terça-feira, 10 de novembro de 2015


CENAS DE UM CASAMENTO

 

 

(O RESUMO DE
UMA INFINDÁVEL “DR”.)

 

 

 


 

 

 

            “CENAS DE UM CASAMENTO”, na verdade, surgiu como um seriado para a TV sueca, em seis episódios, tornando-se, depois, no início dos anos 70, um longa-metragem, com cinco horas de duração, escrito e dirigido por um gênio da telona, INGMAR BERGMAN, acabando por ganhar os palcos.

           

Transpor um roteiro cinematográfico para o TEATRO parece-me uma tarefa mais difícil que o contrário e não pode cair nas mãos de gente de pouco entendimento. Ainda mais difícil é condensar (traduzir e adaptar) uma obra cinematográfica de cinco horas de duração num espetáculo teatral que dura apenas 90 minutos, sem que o seu fio condutor seja rompido ou deturpado.

 

 

 Juliana Martins e Heitor Martinez protagonizam a peça

90 minutos de “DR”.

 

MARIA ADELAIDE AMARAL, com seu enorme talento de dramaturga e experiência em adaptações, tomou para si a tarefa de levar, para o palco, um texto que trata de tudo o que envolve a vida conjugal de um casal em crise, uma verdadeira “DR” (discussão de relacionamento) que parece nunca ter fim.

 

            O espetáculo está em cartaz, no Teatro Ipanema, até o dia 15 de novembro, de 6ª feira a domingo, sempre às 20h, com direção de BRUCE GOMLEVSKY e contando com JULIANA MARTINS e HEITOR MARTINEZ, interpretando o casal MARIANNE e JOHAN.

 

 

 Na história, eles são um casal em crise

Uma pausa na crise?

 

 

 

           
SINOPSE:
 
“CENAS DE UM CASAMENTO” é um potente relato das relações amorosas, que atravessa o tempo e revela sua atualidade. Um quadro da relação de amor de JOHAN (HEITOR MARTINEZ) e MARIANNE (JULIANA MARTINS) e uma das obras fundamentais do cineasta sueco INGMAR BERGMAN, com tradução de MARIA ADELAIDE AMARAL.
 
O texto traça um retrato das dores e delícias da trajetória de vida do casal JOHAN e MARIANNE, ambos bem-sucedidos, profissionalmente, e levando, aparentemente, uma vida confortável, num casamento quase ficcional.
 
Dez anos casados, duas filhas, a crise, a banalidade e os abismos do ambiente doméstico.
 
Um belo dia, JOHAN diz à esposa que vai abandoná-la, sair de casa, para viajar com uma amante, por quem está apaixonado. A partir dessa revelação, algumas situações vêm à tona, um tsunâmi se instaura entre os dois e o que vinha sendo varrido para debaixo do tapete, tratado mornamente, entra em ebulição, apenas para confirmar o que não havia sido, ainda, visto, por eles, ou, de propósito, ignorado: o casamento já vinha se deteriorando, havia tempos, desgastando-se, aos poucos, caindo na rotina.
 
Uma radiografia das relações amorosas: o casamento ideal, a separação e o reencontro, quando eles, já casados com outras pessoas, finalmente entendem, talvez um pouco tarde demais, o que é o amor.
 
Temas como amor, idealização, separação, reencontro, ressentimento e redescoberta são os assuntos expostos num texto contemporâneo, sobre o amor, com dois personagens fascinantes – seja pelas suas qualidades e ou pelos seus defeitos extremamente humanos - e que reúnem, em si, semelhanças com quaisquer outros homens e mulheres que estejam na plateia.
 

 

 

 

Marcos Morteira (1)release.jpg

A saída? Onde está asaída?

  

Nunca assisti ao filme, nem pretendo fazê-lo, por não ser muito fã de cinema, ainda mais que sua duração, de 300 minutos (299, precisamente, como diz a sua ficha técnica), não seria, para mim, um atrativo, mas sei que, no original, há nove personagens, resumidos a apenas dois, no palco, o casal de protagonistas, assim como foram suprimidas muitas cenas consideradas importantes na trama, segundo os amantes da Sétima Arte. Concluo, então, que a peça seja “baseada no filme” e não “uma versão do filme”. Mas isso não importa; é uma história a ser contada.

