terça-feira, 26 de março de 2019


O SOM
E A
SÍLABA


(RESUMO DA ÓPERA: 
OBRA-PRIMA.
ou
#PRONTOFALEI
ou
#PRONTOESTAFALADO
ou
“ISSO FAZ SENTIDO?”)
ou
O TEATRO E A MÚSICA SALVAM.)



         Por mais de uma vez, felizmente, vi-me diante de uma situação, paradoxalmente, boa e ruim, ao mesmo tempo; fácil e de dificílima resolução, simultaneamente.

           A pessoa assiste a um espetáculo (Perdão: a uma OBRA-PRIMA!!!), sai do Teatro em total estado de graça, com a nítida sensação de ter visto e sentido Deus, sentado na poltrona do lado, e trocado comentários com ele, e volta para a sua casa, em êxtase total.

Já estava decidido a escrever uma crítica sobre o espetáculo, muito antes de ter assistido a ele, pois tinha a certeza plena (Vale o pleonasmo, porque todos os pleonasmos e hipérboles ainda serão insuficientes, quando se trata do espetáculo que é motivo desta crítica.), por tudo o que já lera e ouvira falar da peça, senta-se diante de um computador e... ...TRAVANão sabe nem por onde começar e o que dizer. E já fica preocupado com a descoberta de adjetivos novos, ao nível da encenação aqui analisada. Se não conseguir criar meus neologismos, paciência! Apelo para os epítetos de “domínio público”.

    Bem! Já escrevi alguma coisa e parece que está começando a “destravar”. Agora, que os DEUSES DO TEATRO me inspirem!!!




           Dizer que MIGUEL FALABELLA é um gênio é tão comum e verdadeiro quanto as centenas de ditados populares, como “Água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura.”, “Santo de casa não faz milagre.”, “Mais vale um pássaro na mão que dois voando.”, e por aí vai... Dizer que ele se superou, com “O SOM E A SÍLABA”, em cartaz no Teatro XP Investimentos, antigo Teatro do Jockey (VER SERVIÇO.), não seria verdade, pois, com este espetáculo, MIGUEL completa uma “quadra” de OBRAS-PRIMAS, que se equivalem, por caminhos e características diferentes, iniciada com “A Partilha”, seguida de “Império” e “O Homem de La Mancha”. As duas primeiras, como autor, que é sobre o que estou falando agaora (A segunda, em parceria com Josimar Carneiro.) e esta, mais como diretor, embora tenha sido responsável, também, pela adaptação do texto original. Costumo, em tom de brincadeira (É óbvio!!!) dizer, inclusive ao próprio FALABELLA, que “ele tem todo o direito de escrever os piores textos para o TEATRO”, o que jamais ele faria, evidentemente, porque seria “perdoado”, até seu último dia de vida, e mesmo depois de morto, pelas três OBRAS-PRIMAS anteriores a “O SOM E A SÌLABA”. Agora o “perdão” vale pelas quatro. Quatro OBRAS-PRIMAS!!! E por outras, que, certamente, virão por aí, porque MIGUEL é uma fábrica de sonhos e surpresas. MIGUEL FALABELLA é sinônimo de soma ou multiplicação; está mais para esta.  

 




SINOPSE:
"O SOM E A SÍLABA" trata da relação entre SARAH LEIGHTON (ALESSANDRA MAESTRINI) e LEONOR DELISE (MIRNA RUBIM), duas mulheres muito diferentes, opostas em quase tudo, porém guardando algumas afinidades entre si.

A primeira é uma jovem com dificuldades em se enquadrar na sociedade, porém completamente única, por conta do diagnóstico de Síndrome de Asperger, um transtorno neurobiológico, uma “variação” do autismo. SARAH é, mais propriamente, uma portadora da síndrome de “Savant”, o que significa dizer que possui um autismo altamente funcional, que, por um lado, lhe permite habilidades em algumas áreas, entre elas números e música, como se vê em cena; e que, por outro, faz com que ela se comunique com o mundo de uma maneira inusitada, gerando situações hilárias.

SARAH mora com o irmão e a cunhada, a qual a rejeita explicitamente e tem como grande intento se livrar daquele “estorvo”. O irmão de SARAH, tendo descoberto seu dom para o canto, resolve levá-la a procurar LEONOR, com o objetivo de refinar sua vocação, e a moça, que já se descobrira dona de uma belíssima e possante voz, deseja mais: tornar-se uma grande cantora lírica e ocupar um espaço que lhe é negado na, e pela, sociedade, alçar voos muito altos.   
Já a segunda é uma diva internacional da ópera, do “bel canto”, com mais de 50 anos, que, por acasos da vida, se tornou professora de canto. Direta, elegante, refinada e aparentemente bem resolvida. Aparentemente, pois é uma mulher com uma história de vida traumática, do ponto de vista afetivo, a ponto de estar rompida com a filha, que lhe “roubara” o segundo marido.

