terça-feira, 31 de outubro de 2017


GOD

(DEUS /

MIGUEL FALABELLA /

CACO ANTIBES.

E DAÍ: QUE MAL HÁ NISSO?)
 

 

 

            Eu não pensava, em hipótese alguma, em iniciar, da forma como inicio, a minha crítica a “GOD”, espetáculo que estava em cartaz no Teatro OI Casa Grande (infelizmente, terminou a temporada no último domingo, dia 29/10/2017), mas, depois de ter lido muitas críticas negativas ao espetáculo, embora respeite a opinião alheia e não me considere dono da verdade, não posso deixar de fazê-lo de outra forma.

           A maioria reclama de ter visto um DEUS / MIGUEL FALABELLA / CACO ANTIBES no palco. E que mal há nisso?!

            Será que as pessoas, depois de tantos anos de “janela”, não conhecem MIGUEL FALABELLA; seu estilo, seu jeito irreverente, sua maneira de ser, que pode agradar a uns e desagradar a outros? Eu até entendo isso.

Será que ele não tem o direito de explorar o personagem que o tornou uma celebridade?

Será que as pessoas não leem uma sinopse ou uma simples notícia, ou entrevista, sobre o espetáculo que as aguarda?

Alguma vez, por acaso, FALABELLA disse a alguém que faria, em português, o que foi feito, em inglês, na Broadway? A mesma coisa?

Será que essas pessoas se deram o trabalho de ler, na ficha técnica, que se trata de uma “versão brasileira”, do próprio FALABELLA?

            “Ingenuidade” dessas pessoas, para utilizar um eufemismo.
 
 
 
 



            Vi a peça em São Paulo e me diverti bastante, porque não esperava outra coisa, em termos de encenação e de interpretação do ator. O texto, bastante inteligente, assim como a ideia da peça, eu não conhecia, mas esperava que fosse bom. Sim, é bom!!! Sim, é muito bom!!! Não é uma comédia? Então, é para fazer rir. A peça faz rir, e muito.

Não vi a montagem da Broadway e não sei qual era a proposta lá, porém sabia, muito bem, antes de escolher ver a peça, qual era a intenção de FALABELLA, porque me informei, e poderia imaginar, sem muito esforço, o que eu veria no palco.

            Não tive a oportunidade de escrever sobre o espetáculo, da primeira vez em que assisti a ele, no Teatro Procópio Ferreira, e fiquei na esperança de poder dar a minha opinião sobre a montagem / versão brasileira, quando ela fosse trazida para o Rio, ainda que após o término da temporada carioca, como está acontecendo agora, na expectativa de que venha outra. Público não faltará.

            Assisti a “GOD”, pela segunda vez, na penúltima semana, e, se me fosse possível, veria uma terceira. Estou precisando me divertir muito, com um bom humor, feito por quem tem competência para tal.

            Minha crítica, publicada pós-temporada, não vai contribuir para aumentar o borderô – nem seria minha pretensão -, da mesma forma como todas as negativas, escritas sobre o espetáculo, não foram capazes de diminuir a frequência do público, em todos os teatros brasileiros por onde a peça tem passado. Foram duas temporadas em São Paulo, no Teatro Procópio Ferreira e viagens pelo nordeste, sul, Minas Gerais , Goiânia, Anápolis e várias outras cidades na chamada “Turnê Mambembe” . Será que o público leva a crítica a sério?
 
 
        



 
SINOPSE:
Quando alguma coisa está errada, pode confiar: DEUS toma as devidas providências. E, dessa vez, o Todo-Poderoso, Rei do Universo, autor do espaço e do tempo, decide vir à Terra, pessoalmente... ou quase isso.
 
Cansado dos Dez Mandamentos, por não serem respeitados por suas criaturas, e de toda a incerteza que eles vêm gerando à humanidade, o Criador toma forma humana, através de MIGUEL FALABELLA, para propor novas leis e esclarecer qualquer mal-entendido a seu respeito. E o resultado disso é hilário!!!
 
No espetáculo, ele e seus dois arcanjos dedicados, MIGUEL (MAGNO BANDARZ) e GABRIEL (ELDER GATTELY), respondem a algumas das questões mais profundas que têm atormentado a humanidade, desde a Criação, em apenas 90 minutos.
 
