segunda-feira, 31 de julho de 2017


O GAROTO
DA

ÚLTIMA FILA
 

(UMA SURPREENDENTE REVELAÇÃO;

UM GRANDE ESPETÁCULO.

ou

UM TRIBUTO AOS VERDADEIROS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO.)

 
 
 


É impressionante a força do TEATRO!
A garra e a coragem de quem faz TEATRO são incomensuráveis!
Em meio a uma crise sem precedência, em todos os sentidos, por que passa o Brasil, devastando a CULTURA e, principalmente, o TEATRO, este resiste e é quase inacreditável que, do meio do caos, estejam surgindo excelentes produções teatrais, a maioria sem patrocínios, como o que vem ocorrendo neste ano de 2017, no Rio de Janeiro. Acredito que, em São Paulo e em outras praças, também.
É verdade que, vez por outra, “pipoca” uma produção rica, com orçamento na casa dos milhões, cheia de patrocínios, daquelas de causar a famosa “vergonha do alheio”, mas, felizmente, são apagadas, por boas produções, como, por exemplo, o espetáculo a que assisti, há poucos dias, no Teatro das Artes (Shopping da Gávea).
Recém-estreada, a peça “O GAROTO DA ÚLTIMA FILA”, praticamente, lotou os cerca de 400 lugares do Teatro, na noite em que assisti a ela (27/7/2017), e sem contar com atrações globais, mas com um texto primoroso, uma direção das melhores que vi, este ano - realmente, sensacional -, e um elenco excelente.
Tive receio de não encontrar tempo para escrever sobre a peça, em função de muitas atribulações, às vésperas de uma viagem ao exterior, entretanto a vontade de tornar pública a excelente impressão que esse trabalho me causou era tão grande, que sacrifiquei alguma coisa da minha rotina diária, para me dedicar ao prazer de dissertar sobre a peça.
Sem grande divulgação nas mídias, tenho certeza de que o resultado de uma casa cheia, em plena quarta-feira, é resultado de uma boa divulgação “de boca em boca” (A expressão “boca a boca” não deve ser empregada, neste sentido; está INCORRETA.), método mais do que comprovado que é a melhor forma de divulgação de um espetáculo.


 



 

 
SINOPSE:
 
“O GAROTO DA ÚLTIMA FILA” é uma peça sobre a escola e a família, em que se encontram dois personagens totalmente opostos.
 
Um é um professor de literatura, de liceu, GERMANO (ISIO GHELMAN), que tem por volta de 50 anos. Escolheu essa profissão, porque pensava que ia lhe permitir viver em contato com os grandes livros e transmitir o seu amor por eles.
 
GERMANO, um dia, tenta explicar a noção do seu ponto de vista aos alunos, totalmente desinteressados em aprender e alienados, e, para isso, pede-lhes que escrevam sobre o que fizeram no último fim de semana. E entre redações horríveis, descobre uma inesperada, pelo seu conteúdo e forma, que é a do outro personagem especial, o garoto da última fila. Aí se produz um encontro complexo, cheio de desencontros.
 
GERMANO chegou à profissão pelas razões erradas, e os sonhos de conviver com as grandes obras literárias foram abafados pelo cotidiano de tentar ensinar a jovens na fase da rebeldia, o que o deixa bastante desanimado. Não só com o presente, com o seu momento, mas com o futuro de todos. Mas, quando ele pede, aos seus alunos, que façam uma redação, para poderem perceber o conceito de ponto de vista, uma folha pautada distingue-se das restantes.
 
CLÁUDIO (GABRIEL LARA) senta-se sempre na última fila. E é com esse olhar, que GERMANO reconhece os seus tempos de aluno – “Ninguém nos vê, mas nós vemos a todos”.
 
CLÁUDIO entra na casa do seu colega RAFA (VICENTE CONDE), com um pretexto “nobre”, com uma “boa intenção”, e documenta tudo a que assiste lá.
 
GERMANO e JOANA (LUCIANA BRAGA), sua mulher, tornam-se os seus ávidos leitores, alternando entre a desaprovação, pela intrusão em vidas alheias e a curiosidade pelos acontecimentos do capítulo seguinte.
 

