domingo, 28 de outubro de 2018


A CASA DOS NÁUFRAGOS


(UMA METÁFORA ACERTADA.
ou
UMA PROPOSTA INTERESSANTE.)





            Está em cartaz, na Sala Multiuso do SESC Copacabana (VER SERVIÇO.) o espetáculo “A CASA DOS NÁUFRAGOS”, um monólogo, baseado no livro homônimo, considerado “best seller”, de um famoso escritor cubano, GUILHERMO ROSALES (Havana, 1946 – Miami, 1993), embora eu ainda, reconhecendo a minha ignorância, não conhecesse o seu trabalho, apesar de leitor de muitos outros seus conterrâneos, dentre os quais destaco Italo Calvino (Santiago de las Vegas, 1923 – Siena, 1985), Leonardo Padura (Havana, 1955), José Martí (Havana, 1853 – Dos Ríos, 1895) e Pedro Juan Gutiérrez (Matanças, 1950), o meu preferido, com o qual travei uma relativa amizade, quando de sua visita ao Brasil, para o lançamento de um dos livros de sua maravilhosa “Trilogia Suja de Havana”. Vou procurar conhecer a obra de ROSALES.




            O espetáculo não correspondeu, totalmente, às minhas expectativas, porém não vejo motivo algum para desaboná-lo e não recomendá-lo. Talvez, eu não estivesse, no dia em que assisti à peça (26 de outubro/2028), permeável, para absorver tudo de que trata a “pesada” temática da peça, ou seja, todo sofrimento de um homem fora da caixa, considerado louco, vivendo, durante sete anos, confinado num sanatório, um hospital psiquiátrico inqualificável, na cidade de Miami, para onde fugiu, do regime castrista, em 1979, o que seria sua última chance de “cura”, revelando-se a experiência uma abreviação de sua triste vida, interrompida por um suicídio, com um tiro na cabeça, aos 47 anos de idade. “Abandonado por seus amigos e familiares (o personagem) morou nessa espécie de manicômio particular, custeado pelo seguro social. Lá, viveu um cotidiano sombrio, cercado por doentes mentais e indigentes. Confinado naquele horroroso e insalubre microcosmo, o escritor registrou, implacavelmente, sua rotina de tédio, solidão, sofrimento, mas também de amor e esperança”. Capacitado a compreender o estado de miséria humana que o rodeia, desnutrido, perturbado e sem perspectivas, o escritor pressente a morte. Egresso de uma Cuba mergulhada na censura, ele se situa, no present, e como um ‘náufrago’, que nem pertence ao território que habita, nem sente falta do que abandonou”. (Trechos extraídos, com o mínimo de adaptação, do rico “release”, enviado por JSPONTES COMUNICAÇÃO – JOÃO PONTES E STELLA STEPHANY.)







            A propósito, aplaudo a metáfora contida no título do livro/peça, que não corresponde a uma tradução literal (“Boarding Home” ou “The Halfway House”, no original.), acrescentando que não vejo, apenas, o personagem como um “náufrago”, mas também a todos os que com ele convivem naquele “mar tormentoso”, todos “à deriva” e com a morte cercando-os e se aproximando, cada vez mais, de cada um deles.

            Com relação à montagem, utilizo-me de informações contidas no já referido “release”, para dizer que foi muito longo o processo de concretização do projeto, (Durou quase cinco anos.), acrescentando que o cerne do texto está voltado para os últimos sete anos da história de vida do escritor, entretanto, no texto final da peça, podem são encontradas, além disso, referências biográficas de ROSALES, além de, também, outras, do próprio adaptador. “A ação dramática é conduzida por uma partitura corporal, desenvolvida a partir de um estudo profundo das técnicas primitivas de transe, utilizadas pelas religiões afro-brasileiras e indígenas. O espetáculo é carregado de elementos de rituais arcaicos de cura”.








  
SINOPSE:

Exilado em Miami, o escritor cubano WILLIAM FIGUERAS, o codinome de GULHERMO ROSALES, é internado, pela família, em um asilo, destinado a inválidos e doentes mentais.

Sofrendo de alucinações auditivas episódicas e comportamento paranóico não violento, o personagem está em posição privilegiada, em relação aos outros pacientes.

“Já te observei bastante”, diz o zelador da instituição, “e você não está louco”.

O que poderia ser uma vantagem acaba aprofundando sua dor.









