segunda-feira, 29 de dezembro de 2014


O PEQUENO ZACARIAS – UMA ÓPERA IRRESPONSÁVEL

 

 

(A PRIMEIRA IMPRESSÃO NÃO É A QUE FICA.)

 

 


 

 

            Esta resenha poderia não fazer mais sentido, uma vez que o espetáculo a que ela se refere terminou sua temporada, no dia 21 deste mês (dezembro de 2014) e, ao que tudo indica, não voltará mais ao cartaz.  Sendo assim, não serviriam estas minhas palavras para ajudar na divulgação do espetáculo, entretanto sinto-me no dever de escrevê-la, para ir de encontro a um velho ditado popular, que diz que “A primeira impressão é a que fica”. 

 

Nem sempre.  No caso deste espetáculo, assisti a ele duas vezes: a primeira, na estreia; a segunda, no penúltimo dia da temporada.  Vi dois espetáculos completamente diferentes.

 

 


 

 

            Em TEATRO, é comum, por mais que se ensaie, por mais que sejam checados todos os itens necessários a uma boa encenação, que aconteçam contratempos no dia da estreia e nos próximos subsequentes, por conta de fatores emocionais ou técnicos mesmo.  Isso vai sendo resolvido, aos poucos, o espetáculo vai sendo azeitado, até atingir o ponto de excelência para ser mostrado ao público.  Muitas companhias fazem os chamados “ensaios abertos”, a preços populares, exatamente para conferir a reação da plateia, os pequenos detalhes a serem ajustados, visando a uma estreia perfeita.  Há muitos críticos de TEATRO que abrem mão de seus convites para as estreias, a fim de que não fiquem com uma impressão imprecisa da peça.  Preferem assistir ao espetáculo mais “maduro”.

 

 

 




 

 

            No dia da estreia de O PEQUENO ZACARIAS – UMA ÓPERA IRRESPONSÁVEL, os deuses do TEATRO, que todos acham que só agem positivamente, parecem ter acordado de mau humor e resolveram descontar em cima do pobre ZACARIAS.

 

            Brincadeiras à parte, o fato é que quase tudo deu errado naquele dia e muita gente – eu me incluo no grupo – deixou o Teatro SESC Ginástico frustrada, triste, por não ter visto o que era esperado.

 

            Um espetáculo escrito por JOSÉ MAURO BRANT, que também o dirigiu, e TIM RESCALA, dois grandes profissionais, que já haviam nos legado, no ano passado, uma obra-prima, chamada Era uma vez... Grimm, não poderiam produzir nada de menor qualidade.  Um elenco que reunia alguns dos melhores atores e atrizes de musicais (SORAYA RANVELE, SANDRO CHRISTOPHER, WLADIMIR PINHEIRO, RODRIGO CIRNE, JANAÍNA AZEVEDO, CHIARA SANTORO, MARCELO SADER e o próprio JOSÉ MAURO BRANT) não poderia se sair mal.  A equipe de profissionais envolvidos na parte técnico-criativa, todos reconhecidos e premiados, não poderia deixar “furos”. 

 

E não é que nada disso garantiu o brilho da estreia?  Muito ao contrário, por algum(ns) motivo(s) que não se pode entender, o que se viu foi uma apresentação sem ritmo, sem brilho, com vários problemas técnicos acontecendo...

 

            Confesso que deixei o Teatro SESC Ginástico mudo, profundamente aborrecido, porque tinha a certeza de que não era aquele o espetáculo que eu buscava, e esperava ver.  Tinha certeza de que poderia ser incluído na lista de melhores espetáculos do ano.  Mas...

 

 


 

 

            Não tive nem coragem de tecer comentários com meus amigos do elenco.  Guardei a minha tristeza, a minha decepção, jurando, a mim mesmo, que voltaria a assistir ao espetáculo e que, lá, naquele palco, veria um verdadeiro ZACARIAS.

 

            Devido a uma agenda muito concorrida, fui adiando o meu novo encontro com o ZACA e o prazer que tal encontro me causou, no dia 20 de dezembro, um verdadeiro presente de Natal antecipado.

 

            Sim, O PEQUENO ZACARIAS – UMA ÓPERA IRRESPONSÁVEL só é “irresponsável” no título.  Trata-se, antes, de um belíssimo espetáculo, magnificamente encenado, que merecia voltar ao cartaz, em nova temporada, para que os que, como eu, tiveram uma má impressão, da primeira vez, a apagassem para sempre de suas mentes.  Nem me lembro mais do dia da estreia!!!

