sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

BALANÇO TEATRAL
DE 2017
NO RIO DE JANEIRO

(ENTRE MORTOS E FERIDOS, QUASE TODOS SE SALVARAM E HOUVE GRANDES SURPRESAS.)






            Em função da crise econômica de 2016, em conversas com amigos da classe teatral, passei aquele ano inteiro, prevendo um 2017 negro, para o TEATRO carioca, que é a realidade que eu conheço e da qual participo intensamente.

Sem patrocínios, sem incentivos fiscais, acrescentando-se, ainda, a questão da violência, que faz com que as pessoas tenham medo de sair de casa, imaginei que não teríamos a oportunidade de ver os palcos cariocas apresentando boas produções teatrais.

2017 deu o ar de sua graça e comecei a perceber, em janeiro, que as minhas tristes previsões caminhavam para se tornar uma infeliz realidade. Só se anunciavam reestreias de peças que estiveram em cartaz em 2016 e a continuação de temporadas, interrompidas pelo recesso de final de ano, além de remontagens, uma vez que isso representava um custo bem menor, para os produtores, porque contavam com cenários e figurinos, já prontos. Parecia que nenhum produtor queria se arriscar num mercado que estava atravessando um momento de grande instabilidade.

A primeira novidade do ano veio na forma de um musical, “FOREVER YOUNG”, chegada de uma temporada de sucesso, em São Paulo, e que, para a nossa tristeza, foi o último trabalho do inesquecível MARCOS TUMURA, o qual nos deixou tão precocemente, gerando um vazio no universo dos musicais.




Mais para o final do mês, sugiram “O PÃO E A PEDRA”, da Companhia do Latão, no CCBB, e “O TOPO DA MONTANHA”, no Teatro SESC Ginástico, também esta peça oriunda de uma vencedora temporada paulista; fará uma curta temporada, em janeiro de 2018, no Centro Cultural João Nogueira, mais conhecido como Imperator. Muito pouco, porém, quantitativamente falando, para um mês de TEATRO.

Fevereiro, por conta do carnaval, sempre foi um mês “fraco”, para o calendário teatral, entretanto foi lá que apareceu, no palco do OI Futuro Flamengo, o que eu considero a primeira obra-prima do ano: “LOVE, LOVE, LOVE”, mais um sensacional trabalho, reunindo DÉBORA FALABELLA e YARA DE NOVAES, que já nos brindaram com tantos acertos anteriores.




Ainda tivemos a oportunidade de assistir, naquele mês, ao primeiro bom monólogo do ano, “PARA ONDE IR”, com YASHAR ZAMBRUZZI, no Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim), e ao primeiro grande sucesso de musical do ano, “60! DÉCADA DE ARROMBA - DOC.MUSICAL”, espetáculo que superlotou o Theatro NET Rio, por tantos meses, inaugurando um novo formato de musical, com a cantora WANDERLÉA, à frente de um grande e talentoso elenco, e que reestreia, em janeiro de 2018, no mesmo NET Rio.




Rei Momo saindo de cartaz e partindo para o seu descanso, como acontece, normalmente, é quando, “de verdade” se inicia o ano; é quando a vida parece retomar o seu curso normal.

Em março, tivemos “A MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA”, no Teatro dos Quatro, abrindo os trabalhos. “REDEMUNHO”, no Teatro Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim) e “O OLHO DE VIDRO”, no Centro Cultural dos Correios, foram duas agradáveis surpresas que surgiram.

Foi em março, também, que fomos apresentados a três de algumas das obras-primas do ano: “GISBERTA” e “SOBRE RATOS E HOMENS”, ambas no CCBB, a primeira no Teatro III e a segunda no Teatro I. A terceira, que considero o melhor espetáculo do ano, foi “TOM NA FAZENDA”, das melhores peças que já vi, em toda a minha vida, e que continua fazendo sucesso até hoje e já está com uma nova temporada agendada para 2018, no Teatro Dulcina.










No segmento teatro infantojuvenil, o destaque foi para “TRA-LA-LÁ”, no OI Futuro Ipanema.

Dois musicais estrearam em março: “CARTOLA – O MUNDO É UM MOINHO”, cuja carreira, no Rio, não obteve, infelizmente, o mesmo grande sucesso que atingiu em São Paulo, onde a vi pela primeira vez, e “VAMP – O MUSICAL”, espetáculo tão esperado, com grande apelo de mídia, que conquistou o público, mas agradou muito pouco à crítica.





Abril não foi um mês tão fértil. Revi algumas peças e pudemos assistir a mais um excelente trabalho da dupla CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, “O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?”, que não é um musical e reuniu, no palco duas “entidades” do TEATRO BRASILEIRO: DONA EVA WILMA e DONA NATHALIA THIMBERG. Já conhecia essa montagem, pois a tinha visto, duas vezes, em São Paulo, com outra grande “entidade”, DONA NICETTE BRUNO, fazendo o papel aqui assumido por DONA NATHALIA. Uma maravilha; lá e aqui.




