NA COXIA, COM...
...DANIEL PORTO.
(Foto: arquivo particular.)
(Foto: arquivo particular.)
O meu convidado para a entrevista de
hoje saiu dos bancos na UFF (Universidade Federal Fluminense) para os
palcos dos Teatros e os estúdios de TV.
E
que relação há entre essas duas coisas? Nenhuma. Ele não estudou nada relativo
a TEATRO, naquela instituição, mas concluiu um curso que, de certa
forma, deve ter-lhe ajudado bastante nos seus escritos.
É
que, antes de se tornar um dramaturgo muito respeitado, ainda que bastante
jovem - apenas 28 anos -, um dos melhores da novíssima geração, e
roteirista de humorísticos “tops” da TV brasileira, em termos de
audiência, DANIEL PORTO se formou em História, naquela Universidade,
porém não chegou a exercer o magistério ou a profissão de historiador.
Talvez
a docência tenha perdido um bom professor, entretanto, com total certeza, digo,
representando muitas vozes, que as artes cênicas ganharam um excelente autor,
quer escrevendo peças para adultos ou crianças, quer assinando roteiros de
seriados de humor do canal fechado Multishow.
De
seu computador, saíram, para os palcos, quatorze peças: sete para o
público adulto e sete para divertir e encantar a criançada, atingindo,
também, seus acompanhantes, em apenas sete anos de carreira.
Com
somente 21 anos de idade, teve seu primeiro texto encenado, apresentado
num espaço alternativo, no Centro Cultural Solar de Botafogo, para
um público micro, em função do limitadíssimo espaço, porém sua qualidade era
tamanha - não só do texto como, também, do elenco e demais elementos da peça
-, que, em sua estreia, como dramaturgo, já foi indicado a um prêmio de TEATRO,
como melhor autor e mereceu a última crítica escrita pela “temível”,
porém respeitada Dona Bárbara Heliodora, publicada no jornal “O
Globo” (“O GLOBO INDICA”), o que, além do famoso e eficiente “boca a boca”,
catapultou o espetáculo, o qual passou a fazer muitas temporadas, no Rio
de Janeiro e em outros estados, além de ter consagrado, para o estrelato, o
nome do grande e querido amigo, dele e meu também, ALEXANDR LINO, o qual representava o protagonista. A peça era “O PASTOR. Corria o ano de 2013.
O
“casamento” entre os dois deu tão certo, o trabalho de ambos entrou na
mesma frequência, estava tão em sintonia, que, de lá para cá, a dobradinha PORTO/LINO
emplacou muitos outros grandes sucessos, de público e de crítica, com o DANI
sempre escrevendo, enquanto LINO atuava e/ou dirigia.
E
o quase menino, de Alcântara, São Gonçalo, viu-se na necessidade
de se dividir entre sua cidade natal e o Rio, em algumas idas e vindas, até se
estabelecer como residente em Botafogo, no momento, onde trabalha, incansavelmente, no modelo “home office”.
Depois
de “O PASTOR” (2013), com direção de Carina Casuscelli, na
sequência, para os adultos, vieram “ACABOU O PÓ”, direção de Vilma
Melo (2014), com outra montagem, em 2018, dirigida por
Daniel Dias da Silva; “VOLÚPIA DA CEGUEIRA”, direção de Alexandre
Lino (2016); “LADY CHRISTINY”, direção de Maria
Maya (2016); “MISERICÓRDIA”, direção de Zéu
Britto
(2018); “CAFONA SIM, E DAÍ? UMA HOMENAGEM”, direção de Alexandre Lino (2018);
e “O SUBSTITUTO”, direção de Maria Maya (2019).
Para os “miúdos”, seu currículo registra “O DUENDE RUMPELSTILTSKIN”, direção de Daniel Dias da Silva (2014); “AS AVENTURAS DE PINÓQUIO”, direção de Carina Casuscelli (2014); “JOÃO & MARIA - UM MUSICAL”, direção do próprio DANIEL PORTO (2016); “O PEQUENO PRÍNCIPE - A VERSÃO DA ROSA”, direção de Edson Bueno (2016); “PEDRO E O LOBO”, direção de Tom Pires (2017); “O LAGO DOS CISNES”, direção de Alexandre Lino (2018); e “FEIONA - A PRINCESA LINDONA”, direção de Daniel Dias da Silva (2019).
