quinta-feira, 25 de junho de 2015


TODO VAGABUNDO TEM SEU DIA DE GLÓRIA

 

 

 

 

(SOBRA EXCELÊNCIA!

 SOBRA TEATRO PARA TODAS AS IDADES!

ou

“O FEITIÇO VIROU-SE CONTRA O FEITICEIRO”.)

 

 

 


 

 

Apenas por falta de tempo, vou pouco ao TEATRO, para ver peças infantis.  Apenas por esse motivo, já que sou fascinado pelo gênero.  Gostaria de poder ir muito mais.  Menos, ainda, escrevo sobre alguma peça infantil, pela mesma razão.  Por outro lado, sempre que posso, procuro prestigiar os amigos envolvidos em espetáculos “para crianças”.  E, quando me agradam muito, não posso deixar de escrever sobre eles.

 

            É o caso de TODO VAGABUNDO TEM SEU DIA DE GLÓRIA, em cartaz no Teatro OI Futuro Flamengo, todos os sábados e domingos, às 16h, até o dia 9 de agosto, e que é um dos melhores em cartaz e das mais requintadas montagens dos últimos tempos.

 

            Já foi o tempo em que o Teatro Infantil conseguia agradar às crianças (não a todas) e provocar bocejos nos pais, nos acompanhantes, em geral.  Hoje, graças aos “deuses do teatro”, embora, ainda, algumas produções insistam em não considerar o bom gosto e a inteligência infantil, outras, feitas com bastante cuidado, preocupação e respeito às crianças, o público do futuro, merecem todo o meu respeito e agradecimento, em nome dos pequenos espectadores.

 

O espetáculo aqui analisado pertence à categoria dos que me levam a dedicar um tempo do meu dia para analisá-lo.  Este ...VAGABUNDO..., que eu classifico como TEATRO LIVRE, não “infantil”, além de encantar os pequenos, agrada, sobremaneira, aos adultos.

 

 

 
SINOPSE:
 
Quem nunca quis melhorar seu padrão de vida, sem muito esforço?  A longevidade dos “reality shows” mostra que muita gente tem tal desejo.  
Pois não é que um simples e humilde funileiro, CRISTÓVÃO GERÔNIMO (THIAGO PACH), passou de vagabundo a nobre, da noite para o dia, literalmente?  Um cara de sorte?  Nem tanto, uma vez que se vê envolvido numa trama minuciosa.  Ele  é  o personagem central de TODO VAGABUNDO TEM  SEU DIA DE GLÓRIA, musical infanto-juvenil  de THIAGO PACH.  
Autor (sua primeira assinatura como dramaturgo) do texto e codiretor da montagem, juntamente com ADRÉN ALVESTHIAGO divide o palco com outros nomes tarimbados em musicais, como RENATA CELIDÔNIO e WENDELL BENDELACK, dentre outros.  trilha sonora original, tocada ao vivo, é de ROBERTO BAHAL.
O espetáculo discute, de forma divertida, valores esquecidos no mundo contemporâneo, o que está contribuindo para o caos existencial em que a humanidade está mergulhando.
Na trama, um funileiro fanfarrão é encontrado na rua, totalmente embriagado, dormindo, por um nobre, que, entediado pelo excesso de futilidade, pede a seus serviçais que o recolham a seu palacete.  A ideia é levá-lo a crer que sua verdadeira condição é a que tem diante de seus olhos: criados à disposição, comes e bebes de nobre procedência e uma vida de luxo e conforto.  Em outras palavras, “fazer o outro de palhaço”.  
A vítima passa a viver um dilema: a vida pregressa era uma mentira ou a atual?  Passa a não saber mais quem, na verdade, é.  A chegada de uma trupe de atores muda o rumo da farsa.  
CRISTÓVÃO GERÔNIMO chega a gostar da nova vida, até sentir falta de duas coisas muito importantes, que não encontrava no castelo do nobre: a liberdade e a alegria que tinha antes.  Nada como ser livre e feliz!  Ele era feliz e nunca tinha se dado conta daquilo.  Como um falso nobre, apenas assistia ao passar do tempo.
A trama tem um de seus pilares inspirado no prólogo de um clássico do teatro: A Megera Domada, de Shakespeare.
Há muito, THIAGO queria escrever para crianças.  O texto começou a ganhar forma em 2003 e foi sendo lapidado, desde então.  Há muito, também, queria levar à cena questões como preconceitos sociais e a relação de que felicidade não está atrelada ao sucesso.  O LORDE DE WINCOT (WENDELL BENDELACK), por exemplo, tem tudo que se refere ao plano material, mas não é feliz.  Precisa brincar com a vida do outro, para vencer o tédio.
Duas colaborações foram fundamentais para a realização do espetáculo: a de ADRÉN ALVES (codireção) e a de ROBERTO BAHAL (música).  Eles levaram, à encenação, elementos da Commedia dell’Arte.  BAHAL musicou as letras criadas por THIAGO com minuetos e temas folclóricos, entre outros estilos dos séculos XVI e XVII.
 

