SAMBRA,
O
MUSICAL -
100
ANOS DE SAMBA
(COMO
BRASILEIRO, ESTE ME REPRESENTA!)
Assisti a este
espetáculo, quando estreou, no VIVO Rio,
para poucas apresentações, no dia 21 de março deste ano (2015). Gostei.
Depois, ele cumpriu
vários compromissos em outras seis cidades brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Porto Alegre e Curitiba), numa vitoriosa turnê.
Recentemente,
retornou ao cartaz, no Rio de Janeiro,
e, no início deste mês de novembro, a convite do meu amigo GUSTAVO GASPARANI, idealizador do projeto, fui revê-lo, no
Teatro João Caetano.
No VIVO Rio, vi um espetáculo, mais “show” que TEATRO, daqueles voltados mais para o turista estrangeiro,
lembrando as inesquecíveis montagens, que marcaram casas de "shows", como Sambão & Sinhá, Scala, Plataforma, Canecão...
Nenhum demérito nisso. Ao contrário!
Lindo, alegre, luxuoso, perfeito,
tecnicamente! Foi essa a impressão que tive.
O VIVO Rio é
uma casa para "shows", não
para TEATRO. Todos os espetáculos
“teatrais” que se apresentam lá, com alguns musicais, perdem muito, em
qualidade. Mas é por questões técnicas. E, mesmo assim, gostei do que vi e
ouvi.
No Teatro João Caetano, o espetáculo é outro, AINDA MELHOR. Está no lugar certo.
É digno de orgulho!!!
No lugar de DIOGO NOGUEIRA, que é um ótimo cantor
(gosto muito do seu trabalho), mas que não é ator, embora tenha dado conta do
recado, razoavelmente, quanto a este aspecto, entrou GUSTAVO GASPARANI, que também dirige o espetáculo.
GUSTAVO é um ótimo ATOR, que também CANTA, E
MUITO BEM.
O elenco é fantástico!!!
O espetáculo é
excelente e deve ser visto por todos, em temporada
popular, até o dia 6 de dezembro.
A montagem já foi assistida por
mais de 40 mil pessoas e retorna à
cidade onde estreou, para comemorar o centenário
do samba, em 2016, e 202 anos do Teatro João Caetano.
SINOPSE:
O espetáculo visita a
história do samba e de seus
baluartes, contando a trajetória
deste gênero musical, em homenagem ao seu centenário.
Com duas horas e meia de duração, tempo dividido em dois atos, a produção é composta de prólogo, abertura e mais 14 quadros,
que envolvem cerca de 70 músicas,
cantadas, e 25 outras, que ligam as
canções, em formato de texto.
A narrativa é feita de
forma quase cronológica e conta desde o registro de “Pelo Telefone”, canção conhecida por ser o primeiro samba
registrado do país, até a chegada do samba na Avenida, com os desfiles de carnaval.
Passa pelo berço do samba
- a Praça XI -, os morros, a boemia,
a malandragem carioca, o teatro de revista, o samba politizado e o subúrbio do Rio.
Todos os grandes nomes do
gênero são lembrados: Pixinguinha, Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Donga,
João da Baiana, Sinhô, Ismael Silva, Tia Ciata, Francisco Alves,
Carmen Miranda, Grande Otelo, Cartola, João Nogueira, Clara Nunes, Paulo Cesar
Pinheiro, Clara Nunes, Noel Rosa, Chico Buarque, Billy Blanco,
Martinho da Vila, Cacique de Ramos, Jorge Aragão, Beth Carvalho,
Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho e
muitos outros.
GUSTAVO GASPARANI não atuava
em musicais há dois anos e meio, mergulhado na tragédia grega “Ricardo III”, de Shakespeare, na qual dá uma aula de interpretação, que lhe rendeu
prêmios e várias indicações a outros.
“Para falar do samba, tem que ter verdade. Se não for de coração, fica
falso. O samba não admite isso, a fé tem que ser verdadeira e eu acho que vou
conseguir passar isso junto com essa equipe maravilhosa!”, comenta o ator e diretor.
Fiquem certos de que conseguem, GUSTAVO
e toda a equipe envolvida no projeto!
Para escrever o espetáculo, GUSTAVO
GASPARANI mergulhou, durante três meses, em uma profunda pesquisa, para a
criação do texto. “É uma grande viagem, irreverente e lúdica, nada didática, onde o samba
é a inspiração, o protagonista. Buscamos um olhar diferente, que fugisse do
óbvio, uma forma nova de cantar o samba, sem perder a essência. Me fixei nos
movimentos, na chegada do choro, na relação do teatro com o samba, na
irreverência das revistas, na importância da Praça XI, na explosão do rádio.