De uma forma muito particular, o DEUS de FALABELLA vem, para arrancar muitas risadas do público e desvendar os maiores segredos do universo ou, pelo menos, do Brasil.
 
Afinal, Deus não é brasileiro?
 

 


 


O espetáculo “An Act of God”, no original (“Um Ato de Deus”), escrito por DAVID JAVERBAUM, recebeu versão brasileira e direção de FALABELLA, contando com a codireção de FERNANDA CHAMMA, de grande e notório saber no mundo dos musicais, principalmente como grande coreógrafa que é.
Na Broadway, o espetáculo foi aclamado e premiado, tendo sido uma das grandes atrações locais, durante o tempo em que esteve em cartaz, tendo recebido, do respeitado jornal The New York Times, o comentário de “delirantemente, divinamente engraçado".
Longe, bem longe mesmo, da ultrapassada teoria de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, sou obrigado a concordar com tal afirmação, no que se refere a “GOD”. Foi bom lá e é bom aqui. Tenho a plena certeza de que, lá, as piadas e as críticas estavam voltadas para a cultura local, e por isso funcionavam. E o que fez, inteligentemente, FALABELLA? Exatamente o mesmo. Manteve a estrutura da peça, mas, obviamente, foi levado a trocar piadas e a inserir elementos que levam o público às gargalhadas, quando este reconhece as mazelas do nosso povo, dos nossos “mandatários”, da cultura brasileira. E nem poderia ser de outra forma.
 
 


Lembro-me, sempre, de não achar graça em muitas piadas feitas pelos apresentadores da festa do “Oscar”, exatamente, por não entendê-las, porque são piadas locais, que só funcionam para os americanos; muitas vezes, são comentários críticos sobre fatos muito recentes, ocorridos naquele mesmo dia, até horas antes de o espetáculo ser transmitido.
A ideia da peça não é tão original, admito, mas é interessante e, vestida com o texto “que cobre suas vergonhas”, a peça se torna genial.
O DEUS encarnado em FALABELLA é “hight tech”, moderníssimo, que troca as tábuas sagradas e a Bíblia por iPads. É um ser “antenado”, que, por exemplo, conhece, profundamente, as restrições ao glúten e às gorduras trans, assuntos que dominam a mídia dos nossos dias, e está por dentro de todas as canalhices praticadas pela grande maioria dos políticos brasileiros. Sua onisciência está focada no Brasil, durante o tempo de duração da peça, que poderia ser classificada como um misto de monólogo cômico e “stand up”.
Não se trata, exatamente, de um monólogo, pois, a despeito de o ator ficar em cena, durante uma hora e meia, falando sem parar, ele também contracena, raramente, com os dois atores que lhe servem de “escada”, os dois anjos, GABRIEL (ELDER GATTELY) e MIGUEL (MAGNO BANDARZ). Por outro lado, foge da total classificação como “stand up”, uma vez que existem cenário, figurino e texto, mas não deixa de apresentar os cacos e as muitas improvisações, que só um ator da inteligência de MIGUEL FALABELLA sabe fazer.
A estrutura do espetáculo é bem simples: em “off”, DEUS, em conversa com seus anjos, estes já em cena, anuncia que está farto do que está ocorrendo na Terra, ninguém obedecendo aos seus mandamentos, considerados, até por Ele, meio ultrapassados, e avisa que descerá a ela, para pregar novos mandamentos. Pede, então, aos anjos, que escolham uma pessoa da plateia, para lhe servir de “cavalo”. Propõem-lhe que assuma a forma de um ator, meio “decadente”, chamado MIGUEL FALABELLA. Ele aceita a sugestão e a peça começa.
 
