BALANÇO
TEATRAL
– 2018
(APESAR DOS PESARES
- E FORAM MUITOS PERCALÇOS –
UM ANO DE GRANDES
REALIZAÇÕES TEATRAIS.)
Antes,
muito antes, mesmo, de os indefectíveis fogos de artifício anunciarem a entrada
do ano de 2018, eu já me punha a
pensar em como deveria ser difícil, em termos de produções teatrais, o novo ano, que se apressava a chegar. Como a ARTE e a CULTURA, definitiva e comprovadamente, não são áreas do interesse
dos, ditos, governantes, e com a “guerra” declarada aos “artistas que gostam de mamar nas
tetas do Governo, de se locupletarem com o dinheiro público, via Lei Rouanet”
(SANTA IGNORÂNCIA!!!), os calotes, as
empresas negando patrocínios e tantos outros reveses, tudo indicava que 2018 seria um ano de aridez total, para
o TEATRO. Mas os que os seus inimigos
ignoram é que “Os Deuses do Teatro não abandonam seus filhos e não perdoam aos seus
inimigos”. E que esse “povo do
TEATRO” é muito “macho” e unido. E foi assim, com as pessoas
colocando dinheiro do próprio bolso, assumindo dívidas, os colegas se dando as
mãos, muitos trabalhando de graça ou por uma remuneração baixa ou, praticamente, simbólica, que tivemos
um bom ano teatral, superando as minhas pessimistas expectativas. E isso
tudo, de bom, que aconteceu no ano que está terminando, só serve para que aplaudamos, DE PÉ, cada vez mais, a garra, o talento
e a perseverança do artista brasileiro; no caso específico, aqui, refiro-me
aos meus queridos amigos, que formam o “povo
do TEATRO”, tribo da qual faço parte e tenho carteirinha.
Para quem está acostumado a assistir a mais de 300 espetáculos por ano (Já cheguei a atingir a marca de mais de 350), dois ou três no mesmo dia, às vezes, este 2018 foi "fraco", para mim, em função de dois fatos. O primeiro foi uma viagem, de quase um mês, ao Canadá, entre junho e julho. O segundo foi uma fratura de fêmur, em setembro, que, compulsoriamente, me afastou das plateias. Mesmo assim, três semanas após a cirurgia, que se fez necessária, lá estava eu, nas primeiras filas, sentindo fortes dores, à base de analgésicos, e fazendo uso de um andador e, posteriormente, de duas muletas, para me locomover, locomoções feitas com muito sacrifício e utilizando táxi, por não poder, obviamente, dirigir, o que voltei a fazer cinco semanas após a cirurgia.
JANEIRO foi um mês que tinha tudo para
ser “fraco”, porque poucas novas
produções
surgiram, entretanto
voltaram ao cartaz
grandes atrações de 2017, e, até de anos anteriores, o que aconteceu em
outros meses do ano, também. Como foi bom poder rever
espetáculos de excelente nível, a maioria!
Revi todos:
“60! DÉCADA DE
ARROMBA – DOC.MUSICAL” (Grande sucesso de público e de crítica e
uma grande novidade, em termos de formato,
no universo dos musicais.),
“O
JORNAL” (Também fez uma bela carreira em
São Paulo.),
“AGOSTO” (Premiadíssimo.
Merecido.),
“ALICE MANDOU UM BEIJO”
(Lindo trabalho de
Rodrigo Portella,
como
diretor, e seu
maravilhoso elenco.),
“ALAIR” (Viva
Edwin Luisi!),
“AYRTON SENNA
– O MUSICAL” (Quanta saudade, numa bela homenagem ao eterno ídolo!),
“PARA ONDE IR” (Que grande
ator é
Yashar Zambuzzi!),
“GRITOS” (
Obra-prima!),
“YANK – O MUSICAL” (Um belíssimo tratado de amor entre pessoas de
igual gênero.),
“TOM NA FAZENDA” (Outra
obra-prima e
um dos melhores espetáculos a que assisti em toda a minha vida;
premiadíssimo, também, inclusive, recentemente, no exterior, no
Canadá.),
“SUASSUNA – O REINO DA PEDRA DO SOL” (A
Barca dos Corações Partidos, com convidados, ataca de novo.),
“BITUCA – MILTON NASCIMENTO PARA CRIANÇAS”
(O segundo, de uma linda trilogia, direcionada ao público infantojuvenil.)