A relação entre as duas não começa muito bem, porque a mestra demonstra uma certa incredibilidade, com relação à discípula, evoluindo para a irritabilidade, por mero preconceito, entretanto, com o passar do tempo e a persistência e determinação de SARAH, tudo se transforma numa linda amizade.
Na verdade, uma faz bem à outra. Enquanto LEONOR conduz SARAH a atingir seu objetivo maior, esta ensina àquela os caminhos para recuperar os afetos perdidos, a relação mãe / filha. E fica a pergunta: Quem está ensinando a quem?
De forma brilhante, o impecável texto mergulha, profundamente, na temática da inclusão social e cria um espetáculo que pode ser classificado como uma comédia dramática musical; não, exatamente, um musical, explorando, com o máximo de maestria e cuidado, a seara do canto lírico








            Por duas vezes, tentei assistir à peça, em São Paulo, contudo, por motivos diversos e alheios à minha grande vontade, não consegui lograr êxito e, bastante frustrado, fiquei numa torcida nervosa, para que a montagem viesse logo para o Rio de Janeiro, o que, felizmente, está acontecendo agora.

            Além de uma brilhante carreira na “terra da garoa”, onde estreou, em temporada oficial, no dia 02 de outubro de 2017, no lindo e aconchegante Teatro Porto Seguro, a peça vem viajando, por mais de um ano e meio, tendo passado por várias cidades do interior paulista e algumas capitais, sempre com o maior sucesso de público e de crítica, tornando-se uma unanimidade, o que serve, mais uma vez, para contradizer a “equivocada” (para ser bem eufemístico) teoria de Nelson Rodrigues, de que “toda unanimidade é burra”. MAS NÃO É MESMO, em casos como este!!! Antes da estreia paulistana, o espetáculo fez uma espécie de “esquenta”, por cidades do interior paulista, começando por Osasco, em 17 de agosto de 2017.

A altíssima, extremíssima, qualidade do espetáculo rendeu-lhe muitos prêmios e indicações, até o presente momento, porque, certamente haverá mais, a saber:








PRÊMIOS RECEBIDOS NO TOTAL - 05

- 02 de Melhor Roteiro Original, para Miguel Falabella;
- 01, de Melhor Direção, para Miguel Falabella;
- 01, de Melhor Atriz, para Alessandra Maestrini;
- 01, de Melhor Figurino, para Lígia Rocha e Marco Pacheco.


INDICAÇÕES NO TOTAL - 23

- 04 Indicações a Melhor Produção / Melhor Musical / Melhor Musical Brasileiro, para Maestrini Produções;
- 04 Indicações a Melhor Texto, para Miguel Falabella;
- 05 Indicações a Melhor Direção, para Miguel Falabella;
- 05 Indicações a Melhor Atriz, para Alessandra Maestrini;
- 02 Indicações a Melhor Elenco, para Alessandra Maestrini e Mirna Rubim;
- 01 Indicação a Melhor Atriz Coadjuvante, para Mirna Rubim;
- 01 Indicação a Melhor Iluminação, para Wagner Freire;
- 01 Indicação a Melhor Figurino, para Lígia Rocha e Marco Pacheco








         A peça foi escrita, especialmente, para duas das mais representativas celebridades do TEATRO BRASILEIRO, mormente na área dos musicais. “Celebridades”, no melhor sentido denotativo da palavra, bem distante do conceito que a mídia e o grande público atribuem ao vocábulo: ALESSANDRA MAESTRINI e MIRNA RUBIN. E, apesar de substituições, em elencos, serem comuns, no TEATRO, não posso conceber a mínima possibilidade de ver qualquer uma das duas substituída, a despeito de termos grandes atrizes / cantores no Brasil.

            Mas o que tem de tão especial este espetáculo? "TUDO" resumiria tudo. Do texto às atuações, passando por todos os elementos técnicos e de criação na montagem. Trata-se de um dos melhores, mais lindos e marcantes espetáculos a que já assisti em toda a minha vida. Desafio quem, tomado pelo maligno “espírito de porco”, insista em encontrar um senão nesta montagem. Perderá seu tempo e merecerá um “BEM FEITO!”.






      O TEXTO É UM PRIMOR!!! Embora apareça, na ficha técnica, como uma “comédia musical”, ele está mais para uma “comédia dramática musical”. E as três palavras estão, visivelmente, presentes no espetáculo. É uma “comédia”, porque, o comportamento de SARAH, por meio de suas palavras, teorias e gestos, provoca o riso, por trás do qual há, sempre, uma crítica, uma verdade, uma espécie de vetor para uma boa reflexão. O adjetivo “dramática” fica por conta dos dramas de ambas as personagens, que estavam ocultos e que vêm à tona, a partir do relacionamento entre elas; dramas diferentes, porém muito sofridos, ambos. Já o “musical” qualifica um espetáculo em que a música surge com uma força enorme e de primordial importância, como um elo, a unir a vida e os caminhos futuros das duas personagens. Não se trata de um musical, no formato que, logo, nos vem à cabeça, porém nos remete a uma espécie de musical de câmara, discreto, circunspecto, sem coreografias e grandes mirabolâncias. A música entra para costurar as cenas, sob a forma de árias e duetos, trechos de algumas óperas, sendo que todas, em suas letras, têm uma relação com a cena a que estão atreladas. Não foram selecionadas aleatoriamente. Entrou aí o trabalho de pesquisa e o conhecimento musical erudito de FALABELLA. Que delícia, que afago, na alma e no coração, é ouvir trechos de belíssimas óperas, e tudo isso nas potentes, lindas, afinadas e harmoniosas vozes de duas sopranos, duas virtuoses: ALESSANDRA MAESTRINI e MIRNA RUBIN, em solos ou duetos.