 

 

 


Tauã Delmiro, Renata Celidônio e Raquel Botafogo.

 

 

O espetáculo é divertido e belíssimo, fruto de uma combinação de elementos muitos simples: talento, bom gosto e profissionalismo, refletidos e observados em:

 

1) TEXTO: Excelente!  THIAGO PACH acertou a mão e criou um texto que não desce ao nível daqueles que parecem destinados a crianças com retardo mental, nem escreve para não ser entendido.  Qualquer um, criança ou adulto, consegue acompanhar o desenrolar da trama, ouvindo frases e diálogos bem construídos, com um ótimo vocabulário, sem falar na forte mensagem que o texto passa.  Num musical, as letras das canções ajudam a contar o enredo, razão pela qual devem ser bem feitas e atreladas ao texto “declamado”.  São ótimas, aqui, as letras de THIAGO, totalmente inseridas no contexto.  Que seja o primeiro de uma série de outros textos!

 

2) DIREÇÃO: Para uma boa direção a quatro mãos, é preciso muita afinidade entre os dois profissionais responsáveis por ela, o que sobra entre THIAGO PACH e ADRÉN ALVES.  Creio ter sido a primeira experiência da dupla nessa seara.  Ambos são ótimos atores e, neste “infantil”, demonstram entender, também, da arte de conduzir atores a contar uma história.  Trata-se de uma direção descomplicada, que leva bastante movimento às cenas, como deve mesmo ser, para prender a atenção de crianças, e, também, explora o potencial de cada ator naquilo que cada um mais domina.  Continuem dirigindo!

 

3) ELENCO: O elenco é bastante homogêneo, e os atores que representam personagens coadjuvantes são tão destacáveis quanto o protagonista.


THIAGO PACH é CRISTÓVÃO GERÔNIMO, um vagabundo, que tem sua vida transformada, literalmente, da noite para o dia, deixando de dormir nas sarjetas, para desfrutar do conforto de um palácio.  Acompanhando sua careira, em tantos musicais “para adultos”, sempre com brilhante desempenho, não conseguia imaginá-lo como protagonista de um musical infantil.  Trabalho tão bom quanto os anteriores.


WENDELL BENDELACK vive o LORDE WINCOT, (ir)responsável pela transformação de CRISTÓVÃO e que se dá mal, no final da história.  A futilidade é sua marca maior, quase tanto quanto o desprezo pelo próximo, o que, porém, não faz o personagem tornar-se o protótipo do vilão.  Digamos que seja um antagonista “bonzinho”, um pouco disso em função do humor presente nas ações e falas do personagem.  Como bom ator e, principalmente, dominando a arte de fazer rir, WENDELL apresenta um excelente aproveitamento em cena.

 

 

 


O verdadeiro e o falso nobre.

 

 

 
RENATA CELIDÔNIO tem uma atuação dupla, como MARIANA HACKET, a dona da taberna, que vive a cobrar, de GERÔNIMO, as contas referentes ao que ele bebe em seu estabelecimento comercial, e nunca paga, e D. ELISA.  Em ambos os papéis, RENATA atua com perfeição e, quando tem de solar algumas canções do espetáculo, isso se torna uma atração à parte, graças ao seu talento, também, como cantora, tantas vezes demonstrado em outros musicais destinados ao público adulto.


RAQUEL BOTAFOGO (ISABELA), ALINE CARROCINO (CRIADO), FELIPE FRAZÃO (CRIADO), TAUÃ DELMIRO (NARRADOR e HORÁCIO) e TON CARVALHO (NARRADOR) completam o ótimo elenco, cada um com algum aspecto ou cena de destaque: RAQUEL, na dança; ALINE, “apagando o fogo”, em situações complicadas; FELIPE, hilário, como a “inventada” esposa de GERÔNIMO; TAUÃ e TON, na agilidade como vão costurando as cenas.

 

 

 


O elenco.

 

 

 


Em cima, da esquerda para a direita: Thiago, Wendell, Raquel e Renata; embaixo, idem; Aline, Felipe, Tauã e Ton.