Mas não é calcado no racional; pelo contrário, é feito pra emocionar, pra mexer
com o público e vimos, pelo retorno obtido, que conseguimos esse objetivo, ao
viajar o país com essa produção”, conta GASPARANI.
Vou insistir, GUSTAVO: DEU MUITO CERTO!!!
O espetáculo me agradou bastante, por completo; merece, então, alguns
destaques:
1) Parece
impossível poder contar a história e a evolução do samba, evitando o didatismo, entretanto há várias maneiras de se fazer
isso, sem ser “chato”, desagradável, enfadonho. Assim acontece neste espetáculo.
O público aprende tudo (ou quase tudo) sobre o samba, mas não de uma forma professoral. Merece o primeiro destaque
o texto, fruto de uma boa pesquisa.
Poderão alguns dizer que faltou dramaturgia,
mas, dentro da proposta do espetáculo (mais
“show” que TEATRO), pouca falta ela faz.
2) As projeções (videografismos, principalmente),
sob a responsabilidade de THIAGO
STAUFFER, que são feitas ao fundo do excelente cenário, de HÉLIO EICHBAUER,
também diretor de arte, são de uma
qualidade ímpar, enriquecem as cenas, ilustram, informando, são muito bem
elaboradas e projetadas milimetricamente sintonizadas àquilo a que se referem
(assuntos, temas e letras das canções).
3) Ricos, lindos,
variadíssimos e em grande quantidade são os magníficos figurinos, de MARÍLIA
CARNEIRO e REINALDO ELIAS. Justificam
ser o espetáculo considerado uma superprodução. Os ternos têm um corte e um
acabamento impecáveis; os vestidos são deslumbrantes.
4) Os dez músicos,
que formam a pequena orquestra, posicionada ao fundo do palco, sob a direção musical e os arranjos de NANDO DUARTE, foram recrutados entre os melhores profissionais do mercado,
o que gera um efeito sonoro de primeiríssima qualidade.
5) Pode-se dizer
que se trata de um espetáculo, também, de cores e luzes, pela extensa paleta
utilizada nos figurinos, nos quais o
brilho também se faz presente, e pela iluminação
frenética, supercolorida, mais um ótimo trabalho de PAULO CÉSAR MEDEIROS.
6) As coreografias são criativas e muito
diversificadas, assim como a direção de
movimento, obedecendo ao bom gosto e à criatividade de quem as assina, o
consagrado coreógrafo RENATO VIEIRA.
7) O elenco, que sofreu mínimas
substituições, desde a estreia, é afinadíssimo, todos interpretando, dançando e
cantando de forma brilhante, a maioria. Os que não se destacam no canto não
decepcionam. Em se tratando de canto, GUSTAVO
GASPARANI, LILIAN VALESKA, CRISTIANO GUALDA, ANA VELLOSO, ALAN ROCHA,
BEATRIZ RABELLO, PATRÍCIA COSTA e
WLADIMIR PINHEIRO se destacam, nos vários personagens que interpretam e nas
múltiplas canções que solam. Sem falar que quase todos tocam, com maestria,
instrumentos musicais, com destaque para WLADIMIR
PINHEIRO, ao piano e ao violino. Elenco
versátil!
8) Um dos grandes
destaques do espetáculo é o infindável questionamento que se faz sobre o fato de
ser, realmente, “Pelo Telefone” o primeiro
SAMBA gravado, e registrado, em
1916. Mais ainda: ele foi, realmente, composto, unicamente, por Donga, a quem é atribuída sua autoria?
E, ainda: é um SAMBA ou um maxixe ou
coisa parecida?
9) São hilárias
as entradas de ÉDIO NUNES, como ISMAEL SILVA, nunca sabendo se era,
realmente, o seu momento de entrar em cena. É um dos pontos marcantes de humor,
no espetáculo.
10) O papel de Tia Ciata não poderia ter melhor
intérprete do que LILIAN VALESKA,
tanto na parte relativa aos seus textos como, principalmente, nos números
musicais. LILIAN sola várias canções,
superando-se, sempre, a cada uma delas.
11) Não há quem não aplauda o
velho número da “Boneca de Piche”,
consagrado por Grande Otelo e várias
“partners”, aqui interpretado por BRUNO
QUIXOTTE, um artista talentosíssimo, e PATRÍCIA
COSTA, idem.
12) Muito interessante é a cena
do “duelo” (não “dueto”) entre a cantora Aracy
Cortes (BEATRIZ RABELLO) e a
vedete MARGARIDA MAX (ANA VELLOSO).
13) Emociona bastante a cena em
que os negros interpretam a canção “Benguelê”,
como homenagem a Clementina de Jesus.