Giacomo Puccini, compositor italiano, do século XIX, é o autor que mais aparece na trilha sonora, com “Vissi D’Arte”, da “Tosca”; “Quando M’En Vo”, extraído de “La Bohème”; “Oh Mio Babbino Caro”, da ópera “Gianni Schicchi”; e “Chi Il Bel Sogno Di Doretta”, da ópera “La Rondine”. Gounod também se faz presente, com “Je Veux Vivre”, da ópera “Romeu e Julieta”, assim como, também, tem a sua vez Leo Delibes, com “Viens, Mallika” e “Les Lianes Na Fleurs”, que fazem parte da ópera “Akmé”.

            O roteiro tinha tudo para acabar num melodrama mexicano, piegas e enfadonho, entretanto, com esta história tão simples e, por isso mesmo, candidata a mais um texto teatral comum, como tantos outros, ocorre, exatamente, o contrário. E não há nenhum mistério nisso. Nas mãos competentes de FALABELLA, o texto explode, de dentro para fora, ao colocar em “contenda” duas personalidades tão díspares, mantendo um diálogo muito bem construído, do ponto de vista técnico, com excelentes tiradas engraçadas, muito divertidas mesmo, piadas inteligentes e oportunas, formando um amálgama com cenas que causam profunda emoção, havendo, nitidamente, em todo o corpo textual, demonstrações de humor, afeto, empatia e comoção.

Antes de ter assistido à montagem, apesar de já conhecer sua sinopse, muita curiosidade havia em mim, com relação ao título da peça, porém, ao final da sessão, creio (Pode ser que seja uma “viagem” de minha parte.) que se trata de uma singela homenagem à grande poeta norte-americana Emily Dickinson, de quem o autor é grande admirador, assim como eu. Pela junção da música com a literatura, deve ter surgido “O SOM E A SÍLABA”.

Ambos, eu e ele, estudamos na Faculdade de Letras, da UFRJ. Fomos quase contemporâneos - ele um pouco depois de mim - e penso que todas as disciplinas eletivas, na cadeira de literatura americana, que fiz, sobre a obra de Dickinson, ele também deve ter cursado, nos semestres seguintes. Essa formação acadêmica, certamente, foi, ainda é e será, sempre, importante no seu ofício de escritor.

Nesta peça, MIGUEL, sem intenção aparente, nos passa, didaticamente, sem ser “didático”, pejorativamente falando, muitas informações acerca do universo de um tipo de gente muito “especial”, que são os portadores de distúrbios neurológicos ligados ao autismo. Ele nos ajuda a enxergar o “problema” de forma empática e desmitificada. Mostra-nos quão fácil e necessário é trabalhar pela inclusão social.




Se falei muito do MIGUEL autor, menos procurarei falar sobre o diretor. Não porque não haja o que ser dito, mas por se tornar desnecessário e para encurtar esta, já tão longa, crítica. Ele sabe que a peça é para (as) e das duas atrizes. Ele conhece, como a palma de sua mão, o potencial de cada uma delas, o quanto de talento cada uma esbanja, interpretando e cantando. Aqui, MAESTRINI leva um pouco mais de vantagem sobre MIRNA, já que esta se dedica, muito mais, à música, às sua preciosíssimas aulas, à preparação vocal, apresentando-se, bissextamente, como atriz, porém, quando o faz, mergulha, de cabeça, no seu trabalho e consegue resultados brilhantes, como no espetáculo em tela. E quem lucra somos nós.

FALABELLA apostou todas as suas fichas no virtuosismo de suas duas magníficas atrizes / cantoras e não se preocupou em querer que seu trabalho de direção aparecesse mais que a atuação das duas. Não deve ter tido muito trabalho na condução da proposta de direção de atrizes, até porque ambas são de um profissionalismo a toda prova. Foi certeiro nas marcações, procurou preencher o espaço cênico, de forma que, apesar de apenas duas pessoas em cena, passa a impressão de que estamos diante de um elenco de muitos atores. Não posso deixar de repetir o tratamento que utilizei, quando me referi ao texto: A DIREÇÃO DE MIGUEL FALABELLA É PRIMOROSA!!! É cheia de detalhes, requintes, sensibilidade, ousadia, delicadeza, de um bom gosto extremo, bordada em filigranas de ouro.

E o que dizer das duas interpretações? E haja redundâncias: ESPLÊNDIDAS!!! COMOVENTES!!! CONVINCENTES!!! PRIMOROSAS!!! IMPECÁVEIS!!! IRRETOCÁVEIS!!!...






INACREDITÁVEL!!! É impossível conter o riso e as lágrimas, diante de um trabalho que quase nos obriga a uma autoflagelação, por meio de fortes beliscões, na própria carne, para termos a certeza de que não estamos sonhando, de que não estamos no céu, de que não são dois anjos celestes a nos embriagar com sua música, com suas vozes cristalinas, seguras, suaves... Angelicais!!!