Em maio, tivemos outra obra-prima em cartaz: “ELA”, no Teatro III do CCBB. Também houve outros ótimos espetáculos, como “PERDOA-ME POR ME TRAÍRES”, no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, “IVANOV”, no Teatro Ipanema, “CONTOS NEGREIROS DO BRASIL”, na Sala Multiuso do SESC Copacabana, e “MARIDO IDEAL”, no Teatro Sérgio Porto.




As duas grandes agradáveis surpresas de maio ficaram por conta de “A PRODUTORA E A GAIVOTA”, também no Sérgio Porto, e “LÍVIA”, no escondidinho Teatro Eva Herz.

O musical do mês foi “JANIS”, no OI Futuro Flamengo, e a grande novidade veio com “ADEUS, PALHAÇOS MORTOS”, no Mezanino do SESC Copacabana, em função do aparato audiovisual da montagem e da fusão de linguagens empregadas nela.

Junho foi um ótimo mês para o TEATRO carioca. Além de uma obra-prima de musical, sucesso de público e de crítica, “SUASSUNA – O AUTO DO REINO DO SOL”, que ocupou, por muito tempo, o lindo Teatro Riachuelo, outros espetáculos fizeram grande sucesso, por sua ótima qualidade, como “HOLLYWOOD”, no agradável Teatro Poeira; “MINHA VIDA EM MARTE”, o excelente solo de MÔNICA MARTELLI, no Teatro dos Quatro, em cartaz até hoje, em outro espaço, o Teatro das Artes, onde continuará em cartaz em 2018, até não se sabe quando; “A LENDA DO SABIÁ – UM MUSICAL BEM BRASILEIRO”, no SESC Tijuca (Teatro I); o espetacular “ALAIR”, na Casa de Cultura Laura Alvim, que voltará, em janeiro de 2018, no Teatro Ipanema; “ESTRANHOS.COM”, no Teatro das Artes; e “HAMLET”, da Armazém Cia de Teatro, no Teatro I do CCBB.






Dois ótimos musicais marcaram o mês de junho: “O MAMBEMBE”, mais um dos grandes sucessos de RUBENS LIMA JR., montagem com estudantes universitários, na Sala Pachoal Carlos Magno, na UNIRIO, e “YANK – O MUSICAL”, que infelizmente, fez uma carreira muito curta, no Teatro Serrador, o que o impossibilitou de concorrer aos prêmios de TEATRO que há, no Rio de Janeiro, por não ter alcançado o número mínimo exigido de apresentações.

Também houve uma ótima surpresa, em junho, e aconteceu no espaço alternativo do Teatro Sérgio Porto: “ESTUDO SOBRE A MALDADE”, monólogo com BRUCE DE ARAÚJO.

O bom teatro infantojuvenil também teve o seu justo representante, dentre os bons espetáculos do mês: “MAKURU”, no OI Futuro Flamengo.






Entramos no segundo semestre e julho nos brindou com uma boa safra: “FAUNA”, no Centro Cultural da Justiça Federal; “ESTES FANTASMAS”, no SESC Ginástico; “DEUSES INVISÍVEIS OU O DEUS DANÇANTE”, uma agradabilíssima surpresa, no lindíssimo Teatro Cesgranrio; “A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER”, outra grata surpresa, no Teatro Poeira; “DOIS AMORES E UM BICHO”, mais uma, na Sala Multiuso do SESC Copacabana; “ENTONCES BAILEMOS”, no Mezanino do SESC Copacabana; e “O GAROTO DA ÚLTIMA FILA”, no Teatro as Artes.




Agosto foi marcado por “LUIS ANTONIO – GABRIELA”, outra obra-prima do ano, no Mezanino do SESC Copacabana. Também foi a vez do melhor espetáculo infantojuvenil da temporada 2017: “BITUCA – MÍLTON NASCIMENTO PARA CRIANÇAS”, fechando uma linda trilogia, da talentosa dupla PEDRO HENRIQUE LOPES e DIEGO MORAIS, no Teatro dos Quatro.

Não posso deixar de mencionar, também, “A PEÇA AO LADO”, na Sede das Cias, que fez, depois, outra temporada, no Teatro Café Pequeno.






Em setembro, o grande sucesso foi “AGOSTO”, no OI Futuro Flamengo, um dos melhores espetáculos do ano.

Mais um “show” do que, propriamente, uma peça de TEATRO, foi a excelente montagem de “PURO NEY”, com SORAYA RAVENLE e MARCOS SACRAMENTO, brilhando, no palco do Teatro dos Quatro.