 
 



 
            O meu encantamento pela peça deu-se logo na primeira cena, entre ISIO e LUCIANA. Comecei a me identificar com o personagem dele, um professor de literatura, profissão que abracei por 47 anos, a princípio, com o máximo de prazer e, ao final da carreira, totalmente desiludido, como o personagem, diante do péssimo comportamento dos “alunos” de hoje, em sua grande maioria, desinteressados em aprender, arrogantes, mal-educados e detentores de uma ignorância abissal, sem falar na falta de valores éticos e morais, o que é tão bem discutido no magnífico texto de JUAN MAYORGA, traduzido por JOSÉ WILKER, relativamente próximo ao seu precoce e lamentável falecimento. Senti, na pele, o sofrimento, a angústia e a sensação de perda de tempo, vivenciados pelo professor GERMANO.
 
            Primeira montagem, no Brasil, o texto de MYORGA enquadra-se no que se pode chamar de “dramaturgia contemporânea”, não só pela temática, mas também pela carpintaria textual, diferente da dramaturgia “convencional”, extremamente valorizada pela direção de VICTOR GARCIA PERALTA. Trata-se de uma peça de vanguarda.

            Extraído do “release”, enviado por LEANDRO GOMES e ANDRÉA PESSOA (MNIEMEYER ASSESSORIA E COMUNICAÇÃO), “...a peça circula entre a ação e a narração, em que GERMANO, um professor de literatura, se depara com o atual desinteresse de professores e alunos e com o fraco desempenho de quem deveria estar interessado em aprender. Ao corrigir as redações da classe, descobre um excelente contador de histórias, que o leva para o mundo da ficção, misturado com o real, tornando o texto uma discussão sobre os valores éticos”.

            “Instigante” é o mínimo que se pode dizer sobre o espetáculo, além de fascinante e tantos outros adjetivos, uma vez que o que se vê, em cena, é o texto propondo uma interseção realidade/ficção, o ser e o parecer, alternando-se, muitas vezes, de modo tão sutil, que o espectador não muito atento pode se confundir. É preciso, portanto, não piscar e ficar ligado às ações e às falas dos personagens. Não se trata de TEATRO digestivo, para puro entretenimento.

            Ainda retirado do “release”, e que julgo interessante registrar aqui: “A peça ajuda na reflexão e procura mostrar que é necessário que a fantasia se faça presente nas vidas de todos, sempre, e é isso que o autor introduz, no duelo entre o professor e o seu aluno: importantes reflexões sobre a arte de construir uma história, pois até a vida mais banal esconde dramas e interrogações de alcance universal e, sem ela, teríamos uma originalidade vazia”.

            Ainda que não me canse, serei sempre repetitivo, ao dizer que um bom espetáculo teatral começa no texto, embora este, sozinho, não garanta o sucesso da montagem. Já vi excelentes textos caírem em mãos erradas e serem completamente estragados, deturpados, tornando-se irreconhecíveis. É mais fácil um texto não tão bom ser valorizado por uma direção e um elenco competentes do que o contrário. Aqui, um dos fatores que mais me chamaram a atenção são os diálogos entrecruzados, terminando como deixas para a próxima cena. Muito interessante a arquitetura textual, quanto a tal aspecto.
 
 



 



            Quando os DEUSES DO TEATRO conspiram a favor e apresentam um excelente texto, para ser desenvolvido por pessoas da maior competência, aí é festa, é só “correr para o abraço”.

            Foi o que aconteceu nesta montagem de “O GAROTO DA ÚLTIMA FILA”. O texto, habilmente construído, que é de grande sensibilidade e força emotiva, com diálogos extremamente fortes e recheados de um humor ácido e inteligente, caiu no colo e nas graças de um grande encenador, como VICTOR GARCIA PERALTA, que soube decodificar as entrelinhas nele contidas e optou por uma direção inteligente, prática, criativa; enfim, brilhante, uma das melhores deste ano, até o presente momento.

            No original, a peça se passa em três locais diferentes: a casa do professor, a sala de aula e a casa de uma outra família. Isso pedia muitas entradas e saídas dos atores, além de contínuas mudanças de cenário, pois são muitas cenas em cada uma dessas “locações” (Num filme, seria fácil). VICTOR optou por permitir que a plateia “visse e distinguisse” os diferentes espaços, mantendo todos os atores em cena e utilizando um só cenário, que será alvo de um particular e destacado comentário adiante.

