O
OLHO AZUL DA
FALECIDA
(SE
É PARA RIR, ESTA É A PEDIDA!)
São
muitas as funções do TEATRO, todos
sabemos, e uma delas é, simplesmente, divertir, fazer rir. Também é consenso, na classe teatral e entre
aqueles que amam e conhecem o TEATRO,
que fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar. Não há necessidade de entrar em detalhes
explicativos.
Dessa forma,
para uma comédia agradar, ao público e à crítica, deve ser, mesmo, engraçada, apresentar situações
que levem as pessoas a esquecer os problemas do dia a dia e, por algum tempo,
desopilar o fígado.
Para os que
consideram a COMÉDIA uma “arte menor”,
e, infelizmente, há muita gente que pensa dessa maneira, digo-lhes apenas que
não devem ter tido a oportunidade de assistir a uma boa comédia, como é o caso
de O OLHO AZUL DA FALECIDA, que está
em cartaz no Teatro Maison de France,
de 5ª feira a sábado, às 19h30min, e,
aos domingos, às 18h30min, até o dia 21 de junho.
Não vá ao Maison com outra intenção que não seja
a de se divertir bastante, com um texto muito engraçado, costurando tramas bem
construídas, dirigido, com competência, por SIDNEI CRUZ, e interpretado por um excelente elenco, formado por TUCA ANDRADA, GLÁUCIA RODRIGUES, RAFAEL
CANEDO, HELDER AGOSTINI, JOHNNY FERRO e MÁRIO BORGES, este como ator
convidado.
Mário, Tuca, Gláucia e Helder.
Se é para rir, esta é a pedida.
Imagine uma
história em que estão presentes um homem de luto, que acabara de perder a
esposa, ainda não sepultada; uma espertíssima “serial killer”, viúva de sete
maridos, que trabalhava como enfermeira da falecida, responsável por sua morte
e pretendente a ocupar o lugar desta, ao lado do patrão; um jovem e sedutor ladrão,
filho do homem enlutado, em conspiração com um, também, jovem e sedutor agente
funerário, seu amante; um tesouro, em dinheiro, a ser escondido, produto do
furto a um banco vizinho à agência funerária; e um cadáver “itinerante”.
Deu para
imaginar?
E quando entra
em cena a figura de um detetive com complexo de Sherlock Holmes, disposto a encontrar os ladrões?
Pois bem! Misture todos esses ingredientes num “balaio
de gatos” e prepare-se para dar boas gargalhadas com as situações inusitadas,
quase surrealistas, que advirão daí!
O texto, uma
farsa, foi escrito há 50 anos, mas será, para sempre, atemporal. Seu autor é o festejado dramaturgo inglês, JOE ORTON, aqui traduzido, com esmero,
por BÁRBARA HELIODORA. Recentemente, tivemos a oportunidade de
assistir à montagem de um outro texto seu, O
que o Mordomo Viu, que fez ótima carreira, tanto no Rio como em São Paulo,
além de outras praças.
São marcas
pessoais de ORTON, em seus textos, o
humor negro, bastante cáustico, e a crítica contundente, satírica. Mestre em subverter, proposital e
audaciosamente, a ordem e a moral vigentes, mantém sua metralhadora sempre
voltada para pessoas e instituições, sem dó nem piedade. Com
seus diálogos ágeis e simples, ele é mestre em
criar situações absurdas e quiproquós hilários, os quais exigem que a direção
estabeleça um ritmo intensíssimo ao espetáculo, de entra-e-sai, típicos do
“vaudeville”, um gênero teatral que se caracteriza por uma série de
mal-entendidos, de “coincidências”, que vão se desenvolvendo, uns deflagrados
por outros, num ritmo ligeiro, às vezes até frenético, com muita correria,
gerando situações que beiram o ridículo, envolvendo intrigas e uma sucessão de
portas que se abrem e fecham, permitindo inúmeras entradas e saídas e a
circulação de atores em cena, o que provoca situações engraçadíssimas, de
trocas de roupas, de enconde-esconde...
Rafael, Tuca, Helder e Mário.