Ainda em setembro, marcaram presença “O PORTEIRO”, monólogo de ALEXANDRE LINO, no Teatro II do SESC Tijuca; “O PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES”, também no SESC Tijuca (Teatro I); “A FESTA DE ANIVERSÁRIO”, no Poeira; “EUS”, lindo espetáculo solo, de MARIA ADÉLIA, no Mezanino do SESC Copacabana; “EUFORIA”, também um ótimo solo, com o brilhante MICHEL BLOIS, no Sérgio Porto, voltando para mais uma temporada, em janeiro de 2018, no Reduto, um novo espaço, em Botafogo; “OS SETE GATINHOS”, no recém-reinaugurado Teatro Nelson Rodrigues, da Caixa Cultural; e “A SALA LARANJA: NO JARDIM DE INFÂNCIA”, no Teatro Cândido Mendes.













Um grande destaque começou em setembro e se estendeu no mês seguinte, na Casa de Cultura Laura Alvim. Estou falando da retrospectiva dos 25 anos de sucesso da Cia. Atores de Laura, sob o comendo de DANIEL HERZ. Em setembro, foram “O ENXOVAL” e “AS ARTIMANHAS DE SCAPINO”.






Na área infantojuvenil, o destaque foi “SAKURA”, no Teatro Ziembinski, que nos proporcionou um contato com a milenar cultura nipônica.

O grande espetáculo infantojuvenil de outubro foi “A HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS”, no Teatro I do SESC Tijuca, um dos melhores infantojuvenis do ano.

Na Mostra 25 anos dos Atores de Laura, tivemos “ADULTÉRIO”, “O FILHO ETERNO”, uma obra-prima de interpretação, de CHARLES FRICKS, “ABSURDO” e “O PENA CARIOCA”, tudo acontecendo na Casa de cultura Laura Alvim, como já havia falado.

“O CÍRCULO DA TRANSFORMAÇÃO EM ESPELHO”, na Arena do SESC Copacabana, e “LES COMÉDIENS”, no Teatro Cesgranrio, este reunindo os talentos de CAMILLA AMADO e CLÁUDIO TOVAR, ao lado do neófito THIAGO DETOFOL, também foram destaques em outubro, ao lado de “O DOENTE IMAGINÁRIO”, da Cia. Limite 151, no Eva Herz, e um dos clássicos de TENNESSEE WILLIAMS, “DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE”, no Teatro Carlos Gomes. Ainda merece destaque a cuidadosa produção de “NUM LAGO DOURADO”, que também veio de uma linda carreira em São Paulo.

Mas a grande sensação do mês de outubro foi a encenação do melhor musical do ano, “DANÇANDO NO ESCURO”, no SESC Ginástico, uma obra-prima.








Quase chegando ao final do ano, novembro nos saudou com algumas pérolas, como “KID MORENGUEIRA – OLHA O BREQUE!”, um excelente musical-solo, no SESC Tijuca (Teatro I), com o grande ÉDIO NUNES; “JUSTA”, no Teatro III do CCBB, outra obra-prima, a segunda estrelada, no ano, por YARA DE NOVAES; o clássico “UM BONDE CHAMADO DESEJO”, que tanto sucesso fez em São Paulo, aqui apresentado no novo Teatro do Jóquei, que, agora, foi pessimamente batizado com o nome de Teatro XP Investimentos (ECA!!!).







Na Caixa Cultural – Teatro Nelson Rodrigues, esteve em cartaz o bom espetáculo “O FILHO DO PRESIDENTE”.

Também estreou o polêmico musical “AYRTON SENNA – O MUSICAL”, daqueles espetáculos que desagradam à crítica, mas se tornam grande sucesso de público, o qual sai do Teatro Riachuelo emocionado, feliz e dizendo que vai recomendar a peça a seus parentes e amigos.

Outra grande obra-prima de novembro é o inquietante espetáculo “O JORNAL – THE ROLLING STONE”, no sempre aprazível Teatro Poeira, que continuará em cartaz, até 4 de fevereiro de 2018.






TONICO PEREIRA, comemorando 50 anos de uma linda carreira de ator, brilhou, no palco do Teatro Cândido Mendes, com “O JULGAMENTO DE SÓCRATES”.

A grande surpresa de novembro foi revelada por um musical, [nome do musical], no Centro Cultural Solar de Botafogo. Não se assustem! É esse mesmo o nome da peça, a qual espero ver reestreando, em 2018, porque o merece.

Fechei o mês de novembro com outra grande obra-prima: PAGLIACCI, uma linda homenagem ao, tragicamente falecido, grande ator, DOMINGOS MONTAGNER, prestada pela companhia fundada por ele e por FERNANDO SAMPAIO, a LaMínima. Um belíssimo espetáculo, encenado no SESC Ginástico.