A ação começa com apenas dois atores em cena. Os outros vão chegando, aos poucos, e ninguém abandona o palco. Enquanto ocorre uma cena, os que não estão envolvidos, diretamente, na ação, contracenando, permanecem no palco, porém com um pequeno detalhe: não são os atores que ali estão; são os personagens. Indiretamente, atuam ininterruptamente. Há, sempre, uma ação central e outras periféricas. Mesmo não participando, diretamente, de uma cena, cada ator não deixa de representar o tempo todo. É só desviar, um pouco, o olhar dos que estão falando, para se observar o silêncio significativo dos que não estão. Há “textos” para todos, durante os 90 minutos de duração da peça, os quais passam sem que se perceba o tempo cronológico, tão dinâmica é a direção.

E não pensem que esses atores ficam sentados, nas laterais do palco, aguardando sua vez de entrar em cena, sem iluminação direta sobre eles, como já vimos em tantas montagens. Nada contra, mas eles permanecem é à vista de todos, no espaço cênico, devidamente expostos, sob uma luz intensa, de costas para a ação principal, na maior parte do tempo, realizando alguma atividade “menor”.
 
 


Uma das mais importantes funções de um diretor é saber escalar o seu elenco, não se atendo a nomes incensados pela mídia, mas buscando a matéria-prima própria ao desenvolvimento de cada personagem. Por melhor que seja o(a) ator(atriz), nem sempre ele(ela) consegue moldar o personagem como deveria. Não é o caso aqui. Cada um parece ter sido talhado para o papel que representa, com destaque para ISIO GHELMANN, um dos meus atores preferidos, tanto no drama quanto na comédia.
 
 


ISIO recebeu a incumbência de dar vida a um personagem difícil, uma vez que o professor GERMANO vive se equilibrando sobre um frágil fio, procurando manter uma estabilidade emocional, que não lhe permita tombar para o lado cru da realidade, para a qual, durante todo o tempo, sua mulher, JOANA, tenta puxá-lo, ou para o lado ideal, utópico, ao qual ele procura dar vazão, na tentativa de valorizar um suposto, ou verdadeiro, talento literário, de CLÁUDIO, o qual lhe entregava, repetidamente, redações incompletas, sem a parte final, sempre cedendo espaço a uma palavra: “CONTINUA”, entre parênteses, fator que aguçava, cada vez mais, o interesse do professor por aquele aluno “diferenciado”. Era como se fosse um livro em capítulos.

O Professor GERMANO vivia abastecendo CLÁUDIO, em forma de presentes ou de empréstimos, com livros, clássicos da literatura universal, com a intenção de fazê-lo aprimorar-se em conhecimentos e técnicas para continuar escrevendo.

Ao mesmo tempo que tenta compreender o comportamento, até certo ponto, estranho, do rapaz, de apenas 17 anos, não consegue fechar os olhos aos seus excessos, sempre alertado pela esposa. Mesmo sem querer, deixava-se influenciar por esta, contestando-a, durante as conversas, porém acabando por levar seus argumentos ao jovem.

GERMANO, no fundo, era um escritor frustrado.

Como sempre, ISIO se destaca em qualquer peça em que atue.

LUCIANA BRAGA também tem uma bela participação na trama, fazendo o contraponto com o marido de sua personagem. Esposa do professor GERMANO, sempre mantém os pés no chão e, às vezes, até, um pouco exagerada, com relação às possíveis consequências que poderiam advir da “corda” que o marido dava ao jovem CLÁUDIO.

Paradoxalmente, a racionalidade da personagem choca-se com o quase “non sense” que ela demonstra, quando fala de arte, o que está relacionado à sua atividade profissional, como dona ou curadora (?) de uma galeria de arte, que se propõe a expor e vender obras, no mínimo, de gosto duvidoso. Ou não!!! Todos os diálogos entre ela e o marido, envolvendo o assunto de seu trabalho são hilariantes, desde sua definição para “arte” até a proposta de expor o que ela chamava de “pintura verbal”, que não passava de telas em branco, acompanhadas de um áudio, por meio do qual o “artista” ia dizendo como era o quadro, que ele idealizou, porém não pintou, para que as pessoas pudessem imaginá-lo, "vê-lo". E por que não admirá-lo? Sem comentários. Delírio da arte e do artista. Tudo eram tentativas para que a galeria não fechasse suas portas.