O vibrar de vários atabaques, marcando o ritmo e o compasso da música, mexe com
qualquer um. Trata-se de uma cena muito marcante.
14) WLADIMIR PINHEIRO encarna um Cartola
perfeito, apesar da enorme diferença física entre os dois. O resultado é bom,
graças ao trabalho de postura do excelente ator e cantor, com o auxílio luxuoso
de um bom visagismo, de
responsabilidade de GRAÇA TORRES.
Aliás, este detalhe de transformar uma pessoa em outra (visagismo), por meio de um conjunto de recursos de maquiagem e
adereços, é um dos pontos altos do espetáculo.
15) A sequência que faz alusão à Mangueira é linda, quer pela qualidade
das canções selecionadas, quer pelo nível das interpretações. Como bom
mangueirense, tremeram-me as pernas.
16) É genial a ideia da conversa
fictícia entre dois “bambas” da Vila
(Isabel): Noel Rosa e Martinho da Vila, o primeiro
precocemente falecido, em 1937, aos 27 anos de idade. Nesta cena, ALAN ROCHA arranca gargalhadas e
aplausos do público, com sua divertida e muito próxima imitação do autor de “O Pequeno Burguês (“Felicidade / Passei no
vestibular / Mas a faculdade é particular”).
17) Um espetáculo que, por ser
longo, precisa de um intervalo tem a obrigação de que o final do primeiro ato
acabe “em cima”, despertando o interesse da plateia para o que vem depois. Não
poderia ser melhor o encerramento da primeira parte. Diria que é apoteótico,
graças à interpretação do lindo samba “Poder
da Criação” (“Não, ninguém faz samba
só porque prefere / Força nenhuma, no mundo, interfere / Sobre o poder da criação”),
de Paulo César Pinheiro e João Nogueira, grande sucesso na voz
deste e de tantos outros intérpretes, que o regravaram. Todo o elenco canta e a
plateia inteira também. Inclusive eu, entre soluços.
18) Já que o samba tem vários
“disfarces”, não poderia faltar a alusão a um tipo de samba: a bossa-nova, na figura de seu criador, João Gilberto. Um coral de centenas de
vozes acompanha o solista, em “Chega de
Saudade”. Outro ótimo momento do espetáculo!
19) A Lapa não poderia faltar. Os malandros da “Ópera”, de Chico Buarque,
entram em cena (“Eis o malandro na praça
outra vez / Caminhando na ponta dos pés / Como quem pisa nos corações / Que
rolaram dos cabarés”). A criatividade do cenógrafo, aqui, se faz presente de forma incrível, ao colocar
apenas um poste com um lampião, em cena, para caracterizar o espaço, quando,
certamente, outro profissional pensaria nos Arcos. Achei excelente a solução cenográfica para esta cena.
Simples e perfeita!
20) O roteirista não se esqueceu
do emblemático Café Nice, dentro do
qual, ou em cuja calçada, muitos sambas, muitos sucessos, compostos por
ilustres desconhecidos, foram negociados, vendidos a “sambistas” famosos, na
época. As transações em forma de “maracutaias” não são tão recentes assim.
21) Embora não fossem voltados
apenas para o samba, os festivais de música
também ocupam parte deste espetáculo. Não foram tão importantes para o samba, de uma forma específica, porém a
lembrança é bem aceita.
22) ANA VELLOSO compõe uma ótima Carmem
Miranda, pela qual, a Carmem -
que fique bem claro - nunca tive grande admiração, mas seria um sacrilégio não
reconhecê-la como uma “embaixadora do
samba”, principalmente nos Estados Unidos, abrindo as portas para a
divulgação do nosso ritmo popular típico, ainda que fosse portuguesa, de
nascimento. ANA canta muito bem e dá
conta dos remelexos da “Pequena Notável”.
23) A chamada “Era do Rádio”, com o quase monopólio
da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro,
também está presente, no espetáculo, na forma dos programas de auditório. É uma
bela sequência musical, com ótimas interpretações, porém não vejo muito sentido
em colocar LILIAN VALESKA,
interpretando “Que Será?”, de Marino Pinto e Mário Rossi, pelo fato
de ser um bolero. Mas, na voz de LILIAN, tudo, qualquer coisa mesmo,
fica lindo, motivo pelo qual “perdoo” o GUSTAVO
GASPARANI (momento descontração).
24) A relação do samba com a política é marcada nas cenas que lembram o “show” “Opinião” e a peça “Roda Viva”. Emocionantes!
25) Como é boa a cena que festeja
(“Vou Festejar”) o Cacique de Ramos! Uma roda de samba na
poderia faltar no espetáculo. E qual delas é melhor do que as do Cacique/? Viva Beth Carvalho, a “madrinha’, que descobriu e revelou tantos
talentos, dentre os quais destaco o grande Zeca
Pagodinho!