E dezembro chegou. Mês curto, para TEATRO. E o que temos de bom? “OTELO DA MANGUEIRA”, montagem de encerramento da 1ª Oficina de Teatro Musical, oferecida, gratuitamente, pela Fundação Cesgranrio, na pessoa do professor CARLOS ALBERTO SERPA, um belo trabalho de texto e direção de GUSTAVO GASPARANI, que contou, na sua equipe com alguns dos melhores profissionais do TEATRO BRASILEIRO
.
Nada melhor, para quem é apaixonado por musicais, do que terminar o ano com um excelente representante: “SE MEU APARTAMENTO FALASSE”, a mais recente montagem dos “Reis dos Musicais”, CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, que, só pelas canções de BURT BACHARAH, já valeria a pena. Em cartaz no Teatro Bradesco, entrando pelas duas primeiras semanas de janeiro de 2018.




A grande frustração foi o cancelamento de "KINKY BOOTS", que eu tanto esperava, uma montagem do Ceftem, abortada, logo após a primeira semana de apresentação, por motivos relativos a direitos autorais.

E, quando eu pensava ter encerrado a minha temporada teatral de 2017, no dia 17 de dezembro, com o excelente "SE MEU APARTAMENTO FALASSE", não resisti ao convite do meu querido amigo MÁRCIO NASCIMENTO e revi, no dia 21/12, uma maravilha, "A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO", estreada em 2009, que voltou ao cartaz, no Teatro Dulcina, nas duas últimas semanas do ano. Mais um trabalho maravilhoso da Cia. Pequod.

Parabéns aos corajosos produtores, diretores e atores, que, muitas vezes, tiraram recursos dos próprios bolsos, para montar seus espetáculos!!!

Se 2018 for igual a 2017, já vai valer a pena.

Fui ao TEATRO 323 vezes, tendo assistido a 301 novos espetáculos. Vi alguns mais de uma vez. Houve várias vezes em que assisti a dois espetáculos no mesmo dia e, em quatro vezes, assisti a três.

E VAMOS AO TEATRO!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO!!!

































































quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

SE MEU APARTAMENTO FALASSE


(O ESPETÁCULO PERFEITO 
PARA ENCERRAR
UM ANO TÃO IMPERFEITO.)



 


            O ano teatral carioca não poderia ter sido encerrado em melhor estilo, com um espetáculo tão necessário, para colorir e iluminar um pouco o mundo em preto e branco e escuro em que estamos mergulhados, neste 2017, no Brasil e, principalmente no estado e na cidade do Rio de Janeiro. E como estávamos carentes de um espetáculo desse porte – livre, leve e solto!!!

            E quem nos tira, quem nos salva do limbo é a imbatível dupla CHARLES MÖELLER e CLAUDIO BOTELHO, com uma deliciosa montagem de “SE MEU APARTAMENTO FALASSE”, um clássico do TEATRO e do cinema, em cartaz, infelizmente, por apenas quatro semanas, no lindo Teatro Bradesco, na Barra da Tijuca.

            O musical, que estreou na Broadway, em 1968, tem como título original “Promisses, Promisses”, nome de uma das lindas canções que fazem parte da riquíssima trilha sonora original, com música do genial BURT BACHARACH e letras de HAL DAVID.

            A peça foi baseada no premiado filme “The Apartment”, de Billy Wilder e I. A. L. Diamond, vencedor do Oscar de Melhor Filme, em 1961, além de mais quatro prêmios: direção, roteiro original, direção de arte e edição.

            Na versão para os palcos, o espetáculo marcou época, na meca do TEATRO MUSICAL, tendo cumprido quase 1300 apresentações, e foi detentor de um GRAMMY, em 1969, por Melhor Álbum Original de um “show” da Broadway. Retornou ao cartaz, lá mesmo, em 2010, repetindo o sucesso da primeira produção. Pelas duas montagens, na Broadway, o musical fez jus a dois prêmios Tony Awards, um em cada uma delas, coincidentemente, para a Melhor Atriz.
  
            Não que o ano teatral brasileiro de 2017 tenha sido ruim; muito pelo contrário, contrariando as minhas previsões. As minhas palavras iniciais se voltam para o momento político e social pelo qual estamos passando, que tira a alegria de viver e a esperança do brasileiro, refém de tanta corrupção, tantos erros, tantas mentiras, tanto desmando... E aí, coincidentemente, inserido no universo natalino, eis que surge uma produção tão linda e agradável quanto tecnicamente correta, despretensiosa, em termos de mensagens, com o único intuito de entreter, divertir, de levar um pouco de alegria aos nossos corações desesperançados e sofridos.







            Estava tentando me conter, para não qualificar a peça como um espetáculo “água-com-açúcar”, visto que tal locução adjetiva, normalmente, está ligada a uma conotação negativa, mais para pejorativa, muito distante, porém, do que estou querendo dizer. Não é nada “cabeça”, não se propõe a passar grandes ensinamentos; é feita para divertir. E estamos conversados!!!

                 Sim, “SE MEU APARTAMENTO FALASSE” cumpre seus objetivos, em “101%”.