 


E DEUS surge, deslumbrante, na forma humana, louro e de olhos azuis, descendo uma escadaria que liga o céu à Terra, ou vice-versa.
Cada novo mandamento é apresentado e, sobre ele, chovem comentários e instruções, tudo da forma mais engraçada, escrachada, anárquica, possível, entretanto, no fundo, contendo bastantes verdades. Humor crítico, o melhor de todos.
Alguns dos antigos mandamentos são, até, mantidos, mas “repaginados”. Dentre os novos, há, por exemplo, “Separar-me-ás do Estado”, durante o qual DEUS aproveita, bastante, o gancho, para tecer críticas sobre a influência das religiões, mormente a evangélica, na política atual, deixando bem clara a posição de que vivemos num Estado laico.
Outro bem interessante é “Não me dirás o que devo fazer”, durante cuja explanação critica o que as pessoas “exigem” de DEUS.
Também merece um destaque muito especial, por ser atualíssimo, um novo mandamento, que diz, em outras palavras, que “DEUS não se importa com quem as pessoas transam”, uma, mais que explícita, crítica à homofobia. Chega, inclusive, ao “absurdo” extremo, para a desaprovação de muitos religiosos (sou cristão e adorei a blague), de desconstruir a história de Adão e Eva, para dizer que esta era, antes, um homem, chamado Jéfferson, que “fazia companhia” a Adão, no Paraíso. Ambos eram amantes e viviam na maior paz, no maior “love”, entretanto a “maldita” serpente os fez comer do fruto proibido e os dois, muito levianamente, se deixaram “seduzir pela cobra”. Como castigo pela desobediência, DEUS submeteu Jéfferson a uma cirurgia de redesignação sexual, o que, no fundo, equivale dizer que Eva era trans, aumentando o mistério da prole que os dois tiveram.
É claro que esse tipo de piada subverte, completamente, a teoria, chata e engessada, do “politicamente correto”, mas não vejo nada de errado nela e me diverti muito, durante a”contação” (criei um neologismo) dessa história.
A propósito, muitas outras passagens bíblicas recebem roupagem nova, na versão do DEUS falabelliano.   
 


            O ator está completamente à vontade em cena, dominando o “timing” exigido para o humor, enriquecendo o texto, “original”, com seus cacos e nunca perdendo a oportunidade de criticar os “pobres”, marca registrada de seu eterno personagem Caco Antibes; excelente, por sinal.

            Os dois atores em papéis coadjuvantes cumprem sua função com dignidade.

            FERNANDA CHAMMA, dentro da sua especialidade, fez um excelente trabalho de coreografia, em menor escala, e direção de movimento, com a proposta de fazer com que os dois anjos (ou arcanjos; não entendo da hierarquia celeste) assumam diversas posições, como estátuas, lembrando poses de pintores e escultores famosos. É um detalhe que poucas pessoas, penso eu, percebem e que é muito interessante.

O cenário da peça é muito bonito, bastante “clean”, com predominância do branco. MARCO PACHECO pôs em cena uma escadaria (Ora, se poderia faltar uma para MIGUEL FALABELLA!!! E para DEUS também, é claro!!!). Um detalhe importante sobre essa escada é que ela é alta e com degraus diminuindo, de acordo com a altura, para criar uma profundidade.

            No palco, um grande sofá branco, para DEUS, de vez em quando, dar uma descansadinha e conversar com a plateia (Afinal, ninguém é de ferro; nem Ele.). Nenhuma alusão ao sofá da Hebe, sem querer ousar fazer concorrência ao humor de  FALABELLA.

Nas laterais, duas pequenas colunas gregas, jônicas, em material que imita mármore branco. Servem de base, de apoio, aos dois anjos.

Ao fundo, no alto, uma tela, em forma de círculo, serve a várias excelentes projeções (Ótimo trabalho de videografismo, não assinalado, infelizmente, na ficha técnica.), inclusive a de cada novo mandamento.
 
 
 
 


MARCO PACHECO também assina os ótimos e lindos figurinos. O dos anjos mistura elementos clássicos, reconhecidos nas representações iconográficas, com toques modernos, como a calça, de um tipo de material plastificado e elástico, e os tênis pretos, com aplicações de “spikes”, que fazem parte do estilo “punk” e que consistem em tachas, que reluzem com a luz dos refletores.          

            Para DEUS, o figurinista caprichou no visual. MIGUEL usa uma lindíssimo e bem talhado terno branco, impecavelmente passado, seguindo as tendências dos cortes modernos, com uma gravata num tom azul, de encantar.

            Nos pés, tênis, como os dos anjos, porém imaculadamente brancos.

            A iluminação, de ADRIANA ORTIZ, põe em destaque toda a beleza plástica que se vê em cena.