Atualmente, revendo, bissextamente, na TV, alguns trechos de capítulos da telenovela “Tieta”, em reprise, levada ao ar entre 1989 e 1990, percebo quão talentosa LUCIANA já era, desde o início de sua carreira.
 
 

 


O elenco, formado por quatro atores mais experientes e dois incipientes, tem uma atuação fantástica.

Destaco, além dos dois nomes já comentados, as duas ótimas atuações de CELSO TADEI (RAFA PAI), um executivo insatisfeito com o seu trabalho, nunca reconhecido como deveria, e decidido a se tornar um empreendedor, de forma não muito lícita, e LORENA DA SILVA (ESTER), sua esposa, extremamente fútil e não muito atenciosa para com o filho, RAFA FILHO. Os dois personagens, conquanto sejam coadjuvantes, têm uma grande relevância na trama, o que corrobora a minha afirmação de que é errado falar em “ator coadjuvante”; “coadjuvante” é o personagem, às vezes, nem tanto. Os atores são sempre principais, independentemente de serem ou não os “protagonistas”. CELSO e LORENA valorizam muito seus personagens, merecendo, por isso, meus aplausos.

Ficou para o final a ala jovem do elenco, representada por GABRIEL LARA (CLÁUDIO) e VICENTE CONDE (RAFA FILHO), ambos, se não me equivoco, até então, desconhecidos para mim. Penso nunca tê-los visto atuando. A partir de agora, mais dois promissores talentos na minha lista.

GABRIEL interpreta o enigmático CLÁUDIO, o “garoto da última fila”, aquele que, por timidez ou desinteresse pelos estudos, faz tudo para se manter no anonimato, imperceptível, durante as aulas. Não consegue, porém, esconder sua personalidade e seu talento para as letras, expostos nas redações que produz, durante as aulas de literatura, completamente destoantes do péssimo nível das que são escritas por seus pares.

Seria CLÁUDIO uma espécie de vítima? E por quê? Talvez seu comportamento “diferente” estivesse ligado ao fato de a mãe tê-lo abandonado, aos nove anos e idade? E qual seria o real motivo que o fazia se interessar em saber como era o lugar em que o colega RAFA morava e como seria sua família? Apenas curiosidade ou frustração, já que era pobre e morava longe e mal? Ou algo mais? Durante pouco tempo, cheguei a pensar numa atração homoafetiva, que julguei ter percebido nas entrelinhas, o que, logo, logo, esvaiu-se no ar. Seu desejo em ajudar o colega a aprender Matemática, na casa deste, não seria um mero pretexto para se sentir “em família”?

CLÁUDIO se revelou ousado, em algumas atitudes, como a de entregar, à mãe do colega, um poema de amor ou de dar-lhe um beijo (Ou teria sido apenas imaginação?). Também, da forma mais natural do mundo, sepultando qualquer resquício de moral e pudor, chegou a propor ao professor GERMANO que roubasse a prova de Matemática, para beneficiar o colega RAFA. Dá para vê-lo mais como um jovem amoral? Também se mostra destemido, ao ousar ir à casa do professor GERMANO. Com as mesmas intenções que o levaram à casa de RAFA?

Agradou-me muito o trabalho do ator GABRIEL LARA. Muito mesmo!!!
 
 
 
 
 
 
 
 


VICENTE CONDE, que interpreta o personagem RAFA (FILHO), também executa um bom trabalho. Seu personagem talvez seja o menos interessante da trama, entretanto um bom ator, como VICENTE, sabe como jogar purpurina sobre o que poderia não brilhar tanto.

CAROL LOBATO foi bastante parcimoniosa, na idealização dos figurinos, até porque o texto não exige muito, quanto a esse elemento técnico. CAROL utilizou peças que se adéquam a cada personagem, sem se importar com o elemento tempo, uma vez que não há uma rigidez ou precisão temporal na trama.

É um grande achado a cenografia de MIGUEL PINTO GUIMARÃES. Chamou-me a atenção, tão logo a vi, ao adentrar o teatro. Poucas vezes, vi cenários tão simples, significativos e práticos numa peça. Apenas uma longa mesa e alguns bancos e uma única cadeira, de espaldar alto, à sua volta. A mesa serve a várias utilizações. Tudo em branco. Ao descrever esse cenário, em palavras, talvez eu não consiga demonstrar quão sensacional ele é. Uma ilustração, uma imagem, fala mais que mil palavras.
 