            Este é o 41º espetáculo assinado pela dupla MÖELLER & BOTELHO, acertadamente reconhecida, por quem gosta e entende de musicais, como os “Reis dos Musicais”, com texto de NEIL SIMON, contando com a excelente tradução de MARIA CLARA GUEIROS e EDGARD DUVIVIER, com a versão das letras das canções assinadas por CLAUDIO BOTELHO.

            Se o espetáculo não fosse bom – o que não é verdade; É ÓTIMO!!! – só uma ida ao teatro, para ouvir uma trilha sonora original, composta, as melodias, por um gênio da música, chamado BURT BACHARACH, ainda vivo, graças a Deus, aos 89 anos, e na ativa, já valeria o preço do ingresso.








SINOPSE:
            CHUCK BAXTER (MARCELO MEDICI) é um funcionário atrapalhado e ambicioso, contador, que trabalha numa companhia de seguros em Nova Iorque, a “Companhia Vida Seguro Seguros”.
            Para subir na vida e visando à conquista de uma das funcionárias, a garçonete FRAN KUBELIK (MALU RODRIGUES), por quem era completamente apaixonado, começa a emprestar seu pequeno e modesto apartamento, localizado próximo ao local do emprego, a seus superiores, EICHELBERGER (ANTÔNIO FRAGOSO), DABITCH (FERNANDO CARUSO), KIRKEBY (RENATO RABELO) e JESSE VANDERHOLF (RUBEM GABIRA), para encontros furtivos com suas amantes, todas funcionárias da firma.
O que começou com só um dia por semana, para um deles, acabou ampliado para quatro, até que a “gentileza” e a fama de “amigo dos amigos” chegaram aos ouvidos do “big boss”, J. D. SHELDRAKE (MARCOS PASQUIM), que também, com a promessa de uma boa promoção, entrou na dança do, digamos, “uso coletivo do imóvel”, que também poderia ser chamado de “ação entre amigos”.



            O que CHUCK não sabia, porém, era que a acompanhante de SHELDRAKE era exatamente a garota dos seus sonhos, que não lhe dava a menor bola, e, quando ele o descobre, perde o chão e passa a pensar numa difícil decisão: o emprego ou a mulher da sua vida.
            O que não pode faltar, a esta comédia romântica, são situações inusitadas, lembrando, um pouco, o mais puro “vaudeville”, incluindo outros personagens, como a engraçadíssima e desmiolada MARGE MACDOUGALL (MARIA CLARA GUEIROS).
            Sem “spoiller”, mas, por se tratar de uma comédia romântica, não é preciso dizer que o final é feliz.
            


       Não é a primeira vez que os nomes de MÖELLER & BOTELHO se ligam ao de BACHARACH, no palco. Em 2003, a dupla apresentou, no simpático, aconchegante e inesquecível Teatro Glória, criminosamente derrubado por um irresponsável senhor, um musical delicioso, de enorme sucesso – ficou sete meses em cartaz, sempre com lotação esgotada -, ao qual assisti mais de dez vezes (perdi a conta, mas me lembro de tê-lo visto três vezes na mesma semana), chamado “Cristal Bucharach”, que não se tratava de um musical biográfico e, em nenhum momento, o nome do compositor era citado; apenas foram usadas suas belíssimas canções, para embalar uma história sem nenhuma relação com o afamado “hit maker”. Totia Meirelles era a protagonista, num magnífico elenco de treze atores/cantores, onde se destacavam nomes que se tornaram referência no TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, como os de Carlos Arruza, Cristiano Gualda, Ricca Barros, Renato Rabelo, Alessandra Verney, Sabrina Korgut, Ester Elias, Ivana Domenico, Marya Bravo, a saudosa e sempre querida Solange Badim e Stella Maria Rodrigues, dentre outros.



            Embora seja um artista universalmente conhecido e admirado, como compositor, “SE MEU APARTAMENTO FALASSE” é a primeira e única incursão de BACHARACH no TEATRO MUSICAL, o que lamentamos muito.

            Desnecessário é dizer que muitas (quase todas) das canções originalmente compostas para o musical se tornaram grandes sucessos, gravadas e regravadas por alguns dos maiores nomes da música internacional.

Para garantir a excelente qualidade de suas produções, a dupla M&B costuma se cercar dos melhores profissionais que se dedicam aos musicas, do elenco aos artistas de criação, chegando aos técnicos. Não foi diferente agora. Comecemos pelo elenco.





Quase 20 artistas em cena, sem contar a excelente banda, formada por oito músicos e um regente, sobre os quais falarei adiante.

Formam o triângulo amoroso da trama MARCELO MEDICI, MARCOS PASQUIM e MALU RODRIGUES.

Este é o terceiro trabalho de MARCELO sob a direção de M&B. Os outros foram “Sweet Charity”, em 2006, e, no ano passado, “The Rocky Horror Show”, a que os cariocas não tiveram a oportunidade de assistir, mas eu vi duas vezes, em São Paulo, no qual ele era o grande protagonista.