A
falta de ética e moral caracteriza todos os personagens, à exceção do SR. MCLEAVY (MÁRIO BORGES), verdadeiro baluarte da honestidade e do civismo, que acredita,
piamente, nas instituições públicas e o retrato da moralidade. Exatamente por suas qualidades, será o bode
expiatório na trama, sobre quem a “justiça” será feita, facilitando a vida de
todos os vilões da história. Sem dúvida,
a “Justiça”, ou a sua falta, é o alvo maior da peça.
O
espetáculo tinha tudo para não agradar, não fazer rir, que é seu objetivo
maior, considerando-se a grande distância que há entre o tipo de humor inglês e
o brasileiro. Mas ocorre o contrário,
graças, não só à excelente tradução de BÁRBARA
HELIODORA, como também aos “cacos” e “adaptações”, feitas, creio, pela
própria direção e pelos atores, inserindo, vez por outra, críticas visíveis à
atual situação política brasileira.
Mantém-se, assim, a fleuma do humor inglês, mas acrescenta-se um pouco
do escracho e da espontaneidade do brasileiro.
E que excelente casamento!
SIDNEI CRUZ acertou a mão,
no seu trabalho de diretor, o que muito
contribui para o sucesso desta peça.
É muito bom o cenário, de JOSÉ DIAS, com portas, janelas,
biombos, armários e outros elementos, para servirem ao desenvolvimento da
macabra trama.
Agradam, também, os figurinos,
de SAMUEL ABRANTES, pela
simplicidade, criatividade e fidelidade à época e aos personagens. São dele, também, em parceria com GUILHERME REIS, os bons adereços utilizados em cena.
Tuca e Johnny.
A música original e a direção musical levam a assinatura do
maestro WAGNER CAMPOS, que, ao lado
de GLÁUCIA RODRIGUES e EDMUNDO LIPPI, são os fundadores da CIA LIMITE 151, responsável por esta
montagem, uma das mais competentes companhias de TEATRO do Rio de Janeiro, já tendo levado ao palco, em mais de
vinte anos de existência, textos dos mais consagrados dramaturgos nacionais e
estrangeiros.
ROGÉRIO WILTGEN é o
responsável pela boa iluminação.
No elenco, bastante homogêneo, TUCA
ANDRADA está excelente, como o detetive TRUSCOTT, um policial de péssima índole, o oposto de um
profissional “da lei”, ou que investiga, para que ela seja aplicada. TUCA
é um ator versátil, desfilando, de ponta a ponta, com bastante desembaraço, da
comédia ao drama, expondo uma veia cômica natural e comedida.
Falar em versatilidade é o mesmo que falar em GLÁUCIA RODRIGUES, a primeira mulher a viver, no palco, um
personagem masculino, João Grilo, da
obra-prima O Auto da Compadecida, do
genial e inesquecível mestre Ariano
Suassuna. Como a sagaz e cruel
enfermeira FAY, GLÁUCIA registra mais uma excelente personagem em sua vasta
galeria.
RAFAEL CANEDO é um dos
melhores atores da novíssima geração. Brilhou,
em O Estranho Caso do Cachorro Morto,
injustiçado por não ter sido indicado a prêmios, em Fazendo História e O Auto da
Compadecida, e, agora, mostra, mais uma vez, seu grande talento, como HAROLD, ou HALL, como é mais tratado, um jovem extremamente inteligente e
perspicaz, que resolve assaltar um banco e usar o dinheiro para fugir do
universo católico em que foi criado e que considera hipócrita. Paradoxalmente, é um malfeitor, que assalta
turistas, deflora virgens, não demonstra qualquer sensibilidade em relação à
morte da mãe, mas, ao mesmo tempo, é membro da Irmandade dos Filhos da Divina
Providência e é incapaz de mentir.
“Durma-se com um barulho desses!”
HELDER AGOSTINI, outro bom
ator jovem, embora tarimbado, por ter iniciado sua carreira profissional, ainda
criança, na TV, também interpreta, com competência, seu DENNIS, esperto e “não muito confiável”, meio dividido entre uma
relação amorosa com HALL ou FAY, na dependência de quem lhe
oferecer mais vantagem.