, “FRIDA KHALO – A DEUSA TEHUANA”
(Proporcionou-me a oportunidade de me redimir; não gostei, na primeira
temporada, e adorei nesta.),
“BEATLES
NUM CÉU DE DIAMANTES” (Completando
dez
anos em cartaz, sucesso absolutíssimo de público e de crítica, uma
obra-prima, que representaria o
Brasil, no exterior, e faria grande
sucesso lá também.
Vi 57 vezes, em uma
década.),
“LÁ DENTRO TEM COISA” (Um
belo e profundo musical infantojuvenil, para todas as idades.),
“JANIS” (Proporcionando o destaque
merecido a
Carol Fazu.),
"DOIDAS E SANTAS" (
Oito anos de total sucesso.)
“EMILINHA” (Por motivos COMPLETAMENTE
ALHEIOS À MINHA VONTADE, não havia conseguido ver antes.),
“ACABOU O PÓ” (Nova montagem, com outro
elenco.)
e “O PORTEIRO” (Mais um grande acerto de
Alexandre Lino.), com o qual encerrei, em
22/12, o meu
ano teatral de 2018.
Acho que me
lembrei de todos.
Dois
segmentos deixaram bastante a desejar, em termos quantitativos, entretanto,
qualitativamente falando, algumas montagens
foram excelentes produções.
Refiro-me ao TEATRO INFANTOJUVENIL e
aos MUSICAIS, minha paixão maior,
dentro da paixão geral: o TEATRO. Em
termos de qualidade, estes se apresentaram em maior número, com relação
àqueles.
Na
categoria
INFANTOJUVENIL, os
destaques foram para
“A MENINA E A
ÁRVORE”,
“ISAC NO MUNDO DAS PARTÍCULAS"
e
“THOMAS E AS MIL E UMA INVENÇÕES”,
estas explorando, de forma fantástica, o mundo das ciências, fugindo à mesmice
das temáticas mais comuns no gênero;
“TROPICALINHA
– CAETANO E GIL PARA CRIANÇAS”, o terceiro
espetáculo do
Projeto “Grandes
Músicos Para Pequenos”, desenvolvido por
Pedro Henrique Lopes e
Diego
Morais;
“LÁ DENTRO TEM COISA”;
“O CHORO DE PIXINGUINHA”,
“MALALA – A MENINA QUE QUERIA IR PARA A
ESCOLA”;
"O LAGO DOS CISNES"; e
“DIÁRIO DE PILAR NA
GRÉCIA”.
No
campo dos
musicais, o ano prometia
muitas ótimas surpresas, quando, logo em
janeiro,
nos vimos diante de
“BIBI – UMA VIDA EM
MUSICAL”,
espetáculo no qual
era, praticamente, impossível ser encontrado algum erro, graças à
brilhante direção de
Tadeu Aguiar
e ao trabalho de todos os
profissionais
envolvidos nessa
produção,
artistas e
técnicos, com o destaque maior para a interpretação de
Amanda Acosta, para a
protagonista que dá nome à
peça.
IRRETOCÁVEL, em todos os sentidos!!!
Os
“reis dos musicais”, como são
conhecidos
Charles Möeller e
Claudio Botelho, nos brindaram com
três trabalhos, que não fugiram ao
“padrão M&B de qualidade”. Foram
eles
“SE MEU APARTAMENTO FALASSE”,
“A NOVIÇA REBELDE” e
“PIPPIN”.
Malu Rodrigues, como sempre, destacando-se, com seu talento invejável,
principalmente na pele da noviça
Maria.
Já em
“PIPPIN”, além dos grandes
nomes ligados aos
espetáculos musicais,
quem roubava a cena, em seus
“quinze
minutos de fama” (Na verdade, para ela, é toda uma vida.) era
Dona NICETTE BRUNO, como
Berthe, a irreverente avó de
Pippin. Todos estavam excelentes, em
seus papéis, porém um grande talento foi revelado, o de
João Felipe Saldanha, que alternava o papel do
protagonista, com
Felipe de
Carolis. Seus solos eram calorosamente aplaudidos pelo público, assim como
recebia grandes e merecidas ovações o pré-adolescente
Luiz Felipe Mello, já até indicado a um prêmio, com seu
Theo.