Alguns nomes foram lembrados, para o papel de CHUCK BAXTER, até que o de MEDICI foi confirmado no elenco. Acertada decisão. O ator tem um “timing” de comédia formidável e um carisma muito grande, o que, neste espetáculo, é uma exigência para o papel, visto que o personagem fala diretamente à plateia, quebrando a quarta parede, fixando-se, em alguns momentos, numa moça da audiência (Rosana, no dia em que vi a peça.). É bem verdade que, como cantor, deixa a desejar, mas consegue dar o seu recado, principalmente se considerarmos o grau de dificuldade da partitura de algumas canções que ele interpreta, como, por exemplo, “Nosso Segredinho” (“It’s Our Little Secret”), em dueto com MARCOS PASQUIM, canção de dificílima divisão. Está brilhante no papel.




Confesso que estava um pouco apreensivo, com relação ao trabalho de MARCOS PASQUIM num musical; aprecio-o como ator, no TEATRO, mas nunca tivera, antes, a oportunidade de vê-lo dançando e cantando. Aliás, com M&B, este é seu primeiro trabalho. Gostei. Não esperava muito mais. Ótimo como ator; razoável como cantor, sem causar nenhum dano ao conjunto da obra. Só lhe cabe uma canção, mencionada no parágrafo anterior; assim mesmo, não se trata de um solo.





E o que dizer de MALU RODRIGUES, em seu décimo primeiro trabalho com os “Reis dos Musicais”? Todos os elogios são poucos, para qualificar MALU em cena. De passagem, louvo a coragem de MEDICI e PASQUIM, quando toparam cantar ao lado de MALU, que, além de linda e talentosa, como atriz, é um rouxinol “desalado” (neologismo que criei, significando “desprovido de asas”), um rouxinol em forma humana, extremamente afinada, cantando melhor, a cada novo trabalho. É uma unanimidade. E não poderia ser de outra forma. MALU, que canta a maioria dos solos do espetáculo, nos brinda com uma surpresa, que, obviamente, não deve ser revelada agora. Posso adiantar que é um dos “hits” de BACHARACH no original, em inglês, com um arranjo de arrepiar. Além de uma homenagem especial ao grande compositor, com uma canção na sua língua “mater”, não é necessário conhecer aquele idioma, para entender, dentro do contexto da cena, o que a letra deve estar querendo transmitir. Achei uma ideia genial.

As experiências anteriores de MALU, com M&B, todas excelentes, foram, sem obedecer à ordem cronológica, em “7 – O Musical”, “Beatles Num Céu de Diamantes”, “A Noviça Rebelde”, “Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”, “O Despertar da Primavera”, “Nine – Um Musical Felliniano”, “Um Violinista no Telhado”, “O Mágico de Oz”, “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” e “Versão Brasileira – 25 anos de Musicais”.




Quando o talento é grande, não importa se a pessoa é o/a protagonista ou se aparece apenas em poucas cenas. O que vale é que, quando se tem muito talento, uma simples entrada em cena, como um carteiro ou uma secretária, para anunciar uma correspondência ou uma visita ao protagonista, por exemplo, é o suficiente para aclamar o/a intérprete. Estou falando, aqui, de MARIA CLARA GUEIROS, em seu terceiro trabalho com M&B. Os dois anteriores foram “As Bruxas de Eastwick”, em 2011, infelizmente, só apresentado em São Paulo (eu vi) e “O Mágico de Oz”, de 2012. Ela assume, na peça, um pequeno papel, porém conquista o público, o qual se lamenta de não tê-la em cena por mais tempo (só aparece no segundo ato). Uma atriz cômica de grandes recursos, MARIA CLARA “vai para a casa” de cada espectador, após a peça. Voltei do Teatro Bradesco, dirigindo, às gargalhadas, quando me lembrava de suas cenas. Ela e MARCELO MEDICI, no início do segundo ato, são responsáveis por momentos hilários, impagáveis, com suas ótimas interpretações, em cima de um ótimo texto.




Dos demais do elenco, merecem destaque o quarteto de executivos, usuários do “rendez-vous”, formado por ANTÔNIO FRAGOSO, FERNANDO CARUSO, RENATO RABELO e RUBEM GABIRA, e ANDRÉ DIAS, na pele de um médico, o DR. DREYFUSS, vizinho de CHUCK, que é submetido, a contragosto, a situações de embaraço, das quais se sai muito bem, com leveza e bom humor. ANDRÉ merece um destaque, por cantar muito bem, na voz do seu personagem, que é um senhor de idade. Isso não é para qualquer um, muito diferente de cantar com sua própria voz.






Para finalizar o elenco masculino, PATRICK AMSTALDEN, que, infelizmente, num pequeno e insignificante papel, não tem a oportunidade de mostrar o seu enorme talento, já posto à prova em outros grandes musicais.

