lo.





(FOTOS: DIVULGAÇÃO.)