JOHNNY FERRO interpreta o
policial MEADOWS, com pouca participação
na trama, mas convincente.
Para fechar o elenco, um nome intimamente ligado ao TEATRO; ao BOM TEATRO: MÁRIO BORGES,
uma vez que não me lembro e tê-lo visto mal em nenhum dos muitos trabalhos de
que já participou. Como grande admirador
de seu trabalho, acho que assisti a todos.
Veterano ator, nome garantido na minha lista dos melhores, apresenta-se,
nesta peça, como ator convidado,
interpretando um personagem vilipendiado por todos os outros. Homem probo, que “paga” por essa qualidade,
cada vez mais rara, nas sociedades competitivas de hoje. Mais um belo trabalho do ator!
O OLHO AZUL DA FALECIDA é um espetáculo
para pessoas das mais diferentes idades, que eu recomendo com empenho.
SINOPSE:
O SR. MCLEAVY (MÁRIO BORGES) é um homem inocente, probo, de luto pela
morte de sua esposa.
Seu filho, HALL (RAFAEL CANEDO), em conluio com um
agente funerário, chamado DENNIS (HELDER
AGOSTINI), que é também seu amante, assaltam o banco ao lado da funerária.
Quando o detetive TRUSCOTT (TUCA ANDRADA) começa a busca
pelos ladrões, bisbilhotando a casa do SR.
MCLEAVY , HAL e DENNIS decidem esconder o tesouro no
caixão da falecida. Como ambos, a
defunta e o produto do roubo, não cabem lá, eles transferem o cadáver para o
guarda-roupa, pondo em movimento um jogo, que marca o dilema do que fazer com o
corpo.
FAY (GLÁUCIA RODRIGUES), a enfermeira, que matou a SRA. MCLEAVY, tem planos de se casar
com o SR. MCLEAVY e, depois,
matá-lo, e é, por algum motivo, o objeto de afeto de DENNIS.
Para o diretor, SIDNEI CRUZ, “a peça é uma joia rara de
carpintaria teatral, uma engenhoca de fabulação absurda, em que enredos
díspares se entrelaçam e se fundem a golpes de martelo, misturando ingredientes
de comédia com tramas policiais”.
As personagens disputam um
jogo estonteante, em que blefar é a regra geral, dentro de uma situação
absolutamente rotineira, que vai sendo conduzida para um ângulo totalmente
absurdo.
A família, o luto, a
justiça, o casamento, a religião e outras instituições são achincalhadas pela pena
anarquista de JOE ORTON.
A “lei” e a “justiça”.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Joe Orton
Tradução: Bárbara Heliodora
Direção: Sidnei Cruz
Elenco: Tuca Andrada (Truscott), Gláucia Rodrigues
(Fay), Rafael Canedo (Harold), Helder Agostini (Dennis), Johnny Ferro (Meadows)
e Mário
Borges (McLeavy), ator convidado.
Cenário: José Dias
Figurinos: Samuel Abrantes
Música Original e Direção Musical: Wagner
Campos
Iluminação: Rogério Wiltgen
Adereços: Guilherme Reis e Samuel Abrantes
Assessoria de Imprensa: Ana Gaio
Programação Visual: João Carlos Guedes
Fotos: Guga Melgar
Produção Executiva: Valéria Meirelles
Direção de produção: Edmundo Lippi
Realização: Cia Limite 151
SERVIÇO:
Temporada: Até 21 de junho.
Local: Teatro Maison de France – Avenida Presidente Antônio Carlos, 58 – Centro
Tel.: 2544 2533
Horário: De 5ª feira a sábado, às 19h30min, e domingo, às 18h30min.
Preço: 5ª e 6ª feira - R$60,00; sábado e domingo - R$70,00
Classificação Etária: 10 anos
Lotação do teatro: 352 lugares
Duração do espetáculo: 1h40min
Gênero: Comédia
(FOTOS:
GUGA MELGAR.)
Com Tuca Andrada e Gláucia Rodrigues.
Com Helder Agostini.
Com Rafael Canedo, Mário Borges e Johnny Ferro.
(FOTOS PESSOAIS: MARISA SÁ.)
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