O naipe feminino de personagens coadjuvantes funciona muito bem, com destaques para JULLIE, que, além da boa presença em cena e de executar corretamente as coreografias, ainda é dona de uma belíssima voz, e KAREN JUNQUEIRA, que interpreta uma limitada secretária, aspirante a amante do “big boss”. No conjunto, todas marcam ponto, incluindo as quatro cantoras, que ficam atrás da banda, ao fundo do palco, fazendo os “backing vocals”, todas de excelente nível técnico.






Já que estamos falando na banda, esta é um dos pontos altos do espetáculo, sob a competente regência de MARCELO CASTRO, também responsável pelos arranjos adicionais (os originais são de JONATHAN TUNICK) e pela corretíssima direção musical. Integram a banda: GUILHERME BORGES (piano), ANDRÉ DANTAS (guitarra e violão), OMAR CAVALHEIRO (contrabaixo elétrico e acústico), MÁRCIO ROMANO (bateria e percussão), THIAGO VIEIRA (trompete e flügel), VÍTOR TOSTA / FABIANO SEGALOTE (trombone), WHATSON CARDOZO (sax tenor, clarinete e clarone) e ALEX FREITAS (flauta, piccolo, sax alto e clarinete). Um crédito mais que merecido vai para a supervisão musical, a cargo de CLAUDIO BOTELHO.

Sempre acertando em seus cenários, desta vez, ROGÉRIO FALCÃO, inteligentemente, trabalhou com soluções simples, que instigam o espectador a imaginar os espaços cênicos. Ao fundo, fixo, ocupando toda a parede, para transportar o espectador ao local onde se passa a trama, a cidade de Nova Iorque, com seus arranha-céus em silhuetas, valorizadas pela boa iluminação de PAULO CÉSAR MEDEIROS, o que se repete em todo o decorrer da peça.




De acordo com as necessidades das cenas, que se passam em diversas locações, o cenógrafo vai fazendo entrar em cena móveis e detalhes que compõem cada ambiente. Isso não cansa a visão do espectador; ao contrário, provoca, nele, uma nova expectativa, sempre a contento.

Um verdadeiro milagre ou, melhor dizendo, obra de um grande profissional, se aplica aos figurinos, assinados por MARCELO MARQUES, o qual, contando com um tempo exíguo (menos de um mês) e um orçamento “apertado”, conseguiu desenhar um guarda-roupa digno de todos os elogios, quer nos trajes femininos, com destaque para os usados por MALU e MARIA CLARA (esta um único), quer no impecável trabalho de alfaiataria, aplicado aos ternos dos personagens masculinos, de um acabamento e caimento de se tirar o chapéu.

ALONSO BARROS; sempre ele, responsável pelas ótimas coreografias do espetáculo. Uma das maiores referências, no ramo, com trabalhos dentro e fora do Brasil. Sempre me agradam muito as coreografias de ALONSO. O trabalho de um coreógrafo, num musical, deveria ser avaliado, com um quesito, nos prêmios de TEATRO; em todos. A melhor de todas as coreografias do espetáculo é a que ilustra va cena da festa de Natal da firma, “Christmas Party – Turkey Lurkey Time” (“Festa do Peru”).









Os demais criadores, como ADEMIR MORAES JR. (design de som), CHARLES MÖELLER (direção de movimento) e BETO CARRAMANHOS (visagismo) fazem corretamente o seu trabalho, sendo que a direção, de CHARLES acompanha, bem de perto, a proposta do texto, sem maiores firulas, tornando tudo muito descomplicado e simples, à altura da compreensão de qualquer leigo, até aquele que, pela primeira vez, vai a um teatro.

Na parte musical, devo dizer que ouvir a “overture”, um “medley” dos “hits” da trilha da peça, faz qualquer um ficar calado, hipnotizado pelas belíssimas canções de BACHARACH, valorizadas pelo arranjo musical.






FICHA TÉCNICA:

Um espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho
Texto: Neil Simon (Baseado no roteiro do filme “THE APARTMENT, de Billy Wilder e I. A. L. Diamond)
Música: Burt Bacharach      
Letras: Hal David
Produzido, originalmente, na Broadway, por David Merrick     

Elenco: Marcelo Medici, Malu Rodrigues, Marcos Pasquim, Maria Clara Gueiros, Fernando Caruso, André Dias, Antônio Fragoso, Renato Rabelo, Ruben Gabira, Patrick Amstalden, Karen Junqueira, Jullie, Caru Truzzi, Lola Fanucchi, Patricia Athayde, Duda Ramos, Marianna Alexandre, Mayra Verase e Yasmin Lima.

Direção: Charles Möeller
Versão Brasileira: Claudio Botelho
Direção Musical, Arranjos Adicionais e Regência: Marcelo Castro
Coreografia : Alonso Barros
Direção de Movimento: Charles Möeller
Cenário: Rogério Falcão
Figurinos: Marcelo Marques
"Design" de Som : Ademir Moares Jr.
Iluminação: Paulo César Medeiros    
Visagismos: Beto Carramanhos
Coordenação Artística: Tina Salles         
Produção Executiva: Carla Reis
Patrocínio: Elevadores Atlas Schindler
Apoio Cultural: Hilton Barra Rio de Janeiro
Realização: M&B e OPUS PROMOÇÕES









SERVIÇO:

Temporada: De 15 de dezembro de 2017 a 14 de janeiro de 2018
Local: Teatro Bradesco Rio de Janeiro
Endereço: Avenida das Américas, 3900 – Barra da Tijuca (Shopping Village Mall) – Rio de Janeiro
Dias e Horários: Sextas-Feiras (15/12, 22/12, 05/01, 12/01), às 21h; sábados (16/12, 06/01, 13/01), às 21h (no sábado (23/12), às 18h); domingos (17/12, 07/01, 14/01), às 18h
Valor dos Ingressos (inteira, com direito a meia entrada, para os que estão amparados pela legislação relativa a isso): Plateia Baixa = R$150,00; Plateia Alta = R$100,00; Camarotes = R$50,00; Balcão Nobre = R$50,00; Frisas = R$50,00
Capacidade = 627 lugares
Indicação Etária = 12 anos
Gênero: Musical - Comédia Romântica









            CONSIDERAÇÕES FINAIS:


            O musical já teve uma outra montagem no Brasil (no Rio, foi no Teatro Ginástico), no início da década de 70, estrelado pelo humorista Moacyr Franco, pela cantora Rosemary, recém-saída do movimento da Jovem Guarda, e pelo inesquecível Jardel Filho, mantendo-se o título do original da Broadway, traduzido para o português: "Promessas, Promessas", tendo atingido a considerável marca de 150 apresentações.

          Embora totalmente a favor da valorização das mulheres, o que é mais que justo e imperioso, pouco me importa o aspecto “politicamente incorreto” (detesto essas coisas) de machismo que o texto do espetáculo passa. Ele não vai fazer com que ninguém se torne machista, se já não o for, nem vá procurar, na sua firma, um CHUCK, como alcoviteiro.

          Levei dois dias para escrever esta crítica, ouvindo BURT BACHARACH o tempo todo. Foi ele quem me embalou e inspirou.

          Para quem gosta das listas dos “tops”, eu diria que o espetáculo não se inclui nos “TOP 10”da dupla M&B, o que não é demérito algum para quem já assinou 41 grandes espetáculos, muitos deles verdadeiras e inquestionáveis obras-primas.

          Recomendo, com o maior empenho, o espetáculo e não vejo a hora de voltar a assistir a “SE MEU APARTAMENTO FALASSE”, um ótimo presente de fim de ano, pelo menos mais uma vez. Mais duas ou três, melhor ainda.


 




 

FOTOS: LEO AVERSA:


UMA CURIOSIDADE:

            Devemos agradecer a Deus por nos colocar no lugar certo e na hora certa,

Corria o ano de 1975, quando eu estava em viagem de férias, com a família, na Disney.

Uma noite, voltando dos parques, já quase meia-noite, fui, com minha filha, à boate do nosso hotel, em Orlando, para participar de um karaokê, que estava “bombando”, por lá, naquele tempo.

Assanhado, escolhi “Raindrops Keep Falling On My Head” e subi ao palquinho, para cantar a música, que eu adoro.

Terminada a apresentação, fui aplaudido e um homem veio até a minha mesa, perguntou-me de onde eu era (deve ter percebido pela pronúncia) e me perguntou se eu conhecia “aquele homem, sentado naquela mesa, lá no cantinho”.

Como a luz era pouca, eu não conseguia reconhecer a pessoa. O sujeito, então, me pediu para acompanhá-lo até a tal mesa.

Lá chegando, ele me perguntou: “Conhece este homem? É o compositor da música que você acabou de cantar e muito bem”.

O chão me fugiu, fiquei gago, aquela divindade, um homem lindo e elegante, se levantou, abraçou-me e me perguntou se eu conhecia outra canção de sua autoria.

Respondi-lhe que todas, e ele, sorrindo, me pediu para cantar outra.

Fui de “Close To You”.

Agradeci os novos elogios e subi para o quarto do hotel, achando que havia sonhado, antes mesmo de dormir.

Não havia celulares, para registrar o momento nem me lembrei de pegar a máquina fotográfica, no quarto, e voltar, para registrar aquele mágico e inesquecível encontro.

Um “gentleman”, um homem generoso, que não conseguiu me convencer a me dedicar à música.

Quanto ao homem que nos apresentou, até hoje não faço a menor ideia de quem fosse; seu agente, talvez.