 

 

 

3) ROBERTO BAHAL é autor das lindas melodias, que ficam nos ouvidos dos espectadores, dos arranjos e, ainda, assina a direção musical.  Músico de reconhecida competência, é um dos responsáveis pelo sucesso do espetáculo.  Também é um dos três músicos em cena.  Toca piano e acordeão, ao lado de ANDREY CRUZ (flauta e saxofone) e THAÍS FERREIRA, que alterna com MARIA CLARA VALLE (violoncelo).

 

4) SUELI GUERRA contribui, com seu talento e competência, na direção de movimento e coreografia, ambas excelentes.  Mais um grande trabalho dela!

 

5) O cenário e os figurinos, ambos belíssimos e de um bom gosto a toda prova, levam a assinatura de MARCELO MARQUES.  Aqui, faço questão de destacar um detalhe do cenário e outro referente aos figurinos.  No cenário, achei fantástica a cortina onde estão estampadas fotos dos maiores atores comediantes brasileiros de todos os tempos.  Lá estão Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira e muitos outros.  Fiquei comovido com aquela homenagem!  Com relação aos figurinos, devo dizer que são belíssimos, criativos, muito bem acabados, até nos complementos (os sapatos são indescritíveis), sem falar nos belíssimos chapéus.

 

6) LEYSA VIDAL planejou uma luz muito boa.

 

7) Grande destaque vai para o visagismo, a cargo de MONA MAGALHÃES, uma das melhores profissionais na área.  São excelentes as caracterizações dos personagens, com destaque para a transformação de THIAGO PACH e dos dois atores que fazem os narradores.

 

 

 

Mona Magalhães cola no rosto de Thiago a prótese de nariz que compõe a caracterização do personagem (Foto: Divulgação)

A transformação.

 

 

 


Transformado.

 

 

 


O falso nobre.

 

 

 

Com tantos profissionais competentes, dedicando-se ao espetáculo, o resultado não poderia ser outro: EXCELENTE!!!

 

E, para terminar, não poderia deixar de fazer um comentário sobre o lindo e completo programa da peça.  Já disse, mais de uma vez: acho que, nas premiações relativas ao TEATRO, deveria caber uma a quem é responsável pela programação visual.  Aqui, os méritos são de O DEPARTAMENTO COMUNICAÇÃO & DESIGN, CACAU GONDOMAR e MEL LINS.

 

Senhores pais e responsáveis, provem, mais uma vez, o amor a seus filhos, levando-os a assistir TODO VAGABUNDO TEM SEU DIA DE GLÓRIA.  E ainda vão lucrar muito com isso!!!

 

    

 

 
 
FICHA TÉCNICA:

Concepção, Texto e Letras das Músicas: Thiago Pach
Direção Geral: Thiago Pach e Adrén Alves
Música Original, Direção Musical e Arranjos: Roberto Bahal
Direção de Movimento e Coreografias: Sueli Guerra
Diretor de Arte (Cenário e Figurinos): Marcelo Marques
Visagismo: Mona Magalhães
Projeto de Iluminação: Leysa Vidal
 
Elenco: Thiago Pach, Wendell Bendelack, Renata Celidônio, Raquel Botafogo, Aline Carrocino, Felipe Frazão, Tauã Delmiro e Ton Carvalho.
Músicos: Roberto Bahal, Andrey Cruz e Thaís Ferreira / Maria Clara Valle
Preparadora Vocal: Mona Vilardo
Sound Design: Marcelo Mdm
Oficina de Commedia Dell’Arte: Tarlia Laranjeira
Programação Visual: O Departamento Comunicação & Design, Cacau Gondomar e Mel Lins
Assistente de Direção de Movimento: Priscila Vidca
Assistente de Direção de Arte: Deborah Catalani
Assistente de Visagismo: Tainá Lasmar
Fotos: Marcos Gullo
Direção de Produção: Aline Carrocino e Bia Gondomar
Produção Executiva: Igor Veloso
Realização: Alce Produções e Thiago Pach
 
 

 

 

 


Raquel Botafogo.

 

 

 

 
 
SERVIÇO:

Teatro OI Futuro Flamengo – Rua Dois de Dezembro, 63 – 7º andar
Temporada: até 9 de agosto
Dias e Horários: sábado e domingo, às 16h
Valor do ingresso: R$ 15,00
Classificação Etária: Livre (indicado para maiores de 8 anos)
Bilheteria: De terça a domingo, das 14h às 20h
Vendas online: www.ingressorapido.com
 
 

 

 

 

(FOTOS: MARCOS GULLO)