            Utilizando-se da primeira pessoa, com dois únicos e breves momentos em terceira, o ator AUGUSTO GARCIA, idealizador do projeto e adaptador da obra, com a colaboração artística de MATHEUS NACHTERGAELE, encarna o personagem, cujo talento só foi reconhecido postumamente e traduzido para mais de quinze idiomas, e mais doze outros. GARCIA ainda é responsável pela direção da montagem e da trilha sonora, que também executa, ao vivo, em parte.

GUILLERMO ROSALES, além de um ferrenho crítico do regime totalitário de Cuba, também se revelou quanto à indiferença dos exilados cubano-americanos, empenhados em alcançar o Sonho Americano. Segundo os críticos literários, ROSALES “criou algumas das melhores literaturas cubanas da segunda metade do século XX, obtendo comparações...”. Foi um desajustado, ao longo da vida, diagnosticado com esquizofrenia. Além de escritor, exerceu, também, um combativo trabalho de jornalista. O tempo que passou internado na “CASA DOS NÁUFRAGOS” forneceu, ao autor, o material para escrever a obra aqui analisada, considerada sua “novela mais famosa e visceralmente assombrosa”. Antes de suicidar-se, ROSALES decidiu destruir a maior parte de seu trabalho.







Reconhecendo a dificuldade que há, na adaptação de um texto literário para o formato dramático, teatral, e por não conhecer o original, sinto uma certa insegurança em analisar e avaliar o texto da peça, tendo-me ficado, porém, a impressão de que a dramaturgia poderia ser um pouco mais explorada, o que, numa análise mais superficial, não vejo como nenhum desastre, uma vez que, graças à explicação que o ator dá, ao público, no início e no final da encenação, não como personagem, mas como narrador, todos conseguem acompanhar as ações e se interessar pela peça. Sim, o espetáculo é bastante atraente.

Gostei do trabalho de ator, de AUGUSTO GARCIA, que, no entanto, apresenta alguns altos e baixos, mais aqueles que estes, com um saldo, portanto, bastante positivo. Penso que, por excesso de entrega ao personagem, por vezes, a interpretação peca pelo “plus”, parecendo-me conter mais tintas do que o necessário. Talvez um outro diretor, com uma visão de fora, pudesse corrigir esses excessos, a meu juízo, o que se torna muito difícil, para quem interpreta e dirige. Faltou, talvez, quem fizesse o trabalho de atentar para isso. Esse detalhe, não é, porém, significativo e uma justificativa para uma baixa avaliação do ator; muito pelo contrário. Ganham destaque, na sua atuação, a movimentação corporal e as várias vozes, bem distintas, que cada personagem exige.










Em função do conteúdo do parágrafo anterior, faço algumas restrições quanto à direção, as quais, porém, não precisam ser realçadas, tanto com relação ao aspecto quantitativo como qualitativo. A escolha pelo formato de uma arena, ou quase isso, foi bastante acertada, uma vez que ajuda na interação ator/público. O espetáculo, provavelmente, não funcionasse tão bem num palco italiano. O tempo em que GARCIA diz o seu texto, numa cena um tanto quanto longa, tocando, simultaneamente, o atabaque, prejudica um pouco a percepção do que está sendo dito; às vezes, o texto fica encoberto pelo som do instrumento e, em outras, o ator é obrigado a gritar, para que a fala se sobreponha aos outros ruídos. Isso é muito fácil de ser corrigido.




  

Confesso que não entendi muito bem a proposta da cenografia (Talvez seja um problema meu, que não vem tanto ao caso.), embora esta cause um certo impacto, assinada pelo próprio AUGUSTO GARCIA. O cenário se resume a uma reprodução (Ou estaria eu errado?) de um terreiro de alguma religião de matriz africana, predominante em Cuba, com um piso de uma fina camada de argila ressecada, aplicada sobre um plástico preto, provocando uma sensação de aridez, contando com alguns elementos curiosos, no contexto, peças e objetos de cena, como um caixote rudimentar; um atabaque, que o ator toca, como já foi dito, durante boa parte do final do espetáculo; um imenso alguidar de barro, daqueles utilizados em oferendas; uma quartinha, espécie de jarro, de barro, utilizada, também em oferendas, normalmente a exus e pombas-giras; uma cabeça de cera, um ex-voto; outra, mutilada, pela metade; um enorme ramo de arruda, que não é utilizado na encenação (?); uma boina e um par de óculos escuros também são expostos e utilizados pelo ator, na caracterização de dois personagens. Ainda um pequeno chocalho é manuseado por GARCIA.