Sua contribuição, na TV, até o momento, se resume a atrações do canal fechado Multishow: “VAI QUE COLA”, sétima temporada (2019), como roteirista, e, na oitava, a estrear, como roteirista e redator final; “A VILA”, quarta temporada (2020), como roteirista e redator final; além disso, “MINHA MÃE É UMA PEÇA, A SÉRIE”, primeira e segunda temporadas (2021), para a Globoplay.
Depois dessa apresentação, vamos conhecer um pouco da pessoa e do profissional DANIEL PORTO.
(Foto: arquivo particular.)
(Foto: arquivo particular.)
1) O TEATRO ME REPRESENTA:
DANIEL, quem olha para esse homem,
de 28 anos, com carinha de adolescente, de 18, não faz
ideia do talento acumulado aí dentro. Gostaria de começar perguntando como,
onde e quando você descobriu que havia um dramaturgo e um roteirista
adormecidos em você, esperando “o beijo do príncipe”, para despertar?
DANIEL
PORTO: (Risos.) Agradecido
pela “carinha de 18”. Mas “o beijo do príncipe”, na verdade, foi
o beijo de uma professora, a Yonara Costa. Quando a conheci, no
segundo ano do ensino médio, em São Gonçalo, ela foi a principal
incentivadora para que eu me aventurasse nos rumos da escrita. Ela era minha
professora de literatura e passava projetos e desafios de escrita. Assim,
comecei a me aventurar a escrever contos, crônicas, poemas e a pensar qual
carreira eu gostaria de seguir. Que estaria ligada à arte, certamente.
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
2)
OTMR: Você teve alguma
formação acadêmica (cursos, oficinas), para desenvolver o seu lado
criador, como autor, ou é tudo intuitivo, natural?
DP: Eu sou formado em História, pela Universidade Federal Fluminense. Como autor, não tenho nenhuma formação específica. Acredito que a minha maior escola de TEATRO foi trabalhar como contrarregra do Teatro Firjan SESI Centro, por quatro anos. E, no audiovisual, foi ficar enfurnado nas salas de cinema do Grupo Estação. Além, é claro, de ler muitos livros sobre teoria da escrita, como as bíblias de roteiro do Syd Field, McKee, entre outros muitos livros de literatura. Acredito que toda arte que se consome se transforma em bagagem.
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
3) OTMR: Quando você partiu para um curso superior
de História, o que tinha em mente? O que procurava?
DP: Eu tinha em mente trocar de faculdade um ano depois, para cinema. (Risos.). Eu tinha passado para Direção Teatral na UFRJ, mas não tive coragem de cursar. Pensei que seria muita loucura fazer TEATRO, sem nunca ter ido ver uma peça, até os meus 18 anos. Mas a vida é imprevisível e lá fui eu trabalhar com TEATRO, mesmo sem ter formação acadêmica.
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
4) OTMR: É muito raro a gente encontrar alguém com uma carreira tão brilhante, iniciada ainda muito jovem e com uma ascensão tão grande, em tão pouco tempo. A que você atribui isso, além, obviamente, do seu imenso talento?
DP: Muitos elogios; não sei lidar com eles. (Risos.) Acredito que tenho uma carreira que está sendo construída. E acho que a relação dos trabalhos são as parcerias que encontramos no meio do caminho. Conheci o Alexandre Lino, que se tornou um grande parceiro de trabalho e de vida. Então, embarcamos, juntos, em vários projetos, que, por sorte, acaso ou destino, repercutiram de forma positiva e fizeram com que um trabalho levasse ao outro e, assim, seguimos até hoje.
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
(O PASTOR)
(Foto: Janderson Pires.)
5)
OTMR: A gente se conheceu
em 2013, quando você estreou, na dramaturgia, aos 21 anos, com o
estrondoso sucesso de “O PASTOR”. De lá para cá, só fez crescer,
profissionalmente, ganhar notoriedade, mas não perdeu a simplicidade e a
humildade, qualidades tão importantes, que muita gente esquece, quando se torna
mais conhecida ou famosa. Você tinha ideia de o quanto seu primeiro texto faria sucesso? Quais
eram suas expectativas em relação a ele?