            A trilha sonora, de LENADRO LAPAGESSE, segue a proposta do espetáculo e varia, adequadamente, de acordo com cada cena.
 
 

           
 


 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: David Javerbaum
Versão Brasileira e Direção: Miguel Falabella
Codireção: Fernanda Chamma
 
Elenco: Miguel Falabella, Elder Gattely e Magno Bandarz
 
Voz, em off, de Deus: Bruno Garcia
 
Cenário e Figurino: Marco Pacheco
Iluminação: Adriana Ortiz
Trilha Sonora: Leandro Lapagesse
Visagismo: Dicko Lourenço
Produção Geral: Sandro Chaim
Transportadora Oficial: Avianca
Promoção: Globo
Realização: Aveia Cômica e Chaim Produções
Assessoria de Imprensa: Mattoni Comunicação
 



 
 


            “GOD” é o que se pode chamar de um bom entretenimento e tenho a certeza de que agradou à grande maioria dos que conseguiram assistir ao espetáculo.

            Homem de tantos projetos e ocupações, um multiartista, não sei se FALABELLA tem planos para uma outra temporada no Rio de Janeiro, mas torço para que isso possa vir a se tornar realidade.
 

 




       E VAMOS AO TEATRO!!!


       OCUPEMOS OS TEATROS!!!

 

 

(FOTOS: DIVULGAÇÃO.)
 
 
 
 
 

 
 


 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 






 




 


 
 

 
 

sexta-feira, 27 de outubro de 2017


DOCE PÁSSARO

DA JUVENTUDE

 

(UM POUCO MAIS

DE ACÚCAR

NÃO FARIA MAL A NINGUÉM
NEM CRIARIA DIABÉTICOS.)

 
 
 
 
 

            Século XX, início da década de 60, eu em plena adolescência, fui assistir, na, então, embaixada dos Estados Unidos, no Rio de Janeiro (Ou já seria consulado?) a uma leitura dramática. Era uma peça de TENNESSEE WILLIAMS, “The Glass Managerie”, traduzida, na época, por “À Margem da Vida”, também conhecida, entre nós, como “O Zoológico de Vidro”. Foi paixão à primeira vista. Passei a idolatrar o dramaturgo americano e procurei ler bastante sobre ele e o que escreveu.

Mais tarde, entrando no despertar da década de 70, na Faculdade de Letras, da UFRJ, onde cursei Português/Inglês, tive a oportunidade de, em Literatura Americana, fazer um curso, de um semestre inteiro, sobre o grande TENNESSEE. Foi o momento de me aprofundar no seu universo, analisando, com a turma e a magnífica professora, quatro de seus grandes textos, dentre os quais “DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE” (“Sweet Bird of Youth”). As outras foram “Um Bonde Chamado Desejo” (“A Streetcar Named Desire”), “Gata em Teto de Zinco Quente” (Cat on a Hot Tin Roof”, cuja tradução sempre esteve errada; deveria ser “em Telhado”, como foi traduzida, mais recentemente, numa montagem de grande sucesso) e “A Noite do Iguana (“The Night of the Iguana”). A paixão só fez aumentar e dura até hoje.

TENNESSEE WILLIAMS é um dos meus favoritos dramaturgos e é muito difícil – eu não me arrisco - apontar sua obra-prima. Ele escreveu várias.

No momento, no Rio de Janeiro, faz grande sucesso uma montagem de “DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE”, com direção de GILBERTO GAWRONSKI. A montagem vem sendo anunciada, pela mídia, como um espetáculo para comemorar os 45 anos de carreira de VERA FISCHER, contando com grandes nomes do elenco, como PIERRE BAITELLI, MÁRIO BORGES e IVONNE HOFFMANN, por exemplo.

A peça passou pela tradução de CLARA CARVALHO e a adaptação de MARCOS DAUD. Trata-se de uma ousada empreitada, com dez atores em cena e todo um complexo aparato técnico, envolvendo grandiosos cenários, figurinos, iluminação... Uma superprodução.