 
 
 
 
Quanto à iluminação, de MANECO QUINDERÉ, desejo fazer um comentário especial; não uma crítica negativa, até porque não aprovar uma iluminação assinada por MANECO é quase uma heresia.

MANECO optou por manter o palco todo iluminado, com luz branca (se não me engano, o tempo todo, sem variações de cores), apenas mudando, vez por outra, a sua intensidade. Assim, todos os atores, os que estão contracenando e os que não, estão sempre iluminados. É óbvio que existe uma intenção nisso, que imagino ser a de mostrar aquele detalhe ao qual já me referi, qual seja o de que todos permanecem em cena, atuando, direta ou indiretamente. Isso funciona? Sim. Muito. Sem dúvida. Eu, que estou vivendo uma fase de supervalorização da luz, numa peça, com toda a minha ignorância técnica no assunto, pensei numa iluminação setorial, priorizando apenas as áreas em que estariam acontecendo os diálogos. Penso que isso poderia trazer mais dinamismo, ainda, à montagem. Mas é apenas um palpite. Perdão, (São) MANECO!!!

 

 
 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Juan Mayorga
Versão Brasileira: José Wilker
Direção: Victor Garcia Peralta
 
Elenco: Celso Taddei (Rafa Pai),  Gabriel Lara (Cláudio)), Isio Ghelman (Professor Germano), Lorena da Silva (Ester), Luciana Braga (Joana) e Vicente Conde (Rafa Filho)
 
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenário: Miguel Pinto Guimarães
Figurino: Carol Lobato
Projeto Gráfico: Vento Estúdio
Fotos: Felipe Panfili e Ricardo Brajterman
Assessoria de Imprensa: MNiemeyer
Direção de Produção: Cristiana Lara Resende e Tatianna Trinxet
Idealização: Cristiana Lara Resende e Victor Garcia Peralta
Realização: Cris Lara Produções Artísticas Ltda.
 


 

 
 
 


 
SERVIÇO:
 
 
Temporada: De 20 de julho a 31 de agosto.
Local: Teatro das Artes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52, Gávea – Rio de Janeiro (Shopping da Gávea - 2º Piso).
Dias e Horários: 4ªs e 5ªs feiras, às 21h.
Contato com a Bilheteria: Telefone: (21) 2540-6004.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 2ª feira a domingo, das 15h às 20h, para ingressos antecipados. Após esse horário, apenas para peças do dia.
Valor dos ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada).
Tempo de duração: 90 minutos.
Classificação Indicativa: Livre.
Gênero: Drama ou Comédia Dramática.
 



 
 
 
 
 






            “O GAROTO DA ÚLTIMA FILA” é um espetáculo da melhor qualidade, que entretém e, principalmente, faz pensar, porque “discute a ética, até onde podemos ir, onde cruzamos essa linha, o compromisso com o outro, invasão de privacidade, falhas de caráter, manipulação (...), além da discussão da necessidade da literatura e da arte contemporânea. A arte é útil? A arte ensina alguma coisa?”. O destaque em negrito foi retirado do programa da peça e foi escrito por CRISTIANA LARA RESENDE, grande idealizadora do projeto, ao lado de PERALTA, a responsável por sua concepção geral e diretora de produção, dividindo a tarefa com TATIANNA TRINXET.

            Um aplauso especial à determinação de CRIS LARA, pela coragem de empreendedora, sem contar com patrocínios, e por se aliar a tanta gente competente, para que, juntos, pudessem concretizar o sonho de “O GAROTO...”.

            “O GAROTO...” é daqueles espetáculos que eu recomendo sem pestanejar e sem esperar que alguém reclame da indicação.

Todos ao TEATRO!

Todos a “O GAROTO DA ÚLTIMA FILA”!

 

 

 


(FOTOS: FELIPE PANFILI
e
RICARDO BRAJTERMAN.)
 
 
 
 
(Aplausos: foto de Regina Cavalcanti.)
 
 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 24 de julho de 2017


EU NÃO POSSO LEMBRAR QUE
TE AMEI
– DALVA

&

HERIVELTO

(DE COMO UMA “GUERRA”
PODE SER PROVEITOSA
E GERAR LUCROS.)



 
 
 
            Com texto de ARTUR XEXÉO, direção de TADEU AGUIAR, com o próprio TADEU, no elenco, ao lado de SYLVIA MASSARI, está em cartaz, no Theatro NET RIO, o espetáculo “EU NÃO POSSO LEMBRAR QUE TE AMEI”DALVA & HERIVELTO.