DP: Eu não fazia ideia do que viria a ser “O PASTOR”. Foi meu primeiro texto teatral e, quando dei para algumas pessoas próximas, para lerem, muitas delas repetiram o mantra “Isso não é TEATRO”. Elas questionavam a peça, por não se tratar de uma dramaturgia convencional. Mas acreditávamos na ideia - eu, Lino e a Carina Casuscelli, a diretora - e, assim, seguimos com o trabalho, pelo que, até hoje, só tenho o que agradecer. Tive a honra de ter a última crítica publicada de Bárbara Heliodora, n’“O Globo”, e foi falando muito bem da gente; “O Globo Indica!” (Risos.). Esse espetáculo me deu muitas alegrias. Um dia, quem sabe, voltamos em cartaz...
6)
OTMR: Você acha que desenvolve
melhor seu trabalho na área do drama ou da comédia, e por quê (Já sei,
antecipadamente, a resposta. Risos meus.)?
DP: Eu acho que meus dedos tendem a ir para o humor. O próprio “O PASTOR” não era uma peça na qual esperávamos o riso. Mas ele veio, de maneira natural. E, depois, com o “ACABOU O PÓ”, que foi meu segundo espetáculo, entendi que tenho uma inclinação para fazer rir, mesmo quando é uma história dramática. (Risos.)
(ACABOU O PÓ)
(Foto: Janderson Pires.)
(ACABOU O PÓ)
(Foto: Janderson Pires.)
7)
OTMR: Como surgem, de um modo
geral, as ideias para um novo texto ou projeto?
DP: Muitos dos projetos que executei foram pensados em conjunto, com o Alexandre Lino. Confesso que eu me aventurei mais como idealizador, quando se tratava de teatro infantil, que amo. Hoje, acredito, que tenho alguns projetos que são muito particulares. Trazem histórias minhas e quero contá-las da minha maneira. Claro que não estou falando em inventar a pólvora, mas, apenas, um “jeitinho DANIEL PORTO de escrever”.
(ACABOU O PÓ)
(Foto: Janderson Pires.)
(DANIEL PORTO, posando, de brincadeira, no cenário de ACABOU O PÓ)
(Foto: Janderson Pires.)
8)
OTMR: Acho que boa parte do
sucesso das suas peças reside nas temáticas e na identificação do público com
os personagens criados por você. Concorda comigo?
DP: Acho que sim. Gosto muito de escrever a partir da observação. Fico com o ouvido atento e gosto de “pescar” particularidades da vida real, para ironizá-la no palco ou, hoje em dia, na TV.
(VOLÚPIA DA CEGUEIRA)
(Foto: Janderson Pires.)
9)
OTMR: Gosto muito de como você
trabalha a dinâmica dos diálogos. O que mais leva em consideração, quando
começa a colocar palavras na boca de personagens fictícios?
DP: Gosto - e tenho essa preocupação - de que minhas peças possam ser consumidas por todas as classes sociais e sejam entendidas do subúrbio, São Gonçalo, de onde eu venho, à zona sul. Assim, acredito que venha mais fácil a identificação do público com os espetáculos. E, também, tenho a preocupação de não subestimar ninguém. Nem adultos, nem crianças.
(VOLÚPIA DA CEGUEIRA)
(Foto: Janderson Pires.)
(Foto: Janderson Pires.)
10)
OTMR: Você gosta mais de criar
personagens ou de escrever – na TV, por exemplo – para os que não foram “filhos
gerados por você”? É mais difícil fazer isso?
DP: Quando eu crio meus personagens, tenho domínio maior sobre o que quero fazer com eles. É um tipo de prazer. Na TV, quando eles já existem e têm forma, o jogo é outro. Mas nem por isso eu deixo de ter prazer em jogar esse jogo. É um tabuleiro diferente e bastante difícil, mas gosto de desafios. (Risos.)
(VOLÚPIA DA CEGUEIRA)
(Foto: Janderson Pires.)
(VOLÚPIA DA CEGUEIRA)
(Foto: Janderson Pires.)
(VOLÚPIA DA CEGUEIRA)
(Foto: Janderson Pires.)
11)
OTMR: “ACABOU O PÓ” é
um exemplo de que “menos pode ser mais”, no sentido de que é uma
produção muito simples, porém faria sucesso, ainda hoje, se fosse remontada. O
que explica a aceitação tão grande, por parte do público, dessa peça?
DP: Acho que o “ACABOU O PÓ” traz muito das minhas raízes. Minha família está ali, na peça; minhas vivências, histórias vividas... E, por ser uma comédia que não é depreciativa com o subúrbio, acredito que seja um tempero que fez o sucesso do espetáculo.