O centro das atenções do espetáculo, AUGUSTO GARCIA, também é o responsável pelo simples figurino da peça, resumido a uma calça de algodão, solta, e uma camisa do mesmo tecido, que se aproximam das vestes de um capoeirista, na cor branca, obviamente. Há um momento de nudez e dois em que GARCIA atua, fazendo uso apenas de uma cueca, também branca. Longe de qualquer interpretação que possam fazer de pudicismo, de minha parte, não sei até que ponto seriam necessárias, mas não as vejo como “apelação”.

RAFAEL SIEG assina uma luz bastante interessante, basicamente intimista, com alguns momentos de maior intensidade e explosões, ajustadas a determinadas exigências do texto e da proposta da direção



  







FICHA TÉCNICA:

Autor do Livro Original: Guillermo Rosales
Adaptação: Augusto Garcia
Colaboração Artística: Matheus Nachtergaele
Tradução: Rodrigo Lopes de Barros
Direção: Augusto Garcia
Assistência de Direção: Camila Doring

Atuação: Augusto Garcia

Cenário: Augusto Garcia
Figurino: Augusto Garcia
Iluminação: Rafael Sieg
Projeto Gráfico: Tarcisio Lara Puiati
Fotos: Carol Beiriz
Direção de Produção e Gestão Do Projeto: Augusto Garcia
Produção Executiva: Camila Doring
Realização: Sesc Rio e Companhia de Teatro Íntimo
Assessoria De Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

















SERVIÇO:

Temporada: De 19 de outubro a 18 de novembro. 
Local: SESC Copacabana (Sala Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro.   
Telefone: (21) 2547-0156.
Dias e Horários: Sessões, em outubro, de 6ª feira a domingo, nos dias 19, 20, 21 e 26 (Nos dias 27 e 28, não haverá sessões, devido às eleições); em novembro, de 5ª feira a domingo, nos dias 1º, 2, 3, 4, 8, 9, 10, 11, 15, 16, 17 e 18. Sempre às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira), R$15,000 (meia entrada) e R$7,50 (associado SESC).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: 2ª feira, das 13h às 20h; de 3ª a 6ª feira, das 9h às 21h; aos sábados, das 13h às 21h; aos domingos, das 13h às 20h.
Capacidade: 60 lugares.
Duração:  60 minutos.
Gênero: Drama.
Classificação Indicativa: 18 anos.
Acessibilidade para portadores de necessidades especiais.

  








             Sopesando os erros e os acertos que contabilizei, na minha humilde visão, com relação a esta encenação, sinto-me no dever de tornar público que estes superam aqueles, o que me faz recomendar o espetáculo.












E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!




(FOTOS: CAROL BEIRIZ)














































































segunda-feira, 22 de outubro de 2018


ZILDA ARNS –
A DONA DOS
LÍRIOS

(DIGNA HOMENAGEM.
OU
DIGNO ESPETÁCULO.
OU
DIGNIDADE HUMANA, 
ACIMA DE TUDO.)


 



       Como é gratificante e prazeroso qualquer sacrifício, quando se vai à busca de um bom espetáculo teatral e se encontra algo que supera todas as nossas expectativas! Foi exatamente o que aconteceu, quando tive a grata oportunidade de assistir a um monólogo que homenageia, muito digna e merecidamente, uma das pessoas mais ilustres deste país, infelizmente já não entre nós, a inesquecível e sempre admirada Doutora ZILDA ARNS, cuja folha de bons serviços prestados ao país, principalmente aos menos favorecidos, com ênfase nas crianças, é imensurável.

            Essa digníssima personalidade, vivida pela grande atriz SIMONE KALIL, recebe o público, no Teatro Candido Mendes, numa temporada, infelizmente, quase atingindo o seu final (VER SERVIÇO).

            A própria SIMONE e LUIZ ANTÔNIO ROCHA, a quatro mãos, puseram, no papel, a trajetória de vida dessa ilustre mulher brasileira, do seu nascimento, em 25 de agosto de 1934, na pequena cidade de Forquilhinha, Santa Catarina, até a sua morte, em 12 de janeiro de 2010, aos 75 anos de idade, na cidade de Porto Príncipe, no Haiti, onde desenvolvia um belo trabalho de ajuda àquele povo sofrido e desatendido.