Tão diametralmente opostas são as duas personalidades, defendidas, com total segurança, apuro e beleza pela dupla ALE$SSANDRA e MIRNA. Esta, que, na vida real, é professora de canto daquela, na pele de LEONOR DELISE, se comporta como uma diva “recolhida”, pelas armadilhas que a vida coloca no nosso caminho. É uma mulher que traz marcas indeléveis de dor, na sua alma; é de gestos curtos, econômica nas palavras, a não ser que seja provocada; é pragmática e, aparentemente, desapegada dos bons sentimentos e prazeres da vida, à exceção da música, seu alimento principal. Merece um destaque especial a transformação pela qual a personagem vai passando, à medida que os laços entre ela e SARAH vão sendo construídos e tornados robustos. Ela vai, aos poucos, deixando de lado a frieza e, até certo ponto, um pouco de arrogância, do início da peça, passando para um amolecimento de coração, um sentimento de amor, quase maternal, pela aluna.




ALESSANDRA, como SARAH LEIGHTON, por sua vez, a que não é a “normal” da dupla, tem um comportamento que a leva para “fora da caixinha”, conquanto, na verdade, seja a que mais está dentro dela. De sua boca, sai um texto mais leve, engraçado, porém de muita profundidade. É de uma enorme sagacidade e consegue, a personagem, coisas mirabolantes, como saber o que alguém está digitando, no teclado de um computador ou de um celular, de longe, apenas por ter decorado a posição das teclas. Algo totalmente inusitado, uma das características de quem leva consigo a marca de um / uma “Savant”, pessoa que é capaz de fazer, de cabeça, as mais difíceis operações matemáticas ou de tocar uma canção, ao piano, tendo-a ouvido uma única vez. “A Síndrome de Savant (palavra de origem francesa, que significa ‘sábio’ - daí a síndrome do sábio, pela qual também é conhecida) é um distúrbio psíquico raro, que faz com que algumas pessoas tenham habilidades intelectuais extraordinárias, conhecidas, também, como ‘ilhas de genialidade’. Esses talentos estão sempre ligados a uma memória acima da média, porém com pouca compreensão do que está sendo descrito. Como abordado anteriormente, a principal característica da Síndrome de Savant é a capacidade extraordinária em determinadas áreas, como arte, música, cálculo de calendário, matemática e habilidades mecânicas / visuoespaciais. Outras habilidades não tão frequentes são estas: linguagem (poliglotia), discriminação sensorial, atletismo e conhecimento em áreas específicas, como neurofisiologia, estatística e programação de computadores.”.(https://www.minhavida.com.br/saude/temas/sindrome-de-savant).






É bem significativo o grau de dificuldade, para ALESSANDRA MAESTRINI, ao representar uma personagem como SARAH, que tem um jeito de olhar diferente, expressões faciais diferentes, gestos diferentes, um jeito de falar diferente, que precisa ser muito bem dosado, na composição da personagem, a fim de que não penda para a caricatura, o que, infelizmente, vemos, muitas vezes, no palco. Ao contrário disso, ela nos brinda com uma interpretação tão ajustada, no ponto, sem gorduras desnecessárias.  
O que não se pode negar é que essas duas grandes artistas “abusam do direito” de serem PERFEITAS, em cena, atuando e / ou cantando, e ambas se complementam no espetáculo, com vozes e maneiras de cantar distintas, mas que se equivalem em qualidade, sensibilidade e técnica.

Não deixa de ser curioso, antes do início de cada sessão, ouvir-se, em gravação, a voz de FALABELLA, esclarecendo que não há “dublagens”, que “todos os números musicais são ao vivo”. Curioso, porém necessário, para alguns desavisados, que podem achar que o cantar que passarão a ouvir possa ser “de mentirinha”, tão fantástica é a “performance” das duas divas.

Quanto aos elementos técnicos e de criação, passo a analisar um pouco do que vi, em cena, e que, no conjunto, marca muito ponto para o esplendor desta montagem.

Começo pela linda, discreta e requintada cenografia, de ZEZINHO SANTOS e TURÍBIO SANTOS, reproduzindo a sala de estar da professora de canto, com móveis e elementos de decoração um tanto “vintage”, o que significa dizer algo clássico, antigo e de excelente qualidade, bem de acordo com a personalidade de LEONOR.

Pulo para os figurinos, assinados por LÍGIA ROCHA e MARCO PACHECO. Um verdadeiro deslumbramento e todos vestindo, “comme il faut”, as duas personagens. Os trajes de LEONOR, requintadíssimos e de um acabamento ímpar, contrastam com os de SARAH, muito simples, despojados de requinte, embora, ao longo da trama, a personagem vá evoluindo, no seu “look”, tornando-se mais leve e moderna, mantendo, sempre, porém, sua simplicidade.






WAGNER FREIRE é o responsável pelo desenho de luz, que valoriza tudo o que há em cena. A iluminação é belíssima e com mudanças muitos sensíveis e oportunas, para o deleite de nossos olhos.

Um elemento, num espetáculo como este, da maior importância, é o chamado desenho de som, aqui, sob a responsabilidade de MÁRIO JORGE ANDRADE, o qual fez um ótimo trabalho, que nos permite ouvir, em detalhes, tudo o que é tipo de som, devidamente equalizado e agradável aos ouvidos.

O visagismo também merece ser destacado, nesta encenação. WILSON ELIODÓRIO foi de uma precisão cirúrgica na caracterização das duas personagens, de modo a contribuir para que possamos acreditar que elas “existem”.