            A motivação para a montagem deste musical é a comemoração do centenário daquela que sempre foi apontada como uma das melhores cantoras brasileiras de todos os tempos: DALVA DE OLIVEIRA, paulista, natural de Rio ClaroSão Paulo, onde nasceu em  5 de maio de 1917.

            Era de se esperar que a peça girasse, então, em torno da cantora, entretanto HERIVELTO MARTINS, com quem DALVA foi casada e teve dois filhos, também é personagem, no texto de XEXÉO. É claro que uma razão muito especial houve para isso.

            É que, além de terem sido casados, os dois, após um conturbado término do casamento, protagonizaram uma “guerra” musical, que gerou alguns dos grandes sucessos da Música Popular Brasileira.

HERIVELTO compunha canções, alfinetando DALVA e esta lhe respondia, à altura, gravando canções, encomendadas a outros compositores, na mesma linha, ou seja, desmerecendo o ex-marido. Algumas, com letras sutis e, até, aparentemente, delicadas e românticas; outras, mais agressivas. E o público entendia os recados e torcia, por um ou por outro.

            Fazer músicas provocativas a outrem e receber respostas, em nível semelhante, também ocorreu entre outros artistas, entretanto a contenda que se tornou mais célebre, e que merecia, mesmo, um espetáculo que tratasse do assunto, para ilustrar e aumentar o grau de conhecimento das gerações mais novas, foi a famosa peleja entre DALVA e HERIVELTO.
 

 
 
 



 
SINOPSE:  
 
O espetáculo usa o repertório de DALVA DE OLIVEIRA (1917-1972) e HERIVELTO MARTINS (1912-1992), para narrar a trajetória dos dois, do tempo do Trio de Ouro, nas décadas de 1930 e 1940, quando eram casados, ao famoso “duelo musical”, no começo dos anos 1950, o qual marcou a carreira do casal, depois que ele se desfez.
 
SYLVIA e TADEU contam e cantam essa história, cheia de paixão, ilustrada com alguns dos maiores sucessos da música brasileira: “Ave Maria do Morro”, “Tudo Acabado”, “Errei, Sim”, “Caminhemos”, “Bandeira Branca”, totalizando 24 canções, acompanhados por TONY LUCCHESI (diretor musical) / TARANTILIO COSTA (piano e regência, revezando-se), THAIS FERREIRA (violoncelo) e LÉO BANDEIRA (bateria e metalofone).
 
Na primeira parte da peça, a do encontro dos dois, o repertório é o de sucessos do Trio de Ouro, grupo vocal que DALVA e HERIVELTO formaram, com NILO CHAGAS: “Praça Onze”, “Ave Maria do Morro”, “Segredo” e outros.
 
Na segunda parte, a da separação, a seleção é quase toda formada pela famosa polêmica travada pelos dois: “Tudo Acabado”, “Que Será”, “Errei, Sim” e outras.
 

 
 
 


            Não é a primeira vez que o casal de atores/cantores interpreta os dois personagens. SYLVIA já viveu DALVA, no musical “Estrela Dalva”, quando, na temporada paulista, substituiu Marília Pêra, no papel-título. Também já teve a oportunidade de ter os seus dias de DALVA em dois seriados de TV: “Amazônia” e “AEIO...URCA”, sendo que, neste, TADEU foi o seu HERIVELTO. Além disso, anos mais tarde, os dois fizeram um “show” em que interpretavam o casal

             Creio não terem sido por acaso os convites feitos a SYLVIA, para representar o papel de DALVA; aqueles e o atual. Ambas têm um registro vocal muito parecido, o que facilita, em muito, a atuação da atriz.

            Sob pena de ser mal entendido pelos que admiram o canto de DALVA, exponho minha mão à palmatória, para dizer que, ainda que apaixonado por música, principalmente a brasileira, e frequentador, mais ou menos, assíduo, na infância e na adolescência, dos auditórios de rádio, no Rio de Janeiro, levado que era, à guisa de “companhia”, por uma amiga de minha mãe, nunca me encantei por DALVA. Nadando contra a corrente, sendo o “diferente”, sem que isso me incomodasse, não gostava da sua voz, embora reconhecesse seu potencial vocal. Para a sua época, era perfeito o seu canto, já que o que contava, naquele tempo, era o vozeirão. DALVA cantava assim, mais do que qualquer outra cantora sua contemporânea. VICENTE CELESTINO, outro de quem eu também não gostava, também o fazia. Eu preferia os intérpretes que cantavam mais suavemente, com a voz aveludada; fugia dos que “berravam”. Pronto! Podem atirar suas pedras, que eu já peguei o meu escudo!
 