 


 


 


 


 

 


            Embora possa parecer uma peça infantil, ela não o é, apesar de os pais confundirem a classificação “livre” como “teatro infantil”, o que levou muitas crianças a ver a peça; pobres crianças, que, além do visual, belíssimo, diga-se de passagem, não entenderam nada da mensagem contida no sofisticado texto de JOSÉ MAURO BRANT, adaptado do conto de fadas homônimo, para adultos, de E.T.A. HOFFMANN.

 

            Mais do que a originalidade do enredo é a criativa adaptação da obra.  A transposição para a dramaturgia foi perfeita e deve ter exigido muito do talento de JOSÉ MAURO, também autor das belas letras, cheias de poesia, humor e ironia, assim como  todo do texto, as quais ganharam o requinte das melodias de TIM RESCALA.

 

 

 


 

 



 
SINOPSE:

           Num pequeno reino, nasceu, filho de uma mulher pobre, ZACARIAS, anão corcunda, que seria um fardo incapaz de sobreviver.
 
           Ocorre que o pequeno recebe uma dádiva da SENHORITA ROSAVERDE, que é, na verdade, a FADA ROSABELA (SORAYA RAVENLE).
 
           Ela precisa se manter incógnita e reclusa, desde que o príncipe decretou que toda a população deveria guiar seu comportamento pelos princípios do Iluminismo, e as fadas deveriam ser banidas do reino.
 
           A dádiva de ROSABELA transforma o pequeno monstrengo numa celebridade instantânea, cultuada pela sociedade e pela academia. Mas, inexplicavelmente, alguns personagens ficam imunes ao feitiço, continuando a vê-lo como é, e passam a investigar o porquê de todos celebrarem aquele grotesco anão.

 

 


O conto original se apresenta como uma divertida sátira social e política sobre a Prússia do século XIX, por meio da qual os canhões são direcionados a governantes, burocratas, intelectuais, poetas e estudantes.  JOSÉ MAURO optou por um espaço imaginário, universal, e o texto ganhou contornos atemporais, o que permite ao espectador fazer várias leituras, inclusive voltadas ao momento atual.

 






Não me fixarei muito em detalhes, mas não posso deixar de acrescentar meus aplausos ao criativo cenário, de MIGUEL PINTO GUIMARÃES; aos lindíssimos e impecáveis figurinos, de CAROL LOBATO; às ilustrações, de RUI DE OLIVEIRA; à direção musical e regência, de TIM RESCALA; à excelente preparação vocal, de AGNES MOÇO e JANAÍNA AZEVEDO; à ótima coreografia, de SUELI GUERRA, que também dirigiu o espetáculo, a quatro mãos, com JOSÉ MAURO BRANT; à belíssima ILUMINAÇÃO, de PAULO CÉSAR MEDEIROS; ao original visagismo de MONA MAGALHÃES; ao vídeo animação, dos talentosos irmãos RICARDO e RENATO VILLAROUCA.


Quanto ao elenco, para não cometer injustiças, não consigo destacar nenhum nome, pois “o pior”, em cena, está excelente, seja em solos, seja em coros.  Trabalhar com um elenco da categoria deste é um grande privilégio para qualquer diretor.



 


 



 


 






FICHA TÉCNICA:
Elenco:
SORAYA RAVENLE
SANDRO CHRISTOPHER
JOSÉ MAURO BRANT
JANAÍNA AZEVEDO
RODRIGO CIRNE
WLADIMIR PINHEIRO
CHIARA SANTORO
MARCELO SADER

Direção:  JOSÉ MAURO BRANT
e SUELI GUERRA

Texto e Letras:  JOSÉ MAURO BRANT

Música Original:  TIM RESCALA

Cenário: MIGUEL PINTO GUIMARÃES
Figurinos:  CAROL LOBATO

Ilustrações:  RUI DE OLIVEIRA

Direção Musical e Regência: TIM RESCALA

Preparação vocal: AGNES MOÇO
e JANAINA AZEVEDO

Coreografia: SUELI GUERRA
Iluminação: PAULO CÉSAR MEDEIROS
Visagismo: MONA MAGALHÃES

Vídeo animação: RICARDO
e RANATO VILLAROUCA

Fotos: GUGA MELGAR

Projeto: Gráfico: MARCOS CORRÊA

Produção Executiva: LÚDICO PRODUÇÕES

Assessoria de Imprensa: JSPONTES COMUNICAÇÃO

 

 

(FOTOS: GUGA MELGAR)