sexta-feira, 27 de novembro de 2015


UMA
ILÍADA
 
 
(SOZINHO, SIM;
SOLITÁRIO, JAMAIS!)
 
 
 
 
 
 
            Mais um grande monólogo, neste apagar das luzes de 2015, no Rio de Janeiro: “UMA ILÍADA”, dirigido e interpretado por BRUCE GOMLEVSKY, no Teatro I do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB).
 
Um palco nu, apenas com um círculo de velas acesas, um homem sozinho, em cena, e uma instigante história a ser contada.
 
Sozinho, mas não solitário, pois, a cada sessão, uma média de 150 espectadores, na pior das hipóteses, ficam atentos, em silêncio sepulcral, o tempo todo (80 minutos), solidários, ligados àquele homem, ouvindo a história que ele conta e admirando o “show” de interpretação que, raramente, se vê num ator.
 
            BRUCE, que é excelente, atuando, vinha se dedicando, nos últimos anos, mais à tarefa de dirigir, o que também faz muito bem, e à música, com a gravação de um CD e apresentações, em shows, para lançar o disco.
 
            Havia um hiato na sua trajetória de ator, que precisava ter fim e que, felizmente, termina agora, com esta excelente montagem.
 
            Reputo de grande coragem subir a um palco, sozinho, apoiado em quase nada, em termos de elementos cenográficos, emoldurado, e realçado, porém, por uma belíssima luz, para contar uma história universalmente conhecida, consagrada e admirada, escrita em mais 15.000 versos, há mais de 3.000 anos.
 
            Mas só ousa quem tem consciência de que pode fazê-lo. Essa percepção não falta a BRUCE GOMLEVSKY, ainda que mesclada com muita humildade.
 
            A peça (“AN ILIAD”) foi escrita, a quatro mãos, por LISA PETERSON e DENIS O’HARE, e recebeu, entre nós, uma excelente tradução, especialmente feita para esta montagem, de GERALDO CARNEIRO, um craque nisso.
 
 
 

 
 
 
 
SINOPSE I – A ILÍADA
 
“A ILÍADA” é um poema épico, cuja autoria é atribuída a Homero, poeta grego, do século VIII a.C..
 
Nesta obra, o autor descreve a Guerra de Troia, entre gregos e troianos, em 20 cantos, inicialmente. No livro, o autor conta o penúltimo ano dessa guerra, que durou dez.
 
A Guerra de Troia foi um longo conflito bélico, que aconteceu por causa do rapto da belíssima princesa grega, Helena, esposa do rei Menelau.
 
O príncipe troiano Paris tinha ido a Esparta, numa missão diplomática, e acabou se rendendo aos encantos de Helena, apaixonando-se por ela e raptando-a.
 
Com o rapto da esposa, Menelau ficou enfurecido e fez com que os guerreiros gregos, que haviam sido encarregados de proteger sua esposa, organizassem um exército, comandado pelo general Agamenon, com a finalidade de resgatar Helena, atribuição que duraria cerca de dez anos.
 
Nesse embate sangrento, muitos soldados foram mortos, inclusive Aquiles, atingido no seu ponto fraco, o calcanhar.
 
O conflito terminou, após a execução de um grande plano, engendrado por um corajoso guerreiro, Ulisses, o mais esperto e inteligente dos homens gregos.
 
Sua ideia, uma engenhosa trapaça, consistiu em presentear os troianos com um grande cavalo de madeira, alegando que os inimigos deixavam de sê-lo, estavam desistindo da guerra e que o cavalo era um presente, como prova de um desejo de paz. 
 
Os troianos caíram na cilada e aceitaram a gigantesca dádiva, abrindo os portões que guardavam a cidade, permitindo, assim, que o enorme cavalo fosse conduzido para dentro dos muros protetores da cidade.
 
Após uma longa noite de comemoração, regada a muita bebida, com a qual os troianos se fartaram, mas os gregos não, os anfitriões foram dormir, exaustos.
 
Aproveitando-se disso, os soldados gregos, que estavam escondidos dentro do cavalo, atacaram a cidade, abrindo os portões da fortaleza, para que os outros guerreiros entrassem e destruíssem Troia.
Esse poema épico é constituído por, exatamente, 15.693 versos, em hexâmetro datílico, que é a forma tradicional da poesia épica grega. Foi escrito numa mistura de dialetos, resultando numa língua literária artificial, que nunca foi, de fato, falada na Grécia.
Considera-se que tenha a sua origem na tradição oral, desde tempos micênicos, ou seja, teria, originalmente, sido cantado pelos aedos, contadores de histórias, artistas que cantavam as epopéias, acompanhando-se de um instrumento musical, semelhante a uma cítara, e que, só muito mais tarde, os versos foram compilados numa versão escrita, no século VI a.C., em Atenas.
O poema fora, então, posteriormente dividido em 24 cantos, divisão que persiste até hoje. A divisão, com cada canto correspondendo a uma letra do alfabeto grego, é atribuída aos estudiosos da biblioteca de Alexandria, mas pode ser anterior.
“A ILÍADA” é considerada a “obra fundadora da literatura ocidental e uma das mais importantes da literatura universal.
 
SINOPSE II – UMA ILÍADA
Resgatando a tradição dos antigos contadores de histórias (aedos), BRUCE GOMLEVSKY, sozinho, em cena, narra, ao público, a Guerra de Tróia,  acompanhado por uma contrabaixista, ALANA ALBERG.
 
 


 


            Não basta, apenas, o saber acadêmico de que “A” pode ser um artigo definido e “UMA”, indefinido. É fundamental saber a distinção entre o emprego de ambos. “A ILÍADA é a obra atribuída a Homero. Trata-se de uma determinada obra, única. “UMA ILÍADA é mais uma das várias maneiras de se apresentar essa mesma obra. Aqui, é a que cabe aos autores do texto original, LISA PETERSON e DENIS O’HARE, a GERALDO CARNEIRO, que traduziu a peça, e, principalmente, a BRUCE GOMLEVSKY, que, num momento de inspiradíssima criação artística, nos brinda com uma das melhores interpretações deste ano.

De acordo com o “release”, enviado pela assessoria de imprensa (JSPontes), “‘UMA ILÍADA’ busca a conexão com os aspectos mais essenciais do TEATRO. Abrindo mão de quaisquer elementos ou artifícios, a peça vale-se, basicamente, do trabalho do ator e a comunicação direta com seu interlocutor.

            Em cena, vivendo um poeta de um tempo e lugar indeterminados, BRUCE, acompanhado da contrabaixista ALANA ALBERG, faz uma releitura dos antigos “aedos”, artistas andarilhos da Grécia Antiga, que cantavam, para o povo e para as cortes, os poemas ‘homéricos’.

‘Com poesia e humor, o texto apresenta a história da Guerra de Troia ao mundo contemporâneo, tratando de temas ainda atuais, como a escolha entre valores materiais e morais, a ira, a sede de guerra e suas consequências.”
 


 


“Para mim, é uma satisfação imensa ter encontrado esse texto tão especial. Uma versão condensada da Ilíada, de Homero, escrita de forma acessível e comunicativa, para as plateias contemporâneas, sem perder a profundidade e a beleza poética do texto (…) Me interessei, também, por tentar investigar como essa obra – que tem três mil anos e é considerada o primeiro poema épico ocidental que chegou aos nossos dias –  nos afeta, ainda hoje, por tocar em questões míticas do ser humano, como, por exemplo, a violência, a ganância e a ferocidade humana. A necessidade infindável do homem de guerrear, conquistar e subjugar o seu semelhante.”, afirma BRUCE GOMLEVSKY.

Não há muito a acrescentar a estes comentários, a não ser que me encantou, profundamente, a atuação de BRUCE, que ainda se dá ao luxo de cantar, entoando, mais de uma vez, uma espécie de mantras, com sua bela e potente voz. A riqueza de detalhes como vai narrando e descrevendo o que lhe vem à mente transporta-nos ao teatro da guerra.