 

Parece que (não sou eu quem está dizendo; ouvi de terceiros) MARIA ADELAIDE manteve-se bem fiel ao estilo dos diálogos originais, porém, não acredito que BERGMAN tenha escrito frases e criado algumas situações que provocam gargalhadas na plateia, como acontece na peça. Parece-me que esses momentos de descontração, de piadas inteligentes, o toque de humor e ironia, tornam o texto menos pesado (eu diria “enfadonho”), contribuições de MARIA ADELAIDE. Isso representa, a meu juízo, um grande mérito nesta adaptação.

 

 


Juliana Martins.

 

 

Independentemente de tudo o que merece elogios, neste espetáculo, o que será detalhado adiante, a mim, muito particularmente, a temática não me agrada, e penso que, apesar do grande encurtamento, ainda acho bastante monótona a repetição do tema, uma “DR” que parece não ter fim. Talvez coubesse mais um pouco de economia no texto. Sei que posso provocar a desaprovação de muitos, mas não consigo fugir à sinceridade.

 

É certo que boa parte do público, a maioria, talvez, há de se identificar com os diálogos dos protagonistas. Pode ser que a ida ao teatro ajude alguns casais em crise a resolver suas contendas ou contribua para pôr uma pá de cal em relacionamentos abalados. Mas isso é problema de cada um. Não é o meu, já resolvido faz tempo.

 

 


Valeria a pena recomeçar?

 

 

Sinceramente, não sei o que dizer sobre a direção, de BRUCE GOMLEVSKY, a não ser que, se não me desagradou, também não consegui enxergar, nela, nenhum aspecto que merecesse um destaque. Por outro lado, não há nada que a desabone. Um grande diretor, tanto quanto ator, a direção de “CENAS DE UM CASAMENTO” está aquém de tantos outros brilhantes trabalhos assinados por ele (poderia relacionar muitos), mas é bastante honesto e dentro dos padrões de aceitação. Acho que seu maior mérito reside em saber administrar a intensidade da carga emotiva que a dupla de atores levou para a cena. Achei um pouco exagerada a quantidade de bebidas que o casal ingere durante toda a peça, incessantemente. Totalmente inverossímil. Se o líquido cenográfico fosse trocado por bebidas alcoólicas, de verdade, os atores terminariam em coma alcoólico.

 

Aqui, está, no meu entendimento, o melhor desta encenação: a ótima atuação de JULIANA MARTINS e HEITOR MARTINEZ. Ambos, num mesmo nível de atuação, demonstram uma entrega total aos personagens, e o fazem com muita naturalidade, dando a impressão de que estamos diante de uma longa conversa improvisada, longe de um texto decorado.

 

JULIANA, que também é a idealizadora do projeto, interpreta uma mulher, aparentemente, acomodada, um tanto submissa, ingênua e contida, que vai se transformando em outra pessoa, vai ocupando espaços, após a separação, reconhecendo seus direitos e deveres, como boa advogada, especializada em casos conjugais, amadurecendo emocionalmente, transição que ela representa com correção.

 

 

Foto: apetecer.com

Marianne.

 

HEITOR também transita, muito bem, na sua transformação, de um homem igualmente acomodado, bem mais que a esposa, com um casamento morno, conformado com o cotidiano, não muito disposto a lutar por um “up” na relação, até porque, insatisfeito em casa, vai buscar, na rua – e esse filme já é, por demais, conhecido – uma compensação, numa amante, achando que a situação de desgaste na relação é irreversível e que a única solução seria recomeçar uma vida conjugal com outra parceira e fora de seu país. É visível a evolução do personagem, quando toma tal atitude, notada no conjunto do seu comportamento, chegando bem próximo ao que se pode chamar de um (falso) cafajeste.

 

 

Foto: apetecer.com

Johan.