 


            O que não se pode negar é que, para a grande massa de ouvintes interessados em Música Popular Brasileira, DALVA era considerada um ídolo, e não sou eu que vou contestar isso. É questão, unicamente, de gosto.

            Aliás, o propósito destes escritos é analisar, tecnicamente e baseado na minha particular visão de espectador, antes de tudo, crítico teatral e amante de musicais, um espetáculo teatral, um musical. Passemos a isso.

            Antes de mais nada, é bom que fique claro que o que vi em cena foi exatamente o que eu esperava. Nem um pouco a mais, nem um pouco a menos.

            Por se tratar de musical biográfico, tipo que não é dos que mais me agradam, eu já esperava que o texto procurasse mostrar, cronologicamente, a trajetória do casal, enfatizando, dramaturgicamente, um fato ou outro. É bem mais narrativo do que em forma de diálogos, como se fosse um audiolivro, acrescido de imagens. Isso diminui a qualidade do espetáculo? Não!!!

            Um velho amigo, na viagem de volta, no metrô, queixou-se de não constarem, no repertório, algumas canções que marcaram a carreira da cantora, como “Kalu” e “Lencinho Branco”, por exemplo. Expliquei-lhe que isso fugiria à proposta do espetáculo. E ele entendeu. Também não haveria condição de XEXÉO utilizar, no roteiro, tudo o que foi marcante, em termos de sucesso, na carreira de DALVA e HERIVELTO.

            Falta dramaturgia ao texto, mas sobram verdade e enriquecimento histórico. O espetáculo pode ser considerado um documento ilustrado, e isso me agrada, sob outra ótica. Respeitemos a proposta do autor e dos demais envolvidos no lindo projeto.

            SYLVIA e TADEU dão conta de suas tarefas na medida de seus talentos e de suas possibilidades.

Ela, consciente de seu potencial vocal, usa e abusa da notas altas, muitas vezes, em falsete, e demonstra, mais uma vez, aquilo que estamos acostumados a ver em outros trabalhos seus: competência e verdade, uma vez que sabe valorizar, dramaticamente, as letras das canções, algumas delas do tipo que, para os nossos dias, levam a pecha de “cafonas”, uma espécie de “sofrência” (Gelei!) da época. SYLVIA sempre nos emociona, com seu canto. É uma cantora, que também atua.
 
 
 

            TADEU, ao contrário dela, é uma ator, e dos bons, que também canta. Seu timbre de voz é muito bonito, superando, em qualidade, as proporções de seu potencial vocal. Mas HERIVELTO também não era um cantor do quilate de DALVA e conseguia dar o seu recado. Da mesma forma, TADEU não força a voz e, dentro das suas possibilidades, do seu alcance vocal, interpreta, com correção, o que lhe cabe no espetáculo. Em alguns solos, destaca-se bastante e, nos duetos, faz um belo contraponto com SYLVIA, um perfeito contraste de timbres, cantando, ambos, da forma como determinou o competentíssimo TONY LUCHESI, que é responsável pelos ótimos arranjos musicais e pela direção musical.
 
 


            TONY lidera a ótima banda, completada por dois outros grandes músicos, muito requisitados para os musicais: THAIS FERREIRA (violoncelo) e LÉO BANDEIRA (bateria e metalofone).

            Além da parte musical, merecem destaque, no lindo espetáculo, os cenários e figurinos, da jovem e talentosa NATÁLIA LANA.