Seu domínio de palco e sua expressão corporal, sua “mise-en-scène”, também são dignos de elogios, graças ao seu esforço pessoal, já que não é mais um ”menino”, e ao excelente trabalho de direção de movimentos, de Daniela Visco.

Na ficha técnica, há espaço de destaque para o interessante figurino, de CAROL LOBATO, a trilha sonora original, de MAURO BERMAN e a fantástica iluminação, de ELISA TANDETA, que é fundamental nesta encenação, quase um “personagem”.

A participação, no contrabaixo, de ALANA ALBERG, fazendo uma espécie de contraponto ao texto dito pelo ator, variando o volume do som emitido pelo instrumento e criando efeitos especiais, para valorizar determinados momentos do monólogo, é excelente. A execução e, antes, a ideia.

Quanto ao cenário, do próprio BRUCE, não há nada especial; ou outra, há, sim. É extremamente simples, apenas utilizando um círculo de velas acesas, no chão. Nada mais seria mesmo necessário, já que o ator é o foco de todas as atenções.

Dois detalhes, na atuação de BRUCE, vieram-me, agora, à mente: o quanto ele é visceral no seu trabalho, chegando a fazer pingar cera derretida, de uma vela, sobre o dorso de uma das mãos, e as várias vezes em que atua no proscênio, para um contato maior com o público. Num determinado momento, chega a descer à plateia, falando, diretamente, a alguns espectadores, cara a cara.

Além de narrar a história, interpreta alguns personagens, com vozes e posturas distintas. Uma maravilha!

O espetáculo reserva uma bela e impactante surpresa, na última cena, graças a um efeito especial, de DERÔ MARTIN, enquanto o ator vai enumerando dezenas de guerras e conflitos, cronologicamente, ao longo da história da humanidade, chegando a citar os massacres de Vigário Geral e da Candelária, o que causa uma comoção grande no público.
 
            Ao final de cada sessão, para os que desejarem, o ator promove um rápido debate sobre o espetáculo e a obra, do qual vale a pena participar.

Recomendo, com bastante empenho, uma ida ao CCBB, para que assistam a um grande espetáculo e tomem conhecimento de uma das mais consagradas obras da literatura universal, de uma forma tão simples, didática e poética.
 


 
FICHA TÉCNICA:

Texto: Lisa Peterson e Denis O’Hare
Tradução: Geraldo Carneiro
Direção e Interpretação: Bruce Gomlevsky
Trilha Sonora Original: Mauro Berman
Contrabaixista: Alana Alberg
Iluminação: Elisa Tandeta
Figurino: Carol Lobato
Cenário: Bruce Gomlevsky
Direção de Movimento: Daniela Visco
Assistente de Direção: Lorena Sá Ribeiro
Efeito Especial: Derô Martin
Fotos: Dalton Valério
Projeto Gráfico: Maurício Grecco e Tiago Ristow
Direção de Produção: Carlos Grun – Bem Legal Produções
Produção e Realização: BG ArtEntretenimento Ltda
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
 
 
 


 
 
 

 
SERVIÇO:
Temporada: Até 21 de dezembro (2015).
Local: Teatro I - Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rio de Janeiro.
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro.    
Telefone: (21) 3808-2020.
Dias e Horários: De 4ª feira a 2ª feira, sempre às 19h.
Valor dos Ingressos: R$10,00 e R$5,00 (meia-entrada).
Funcionamento da bilheteria: De 4ª feira a 2ª feira, das 9h às 21h (Aceita cartão).
Vendas também pelo site http://www.ingressorapido.com.br/
Capacidade: 172 espectadores.
Gênero: Drama
Duração: 80 minutos
Classificação Etária: 12 anos
 
 


“UMA ILÍADA” é o único espetáculo em cartaz, atualmente, no Rio de Janeiro, de 4ª feira a 2ª feira, com seis sessões semanais.
 
 

 
 
 


 
(FOTOS: DALTON VALÉRIO)

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