         Aplaudo, com entusiasmo, o trabalho dos dois atores!

 

            É interessante o cenário, de PATI FAEDO, concentrando várias peças bem recortadas, em formato de bancos e/ou mesas, que lembram engrenagens de um quebra-cabeça, constantemente, a cada um dos seis episódios (“cenas”), formando novos desenhos, manipulados pelos próprios atores. O cenário vai sendo reconstruído, à semelhança do que os personagens vão tentando fazer em suas vidas particulares, ajustando as partes, à procura de uma combinação perfeita, harmoniosa.

 

 

 O cenário vai se transformando ao longo da peça

Aspecto do interessante cenário.

 

 

            Os figurinos, de TICIANA PASSOS, contribuem bastante para a boa composição dos personagens.

 

            A luz, de ELISA TANDETA, longe da qualidade de outros trabalhos assinados por ela, como em, “O Funeral”, “Os Que Ficam”, “A Visita da Velha Senhora” e “Um Estranho no Ninho”, por exemplo, não merece grande destaque, mas é satisfatória. Fica registrado o mérito de estabelecer padrões diferentes de iluminação para cada uma das seis cenas. Faço restrição, porém, à forte iluminação que vinha do fundo do palco, ofuscando os espectadores das primeiras fileiras, como eu.

 

Agrada-me a trilha sonora original, de ALEX FONSECA.

 

Nos últimos tempos, muitos filmes têm sido adaptados para o palco e vice-versa. Algumas tentativas são bem sucedidas; outras nem tanto. E há as que não provocam grandes comentários, nem positivos, nem negativos. São apenas merecedoras de uma classificação “média”, como é o caso do espetáculo ora analisado.

 

Não há por que tecer-lhe loas, muito menos criticá-lo negativamente. É, antes de tudo, um trabalho honesto, muito bem intencionado e feito com muita garra e amor, o que, por si só, já bastaria para merecer todo o meu respeito. Mas não é um espetáculo arrebatador; para mim, pelo menos, talvez pela minha antiga intolerância às "DRs".

 

 

Foto: apetecer.com

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Autor: Ingmar Bergman
Tradução: Maria Adelaide Amaral
Direção: Bruce Gomlevsky
 
Elenco: Juliana Martins e Heitor Martinez
 
Trilha Original: Alex Fonseca
Iluminação: Elisa Tandeta
Cenografia: Pati Faedo
Figurino: Ticiana Passos
Assistente de Direção: Luiza Maldonado
Projeto Gráfico: Thiago Ristow
Agente Literário: Cinthya Graber
Prestação de Contas: Letícia Napole
Produção Executiva: Ana Casalli
Direção de Produção: Fábio Amaral
Produtores Associados: Anna Magdalena, Fábio Amaral, Fabrício Chianello e Juliana Martins
Idealização: Juliana Martins
Realização: Bubu Produções Artísticas e Ymbu Entretenimento
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
 

 

 

Marcos Morteira 42 Ingmar Bergman em versão brasileira

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: Até 15 de novembro.
Dias: De 6ª feira a sábado.
Horário: Sempre às 20h.
Valor do Ingresso: R$ 40,00 (inteira) R$ 20,00 (meia-entrada).
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2267-3750.
Capacidade: 222 lugares.
Duração: 90 minutos.
Classificação: 14 anos.
Gênero: Drama.
 

 

 


 

 

No balanço geral, “CENAS DE UM CASAMENTO” não seria o primeiro nome da minha lista de indicações, porém, certamente, faria parte dela, principalmente por reconhecimento ao grande esforço dos envolvidos no projeto, nos quais incluo, além dos já citados, nomes como FÁBIO AMARAL, ANNA MAGDALENA e FABRÍCIO CHIANELLO, além da própria JULIANA MARTINS, todos produtores associados, que não mediram esforços e lutaram, tenazmente, para a produção desta peça.

 

Parabéns, pela coragem e pelo empreendimento!



 

 

 

(FOTOS: MARCOS MORTEIRA.)

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