Dois
outros
musicais fizeram excelentes
carreiras e ganharam o reconhecimento do público e da crítica. Foram eles
“ROMEU E (+) JULIETA”,
que muito me encantou, uma lindíssima
produção, com canções do repertório da
cantora e compositora
Marisa Monte,
e
“ELZA” (este nem tanto), contando
a vida da cantora
Elza Soares, ambos
encenados no lindo
Teatro Riachuelo,
um dos melhores do
Rio de Janeiro.
Sem
sair da área dos musicais, eis algumas considerações sobre outros:
“Comendo
pelas beiras”, assistimos a um lindo
“O
HOMEM NO ESPELHO”, uma gratíssima surpresa, homenageando o cantor
Michael Jackson. Outra
ótima produção, que já ganhou prêmios e
está recebendo indicações a outros, é
“A
VIDA NÃO É UM MUSICAL”, com sua irreverência e seu “abuso”, no bom sentido,
do
“politicamente incorreto”,
desconstruindo o universo infantojuvenil e mostrando a triste e cruel realidade
sociopolítica brasileira.
De
São Paulo, chegaram
quatro produções: a
obra-prima de
Miguel Falabella,
“O HOMEM
DE LA MANCHA”,
que me hipnotizou profundamente,
a ponto de eu ter visto
duas vezes, em São
Paulo, e
duas aqui, no Rio, onde, infelizmente, não conseguiu
o mesmo imenso sucesso auferido na capital paulista;
“RENT”,
“um dos maiores musicais sobre o amor”, outro
musical “torto”, em termos de temática,
uma iniciativa de
Bruno Narchi;
“CHAPLIN – O MUSICAL”, um poema em
forma de
espetáculo, no qual o
destaque era o
brilhante trabalho de
Jarbas Homem de Mello, numa excelente composição do
protagonista. Infelizmente - o único que destoou -,
“ISAURA GARCIA – O MUSICAL” não fez o
sucesso que se esperava, porém me abstenho de dizer por quê.
Mais
uma vez, o poder público atrapalhando as artes.
O premiadíssimo projeto de "TEATRO MUSICADO", criado e comandado, com
muita garra, competência e dedicação, pelo professor
e diretor Rubens Lima Júnior, da Unirio, o qual já nos brindou com
tantas pérolas, foi prejudicado, em função de problemas internos, naquela
instituição, o que acabou fazendo com que “O
PRIMO DA CALIFÓRNIA” não alcançasse o mesmo sucesso das montagens dos anos anteriores, o que não
quer dizer que tivesse sido um trabalho ruim; só não conseguiu atingir o nível
dos outros.
Ainda
que tenha sido um enorme sucesso de público, mas não de crítica, por ter um
grande apelo popular, mas deixando muito a desejar, tecnicamente falando,
assistimos à tentativa de se prestar uma justa homenagem a uma dama do samba, Dona Ivone Lara, no musical “DONA IVONE LARA – UM SORRISO NEGRO”. A grande sambista e
compositora merecia uma homenagem à altura de seu talento.
Numa
montagem modesta, porém muito bem
feita, IZABELLA BICALHO brilhou, no
palco, com sua linda presença e deliciosa voz, vivendo uma das maiores cantoras
da Música Popular Brasileira, no espetáculo “ELIZETH – A DIVINA”.
“CAFONA SIM, E DAÍ? – UMA HOMENAGEM”. A
quem? A Sérgio Brito, numa remontagem de um espetáculo feito por ele, em 1997,
no antigo Teatro Delfim, administrado, na época, pelo inesquecível Sérgio.
Assim como aquele, este agradou bastante ao público; a mim, também.
Mais
para a classificação de um
“show
roteirizado” do que, propriamente, um
espetáculo
de
TEATRO MUSICAL,
“ÍCARO AND THE BLACK STARS”, comandado
por
Ícaro Silva e seu grande
talento, foi um enorme e divertido sucesso. Seria capaz de assistir a ele
muitas outras vezes, além das duas sessões em que estive presente.
