ARRAIAL
DAS
LOBAS
(MUSICAL GENUINAMENTE BRASILEIRO,
COM TEMPERO BEM NORDESTINO.)
Artista de TEATRO, graças a Deus, é movido por uma compulsão de estar sempre
num palco. Terminada a última temporada
de um espetáculo, ele já está pensando
em outro ou, até mesmo, ensaiando uma nova produção.
E nem poderia ser de outra forma. Na verdade, mais que uma “compulsão”,
trata-se da necessidade de trabalhar e garantir o seu sustento e de sua
família.
No começo de 2017, logo após o final da temporada de “Ubu-Rei”, peça dirigida por Daniel Herz, estrelada por Marco
Nanini e Rosi Campos, na qual os
componentes da Cia. Atores de Laura
também atuavam, LEANDRO CASTILHO e TIAGO HERZ, em conversas, tiveram a
ideia de montar um espetáculo musical,
utilizando atores que também fossem musicistas, como os dois. Teriam de ser
jovens, com muita garra, que "topassem trabalhar com alegria e disposição, sem contar
com ganhar dinheiro”.
Encontrados os
“corajosos”, os “aguerridos”, que viriam a ser companheiros de elenco dos dois, LEANDRO apresentou-lhes um texto,
já escrito por ele, um musical bem
brasileiro, que, logo, caiu no agrado de todos. Partiram, então, para a
tentativa de concretizar a sua montagem.
Durante o ano inteiro de 2017, o
grupo se reuniu, uma vez por semana, para, apenas, trabalhar e desenvolver a parte musical do espetáculo, que acabou
por ficar pronto em meados de 2018,
quando os bravos guerreiros conseguiram, sem dinheiro ou patrocínio, após uma
campanha de “crowdfunding”, na qual conseguiram arrecadar apenas cerca de R$12.000,00, uma curta pauta, na Casa Quintal, onde fizeram oito sessões da peça, cujo título é “ARRAIAL DAS LOBAS”, entre os meses de
maio e junho. Em julho, fizeram mais quatro
apresentações, em dias da semana esporádicos, não fixos, no Teatro Miguel Falabella, administrado
pela Ci
Com essas doze apresentações, o espetáculo passou a ser conhecido e
admirado por todos quantos conseguiram assistir a ele. A vontade era de
continuar com o projeto, numa “temporada
mais profissional”, num espaço mais próprio à sua realização, até que, no
final de 2018, os rapazes sonhadores receberam
a adesão de LUCIANA DUQUE, que se
propôs a produzir a peça, com apenas
R$4.000,00, que haviam sobrado, da
arrecadação total, com a campanha já citada, aproveitando uma pauta surgida no Teatro Ipanema, onde a montagem está em cartaz (VER SERVIÇO.).
SINOPSE:
Tributário das mais
variadas influências da comédia clássica, da farsa despudorada e, mesmo, do
melodrama, tomado ironicamente, a comédia
musical conta a história de ARRAIAL DAS
LOBAS, cidade, ou melhor, um vilarejo habitado somente por mulheres.
Isso porque uma matadora
profissional, JUREMA MACHADADA (LEANDRO
CASTILHO), declarara guerra contra o sexo masculino, assassinando todos os
homens que viviam na cidade e jurando de morte quaisquer outros que dali se
aproximassem.
A confusão começa, quando DANILO (VÍTOR NOVELLO), jovem moço da capital, consegue
infiltrar-se, em ARRAIAL DAS LOBAS, com
a ajuda de seu amigo CARLINHOS (THALES CAVALCANTI), ambos vestidos de mulher.
DANILO apresenta-se como filha do falecido marido da fazendeira DARCY (JOÃO TELLES), com a intenção de se apropriar
de uma parte da herança, que, supostamente lhe seria devida.
O que decorre daí, quando
as falsas mulheres são desmascaradas, é só surpresa e material para muitas
gargalhadas.
Ainda que erguida
com parcos recursos, o que falta em dinheiro sobra em talento, garra e
competência dos sete atores em cena,
todos inundando o palco de muita determinação, gerando um espetáculo bastante interessante, divertido e que, aparentemente,
só tem o desejo de fazer rir, de divertir a plateia, porém, se prestarmos
bastante atenção a determinadas falas, perceberemos que há algo além disso;
existem, sim, críticas disparadas a vários segmentos da sociedade e em defesa
da mulher e a favor, consequentemente, de seu empoderamento, uma das palavras
da moda. É a mulher, lutando por seu espaço, por sua independência e respeito,
como ser humano. Tudo isso, é claro, se dá num tom exagerado, caricatural, intencionalmente
muito distante do critério de verossimilhança.