 
       





FICHA TÉCNICA:

Concepção, Texto e Direção: Miguel Falabella

Elenco: Alessandra Maestrini e Mirna Rubim

“Design” de Luz: Wagner Freire
“Design” de Som: Mário Jorge Andrade
Figurinos: Lígia Rocha e Marco Pacheco
Visagismo: Wilson Eliodório
Cenário: Zezinho Santos e Turíbio Santos
Produtora Comercial: Carla Schvaitser
Direção de Produção: Deco Gedeon
Direção de “Marketing”: José Vinicius Toro
Assessoria de Imprensa: Motisuki PR - Regis Motisuki e Vitor Deyrmandjian Rosalino /  Nobre Assessoria - Aline Nobre e Lucas Pasin 
Fotos: Pedro Jardim de Mattos
ApresentaçãoPorto Seguro
Realização: Maestrini Produções














SERVIÇO: 

Temporada: de 14 de março a 21 de abril de 2019.
Local: Teatro XP Investimentos (antigo Teatro do Jockey). 
EndereçoJockey Clube Brasileiro - Avenida Bartolomeu Mitre, 1110 - B - Leblon, Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h. 
Classificação Etária: 14 anos.
Capacidade do Teatro: 362 lugares + 2 PNE
Gênero: Comédia musical.








      Esta é a terceira empreitada, como produtora, de ALESSANDRA, por meio de sua MAESTRINI PRODUÇÕES. A primeira foi o delicioso “show” “Drama 'n Jazz", que virou um CD, que não me canso de ouvir; a segunda foi a emblemática "Yentl em Concerto", baseado no filme “Yentl”, transformada num DVD de cabeceira. Pela primeira vez, ela assina a produção e realização de um projeto idealizado por um terceiro, e seu grande amigo: MIGUEL FALABELLA.

            E o que mais dizer sobre esta OBRA-PRIMA?



Que ele consegue ser um espetáculo popular, ao mesmo tempo que imerge no campo do canto lírico, da ópera, e que, mesmo os que não têm a menor intimidade com este tipo de arte vão adorá-lo e poderão se interessar por esse segmento de espetáculo? Que ele é um grande desafio, para MIGUEL FALABELLA e lhe abre uma nova identidade, como artista? Que ele é capaz de fazer rir e chorar, na mesma intensidade, pessoas de qualquer idade, uma vez que é um espetáculo para a família e que toca, muito profundamente os corações mais empedernidos? Que ele transborda amor à música, um sentimento de paixão pela vida, é uma celebração à amizade verdadeira e é transformador, como é o TEATRO, de uma forma geral? Que é algo arrebatador e que merecia ser visto, e revisto, por todas as pessoas, ficando em cartaz “ad aeternum”? Que ele é uma espécie de “droga”, que anestesia, sem fazer mal; aliás, muito ao contrário? Que tudo o que se possa dizer sobre ele sempre será insuficiente, porque é algo para se ver, ouvir, e sentir? Que, plagiando o poeta, meu xará, Gilberto Gil, se eu quiser falar com Deus, tenho de assistir a “O SOM E A SÍLABA”? Que ele é um dos espetáculos mais lindos e marcantes que já vi em toda a minha vida?
            É melhor parar por aqui, sem, antes provocar os que já viram a peça e os que ainda assistirão a ela. Na cena final (Isso não é “spoiller”.), ALESSANDRA e MIRNA cantam em dueto, durante a etapa final de um concurso de música, no qual SARAH se inscrevera, às escondidas e sob os protestos de LEONOR, quando soube, do qual a mestra não acreditava que a moça pudesse se sagrar vencedora. Quem é aquela que canta junto com SARAH? Prestem bastante atenção à cena que antecede esta última!
           
            Não vejo a hora de rever o espetáculo!!!







E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!!!





(FOTOS: PEDRO JARDIM DE MATTOS.)















































sábado, 23 de março de 2019


O PREÇO

(VALE QUANTO PESA 
– E PESA COMO CHUMBO.
ou
CERTAS COISAS NÃO TÊM PREÇO.
ou
O PREÇO DE CADA ESCOLHA,
SEGUNDO O LIVRE ARBÍTRIO.
ou
VIVA O “TEATRÃO”!)






            Fico muito feliz, quando as companhias teatrais nos oferecem um espetáculo de alto nível, daqueles que ficarão, certamente, marcados na nossa memória. Em quase sete décadas de vida, ainda hoje, consigo me lembrar de detalhes de dezenas de espetáculo marcantes a que assisti, ao longo de uma vida dedicada ao TEATRO. E, quando o espetáculo é um clássico da dramaturgia universal, escrito por um genial autor, e recebe um tratamento de primeiríssima qualidade, por parte da direção, do elenco e dos demais profissionais envolvidos no projeto, o prazer que ele nos proporciona NÃO TEM PREÇO. Um exemplo disso é a atual montagem de “O PREÇO”, do dramaturgo norte-americano ARTHUR MILLER, falecido em 2005, aos 89 anos de idade, em cartaz na Arena do SESC Copacabana (VER SERVIÇO.), em, infelizmente, curtíssima temporada. Não se pode compreender como um espetáculo da categoria desta montagem só possa ficar em cartaz durante, apenas, três semanas. Isso é inadmissível!!!