Para finalizar
os comentários sobre o
gênero musical,
falemos de
“O FRENÉTICO DANCIN’ DAYS”,
que lotou o lindo, enorme e confortável
Teatro Bradesco, por duas temporadas, já se preparando para voltar ao
cartaz, numa terceira, no
início de
janeiro de 2019.
O
musical,
que conta como surgiu um dos ícones dos
anos
70, a discoteca – novidade no
Brasil
–
Frenetic Dancing Days, assombroso
sucesso,
“nascido de um grande fracasso”,
frequentou todos os espaços da mídia carioca e já tem uma longa turnê, pelo
Brasil, programada para o próximo ano.
“Livre, leve e solto”, fez com que
todos cantassem e dançassem os grandes sucessos de uma época em que
“a gente era feliz, e sabia”.
Por um
lapso imperdoável,
até que, graças aos
DEUSES DO TEATRO, eu tivesse sido alertado por
alguém, havia deixado de mencionar o
último grande musical do ano,
chegado ao público em
20 de novembro de 2018, ao apagar das luzes, justificativa, certamente, para o meu esquecimento
(Este adendo foi feito pós-divulgação
deste "BALANÇO".). Trata-se de
"70? DÉCADA
DO DIVINO MARAVILHOSO - DOC.MUSICAL", da mesma dupla que inventou
um
novo formato para musicais,
Frederico Reder e
Marcos Nauer, com
"60! DÉCADA DE ARROMBA - DOC.MUSICAL". Tudo indica que fará a mesma carreira de sucesso que atingiu a
produção anterior. E já nos prometem mais dois
espetáculos, para os próximos anos, no mesmo formato, voltados para as
décadas de 80 e
90 Esperemos!
Embora,
oficialmente, seja apresentado como um “musical”,
até no título, eu não o considero como pertencente a tal gênero, entretanto não
posso deixar de registrar um dos
melhores espetáculos do ano, que reabriu o Teatro Adolpho Bloch, antigo Teatro
Manchete, fechado havia 18 anos.
Falo de “MOLIÈRE – UMA COMÉDIA MUSICAL”, espetáculo paulista, que caiu nas graças dos cariocas, por ser de altíssimo
nível técnico e artístico, pelo conjunto da obra: texto, direção, elenco e
elementos técnicos.
Outro
espetáculo, muito merecidamente
incensado, foi
“BOCA DE OURO”, um
dos clássicos de
Nelson Rodrigues,
numa releitura genial de um mago da
direção:
Gabriel Vilela.
Espetáculo irretocável, um dos melhores da temporada. Aliás,
Gabriel ainda nos presenteou com outro
grande sucesso:
“HOJE É DIA DE ROCK”,
uma montagem totalmente diferente da original, emblemática, datada de
1971, ambas no mesmo, não menos
emblemático e histórico,
Teatro Ipanema,
representada pelos atores da companhia curitibana
Ave Lola – Espaço de Criação, a qual, também, voltou ao
Rio com outra belíssima
peça,
“NUON”, esta com a
maravilhosa
direção, de
Ana Rosa Tezza, bem
ao estilo de
Vilela.
Valeu a pena esperar tanto pela
inesquecível e arrojada encenação de “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”, no
CCBB
(rotunda), uma ousadíssima ideia da genial
diretora Bia Lessa, com sua leitura da obra máxima de
Guimarães Rosa.
Que elenco! Que iluminação! Que trilha sonora! Que direção! É daqueles
espetáculos que marcam, para sempre, o espectador.
São Paulo, no campo dos
dramas e das
comédias, ainda nos trouxe algumas
produções que merecem destaque:
“A VISITA DA VELHA SENHORA”, com
Denise Fraga à frente do
elenco
e da
produção. Os cariocas devemos
sempre ser gratos à
Denise, que mora
em
São Paulo, porém, como carioca,
de nascimento, se empenha, com unhas e dentes, para trazer, ao
Rio, seus grandes sucessos, de público
e de crítica, montados, primeiramente, na terra da garoa. Ela sempre briga
muito por isso, e consegue. Eu já havia assistido à
montagem em
São Paulo e,
é claro, não pude deixar de revê-la, no
Teatro
Ginástico, por duas vezes mais.