 
 
           
 
 
 
 
 



 
SINOPSE:
 
ALEXANDRA DEL LAGO (VERA FISCHER), disfarçada de PRINCESA KOSMONÓPOLIS, é uma atriz decadente, inteligente, de um ego a toda prova, talentosa, manipuladora e sem censura alguma. A personagem, apesar de ser uma experiente artista, de grande beleza, no passado, olha-se no espelho e enxerga uma velha fracassada, pelas marcas do tempo.
Por conta disso, transfere-se para o interior e acaba conhecendo um homem bem mais novo que ela, CHANCE WAYNE (PIERRE BAITELLI), que almeja poder e sucesso, como ator. É um aspirante a ator, que espera ter uma carreira amadrinhada por ALEXANDRA.
WAYNE volta à sua cidade natal, após muitos anos, tentando fazer filmes. Enquanto procura obter ajuda para fazer um teste de cinema, CHANCE acha tempo para rever sua ex-namorada, CELESTE FINLEY (JULIANA BOLLER), a filha do político e todo poderoso BOSS FINLEY (MÁRIO BORGES), que, mais ou menos, o forçou a deixar a cidade, muitos anos atrás, por motivos misteriosos, que vão se tornando diáfanos, ao longo da peça.
CHANCE se transformara num gigolô. Ele descobre que tem chance de se conciliar com a ex-namorada, a quem tivera a infelicidade de contaminar, no passado, com uma doença venérea, o que provocou a ira do poderoso pai da moça, figura de grande destaque na cidade. O rapaz sonhava em levá-la para outro lugar.
Todos se embrenham num emaranhado de paixão, cobiça, dor, mentiras, hipocrisia... 
 No final, não ocorre conciliação do casal CHANCE e CELESTE e fica implícito que ele é castrado, pelas mãos dos capangas de BOSS FINLEY, pelo fato de lhe ter “corrompido” a filha.
A trama se passa na década 1950, no sul dos Estados Unidos, na cidade de St. Cloud, Flórida, em meio ao surgimento do Ku Klux Klan, época marcada pela oposição aos movimentos civis, violência e discriminação racial.
 




 
 


TENNESSEE WILLIAMS (1911 / 1983) é, por total merecimento, um dos mais festejados dramaturgos do mundo, sendo de sua lavra uma quantidade enorme de textos para o TEATRO, muitas peças de um só ato. Algumas foram transformadas em filmes de enorme sucesso.

Por seu reconhecido talento, ganhou muitos prêmios, como o Pulitzer de Teatro, por A Streetcar Named Desire (1948) e por Cat on a Hot Tin Roof (1955). Suas peças The Glass Menagerie (1945) e “The Night of the Iguana (1961) receberam o Prêmio New York Drama Critics' Circle. Outra peça, The Rose Tattoo (1952), recebeu o Tony Award de melhor peça. Em 1980, foi presenteado com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente Jimmy Carter.
 
 
 



Conquanto eu recomende o espetáculo e o considere uma bonita montagem, confesso que fiquei um pouco decepcionado com o conjunto da obra. Ficou um pouco aquém do que eu esperava, pela grandeza do texto, que poderia ter sido um pouco mais bem explorado, e pelo elenco escalado, que, apesar de, relativamente, ajustado, parecia um pouco engessado; tinha potencial para um voo mais alto, Aliás, com relação a pôr num palco um elenco numeroso e de peso, isso representa, nos dias de hoje, grande mérito para a produção.

Desnecessário é falar do texto e sua qualidade, a não ser repetir que ele merecia um melhor tratamento, por parte da direção, a qual deveria trabalhar, mais profundamente, as questões de vingança, poder, jogos de interesse, hipocrisia de uma sociedade, mentiras, assim como expandir um pouco mais a questão do surgimento de um perigoso movimento, que traz instabilidade para a pacata cidade, o Ku Klux Klan, e suas ações de crueldade com relação aos negros.

Talvez GILBERTO GAWRONSKI, que considero um grande diretor, pudesse atenuar um pouco a proposta de uma encenação realista.
 
 
 
 


O elenco é formado por ótimos atores, nem todos tão bem aproveitados em cena.

Quando surgiu como atriz, depois de ter sido eleita Miss Brasil, por sua invejável beleza, ouvi muitos somentários negativos, relativos ao fato de VERA FISCHER ter abraçado a carreira de atriz. Aos que diziam que ela estava se aproveitando de sua plástica, para ocupar o lugar de outras profissionais “de carteirinha”, sempre reagi, veementemente, de forma contrária, por ter enxergado um bom potencial de atriz nela. Já a vi em ótimas atuações no palco, entretanto não reconheci, desta vez, aquela boa atriz na pele de ALEXANDRA DEL LAGO. Houve momentos de altos e baixos.

Havia uma certa “bipolaridade”, na interpretação, que não me parece pertinente à personagem. Incomodou-me um pouco o tom de voz, ou melhor, o volume, que, por vezes, sem nenhuma explicação, era utilizado pela atriz. Ela gritava, desnecessariamente. O mesmo, nos promeiros diálogos, verifiquei em PIERRE BAITELLI. Depois, a coisa foi se ajustando. Creio que ambos procuravam a melhor maneira de empostar a voz, no grande palco do enorme Teatro Carlos Gomes, de acústica duvidosa.






Um ponto positivo para a interpretação de VERA é ela, por meio da personagem, passar toda a angústia, revolta mesmo, que a velhice provoca numa pessoa que já fora uma grande atriz, na juventude. O fantasma de não conseguir bons papéis, pelo peso da idade, isso a atriz consegue passar muito bem em cena. A personagem utiliza o álcool como muleta e não liga para o bom senso, chegando a aparecer de camisola, no salão do hotel onde haveria um comício de BOSS FINLEY, durante o evento.
PIERRE BAITELLI, outro bom ator, sai-se bem melhor que a sua “partner”, na pele de um homem atormentado por um erro cometido no passado, um grande mistério, que vai sendo, aos poucos, revelado eufemisticamente. Por uma questão de vergonha, talvez, para a família e os amigos da moça “ofendida”. PIERRE passa bem a sua obsessão por reconquistar um antigo amor e o personagem sabe tirar partido da grande vantagem de sua beleza e juventude (29 anos). Ele a usa, para chantagear a velha atriz. Apesar da diferença de idade entre ambos, reconhece uma ponta de encanto físico em ALEXANDRA (Será que é isso mesmo?), a ponto de ter, com ela, uma relação sexual. Ególatra, por natureza, lobo em pele de cordeiro, dócil e gentil, quando lhe é conveniente, também tem seus momentos de rompantes. O personagem se torna um dependente de barbitúricos e vai, também, aos poucos, precocemente, perdendo a sua juventude.

Sua chegada à cidade – isso fica bem claro logo no início da trama e vai se solidificando ao longo dela – não é nem um pouco agradável e desejada, pois pode trazer à tona os fantasmas do passado, sem falar que CELESTE, sua pretendida, já está comprometida, por imposição paterna, com outro jovem local, GEORGE SCUDDER (BRUNO DUBEUX).
 


Quem mais tira partido de seu personagem e realiza o melhor trabalho em cena, a meu juízo, é MÁRIO BORGES, um dos melhores atores brasileiros, que interpreta um homem vingativo e que teme que a volta de CHANCE WAYNE possa representar um obstáculo às suas pretensões políticas. BOSS FINLEY não esconde uma superproteção à filha e tem a preocupação de lhe conseguir bons partidos, por interesses próprios, é claro.
Quando se deu o “problema” entre CHANCE e CELESTE, o pai – isso não fica bem claro – mandou realizar, na filha, uma “cirurgia de apêndice”, uma mentira, para camuflar o tratamento da doença venérea ou para tentar restituir-lhe a virgindade (Não sei se tal procedimento já era praticado naquela época. Pode ser uma grande “viagem” de minha parte.)
 
 
 

 
Os demais atores cumprem, normalmente, suas funções: CLARA GARCIA (MISS LUCY), DENNIS PINHEIRO (O MANIFESTANTE NEGRO), PEDRO GARCIA NETTO (TOM JUNIOR, filho de BOSS FINLEY), RENATO KRUEGER (STUFF) e IVONE HOFFMANN (TIA NONNIE)
Metaforicamente, a “juventude” pode ser considerada uma grande personagem da história. É por ela que os dois protagonistas lutam. É a sua negação que os incomoda e atrapalha seus planos, para o presente e para o futuro. A sua doçura contrasta com o amargo da velhice.
Fiquei encantado com os cenários, de MINA QUENTAL – ATELIÊ NA GLÓRIA. São de grande dimensão e de um bom gosto incrível, apresentando detalhes muito “sui generis”. A imensa cama do quarto de hotel em que CHANCE e ALEXANDRA estão hospedados, por exemplo, transforma-se em areia de uma praia e no palanque do salão em que BOSS FINLEY faz o seu comício.
 