            A cenografia é simples, porém cria ambientes muito bonitos, com pouquíssimos recursos, os quais funcionam muito bem em cena. Algumas engrenagens descem e são içadas, vez por outra, ficando algum tempo em cena, o que não cansa o espectador, como a boca de cena de um teatro, salvo engano, onde os artistas se apresentaram, as cortinas do saudoso Cassino da Urca e várias molduras, com fotos dos homenageados. De móveis e outros objetos que ocupam o palco, em determinados momentos, dois microfones, da “Era de Ouro do Rádio”, uma poltrona, um canapé e dois abajures, que compõem uma bela imagem cênica. Um dos detalhes que mais chamam a atenção, no cenário, ou, acho que seja aquele que mais efeito plástico e deleite causa, na plateia, são vários vestidos de gala, que também, durante um determinado tempo, descem e ficam em cena, como fundo para a exibição de SYLVIA e TADEU. Não sei se são originais, do acervo de DALVA (não acredito que sejam) ou se tiveram outra origem. O certo é que são belíssimos, e o conjunto faz muito bem aos olhos.
 
 

            Os atores usam dois sóbrios e bem talhados trajes, sem trocar de roupa, durante todo o espetáculo (e nem havia necessidade).

            Os atores e o cenário são, durante os 70 minutos de duração do espetáculo, muito valorizados, por uma bela luz, de ROGÉRIO WILTGEN, tanto estética quanto funcional. ROGÉRIO é responsável por uma das mais belas iluminações a que tive acesso nos últimos tempos.
 
 


            Sempre competente o desenho de som, assinado por GABRIEL D’ANGELO, sob a execução de CARLOS FERREYRA, atento na sua função, atuando, muito mais  frequentemente, em musicais.

            No repertório, destacam-se canções, como “Pedro, Antônio e João”, “Praça Onze”, “Valsa da Despedida”, “Brasil”, “Ave-Maria do Morro”, “Segredo”, “Caminhemos” (de onde foi retirado o título do musical: "Não, EU NÃO POSSO LEMBAR QUE TE AMEI".), “Tudo Acabado”, “Cabelos Brancos”, “Que será?”, “Errei, sim”, “ “Calúnia” e “Bandeira Branca”.

 
 


 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Artur Xexéo
Direção Geral: Tadeu Aguiar
Assistência de Direção Flávia Rinaldi
Direção Musical: Tony Lucchesi
 
Elenco: Sylvia Masasari e Tadeu Aguiar
 
Banda: Tony Luchessi / Tarantilio Costa (piano e regência), Thaís Ferreira (violoncelo); e Léo Bandeira (bateria e metalofone)
Cenário e Figurino: Natália Lana
Iluminação: Rogério Wiltgen
Designer de Som :Gabriel D’Angelo
Cenotécnica: J. Faria e Equipe
Coordenação de Produção: Norma Thiré
Produção Geral: Eduardo Bakr
Realização: Estamos Aqui Produções
 


 
 





 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 15 de julho a 20 de agosto de 2017.
Local: Theatro NET RIO
Endereço: Rua Siqueira Campos, 143 – Copacabana – Rio de Janeiro.
Telefones: (21) 2147 8060 (informações) e (21) 96629-0012 (reservas).
Dias e Horários: 5ª feira e sábado, às 17h30min; domingo, às 20h30min.
NÃO HÁ SESSÕES ÀS 6ªs feiras.
Valor dos ingressos: 5ª feira, R$80,00 (plateia) e R$60,00 (balcão); sábado e domingo, R$100,00 (plateia) e R$80,00 (balcão). Há meia entrada, para os que fizerem jus ao benefício.
Classificação Etária: 10 anos.
Duração: 70 minutos.
Gênero: Musical.
 

 
 


Na vida real, tudo não acabou como num conto de fadas, o amor não foi para sempre e, ao chegar ao fim, deixou marcas profundas e indeléveis nos dois, porém o espetáculo termina numa grande celebração, com uma cena “para cima”, contando com o entusiasmo do público, que se junta ao casal de protagonistas, para entoar, em uníssono, aquele que deve ter sido o maior sucesso de DALVA: “Bandeira Branca”, e se tornou uma espécie de “hino do carnaval brasileiro”.

DALVA e HERIVELTO merecem este espetáculo, que louva o seu talento.

Todos os envolvidos no projeto são dignos do nosso maior respeito e agradecimento, por estarem, sem qualquer patrocínio, aplicando seus próprios recursos financeiros na produção, todos, sem exceção, trabalhando, com garra e paixão, por percentuais de bilheteria. Isso é a maior prova de amor ao TEATRO e respeito ao público, carente de boas produções.

E eu recomendo, com empenho, o musical, que alcança, totalmente, os objetivos a que se propõe.
 
 

 
 
 

 

 

 

 
 (FOTOS: CARLOS COSTA.)