“OS GUARDAS DO TAJ” foi outro espetáculo que São Paulo nos legou, interessante, assim como “QUARTO 19”, uma gratíssima surpresa, daquelas peças das quais, em princípio, não se espera tanto e ela nos surpreende (Adoro isso!). Infelizmente, a minha
grande decepção ficou por conta do badaladíssimo “O REI DA VELA”. Em duas vezes em que estive em São Paulo, tentei ver a peça, e não o consegui, pelo fato de a
lotação estar esgotada. Isso só fez aumentar a minha expectativa e o meu desejo
de “atingir o Nirvana”, quando
conseguisse conferir a montagem.
Infelizmente – E NÃO VAI AQUI NADA DE NOSTALGIA
-, para quem teve a primazia de assistir à versão original, em 1967,
pelo Grupo Oficina, a experiência
foi, por demais, decepcionante.
“OUTROS”, do excepcional Grupo Galpão, de Belo Horizonte, foi a segunda grande decepção do ano. Pode ser um
problema meu, mas não é desse Grupo
Galpão que eu gosto, não foi por esse Grupo
Galpão, que está à busca de novas pesquisas em linguagens, que eu me
apaixonei, desde sua fundação. Mas são coisas da vida. Há quem goste e aprove. Respeito.
RENATA CARVALHO “causou”. Provocou a ira dos conservadores, mexeu com a “moral
ilibada” dos que se dizem “religiosos, tementes a Deus”, porém em cujos
dicionários, não existem as palavras
“ARTE”,
“TOLERÂNCIA” e
“RESPEITO”, com o seu
“O
EVANGELHO, SEGUNDO JESUS, RAINHA DO CÉU”.
Sempre se pode
esperar coisa boa, vinda de
Bruce
Gomlevsky. Neste ano, o
grande ator
e diretor brilhou, com o comovente
monólogo “MEMÓRIAS DO ESQUECIMENTO” e com uma leitura totalmente inovadora e
deslumbrante de
“UM TARTUFO”,
encenados, concomitantemente, em dias e horários diferentes, é óbvio, no
simpático
Teatro Poeirinha. Ambos os
espetáculos já receberam indicações
a prêmios, com a perspectiva de que outras virão, e são grandes candidatos a
estatuetas.
Às vezes, uma peça não é boa, ou tão boa, porém
oferece oportunidades para que atores
se destaquem em seus trabalhos. Foi o caso de “UMA FRASE PARA MINHA MÃE”,
monólogo em que Ana Kfouri dá
uma aula do que seja representar num palco; de “EU SÓ QUERIA QUE VOCÊ NÃO OLHASSE PARA O LADO”, também monólogo, em que Rose Abdallah desfila o seu talento; de “MEUS DUZENTOS FILHOS” e “MARIA”,
outros dois monólogos, nos quais,
respectivamente, se pode dizer o mesmo para Cláudio Mendes e Marcelo
Aquino. Ressalvo que estes dois
últimos são bons espetáculos, na minha visão.
O
diretor Jorge Farjalla gosta de utilizar, em seus trabalhos de
direção, a expressão
“(Título da Peça), na visão de Jorge
Farjalla”. Pode parecer um tanto pretensioso, mas não o é. Seu desejo é,
apenas, o de lembrar que, naqueles trabalhos, ele impõe uma marca pessoal de
direção, ousada, de desconstrução, quase
sempre excelentes, marca esta que o torna
“diferente”
dos demais
encenadores. Como o lema da
escola de samba
Salgueiro,
“nem
melhor, nem pior; apenas uma escola (um diretor) diferente”. Em
2018,
Farjalla nos deliciou com sua
“visão”
de outro clássico rodriguiano,
“SENHORA
DOS AFOGADOS”, estreado em
São Paulo,
no
Teatro Porto Seguro, onde vi pela
primeira vez, e
"VOU DEIXAR DE SER FELIZ
POR MEDO DE FICAR TRISTE?",
um primor
de espetáculo.