 
 
 
As ambientações (quarto do hotel, praia, salão do hotel) se dão por acréscimo ou retirada de imensas colunas de PVC, laterais, que marcam, sem dificuldade, para o espectador, a mudança de locação.
Sobre a cama do hotel, há um enorme espelho, que desce e fica inclinado, servindo de instrumento para que se dê a constatação da velhice, em oposição à juventude.
Para completar a sugestão da praia, um enorme pano azul, que toma todo o fundo do palco recebe jatos de ar e, tremendo, causa a impressão da água do mar. Uma bela solução cênica!

Uma mesa, cadeiras e um balcão de ba completam os elementos cênicos.
            Gosto dos figurinos de MARCELO MARQUES. Conhecendo o trabalho e o gosto de MARCELO, confesso que aguardava mais exuberância nos modelos, entretanto tudo está no ponto, com destaque para o traje final da personagem de VERA FISCHER. MARCELO procurou, e conseguiu, ser fiel à moda da década de 50, quando se passa a trama. Discreto e requintado.
            Também me agrada a trilha sonora original, desenvolvida por um craque no ramo, ALEXANDRE ELIAS, que faz lembrar as trilhas do cinema americano daquela década.
            Do mesmo modo, aprovo a boa luz de PAULO CÉSAR MEDEIROS, embora esteja abaixo do seu conceituado nível. Mas não compromete, em nada, o espetáculo.



 





 
FICHA TÉCNICA:
Texto: Tennessee Williams
Tradução: Clara Carvalho
Adaptação: Marcos Daud
Direção: Gilberto Gawronski

Elenco: Vera Fischer, Pierre Baitelli, Mário Borges, Ivone Hoffmann, Bruno Dubeux, Clara Garcia, Dennis Pinheiro, Juliana Boller, Pedro Garcia Netto e Renato Krueger

Cenário: Mina Quental
Figurinos: Marcelo Marques
Iluminação: Paulo César Medeiros
Trilha Sonora Original: Alexandre Elias
Fotos de Estúdio: Marcelo Faustini
Fotos de Cena: Aline Macedo
Produção Executiva: Joana D´Aguiar
Produção Geral: Luciano Borges e Edson Fieschi
Realização: Borges & Fieschi Produções Culturais
Assessoria de Imprensa: Barata Comunicação
 





 
 
 

 
SERVIÇO:
Temporada: De 12 de outubro a 26 de novembro.
Local: Teatro Carlos Gomes.
Endereço: Praça Tiradentes, s/nº – Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2215-0566.
Dias e
Horários: De 5ª feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor do Ingresso: R$60,00 (inteira) R$30,00 (meia entrada)
Vendas online: www.ticketmais.com.br
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 4ª feira a domingo, das 12h às 20h.
Duração: 110 minutos.
Classificação: 14 anos.
Gênero: Drama.
 

 
 
 




            Não fugindo ao meu critério de só escrever sobre os espetáculos que me agradam, resolvi dedicar uma boa parte do meu tempo a esta crítica, chamando a atenção para o fato de que a mídia e o “marketing” criado para o espetáculo vendem uma ideia menos verdadeira do que eu vi em cena, entretanto trata-se de uma produção bem cuidada, honesta, ousada, nos dias atuais, que emprega muita gente e que, com o tempo e as contribuições da crítica e de pessoas ligadas a todos os envolvidos no projeto, tomará um novo rumo, acertando-se aquilo que merece ser melhorado. Afinal de contas, o espetáculo está só em início de temporada...
 
 
 

 
 



            No mais, recomendo o espetáculo.

 
         E VAMOS AO TEATRO!!!
 
         OCUPEMOS OS TEATROS!!!





 

 


(FOTOS: MARCELO FAUSTINI - estúdio -,
ALINE MACEDO - cena -
e DIVULGAÇÃO.)