Como exemplo do que disse no parágrafo anterior, quanto a ter retidas, na memória, até hoje, imagens de montagens teatrais inesquecíveis, posso citar, a do texto da peça aqui analisada. Da primeira montagem, realizada em 1968 (E lá se vai meio século!), no Teatro Princesa Isabel, Rio de Janeiro, sob a direção de Luís de Lima, que também foi o responsável pela tradução do original, contando com um elenco de peso (Jardel Filho, o próprio Luís de Lima, Paulo Gracindo e Tereza Rachel, infelizmente, todos já falecidos), lembro-me muito pouco, mas não me esqueço de que saí muito bem impressionado do Teatro. Aos 19 anos de idade, eu não era, ainda, um “rato-de-TEATRO”, que assiste a peças, de 2ª feira a domingo, como já o faço há alguns anos, mas já poderia ser considerado um “camundongo”.








De outra encenação, esta mais recente, de 1989, lembro-me de bastantes detalhes. Ocorreu no Teatro Copacabana, hoje, infelizmente, sem utilização, e contou com a direção luxuosa da diva DONA Bibi Ferreira, trazendo um elenco estelar, formado por Paulo Gracindo, revivendo sua criação para o personagem Salomão; Carlos Zara (Válter); Rogério Froés (Vítor) e Eva Wilma (Ester). O espetáculo fez um enorme sucesso, na época, e ficou por muito tempo em cartaz. Assisti a ele em 1991. Foi o último trabalho de Gracindo nos palcos. Ele morreu em 1995, deixando um grande vazio no TEATRO BRASILEIRO.  

Acho que outras montagens dessa peça, no Brasil, aconteceram depois, entretanto não assisti a elas e foi aquela, do Teatro Copacabana, a que me havia marcado, até agora, porém, sinceramente, a versão atual, por ser uma excelente releitura da obra, por parte de GUSTAVO PASO, que também traduziu o texto, num trabalho conjunto com THIAGO RUSSO, além de, também, ser o responsável pela fantástica cenografia, se iguala àquela.






Por vezes, escrever uma crítica de TEATRO se torna uma tarefa tão difícil (Estou diante de uma.) quanto à montagem do espetáculo a ser criticado. Considero “O PREÇO” um texto de uma profundidade abissal e de dificílima montagem. Se não cair nas mãos de um bom diretor e se este não souber escalar, corretamente, o quarteto de atores, tudo poderá acabar num triste fracasso, o que não é, absolutamente o que acontece na montagem em tela. Muito ao contrário, aliás. Esse grau de dificuldade e de profundidade do texto, se considerada esta excelente montagem, aqui analisada, conferem a este trabalho o “status” de um dos melhores espetáculos em cartaz, no Rio de Janeiro, no momento, e sério candidato a prêmios, ao final da temporada teatral de 2019.









SINOPSE:

Em Nova Iorque, 1968, dezesseis anos após a morte do pai, dois irmãos, VÍTOR (RÔMULO ESTRELA) e VÁLTER (EROM CORDEIRO) – aportuguesando os seus nomes originais -, voltam a se encontrar, com o objetivo de desocupar a casa que deixaram intacta, ao longo de todos aqueles anos.

Um velho comprador e revendedor, SALOMÃO (SALOMON, no original.) (GLÁUCIO GOMES), vem dar-lhes um preço pelos móveis e objetos de que querem se desfazer, no entanto, a transação não é tão simples como imaginavam: todas aquelas coisas fazem parte da história da família, estão repletas de memórias e os obrigam a se confrontar com o passado e as escolhas que fizeram na vida.

 A visita do sagaz comerciante faz com que venham à tona sentimentos que estavam hibernando, com acusações e cobranças mútuas, entre os dois irmãos, metaforicamente – pode-se dizer – transformados em Caim e Abel.

É quando descobrem que um acontecimento pode ter duas verdades. Qual foi o preço dessas escolhas? Qual é o preço das contas que ficaram sem pagamento? O que se perde e o que se ganha?

Essa ruptura, entre irmãos, essa separação, adveio de uma ausência profunda de valores familiares, que não foram construídos, ao longo do tempo em que o patriarca viveu, o que fez com que os irmãos trilhassem caminhos radicalmente opostos, fazendo deles dois homens frustrados, já que viveram vidas recheadas de vazio e ilusão.

Enquanto VÍTOR se sacrificou, para que seu irmão pudesse estudar e ascender na vida, abortando seus projetos pessoais, VÁLTER formou-se em medicina e se tornou um vitorioso profissional, cirurgião afamado, rico, materialmente falando, e pobre de realizações, como ser humano.  

Nesse encontro, cheio de emoções, debatem-se as grandes questões da vida, com a esperança latente de uma maior compreensão do que é profundamente humano.








         A sinopse da peça é, de certa forma, enigmática, reconheço, mas é porque assim é o texto. As coisas vão sendo conhecidas, reveladas, aos poucos, surpresa após surpresa, o que me faz ter de tomar muito cuidado, para não dar “spoillers”.

            Durante o meu Curso de Letras (Português / Inglês), na UFRJ, no final dos anos 60 e início dos 70, tive a oportunidade de estudar, com certa profundidade, na cadeira de literatura norte-americana, alguns dos textos de MILLER; não “O PREÇO”, recém-escrito, então (1968). Embora não seja considerado, pelos seus críticos, sua principal obra, para mim, é uma das melhores. Sempre que se fala de ARTHUR MILLER, vêm, logo, à tona, “A Morte de um Caixeiro Viajante (“Death of a Salesman” – 1949), “As Bruxas de Salem” (“The Crucible” – 1953), “Panorama Vista da Ponte” (“A View from the Bridge” – 1955) e “Depois da Queda” (“After the Fall” – 1964), todas, realmente, peças fabulosas, mundialmente conhecidas e encenadas.