SINOPSE:

O espetáculo é um monólogo, que leva à cena os momentos mais importantes da vida da fundadora da Pastoral da Criança, três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz e responsável por importante redução da mortalidade infantil em território brasileiro e em alguns outros países.

O público tem a oportunidade de conhecer a linda e louvável trajetória da médica sanitarista ZILDA ARNS, num belo trabalho de pesquisa e concepção cênica.

Uma homenagem digna de quem fez por merecê-la.




 



            Poucas pessoas desconhecem quem foi ZILDA ARNS. Primeiramente, conhecida como irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, que foi Arcebispo-Emérito de São Paulo, falecido em 2016, ela foi médica pediatra, sanitarista, ativista e missionária, fundadora da Pastoral da Criança, um programa de ação social, que se expandiu por diversos países, e da Pastoral da Pessoa Idosa, ambos organismos de ação social, ligados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Por seu trabalho de salvar vidas humanas, seu altruísmo e ação comunitária, foi indicada, em 2006, ao Prêmio Nobel da Paz, tendo perdido tal honraria para o presidente colombiano, à época, Juan Manuel Santos, por sua luta pela pacificação, em seu país, nas negociações com as Farc. Independentemente disso, recebeu dezenas de menções especiais e prêmios, no Brasil e no exterior, incluindo o título de cidadã honorária, no Brasil.

Da mesma forma, à Pastoral da Criança, foram concedidos diversos prêmios, pelo trabalho que vem sendo desenvolvido, desde a sua fundação. Em 2012, foi eleita, por um programa de TV, no Brasil, a 17ª maior personalidade brasileira de todos os tempos.








            ZILDA era a décima terceira filha, de um total de dezesseis irmãos, de um casal de origem alemã. Contrariando a vontade paterna, de que ela fosse professora, uma vez que “medicina não era profissão para mulher”, ZILDA começou seus estudos, para se tornar médica, em 1953. Não era só o pai, porém, que tinha aquela opinião. Numa entrevista, ela disse que “Um professor me reprovou no primeiro ano, bem eu, sempre das primeiras da sala. Ele dizia que era um absurdo uma mulher cursar medicina. Mas virei pediatra, justo a matéria dele.”. 

No mesmo ano em que entrou na faculdade, ela começou a cuidar de crianças menores de um ano. Na época, impressionou-se com a grande quantidade de crianças internadas, com doenças de fácil prevenção, como diarreia e desidratação. Com iniciativas, relativamente simples, como as campanhas do soro caseiro e da amamentação e a pesagem regular de crianças até 2 anos, a médica conseguiu reduzir, em 60%,os índices da mortalidade infantil no Brasil, nos anos 80. A Pastoral da Criança, fundada no Paraná, foi expandida para outros 26 países, além de estar presente em quase todas as cidades brasileiras.

Casou-se com Aloísio Bruno Neumann (1931-1978), tendo ficado viúva muito jovem, aos 44 anos, com cinco filhos para criar, o mais velho com 14 anos e o mais novo com 4: Rubens, Nélson, Heloísa, Rogério e Sílvia. O primogênito, Marcelo, tão esperado, faleceu três dias após o parto. Os cinco filhos lhe deram dez netos.






ZILDA aprofundou-se em saúde públicapediatria e sanitarismo, visando a salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência, em seu contexto familiar e comunitário. Compreendendo que a educação se revelou como a melhor forma de combater a maior parte das doenças de fácil prevenção e a marginalidade das crianças, para otimizar a sua ação, desenvolveu uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre bíblico da multiplicação dos dois peixes e cinco pães, que saciaram cinco mil pessoas, como consta no livro sagrado do catolicismo.
Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada, pelo Governo do Estado do Paraná, a coordenar a campanha de vacinação Sabin, para combater a primeira epidemia de poliomielite, criando um método próprio, depois, adotado pelo Ministério da Saúde. No mesmo ano, foi, também, convidada a dirigir o Departamento Materno-Infantil da Secretaria da Saúde do mesmo Estado, quando, então, instituiu, com extraordinário sucesso, os programas de planejamento familiar, prevenção do câncer ginecológico, saúde escolar e aleitamento materno.
Em 1983, a pedido da CNBB, criou a Pastoral da Criança, juntamente com alguns religiosos de destaque. No mesmo ano, deu início à experiência a partir de um projeto-piloto, em Florestópolis. Após 25 anos, a pastoral acompanhou 1.816.261 crianças menores de seis anos e 1.407.743 de famílias pobres, em 4060 municípios brasileiros. Nesse período, mais de 261.962 voluntários levaram solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres, criando condições para que elas se tornassem protagonistas de sua própria transformação social.



Em 2004, recebeu, da CNBB, outra missão semelhante: fundar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente, mais de cem mil idosos são acompanhados, mensalmente, por doze mil voluntários de 579 municípios de 141 dioceses de 25 estados brasileiros.
Dividia seu tempo entre os compromissos como coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e a participação como representante titular da CNBB no Conselho Nacional de Saúde e como membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
ZILDA ARNS morreu, tragicamente, em Porto Príncipe, capital do Haiti, onde se encontrava em missão humanitária, para introduzir a Pastoral da Criança naquele país, enquanto proferia uma palestra, para cerca de 150 pessoas, dentre as quais 15 religiosos cubanos, que estavam próximos a ela, os quais também morreram, quando o país foi atingido por um violento terremoto. A Dra. ZILDA foi atingida na cabeça, quando as paredes da igreja, dentro da qual se encontrava, desabaram. Ela estava no último parágrafo do discurso, que não chegou a terminar. Falava da importância de cuidar das crianças “como um bem sagrado”, promovendo o respeito a seus direitos e protegendo-os, “tal qual os pássaros cuidam dos seus filhos”.
       Em 2011, foi indicada, postumamente, ao Prêmio Nobel da Paz. Foram, ao todo, três indicações.






            Grande parte das informações supra estão presentes no “release”, enviado por RACHEL ALMEIDA (RACCA COMUNICAÇÃO), ou foram extraídas, com supressões e adaptações, da Wikipédia.

            Um conhecido provérbio romano, “Se queres a paz, prepare-te para a guerra!”, serviu de norte, na vida de nossa protagonista. Na sua pacificidade, comprou muitas brigas, para alcançar seu projeto de vida: a redução da mortalidade infantil no país.

“Zilda Arns visitou todas as cidades brasileiras – chegou com a missão de salvar vidas de norte a sul do país, de lixões a aldeias indígenas, das periferias dos grandes centros aos interiores sertanejos, nenhum lugar lhe escapava. Um trabalho desbravador, que, muitas vezes, lembra a expedição dos irmãos Villas-Bôas”. (Retirado do já citado “release”).









Duas cabeças pensam melhor que uma. Quatro mãos, de duas boas cabeças pensantes, consequentemente, escrevem melhor do que duas. Em função disso, temos, neste espetáculo, um bom texto, documental, narrativo e histórico, entremeado de boa dramaturgia, com lirismo e, até mesmo, um pouco de humor, que prende a atenção do público, a cada revelação da riquíssima vida da personagem retratada.

A interpretação de SIMONE KALIL só vem a ratificar a ótima impressão que, em mim, já havia, em relação à sua capacidade de atriz. A total diferença física, entre atriz e personagem, não é capaz de nos roubar a oportunidade de “ver” a Dra. ZILDA ARNS em cena, com sua doçura, sua aura de paz, sua bondade, seu extremado amor, pela família e pelos semelhantes, ao mesmo tempo que “bélica”, como diz o diretor da peça, o seu lado não midiático, humano, de um ser capaz de, também, sentir raiva e desconforto, diante das adversidades, com a capacidade de lutar, como uma leoa, para defender seus ideais. SIMONE se divide, muito bem, entre essas duas zildas. A atriz nos passa muita verdade e nos faz constatar o quanto de amor e entrega a este projeto ela dedica.








Gostei muito da direção de LUIZ ANTÔNIO ROCHA, por ser simples e criativa, por conduzir a atriz pelos trilhos da beleza e do bom gosto, carregada de tantos outros “temperos”, que resultaram num perfeito “manjar dos deuses”. Tudo é muito fácil de se entender, chamando o público ao centro da ação e fazendo com que todos levem, para suas casas, uma lição de vida e de amor ao próximo. Oxalá todos procurem pô-la em prática, o mínimo que seja, do que tanto necessitamos, neste momento de trevas em que vivemos, no Brasil!