12)
OTMR: Você foi de uma imensa
ousadia, no melhor sentido da palavra, e, ao mesmo tempo, de uma felicidade
incrível, em dois momentos de grande inspiração, ao escrever “VOLÚPIA DA CEGUEIRA” e “LADY CHRISTINY”, peças que abordam dois temas
muito “pesados e sensíveis”, os quais, a meu juízo, poderiam ter sido dois tiros no escuro, com uma possível pouca aprovação do público, uma vez que
tratam de temáticas muito “fortes, ainda tabus”. Acontece que as duas
peças receberam, porém, um tratamento muito especial, graças, primeiramente, ao
texto. Vamos falar da “VOLÚPIA…”. Como nasceu a ideia do projeto?
Como vocês conseguiram formar aquele elenco formidável? Você tem consciência de o
quanto deve ter ajudado muitos cegos (Detesto o “politicamente
correto”: “deficiente visual”.) a administrar a sua
sua vida sexual? Recebeu retornos concretos, nesse sentido?
DP: Foi um projeto que, no começo, eu não quis fazer. (Risos.) Tive muito medo de tocar em assuntos de maneira leviana, sem qualquer profundidade sobre o tema. Então, comecei uma pesquisa grande, para buscar referências - coisa que sempre faço - sobre o assunto, o qual, para mim, era muito abrangente: “sexualidade dos cegos”. Assim, comecei a ler sobre, assistir coisas, mas a escrita só começou a andar, para mim, com o encontro que tive com a Moira Braga e o Felipe Rodrigues, ambos cegos, que foram selecionados pelo Lino, em parceria com o Instituto Benjamin Constant. Na sala de ensaio, o processo ganhou corpo. Escutei o que eles tinham vontade de dizer e fui, a partir disso, montando esse quebra-cabeça, que foi a dramaturgia do “VOLÚPIA…”. E, em relação ao retorno sobre o quanto eu posso ter ajudado, com a escrita da peça, posso afirmar que eles me ajudaram muito mais do eu posso mensurar, como ser humano.
(LADY CHRISTINY)
(Foto: Janderson Pires.)
(LADY CHRISTINY)
(Foto: Janderson Pires.)
13: OTMR: Eu
sempre lamentei muito que a “VOLÚPIA…” não tivesse feito uma grande
carreira, com muitas temporadas e viagens, como merecia, porque era um
espetáculo de excelente qualidade. Por que a peça teve uma vida tão curta? Você
acha que o texto poderia ser remontado, em outro espaço, já que o Teatro
Maria Clara Machado não era o palco ideal para aquela brilhante
montagem? Existe essa possibilidade?
DP: Fizemos apenas uma temporada no Rio, pois a peça era muito cara, para se produzir. O cenário, da Karlla de Luca, e a luz, incrível, do Renato Machado, eram coisas que não tínhamos como adaptar e se tornaram essenciais para apresentar o espetáculo. Circulamos, porém, por São Paulo, pela Petrobras, e fizemos algumas apresentações pontuais em festivais. E, no Rio, sem políticas públicas, ressaltando que a peça foi produzida com o “falecido” “Fomento as Artes” da prefeitura do Rio, ficamos sem conseguir montar o espetáculo de novo, contando, apenas, com a bilheteria, que é, cada vez mais, escassa, por conta das “‘formações’ de plateia”, que, a meu ver, não formou plateia nenhuma, consumidora de TEATRO, ao longo desses anos. (Aplausos meus!) E, em relação ao espaço em que ela foi apresentada, ficamos felizes com o resultado, no Teatro Maria Clara Machado, e pensamos que o palco que mais possa valorizar a peça seja sempre um com arquibancada ao estilo de semiarena.
(LADY CHRISTINY)
(Foto: Janderson Pires.)
(Foto: Janderson Pires.)
(LADY CHRISTINY)
(Foto: Janderson Pires.)
14) OTMR: E,
sobre “LADY CHRISTINY”, onde você e o LINO foram
encontrar aquela figura humana, tão controversa e tão sofrida, e o quanto lhe
custou, para a tratar com a dignidade e o respeito de que era merecedora,
humanizando um ser tão marginalizado?