         Com “A Morte de um Caixeiro Viajante”, MILLER ganhou o Prêmio Pulitzer de TEATRO e conquistou o Tony, em três categorias, além do Prêmio do Círculo de Críticos de Teatro de Nova Iorque. Não resta a menor dúvida de que o dramaturgo pode ser considerado um grande artista e um homem de plena consciência crítica, com relação ao seu tempo, e os temas de suas peças são, ainda, bem atuais, pois evocam dramas humanos; e a humanidade não parece ter evoluído muito, de seu tempo para cá. Tecnologicamente, sim; humanamente, não. Estudando a sua biografia, de cujos detalhes lhes poupo, podemos afirmar que sua vida foi tão dramática quanto o teor de suas peças. MILLER viveu, sim, uma vida conturbada, inclusive com um casamento tempestuoso com Marilyn Monroe.

A cada nova peça escrita, preocupava-se em focar, antes de tudo, as questões sociais, até então, pouco consideradas e expostas. Pela crítica norte-americana e por muitos estudiosos e amantes do TEATRO, MILLER, Eugene O'Neill e Tennessee Williams são considerados os três maiores dramaturgos que os Estados Unidos nos legaram, uma verdadeira “Santíssima Trindade”. Assim também, modestamente, penso.

Em “O PREÇO”, o drama se dá na passagem de um tempo, superior a uma década e meia, envolvendo segredos, mágoas, frustrações e arrependimentos, tudo em forma de fantasmas, que habitam as cabeças de dois irmãos atormentados. Tanto tem a ver com a situação social e econômica caótica, em que estamos enterrados, como apresenta uma radiografia de uma família que não soube lidar com os obstáculos que lhe eram colocados à frente e se deixou deteriorar, por falta de diálogo e empatia.




O espetáculo é uma produção da CIA.TEATRO EPIGENIA, em seu 19º ano de fundação. Extraído do “release” da peça, enviado por ALESSANDRA COSTA (DUETTO COMUNICAÇÃO): “‘O PREÇO’” abre a Trilogia MILLER, projeto em parceria com a The ATHUR MILLER Society, na qual estão previstas diversas ações e publicações nos próximos três anos. A tradução do texto está a cargo do mais novo integrante da CIA., o teórico THIAGO RUSSO, Mestre e Doutorando pela USP, onde leciona, além ser membro da The ARTHUR MILLER Society, USA. (...) Em ‘O PREÇO’, o espectador tem a oportunidade de ver como dois irmãos (...) que viveram sob o mesmo teto têm versões diferentes sobre os mesmos fatos, tem opiniões diferentes sobre os mesmos conflitos e visões tão antagônicas do mesmo pai, que chegam a parecer dois estranhos. (...). MILLER é genial, ao colocar os mistérios familiares, seus segredos e a incomparável estética dramatúrgica (...).

ARTHUR MILLER é um mestre na escrita de diálogos, sempre “potentes e emocionantes”, “é ágil na sua construção dramática”, fazendo revelações, paulatinamente, uma técnica que faz o espectador ficar colado à poltrona, com olhos bem abertos e ouvidos muito atentos a qualquer palavra que sai da boca dos personagens. Ainda que muito denso, o texto também reserva espaço para boas cenas cômicas, pelas quais o responsável é o personagem SALOMÃO, interpretado, de forma excelente, pelo ator GLÁUCIO GOMES. Em, praticamente, todas as sua entradas, muitas vezes em meio a uma calorosa discussão, abre-se uma válvula de escape, através do humor, para que o espectador possa “respirar” e recuperar o fôlego, às vias de se extinguir. Um excelente contraponto.




Também fazendo outra espécie de contraponto, ora atiçando a rivalidade, ora tentando aplacar a ira entre os dois irmãos, cumpre seu papel, com muita dignidade e competência, a atriz LUCIANA FÁVERO, cuja personagem, ESTER, é esposa de VÍTOR e é responsável por um dos mais emocionantes momentos da peça, numa cena “solo”, de total descompensação emocional da personagem, sobre a qual não falarei mais, para não tirar, a quem ainda vai assistir ao espetáculo, o sentimento de satisfação, diante de uma cena de “TEATRÃO”, no melhor sentido da palavra. Aliás, tal vocábulo pode ser aplicado à peça na sua totalidade. E como é bom ver um “TEATRÃO”, feito por quem sabe fazê-lo!!!

Os dois protagonistas, VÍTOR e VÁLTER, vividos, respectivamente, por RÔMULO ESTRELA e EROM CORDEIRO, chamam a si toda a atenção, principalmente quando contracenam apenas os dois. Dois trabalhos esplendorosos. EROM, para mim, é um velho conhecido dos palcos, sempre em papéis de destaque e grandes atuações, o que ratifica nesta montagem. A gratíssima surpresa recai sobre RÔMULO, cujo trabalho de ator eu só conhecia em outras mídias. É a primeira vez que o vejo, pisando um palco, local onde, de verdade, uma pessoa mostra ter nascido vocacionado para o ofício de representar. É no TEATRO que se pode avaliar, em total plenitude, se alguém é um bom profissional da representação. Fiquei muito feliz por ter conhecido mais um, RÔMULO ESTRELA, o qual, salvo engano, não pisava um palco havia seis anos. Os outros três já me haviam provado isso em outras muitas oportunidades. Que ótimo quarteto de profissionais!!!









GUSTAVO PASO faz um belíssimo trabalho de direção, numa montagem especialmente planejada para uma arena, o que o levará a fazer grandes adaptações, quando o espetáculo for para um palco italiano, felizmente, tão logo se encerre a atual temporada. Em termos de marcações e de preencher o espaço fisico da arena, o diretor o fez com total maestria. No trabalho de direção de atores, bem se nota a sua marca, de provocar o elenco, até cada um render o máximo de sua capacidade. Sua leitura deste clássico da dramaturgia universal só lhe faz acrescentar mais valor e permite, ao espectador, penetrar nos labirintos que o texto propõe. E o melhor: sair deles, tendo entendido tudo o que o dramaturgo pretende passar.

Feitos os devidos comentários ao tripé de sustentação de qualquer espetáculo (texto, direção e atores), falemos dos demais elementos, não menos importantes, que contribuem para o sucesso de uma encenação teatral.


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Comecemos pelo cenário, assinado,também, por GUSTAVO PASO, que é de um realismo total, de um enorme bom gosto, formado por peças que parecem ter sido garimpadas em locais diferentes e que, reunidas, formam um conjunto totalmente inserido no contexto da peça. São móveis e objetos pessoais antigos, pertencentes ao falecido pai, abandonados, empoeirados, num velho sótão, prestes a ser demolido, junto com toda a construção da casa. Uma mesa redonda, virada para baixo; arcas e poltronas muito gastas; uma harpa, parece que já sem condições de ser tocada; uma cadeira de balanço, de palhinha, toda destruída, como uma metáfora do velho pai, que nela passara o final dos seus dias; caixas de papelão, cheias de quinquilharias; dois floretes, dentro de uma espécie de lixeira; malas, baús... Um destaque vai para um tapete gigante, redondo, que cobre toda a superfície da arena, feito, como uma colcha de “colcha de retalhos”, com pedaços, costurados, de tapetes persas. Assistindo à peça, descobre-se, facilmente, à intenção do cenógrafo, com relação a essa peça cenográfica.

A iluminação, de BERNADO LORGA, mantém-se, praticamente, o tempo todo de duração do espetáculo (Acho que, realmente, durante toda a peça.), inalterada, com muita luz sobre todo o espaço cênico, talvez com a intenção de realçar todo o conjunto do que, fisicamente, está exposto, para ajudar a manter em relevo tudo de importante que a peça nos quer revelar.

São simples, discretos e bem adequados aos personagens, os figurinos, de LUCIANA FÁVERO, sem a preocupação – pareceu-me – de deixar a marca de uma época, talvez pelo fato de o texto ser tão atual e poder retratar uma realidade dos dias de hoje.



  





FICHA TÉCNICA:

Texto: Arthur Miller
Tradução: Thiago Russo e Gustavo Paso
Direção: Gustavo Paso

Elenco: Rômulo Estrela, Erom Cordeiro, Gláucio Gomes e Luciana Fávero

Figurinos: Luciana Fávero
Iluminação: Bernardo Lorga
Cenário: Gustavo Paso
Direção Musical: André Poyart
Direção de Produção: Luciana Fávero
Assistente de Ensaio: Vinícius Cattani
Administração da Temporada: André Roman
Designer: Paso D´Arte Eventos
Fotos: Gustavo Paso
Assessoria de Imprensa: Duetto Comunicação - Alessandra Costa
Realização: Cia.Teatro Epigenia












SERVIÇO:

Temporada: De 14 a 31 de março de 2019.
Local: SESC Copacabana (Arena).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: De 5ª feira a domingo, sempre às 19:00.
Informações: (21) 2547-0156
Horários de Funcionamento da Bilheteria: 2ª feira, das 9h às 16h; de 3ª feira a 6ª feira, das 9h às 21h; sábado, das 13h às 21h; domingo, das 13h às 20h.
Valor dos Ingressos: R$7,50 (associado do SESC), R$15,00 (meia entrada) e R$30,00 (inteira).
Classificação Indicativa: 12 anos.
Duração: 90 minutos.
Lotação: 200 lugares.
Gênero: Drama










         É muito gratificante, antes, para um espectador comum, que ama TEATRO, e, depois, para um crítico, principalmente como eu, que tem por princípio só escrever sobre espetáculos que, sob a minha ótica, realmente, merecem um “selo de qualidade” a partir da classificação “BOM” (Depois, vêm “MUITO BOM”, “ÓTIMO” e “OBRA-PRIMA”.) sair de casa e assistir a um espetáculo ÓTIMO, como esta montagem de “O PREÇO”, que eu recomendo muito.

Adorarei revê-la, depois, no formato de palco italiano, mas aconselho, aos que me leem, que assistam ao espetáculo, o mais rápido possível, na Arena do SESC Copacabana.








E VAMOS AO TEATRO!!!


OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!


A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!


RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR
NO TEATRO BRASILEIRO!!!










(FOTOS: GUSTAVO PASO.)