Victor Garcia Peralta, argentino, de
nascimento, mas um dos melhores diretores
“brasileiros”, assinou uma das mais deliciosas comédias do ano e dos últimos tempos: “MORDIDAS”. André Paes Leme
dirigiu outra: “NOSSAS MULHERES”. É
um grande mérito, para ambos os diretores
e os dois elencos, quando sabemos
quão difícil é a montagem de uma boa comédia.
“O CONDOMÍNIO” foi outra ótima comédia “nonsense”, meio Teatro do Absurdo, que, por ter
agradado ao público e à crítica, fez duas brilhantes carreiras, em temporadas
no SESC Copacabana e no Teatro Ipanema.
Três espetáculos dos mais comoventes, para
mim, foram um drama, “EM UMA MANHÃ DE SOL” (Flávia Lopes me fez chorar muito, de
tristeza e de alegria), uma comédia,
“URBANA”, uma das melhores surpresas do ano, apresentada por uma atriz/palhaça que eu não conhecia e de
quem me tornei um grande admirador, Glaucy
Fragoso, e uma terceira, “O QUE É
QUE ELE TEM”, que mistura os dois gêneros, pode-se dizer (Acho.).
Sou grande
admirador da arte de
Álamo Facó, de
quem não perco um trabalho, e acho que ele merece um destaque por sua coragem,
ao encenar o espetáculo
“TRAJETÓRIA SEXUAL”,
no qual, despido, denotativa e conotativamente, de qualquer vestígio de pudor
barato, o
grande ator se expõe,
contando particularidades de sua vida sexual. Poderão perguntar alguns: E o que
isso pode nos interessar? E a minha resposta é esta:
Visse o espetáculo!!!
Fico triste
quando a expectativa que me leva ao Teatro
não é alcançada, mas isso pode acontecer, sem que se constitua um grande
problema. Apenas fico triste. Aconteceu, este ano, com “NERIUM PARK”, dirigido pelo magnífico
diretor Rodrigo Portella. Não me disse grande coisa, mas eu prefiro
acreditar que o problema estivesse em mim. Eu não deveria estar num bom dia,
quando assisti à peça, no Teatro Glaucio Gill. Ela já cumpriu outra
temporada, mas não tive tempo nem condições físicas para retificar ou ratificar
a impressão que me deixou. Tenho esperança de que volta à cena, para que eu a
reveja.
Muito merecidamente, está
recebendo indicações a prêmios um ótimo espetáculo, que veio lá de cima do Brasil, do Rio Grande do
Norte, trazida pelo
excelente Grupo Carmin, aqui representado por Mateus
Cardoso, Robson Medeiros e Henrique Fontes, atores, dirigidos, brilhantemente, por Quitéria Kelly. Trata-se de “A
INVENÇÃO DO NORDESTE”.
Quatro experiências
muito interessantes, no campo das
linguagens
voltadas para o
TEATRO, estiveram
presentes em
“VIM ASSIM QUE SOUBE”,
“MOLÉSTIA”,
GALÁXIAS I – TODO ESSE CÉU É UM DESERTO DE CORAÇÕES PULVERIZADOS” e
“O INSACIÁVEL ZÉ CARIOCA”. No caso
de
“MOLÉSTIA”, destaca-se o
espetáculo por ser a
primeira direção (Excelente!) de
Marcéu Pierrot.
Um destaque
especial, já chegado no final do ano, vai para
“ÍCARO”, espetáculo idealizado e escrito por Luciano Malmann, um
ótimo ator gaúcho, cadeirante, que também atua no
monólogo, contado a sua própria história e a de mais cinco
personagens, baseados em pessoas com
quem ele conviveu, todas, como ele, portadoras de necessidade de locomoção,
paraplégicas ou tetraplégicas.
Um espetáculo
diferente, lindo e comovente!
Quase
finalizando estes comentários, passo a relacionar outros títulos que me fizeram sair do Teatro
muito feliz, gratificado, em função do ótimo
nível de qualidade: “EDWARD BOND
PARA TEMPOS CONTURBADOS”, “MEMÓRIA
DA ALMA”, “A ORDEM NATURAL DAS
COISAS”, “OUVI DIZER QUE A VIDA É
BOA”, “HEISENBERG – A TEORIA DA
INCERTEZA”, “O ENCONTRO - MALCOLM X E MARTIN LUTHER KING JR., “ARIANO – O
CAVALEIRO SERTANEJO”, “CARMEN”, “ZILDA ARNS – A DONA DOS LÍRIOS” e “IRMÃOZINHO QUERIDO”.