DP: O Lino a conheceu pessoalmente, quando ele estava se formando na faculdade de cinema. Ele fez um documentário (curta) com a LADY, parte do qual aparece no final da peça. Era uma figura muito íntima para ele. Então, ele me trouxe a ideia, para fazer o primeiro monólogo dele. O meu trabalho foi pensar em como organizar aquela história, que, por si só, já era repleta de riqueza e complexidade. Então, encontramos a Maria Maya, que abraçou o projeto e fizemos “LADY…” na sala de ensaio, num processo muito íntimo, do trio, que se repetiu, em 2019, com “O SUBSTITUTO”.
(MISERICÓRDIA)
(Foto: Janderson Pires.)
(MISERICÓRDIA)
(Foto: Janderson Pires .)
15) OTMR: “LADY…” era uma sucessão de socos na boca do estômago, de vez em quando
aliviados com uma pitada de um humor que não chegava a descontrair e a fazer
diminuir a tensão da plateia, se esse era o seu interesse, porque o drama da
personagem era muito forte. Fala um pouco do processo de montagem desse
espetáculo.
DP: Acho
que respondi um pouco na resposta anterior. (Risos.) Mas, falando um
pouco sobre o “alívio cômico”, dentro do texto, foi um pouco do que eu
descobri que sei trabalhar. A ironia e a acidez trazem o riso; e nem sempre
esse riso é prazeroso. A ideia da personagem era essa. Ser complexa e incômoda,
para o espectador, assim como ela o era, para mim, a partir da leitura de sua
biografia, escrita pela própria LADY e presenteada ao Lino.
(CAFONA SIM, E DAÍ? - UMA HOMENAGEM)
(Foto: Janderson Pires.)
(CAFONA SIM, E DAÍ? - UMA HOMENAGEM)
(Foto: Janderson Pires.)
(CAFONA SIM, E DAÍ? - UMA HOMENAGEM)
(Foto: Janderson Pires.)
(CAFONA SIM, E DAÍ? - UMA HOMENAGEM)
(Foto: Janderson Pires.)
16) OTMR: Como
foi o processo e a experiência de escrever um musical, “CAFONA SIM, E DAÍ? UMA HOMENAGEM”, um “remake”, na verdade, de um
espetáculo de cerca de duas décadas anteriores, uma homenagem ao ícone Sérgio
Britto? O retorno foi dentro da expectativa?
DP: Esse não foi o primeiro musical que escrevi. Tinha
feito uma versão de “João e Maria”, com músicas originais, minhas
com o Tibor Fittel. Já o “CAFONA...” partia de outra
ideia. A Luciana Victor, que era da companhia do Sérgio
Britto, junto com seu marido, o Antônio Carlos Feio,
queria realizar a peça e ambos me convidaram para estruturar a dramaturgia. A
ideia que eu propus foi de falar como eram os bastidores da companhia, no Teatro
Delfim, e que tudo partisse de uma metalinguagem, para fazer o “show”
do próprio espetáculo. Foi uma ideia que abraçaram e acho que o resultado foi
muito positivo. Circulamos com a peça por vários SESCs e fizemos
uma temporada muito boa no SESC Copacabana. O público se divertia,
participando do espetáculo e cantando aquelas músicas que todo mundo ama e tem
vergonha de assumir. (Risos.)
(O SUBSTITUTO)
(Foto: Janderson Pires.)
17)
OTMR: Em “O
SUBSTITUTO”, seu mais recente texto encenado, o lado professor do DANIEL
veio à tona e você explorou, de forma muito interessante, as mazelas do ensino
no Brasil e a pouca valorização do professor, sem deixar de lado,
principalmente, o que de mais importante queria passar para o público, nas
entrelinhas, muito metaforicamente representado pelo nome do personagem, Humberto
Arthur Emílio Ernesto Baptista, “o professor substituto da escola, que precisa chegar ao instituto,
para apresentar as novas diretrizes educacionais que a escola pede, através dos
pais dos alunos e da nova secretaria de educação” (Trecho
extraído da “sinopse” do monólogo, para quem não assistiu à
peça.). Fale um pouco sobre a gestação desse espetáculo e se ele atingiu as
suas expectativas. Como foi a resposta do público?
DP: A
proposta era ter um discurso extremamente conservador, na sala de aula. E acho
que conseguimos. As pessoas que assistiam não saiam ilesas da peça. (Risos.)
Muitos amigos meus (Eu, inclusive.) falavam que queriam “esganar”
aquele personagem. E, quando a resposta era essa, acho que a gente só ficava
mais feliz ainda com o resultado. Sempre, após o espetáculo, tínhamos um debate,
e era impressionante como o público queria discutir e
opinar sobre o que tinha acabado de ver.
(O DUENDE RUMPELSTILTSKIN)
(Foto: Janderson Pires.)
18) OTMR: É
óbvio que são duas coisas muito distintas: escrever para adultos e para
crianças. Quando ator, fui protagonista de um musical infantil, dirigido, no Rio,
por um diretor paulista, de Santos, que tinha como lema, que eu
adoro e sigo: “Teatro infantil não é imbecil.” (Paulo Lara).
Você, com total certeza, não deve pensar diferente, mas, infelizmente, muita
gente não dá a mínima importância a essa máxima e produz, em grande escala,
coisas muito ruins, de péssimo gosto, para as crianças e pré-adolescentes, o que, ao invés de fazê-las se aproximar das casas de espetáculo, despertar
nelas o interesse pelo TEATRO, faz com que se afastem dele e o achem “muito
chato”, cada vez mais, preferindo ficar em casa, trancadas, em seus
quartos, coladas nas telinhas e telas, com seus joguinhos eletrônicos. Essas pequenas criaturas formariam as plateias do futuro. Como você analisa o panorama do TEATRO
INFANTOJUVENIL (Prefiro este ao termo “infantil”.), no Rio de Janeiro?
DP: Eu
acho que o TEATRO, de uma maneira geral, está passando por maus bocados,
nesses últimos quatro anos. E que o TEATRO INFANTOJUVENIL já vem
perdendo qualidade faz algum tempo. Mas acredito que são ciclos e espero que
essa maré ruim passe o mais breve possível.
(AS AVENTURAS DE PINÓQUIO)
(Foto: Janderson Pires.)
(AS AVENTURAS DE PINÓQUIO)
(Foto: Janderson Pires.)
19) OTMR: É
muito prazeroso escrever para crianças? O retorno é diferente do que oferecem
os adultos?
DP: Eu
confesso que sou um pouco egoísta, quando faço TEATRO INFANTIL. Eu me
delicio, escrevendo e adaptando os clássicos que tanto adoro. E não faço uma
diferenciação muito demarcada entre TEATRO INFANTIL e para adultos, não.
Vide “O Lago dos Cisnes”, feito com a Juliana Martins,
que foi meu último espetáculo e todos perguntavam assim: “É infantil?”.
(Risos.)
(AS AVENTURAS DE PINÓQUIO)
(Foto: Janderson Pires.)
(AS AVENTURAS DE PINÓQUIO)
(Foto: Janderson Pires.)
20: OTMR: Mudemos
de mídia: como, em que circunstâncias, foi sua ida para a TV?
DP: Foi
a partir de um “spec” (roteiro teste) para o “Vai Que Cola”,
em junho do ano passado. Me encaminharam uma sinopse, para escrever, e, pela
graça do destino, era um tema sobre mães, o que eu já tinha me divertido muito,
fazendo no “ACABOU O PÓ”. Aí, aprovaram e comecei na TV.
(JOÃO & MARIA - UM MUSICAL)
(Foto: Janderson Pires.)
(JOÃO & MARIA - UM MUSICAL)
(Foto: Janderson Pires.)
21: OTMR: Escrever
para o TEATRO e para a TV são duas
experiências completamente diferentes, todos sabemos. Você poderia enumerar
algumas, por favor?
DP:
A ideia de autonomia. No TEATRO, temos mais domínio sobre a obra. Já na
TV, trabalhamos como algo mais “industrializado”. Passa por etapas de
aprovação, há cronogramas apertados, diretrizes de canal...
(JOÃO & MARIA - UM MUSICAL)
(Foto: Janderson Pires.)
(JOÃO & MARIA - UM MUSICAL)
(Foto: Janderson Pires.)
(JOÃO & MARIA - UM MUSICAL)
(Foto: Janderson Pires.)
22) OTMR: Sei
que você é apaixonado por cinema. A "sétima arte" está nos seus planos, como
roteirista? (Pergunta de “traíra”, “amigo-da-onça”.
Risos meus.)
DP: Sempre
esteve! (Risos.) E já, já, me enfio nesse mundinho.
(O PEQUENO PRÍNCIPE - A VERSÃO DA ROSA)
(Foto: Janderson Pires.)