26) Um dos melhores momentos de
humor é quando Getúlio Vargas, (ÉDIO NUNES) resolve fazer uma
“selfie”. E, melhor ainda, utilizando o “defectível” “pau de selfie”. Hilário!
27) Se há música num espetáculo, não podem falhar o desenho de som (CARLOS
ESTEVES) e a preparação e arranjos vocais
(MAURÍCIO DETONI). Funcionam muito
bem. Harmonia total!
28) E “last, but not least” (Perdão!
Estamos falando de SAMBA: por último, mas não menos importante), a
homenagem às escolas de samba, com
foco na Portela. Destaque para a
bela PATRÍCIA COSTA, que, como elemento
de destaque daquela agremiação e neta do um de seus fundadores, com muita
emoção, fala do que representa a Portela
em sua vida. É muito emocionante. Depois disso, é só “partir pro abraço”, ao
som de “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”,
do grande Paulinho da Viola, “Não Deixe o Samba Morrer”, de Édson e Aloísio, e aquele que é considerado, pela crítica especializada e
pelo povo, em geral, o maior samba-enredo de todos os tempos: “Aquarela do Brasil”, do mestre Silas de Oliveira, seu único autor.
Bem, mas isso era num outro tempo; não é como hoje, quando os sambas-enredo
trazem como compositores um verdadeiro abaixo-assinado.
Não
deixem de assistir a “SAMBRA, O MUSICAL
– 100 ANOS DE SAMBA”, uma verdadeira celebração, um ato de comunhão entre
um ritmo, artistas fantásticos e um povo, que sai do teatro feliz, a cantar.
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FICHA TÉCNICA:
Texto
e Direção: Gustavo Gasparani
Pesquisa
Musical: Gustavo Gasparani e Rodrigo Alzuguir
Elenco:
Diogo Nogueira/Gustavo Gasparani, Ana Velloso, Beatriz Rabello, Izabella Bicalho
(deixou o elenco, para se dedicar a outro espetáculo), Lilian Valeska, Patrícia
Costa/Simone Debet, Alan Rocha, Bruno Quixotte, Cristiano Gualda/Maurício
Detoni, Édio Nunes, Wadimir Pinheiro, Cátia Cabral, Patrícia Ferrer, Shirlene
Paixão, Isnard Manso/Charles, Pablo Dutra e Paulo Mazzoni
Músicos:
Nando Duarte (Regente/Violonista), Alexandre Caldi (Sax/Flauta), André
Vercelino (Percussão), Zé Luiz Maia (Baixo), Fabiano Segalote (Trombone),
Gustavo Salgado (Piano), João Callado (Cavaco), José Arimatea (Trompete),
Nailson Simões (Bateria e Percussão) e Rodrigo Jesus (Percussão).
Direção
Musical e Arranjos: Nando Duarte
Direção
de Movimento e Coreografia: Renato Vieira
Direção
de Arte e Cenografia: Hélio Eichbauer
Figurinos:
Marília Carneiro e Reinaldo Elias
Visagismo:
Graça Torres
Desenho
de Luz: Paulo César Medeiros
Desenho
de Som: Carlos Esteves
Vídeos
e Animações (Videografismos): Thiago Stauffer
Preparador
e Arranjador Vocal: Maurício Detoni
Produção
de Elenco: Marcela Altberg
Produção;
Aventura Entretenimento / Musickeria
SERVIÇO:
Temporada: Até 06 de dezembro (2015).
Local: Teatro João Caetano.
Endereço: Praça Tiradentes, s/nº – Centro,
Rio de Janeiro / RJ.
Dias e Horários: 5ª feira – 19h; 6ª feira e
sábado – 20h; domingo – 18h30min.
Funcionamento da Bilheteria: Diariamente,
das 14h às 18h ou até a hora do espetáculo (em dias com apresentações).
Telefone da
Bilheteria: (21) 2332-9166
Vendas pela internet: www.ingresso.com
Valor
dos Ingressos: 5ª feira e 6ª feira =
Plateia–R$80,00 (inteira), R$40,00 (meia-entrada). Balcão Nobre–R$70,00 (inteira), R$35,00
(meia-entrada). Balcão
Simples–R$40,00 (inteira), R$20,00 (meia-entrada).
Sábado e
domingo = Plateia–R$100,00 (inteira), R$50,00 (meia-entrada). Balcão Nobre–R$80,00 (inteira), R$40,00
(meia-entrada). Balcão
Simples–R$50,00 (inteira), R$25,00 (meia-entrada).
Capacidade: 1.139 lugares.
Duração: 150 minutos (com intervalo).
Classificação Etária: Livre.
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO.)