Um espetáculo que conta com poucos recursos na verba de produção tem de procurar se destacar por meio de outros expedientes. E nada melhor, para isso, do que apelar para a velha e boa criatividade. Este preâmbulo é para direcionar o meu comentário com relação ao lindo e “ingênuo” cenário, um achado, concebido por LUIZ ANTÔNIO ROCHA e EDUARDO ALBINI. Uma cadeira de ferro, branca, meio desgastada, como as de um hospital, que serve a diversas utilidades; alguns cestos de vime e palha, à esquerda do palco, de dentro dos quais são retirados objetos de cena e adereços; e a cereja do bolo, guirlandas espalhadas, simetricamente, pelo teto, confeccionadas de latinhas de refrigerantes, sob a forma de lírios, e que guardam uma surpresa para o quase final da peça. Toda a ação se dá dentro de um pequeno círculo, que tanto pode remeter a um picadeiro como a uma taba indígena. Uma graça de cenário!




O tom de simplicidade e elegância, característico da personagem, também está presente no figurino, de CAKÁ OLIVEIRA, que se resume num vestido e um blazer, bastante discretos.

Contribuem, para o conjunto de acertos os trabalhos de iluminação (RICARDO LYRA), preparação vocal (JANE CELESTE) e preparação corporal (ROBERTO RODRIGUES).

Reservei, para o final da apreciação crítica, uma análise do trabalho da multimusicista BEÁ, responsável pela direção musical, composição sonora e execução da a trilha sonora do espetáculo, assim como toda a sonoplastia. É impressionante e indescritível o trabalho dessa moça!!! Utilizando pequenos instrumentos musicais, alguns artesanais, brinquedos infantis, bem populares, e objetos do cotidiano, os mais simples e inusitados, ela consegue extrair sons interessantíssimos e expressivos, para sublinhar a peça, do início ao fim. Causou-me tanta admiração e curiosidade, que, vez por outra, eu me pegava olhando mais para ela, à direita do palco, com sua parafernália  musical, do que para a atriz. Se tivesse a oportunidade de assistir, novamente, a esta montagem, certamente, por já tê-la visto, dedicaria boa parte do tempo a olhar, fixamente, o trabalho de BEÁ.  






FICHA TÉCNICA:

Texto: Luiz Antônio Rocha e Simone Kalil
Direção: Luiz Antônio Rocha
Assistente de Direção: Valéria Alencar

Elenco: Simone Kalil

Direção Musical, Composição Sonora e Execução: Beá
Musicista Substituta: Ana Magalhães
Iluminação: Ricardo Lyra Jr.
Cenário: Luiz Antônio Rocha e Eduardo Albini
Figurino: Caká Oliveira
Preparação Vocal: Jane Celeste
Preparação Corporal: Roberto Rodrigues
Direção de Produção: Maira Magalhães
Assistente de Produção: Jéssica Freitas
Fotos: Dalton Valério e Beatriz Villela
Arte Gráfica: Duda Simões (Tangerina Design)
Pintura Artística do Cenário e dos Figurinos: André Luiz Nascimento
Adereços em Lata (lírios e caminhão): Josué Batista da Ponte
Confecção dos Figurinos: Afghan
Eletrotécnico: Renato Marques
Fisioterapeuta: Ísis Badini (Osteopatia e Método Busquet)
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Realização: Mabruk Produção Cultural e Artística




 





SERVIÇO:

Temporada: De 21 de setembro a 04 de novembro de 2018.
Local: Teatro Candido Mendes.
Endereço: Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2523-3663.
Dias e Horários: De 6ª feira a domingo, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: Diariamente, a partir das 14h.
Lotação: 103 pessoas.
Duração: 60 minutos.
Classificação Indicativa: Livre








            “ZILDA ARNS – A DONA DOS LÍRIOS” é um espetáculo, da temporada em curso, no Rio de Janeiro, que não pode deixar de ser visto por quem acredita que a arte salva, o TEATRO educa e precisamos conhecer mais e louvar os nomes dos ilustres brasileiros, numa terra em que temos mais motivos, infelizmente, para nos envergonhar das nossas figuras públicas.

         Quanto a uma parte do título, “A DONA DOS LÍRIOS”, prefiro não fazer nenhum comentário, para não roubar, aos que ainda vão assistir à peça, uma surpresa.      

Como se não bastasse, faz-se necessário dizer que uma porcentagem da venda de ingressos é doada à Pastoral da Criança.

            Querem mais motivos para assistir a este lindo e comovente espetáculo teatral?







E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!







GALERIA PARTICULAR
(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO.)


Aplausos.


Com Simone Kalil e Beá.