(O PEQUENO PRÍNCIPE - A VERSÃO DA ROSA)
(Foto: Janderson Pires.)
23) OTMR: Sei
que não se deve perguntar a um pai qual é o seu filho preferido, mas qual dos
seus textos ocupa um lugar de destaque no seu coração e por qual(is) motivo(s)?
Fique à vontade para não responder, se preferir.
DP: “O PASTOR”,
por ter sido o primeiro; “ACABOU O PÓ”, por ter sido a primeira comédia;
e um, que ia estrear este ano, mas precisou ser adiado, por causa da
pandemia, chamado “LA PARESSE”.
(PEDRO E O LOBO)
(Foto: Janderson Pires.)
(PEDRO E O LOBO)
(Foto: Janderson Pires.)
24) OTMR: Acredito
que, por vários motivos “de ordem prática” (Momento “ironia”.
Mais risos meus.), você pretende se fixar na TV, mas espero que não deixe,
nunca, de escrever para os palcos. Dá para conciliar bem as duas atividades?
DP: Eu
sou cria do TEATRO. Não tenho como abandonar ele, não. (Risos.).
E, sim, dá para conciliar. O TEATRO traz um prazer que é único. E a TV
também. Cada um com a sua particularidade.
(PEDRO E O LOBO)
(Foto: Janderson Pires.)
(PEDRO E O LOBO)
(Foto: Janderson Pires.)
(PEDRO E O LOBO)
(Foto: Janderson Pires.)
25) OTMR: É
inevitável fazer uma entrevista, dentro de um período de isolamento, em função
de uma terrível pandemia, sem perguntar alguma coisa relacionada ao assunto.
Como você vem passando, daquela fatídica sexta-feira, 13 de março, até hoje, em
termos de vida pessoal e profissional?
DP: Ironicamente,
trabalhando muito. Engatei vários projetos para a TV, ao longo da pandemia. Me
sinto um privilegiado, neste 2020. Não posso reclamar, em relação ao ano,
de trabalho.
(O LAGO DOS CISNES)
(Foto: Janderson Pires.)
26) OTMR: Estou
cansado de vir repetindo, para quem quiser ouvir ou ler, que “NÃO É
TEATRO” toda essa gama de produções via “streaming”,
embora eu veja, nelas, alguns valores positivos. Tenho assistido a muitas
coisas, todos os dias, quase compulsivamente, por conta do inúmeros convites
que recebo, diariamente – e também compro alguns ingressos -, mas pinço uma
coisa ou outra com a qual tenha valido a pena gastar meu tempo, num mar de
produções, tentativas e experiências. Qual a sua opinião sobre essa nova
modalidade de se “vender TEATRO”?
DP: Compartilho da sua opinião. Mas acho válida a proposta criativa. A meu ver, está sendo construída uma nova “mídia”, que, ainda, não dominamos, mas muita gente está desbravando esse mundo desconhecido. Alguns, pelo prazer criativo, e outros, pela necessidade de trabalhar. Lembramos que a cultura sofreu um baque enorme, com tudo que tem acontecido. Eu, com 28 anos, me vejo um pouco “careta” e privilegiado, em poder esperar os palcos retornarem, a vacina sair e para poder me aventurar neles. Enquanto isso, estou sendo feliz, escrevendo para a TV.
(O LAGO DOS CISNES)
(Foto: Janderson Pires.)
(O LAGO DOS CISNES)
(Foto: Janderson Pires.)
27: OTMR: Para
terminar, já sei que deve haver projetos guardados nas gavetas, a sete chaves,
que não podem ou não devem ser revelados, mas, dentro do que os contratos
permitem, o que esperamos do DANIEL PORTO para 2021,
considerando que 2020 terminará, cronologicamente, às 23h59min
da noite de 31 de dezembro próximo, mas, em termos de TEATRO, foi
abortado em cerca de dois meses e meio de seu início?
DP: Bem, tive o prazer de participar da nova temporada do “Vai Que Cola”, que estreia agora, dia 30 de novembro. Também participei da sala de roteiro do “Minha Mãe É Uma Peça - A Série”, que estreia ano que vem. E, no momento, estou participando de outros projetos, que ficam guardadinhos, ou, então, meu contrato vai pro espaço. (Risos.)
(FEIONA - A PRINCESA LINDONA)
(Foto: Fernando Cunha Jr..)
E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER
SEGURANÇA.)!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!