Trata-se de uma
deliciosa comédia musical, que
explora, de forma intensa e inteligente, a profunda e diversificada riqueza
cultural do nordeste brasileiro, mergulhando
nas suas mais variadas expressões
teatrais e musicais: brincantes, coretos e outras manifestações
folclóricas; coco, repente, baião, xote, xaxado e outros ritmos, acrescentando elementos
modernos da nova música popular
brasileira. Um casamento perfeito. Na concepção
musical, há uma criativa mistura de instrumentos tradicionais da música
nordestina, como sanfona, viola, zabumba, alfaia, violão e pandeiro, com
instrumentos modernos, tais como guitarras e baixo elétrico. Tudo junto e
misturado, uma “salada” musical bem temperada.
Toda a parte musical, que ajuda a contar a história, é tocada e cantada
ao vivo, dançada pelos atores, em coreografias ou passos soltos. Ao todo, tocam, cantam e dançam os arranjos dos quinze números musicais, bem como as vinhetas musicais que ligam as cenas e
colorem o clima dramático.
O texto é bem articulado, contém
determinados regionalismos, que não interferem na sua compreensão, é bem leve,
engraçado e, por vezes, guardadas as devidíssimas proporções, lembra, um pouco,
algumas obras do mestre Ariano Suassuna,
em cuja fonte, parece-me, bebeu LEANDRO
CASTILHO, para escrever o texto
de “ARRAIAL DAS LOBAS”.
O grupo de atores é muito bom. São jovens, com
pouca experiência de palco, à exceção de LEANDRO,
entretanto comportam-se como veteranos, valorizando, cada um deles, a sua personagem.
ANA PAULA SECCO passa no teste,
assinando sua primeira direção, ela
que é uma excelente atriz. ANA traçou uma diretriz de direção, propondo-a ao elenco e dividindo-a com todos:
não complicar e mostrar um verdadeiro espetáculo-raiz,
falando de um nordeste que precisa,
ainda, ser conhecido por muitos brasileiros. ANA também é responsável pelos cenários,
figurinos e a programação visual da peça.
É assim que funciona o TEATRO,
quando falta dinheiro e sobra paixão por ele. No dia em que assisti à peça, tendo entrado bem antes do
público, enquanto os atores ainda ensaiavam algumas canções, “passavam o som”,
testemunhei ANA PAULA, sentada no
chão, colando arremates no cenário.
Foi, para mim, uma cena muito bonita e poética, o que só me faz valorizar, mais
ainda, um espetáculo que é de muito boa
qualidade.
Não preciso tecer
comentários sobre o trabalho de direção
musical, excelente, de LEANDRO CASTILHO,
uma vez que, nesse campo, ele sempre demonstrou um grande domínio, por seu bom
gosto musical e pelo fato de ser um multimusicista. As canções são bem interessantes, assim como os seus arranjos musicais.
LUCAS ORADOVSCHI, dentro das condições materiais
de que dispõe, executa um bom trabalho de iluminação,
que, principalmente, põe em evidência o colorido do cenário e dos figurinos,
que caracteriza a alegria das festas nordestinas.
FICHA TÉCNICA:
Texto
e Músicas: Leandro Castilho
Direção:
Ana Paula Secco
Assistência
de Direção: Milla Fernandez
Direção
Musical e Arranjos: Leandro Castilho
Elenco:
André Sigaud (Dona Zuquinha), Guilherme Hamacek (Maricotinha), João Telles (Darcy), Leandro Castilho (Jurema Machadada), Marcos Guian (Jararaca),
Thales Cavalcanti (Carlinhos e Maria das Dores) e Vitor Novello / Gabriel Lara Resende (Danilo e Goreti)
Cenário,
Figurinos e Programação Visual: Ana
Paula Secco
Iluminação:
Lucas Oradovschi
Fotos: Lucas Rocha
Direção
de Produção Luciana Duque
Assistente
de Produção: Julianna Firme
SERVIÇO:
Temporada: De 17 de maio a 02 de junho de 2019.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 6ª feira a 2ª feira, sempre às 20h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia entrada).
Funcionamento da Bilheteria: De 6ª feira a 2ª feira, das 18h às 20h.
Vendas “online” pelo “site”: riocultura.superingresso.com.br
Lotação: 193 lugares.
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia Musical.
O
espetáculo agrada bastante ao
público em geral, de todas as idades e classes sociais. Creio que ninguém sai
do Teatro Ipanema insatisfeito;
muito pelo contrário. Só ouvi rasgados elogios à peça, durante o tempo em que aguardava meus amigos do elenco, para cumprimentá-los, pelo
trabalho e, acima de tudo, pela coragem de resistir, contra todas as tentativas
de desmanche da cultura brasileira,
principalmente o TEATRO. E esta comédia musical se reveste de uma
importância toda especial, pelo fato de acender luzes sobre uma cultura rica e
que precisa ser mais divulgada e prestigiada, a cultura nordestina.
Recomendo, com empenho, o espetáculo!
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA
QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE
MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: LUCAS ROCHA.)