Uma
luz no fim do túnel surgiu, no fechar das cortinas, com a notícia de que o velho
Teatro das Artes, no segundo piso do
Shopping da Gávea, partiu para uma
parceria com uma empresa ligada ao ramo de exploração de petróleo, a
PETRORIO, a qual ficará responsável pela
programação da casa, passando esta a se
chamar
Teatro PETRORIO das Artes,
cuja inauguração ocorreu recentemente, com a apresentação da
diva maior,
Dona Fernanda Montenegro, apresentando sua já consagrada
“performance”, a
leitura interpretada e dramatizada de trechos do delicioso livro
“Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo”, de
autoria de
Sônia Rodrigues, filha de
Nelson.
Os
dois últimos meses do ano parecem
ter sido reservados para algumas das
melhores
produções de 2018, para coroar um ano, que prometia ser ruim, porém
foi ótimo,
teatralmente falando. São elas
“DOGVILLE”,
“AS BRASAS”,
“O INOPORTUNO” e
“TEBAS
LAND”.
A primeira da
relação, com atores paulistas, praticamente todos, ou lá radicados, fez sua
estreia em terras cariocas, numa idealização e produção de Felipe Lima, o qual, além de bom ator, tem se revelado um magnífico
produtor, com um “faro” certeiro para o sucesso. Um grande espetáculo, baseado no polêmico filme homônimo, reunindo 16 atores em cena, uma façanha não
vista há muito tempo, a não ser em musicais.
O segundo
reuniu dois grandes atores brasileiros,
num “duelo”, no melhor dos sentidos, denotativa e conotativamente falando, Herson Capri e Genézio de Barros, no qual o grande vencedor é o público.
O terceiro é
um primor de encenação de um dos melhores
textos do Teatro do Absurdo, à altura do talento de Harold Pinter, seu autor, com brilhante
direção de Ary Coslov, e um
excelente protagonismo de Daniel Dantas, muito bem sustentado
pelos trabalhos de dois ótimos atores em
papéis coadjuvantes: Well Aguiar
e André Junqueira.
Quanto ao
último da relação, na verdade, ocupa, na minha lista de “tops”, o primeiríssimo
lugar. Considero-o um dos melhores
espetáculos a que já assisti em toda a minha vida e ouso comparar sua qualidade
à de “TOM NA FAZENDA”. Precisa ser mais visto e mais consagrado do que já
vem sendo. Estão com temporada já marcada para janeiro, no Teatro SESI
Centro. Uma obra-prima, que não dá margem a que se encontre, nela, qualquer erro, mesmo que se faça uso da mais
possante lente de aumento. Todos os elementos são fantásticos, entretanto, ao
lado da excelente atuação de Otto Jr. e da magnífica direção do sempre competente Victor Garcia Peralta,
destaca-se o talento de Robson Torini,
na pele de um parricida, presidiário. Mais não posso falar, porque o espaço é
curto e a minha paixão pelo espetáculo é
incomensurável.
E, assim,
chegamos ao final de mais uma
temporada
teatral carioca, com um saldo bem
positivo.
Quase todos os espetáculos
mencionados neste trabalho, a maioria, mereceram que eu escrevesse críticas sobre eles, as quais estão
no meu blogue www.oteatromerepresenata@blogspot.com.
É só conferir.
A todos os envolvidos nas
produções que não foram aqui citadas,
o meu maior respeito e admiração, pois tenho a mais ampla certeza dos seus esforços e de que todos procuraram fazer o seu melhor. E, se não me agradaram tanto, houve, e haverá sempre, quem os aplaudisse mais do que eu.
Parabéns!!!
A todos,
desejo o que quero de melhor para mim mesmo e para a minha família, e que
estejamos juntos, em 2019, lutando
para que o TEATRO continue ocupando
o lugar de destaque, que lhe é de direito, no panorama cultural brasileiro! Queiram “ELES” ou não!!!
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO
BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO