quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 “O SOM E A FÚRIA DE

LADY MACBETH”

ou

(COMO É BOM VER

O TALENTO DE

UMA DISCÍPULA

DE ABU, 

NUM PALCO!)

 

 

 

   Devido a alguma dificuldade de locomoção, surgida em decorrência de três intervenções cirúrgicas, decidi, com muito pesar, que não mais irei aos Teatros, todos os dias, como fazia, antes do início da pandemia de COVID-19, limitando-me a sair de casa, para esse fim, apenas de 5ª feira a domingo, o que já me custa bastante, mas consigo superar, porque a paixão de pelo TEATRO é superior a qualquer sacrifício.



        Sendo assim, relutei um pouco em aceitar o convite para assistir ao solo que motivou esta crítica, entretanto, depois de tantos comentários favoráveis, vindos de gente em cujo conhecimento técnico de TEATRO, além do bom gosto pessoal, eu confio, e, também, considerando que a peça só é apresentada às segundas-feiras, não consegui resistir e lá fui eu ao Teatro Glaucio Gill, nesta semana, abrindo uma exceção, no penúltimo dia de apresentação. A propósito, não sei nem o que dizer sobre o ABSURDO de uma equipe de TEATRO ensaiar um espetáculo por um, dois ou mais meses, com o maior sacrifício, para realizar uma “microtemporada”, que merece assim ser chamada, de apenas quatro apresentações. Ainda mais quando a montagem, a despeito de ser bastante “franciscana” – porém inserida na teoria de “menos é mais”, aqui, pelas contingências da produção – é de ótima qualidade, o que faz com que merecesse uma longa temporada, para que um número maior de pessoas pudesse ter acesso a ela. Resta-nos – e que os DEUSES DO TEATRO digam “amém” – aguardar possíveis outras apresentações, até porque é um espetáculo que eu não pensaria duas vezes para assistir de novo.



Creio que somente o que já escrevi, até aqui, bastaria, para que entendessem, sem que eu precisasse dizer, que recomendo muito a peça. E por quê? Porque montar um bom espetáculo com muito recurso financeiro é bem mais fácil do que quando não se tem dinheiro nem se pode contar com patrocínios. Então, é agradecer aos poucos apoios que a produção recebe e a um grupo de “malucos abnegados” que resolve “partir para a luta” e “entrar de sola”; fazer com o que se tem à mão.



E o que se tem à mão? Em primeiro lugar, um excelente texto, que pode “enganar” – surpreender positivamente – quem vai ao Teatro e acha que encontrará a personagem LADY MACBETH à sua frente. Uma palavra, da SINOPSE abaixo – “inspirado” – faz toda diferença. O espectador não verá encenada a história da esposa do protagonista de um texto shakespeariano, o nobre escocês Macbeth, que o convenceu a matar o rei Duncan e se tornar, o casal Macbeth, rei e rainha da Escócia, usurpadores do trono, sendo que a mentora do crime acaba, severamente, atormentada pela culpa, morrendo, na parte final da obra, aparentemente por suicídio. Na encenação em tela, o remorso, a culpa são, tão-somente, “combustíveis” para uma série de reflexões, que vão de acusações a lamentos, de hipóteses a teses, de dúvidas a constatações...



 

SINOPSE:

O espetáculo é inspirado na famosa personagem de Shakespeare, LADY MACBETH, de uma de suas mais famosas e encenadas tragédias: “MACBETH”.

O monólogo, inédito e escrito em tom de paródia, aborda, com humor sarcástico e debochado, questões essenciais da nossa condição humana, como poder, abuso de poder, ambição desmedida e maldade.

Na sua verborragia e barroquice, LADY MACBETH escancara suas verdades e dialoga com seus fantasmas, confrontando-nos e devolvendo-nos ao nosso “buraco de ambiguidades”.

“O belo é podre e o podre é belo”. (Shakespeare.)

Sua vilã cômica atravessa os séculos e aporta, antropofagicamente, no Brasil contemporâneo.

 

 



     O texto, de extrema qualidade, foi escrito por CRISTINA MAYRINK, o primeiro, praticamente, de muitos que espero vir por aí, visto que CRIS estreou, na dramaturgia, com o pé direito, embora já tivesse roteirizado “alguma coisa”, sem, contudo, a grande importância desta obra. O processo de “gestação” da dramaturgia é muito interessante. CRIS sempre teve uma ligação forte com a literatura, no sentido de ler e, também, de escrever “coisas”, como ela própria me disse, numa rápida entrevista, via “zap”. Também havia, de sua parte, a intenção de levar, para a cena, trabalhos autorais, nos quais pudesse se envolver, de uma forma nova, com o texto. Já havia feito alguns ensaios, anteriormente, em adaptações, para o palco, de uma literatura não dramática.



CRIS estava passando por um momento difícil, em família, casos de doença, e com o advento da pandemia de COVID-19, viu, no confinamento e na falta de liberdade por que passamos, todos, a possibilidade de escrever uma peça de TEATRO, como uma válvula de escape para tanta pressão emocional. Percebeu que boa parte da sua, podemos dizer, angústia também encontrava "robustez" no péssimo momento político e social que atingia o mundo inteiro e, principalmente, estava à nossa volta. A toda hora, dava-se conta de que tanta maldade, perversidade, supervalorização do poder espúrio e usurpação desse mesmo poder estavam nos sufocando. Tão logo pôde voltar a dar suas caminhadas na praia, chegavam-lhe, à mente, frases que tinham a ver com tudo aquilo, as quais ela foi registrando, armazeando, no seu aparelho celular, levando-as, posteriormente, para mostrar à sua analista. Esta gostou do que lia e incentivou-a a transformar tudo aquilo numa peça de TEATRO.



Mostrou, a outras pessoas, amigos e gente de TEATRO, não o texto final de “O SOM E A FÚRIA DE LADY MACBETH”, o qual foi aprimorando, aos poucos, mas algo já bem parecido com o que pode ser visto no palco. Uma dessas pessoas foi o ator DIOGO CAMARGOS, seu velho companheiro de palco, na época de “Cia. Os Fodidos Privilegiados”, consagrado grupo teatral sobre o qual falarei adiante. Não só DIOGO gostou muito do texto como também se ofereceu para dirigir uma sua possível montagem, ainda que a ideia inicial não fosse escrever um monólogo, mas criar outros personagens, um dos quais seria dedicado ao ator. Marcaram uma leitura, que aconteceu às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e ficou estabelecido que seria um solo e que DIOGO entraria, no projeto da montagem, como seu diretor. Mas tudo precisou ser interrompido durante um pouco de tempo, por conta de um momento “de pico” nos problemas domésticos em que CRIS estava envolvida e ficou combinado que seria postergado para o segundo semestre de 2022.



Para escrever o texto, CRIS se valeu de muita leitura e um profundo processo de pesquisa; pensar sobre a maldade, a crueldade, mas com muito sarcasmo e deboche. Durante o trabalho de escrita, chegava-lhe à cabeça a ideia de promover uma "catarse no palco", baseada na sua afirmativa, inclusive dita em cena, de que “o mal que não se leva para a cena envenena e apodrece o corpo”, sempre firme à sua teoria de que “a arte, principalmente o TEATRO, é o lugar onde as pessoas se renovam, se libertam e transformam as coisas”.



Achei ótima a escolha do viés que a autora seguiu, na escrita de sua obra, ou seja, explorando o formato e o estilo da paródia, abordando temas sérios com uma dosada e muito bem selecionada porção de humor sarcástico e debochado, como já mencionado na SINOPSE acima. Por utilizar uma linguagem bem simples e, portanto, acessível a pessoas de várias idades e formação intelectual, com o emprego de gírias e expressões do nosso quotidiano, a autora consegue estabelecer um elo muito forte com o público, contando com a sua total cumplicidade. Não acredito que alguém deixe de “comprar” a brilhante ideia da dramaturga, que, também, é a idealizadora do projeto, além de atuar.



Em busca de um sucesso, de público e de crítica, a opinião desta muito menos importante do que a aceitação popular, já temos um texto que merece ser encenado. Era preciso que “entrasse na dança” um bom diretor, aqui representado por DIOGO CAMARGOS, também ator, cujo trabalho, neste campo, eu já conhecia e o qual sempre aplaudi. Cheguei até DIOGO, ou ele até mim, em 2013, quando o ator foi uma das grandes promessas, hoje tornada realidade, do TEATRO BRASILEIRO, subindo ao palco com um espetáculo, também um monólogo, “Big Jato”, adaptação, para os palcos, de um recém-lançado livro, à época, do escritor Xico Sá, campeão de vendas. Nessa montagem, DIOGO interpretava treze personagens, na história de um menino e sua percepção do mundo, obtida de dentro da boleia de um caminhão de seu pai, um “limpa-fossas”, chamado “Big Jato”. O enredo se passava no interior do Ceará, mais propriamente, no Vale do Cariri, narrando a passagem da criança para a vida adulta, de uma maneira lúdica e bem humorada, com uma linguagem bastante peculiar a um menino. De lá para cá, tive a oportunidade de vê-lo em outros trabalhos, porém nunca à frente de uma direção. Esta sua primeira, a que eu tenho acesso – não sei se já assinou outras -, serviu para que o jovem diretor abrisse a porta que pode consagrá-lo, futuramente, na função de “maestro”, numa montagem teatral. Agradou-me muito a estética de seu trabalho. Quando não há dinheiro, a compensação só pode vir no rastro de muita criatividade, simplicidade e bom gosto, ingredientes que, aqui, DIOGO trouxe para a cena, com ótimas marcações e ideias, para a resolução de tudo o que é enfocado. Confidenciou-me CRISTINA MAYRINK que DIOGO, muito empolgado com o trabalho, à medida que lia o texto, com ela, já ia falando de várias ótimas ideias, para a encenação, todas postas em prática.


Cristina Mayrink e Diogo Camargos.

(Foto: autoria desconhecida.)


O espaço cênico do Teatro Glaucio Gill só não é totalmente nu, porque há dois ou três objetos, pequenos, que são utilizados em algumas cenas, e por dois “banners” que a atriz pega, no espaço que seria destinado às coxias, e os expõe, com dois ótimos “textos-protesto”. Aqui, o cenário, realmente, não faz a menor falta. O figurino, assinado por LETÍCIA BIROLLI é bem simples e interessante, considerados os parcos recursos para a sua execução, e um elemento que se destaca bastante, nesta montagem, é o desenho de luz, criado por DIOGO CAMARGOS, que “dialoga” muito bem com a atriz. DIOGO também é responsável pelo desenho de som e por uma trilha sonora totalmente adequada às cenas em que a música divide o protagonismo com a atriz. Divide? Não! Está presente, com a atriz, a qual demonstra de verdade, “ser do ramo”. Também é o mínimo que se espera de uma discípula de Antônio Abujamra, fundador da, já citada, “Cia. Os Fodidos Privilegiados”, que, durante muitos anos, foi uma das melhores referências, no TEATRO BRASILEIRO, e que, até hoje, vez por outra, ainda nos apresenta um trabalho novo ou um “revival”. Abujamra, o velho e bom Abu, presente no subtítulo desta crítica, foi mestre de tanta gente de talento, como CRISTINA MAYRINK. Ele é citado, na peça, e homenageado, como bem o merece, assim como outros grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO. É excelente o trabalho da atriz!



Formada pela CAL – CASA DAS ARTES DE LARANJEIRAS, em 1991, integrou a “Cia. Os Fodidos Privilegiados”, por 20 anos, tendo marcado presença em diversos e importantes espetáculos, como “Édipo Unplugged”, “Escravas do Amor” e “Comédia Russa”. Criou a “Mayrink Produções”, a partir do desejo de produzir e realizar projetos artísticos autorais no TEATRO e no cinema.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Idealização, dramaturgia e atuação: Cristina Mayrink

Direção: Diogo Camargos

 

Figurino: Letícia Birolli

Desenho de Luz e de Som: Diogo Camargos

Operação de Som: Camila Camargos

Operação de Luz: Pedro Domingos

Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Gurgel

Fotos: Nando Machado

 

 



SERVIÇO:

Temporada: De 07 a 28 de novembro de 2022.

Local: Teatro Glaucio Gill.

Endereço: Praça Cardeal Arcoverde s/nº - Copacabana (Ao lado da estação Arcoverde, do metrô.).

Telefone: (21)2332-7904.

Dias e Horários: Sempre às segundas-feiras, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).

Lotação: 150 lugares.

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 60 minutos.

Gênero: Monólogo Cômico.

 



    Vivo repetindo que ir a um Teatro, com uma determinada expectativa, e encontrar aquilo que espera ver é bom. Ir a um Teatro, com uma expectativa, e sair dele frustrado e arrependido de ter ido, perdido o seu tempo, é muito triste e desagradável. Ir a um Teatro, com uma expectativa, e os responsáveis pelo projeto lhe entregarem algo muito além do que se esperava é muitíssimo bom. Mais do isso, é ótimo, como aconteceu comigo, ao deixar o Teatro Glaucio Gill, numa noite de segunda-feira, depois de ter assistido ao solo “O SOM E A FÚRIA DE LADY MACBETH”.

 

 





 

 

FOTOS: NANDO MACHADO

 

 

GALERIA PARTICULAR:

(FOTO: SANDRA NEY)

 

 


Com Cristina Mayrink, Diogo Camargos 
e Wagner Corrêa de Araújo.

 

 

VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!





































sábado, 19 de novembro de 2022

O PEQUENO

PRÍNCIPE”

ou

(DE COMO SE DEIXAR CATIVAR

POR UMA 

OBRA-PRIMA.)




 

     Por várias vezes, e muito recentemente voltei à carga, tive a oportunidade de dizer que parto para assistir a espetáculos infantis e infantojuvenis com uma certa dose de reserva, em função da baixa qualidade que, infelizmente, pontua essas montagens, como também já disse, repetidamente, que, apesar da classificação de algumas dessas peças, direcionadas a crianças, pré-adolescentes e adolescentes, constato que não mereciam as classificações que lhes são atribuídas, visto que, na minha percepção, são espetáculos para todas as idades, como é o caso da montagem aqui analisada.



      Também não me canso de dizer quão gratificante é ir a um Teatro com uma expectativa “X” e sair dele com essa expectação ampliada para “Z”, porque esta é a última letra do nosso alfabeto; não pode ir além. No caso, o “X” corresponderia a um grau “normal” e “Z” seria o máximo de satisfação que a peça me proporcionou, como é o caso da montagem aqui analisada.



      Da mesma forma, adoro ser surpreendido por talentos, antes, desconhecidos, para mim, revelados nessas peças, que extrapolam, e muito, as minhas esperanças de assistir a uma montagem “no escuro”, conhecendo apenas um nome que consta na FICHA TÉCNICA, como é o caso das pessoas, ou melhor, dos artistas envolvidos no projeto que deu origem à peça aqui analisada, a começar por um, PLÍNIO OLIVEIRA, nome que nunca havia chegado até mim.



         E, como não me importo em ser repetitivo, quando julgo muito importante o que tenho a dizer, volto a chamar a atenção de quem me lê para o fato de que não existe TEATRO, o BOM TEATRO, apenas no eixo Rio/São Paulo, como muitos julgam, e de que tenho vivido a experiência de conhecer artistas, grupos, companhias da melhor qualidade, oriundos de todas as partes do Brasil, não só quando vêm ao meu encontro, no Rio de Janeiro, como quando tenho a oportunidade de viajar pelo país.



      Com relação ao parágrafo anterior, inicio, propriamente, a crítica ao espetáculo “O PEQUENO PRÍNCIPE”, em cartaz no Teatro das Artes, no Rio de Janeiro (VER SERVIÇO), focando o nome de PLÍNIO OLIVEIRA, seu idealizador, autor, diretor, produtor e, quando é necessário, substituto de alguém do elenco, como ator. Foi um trabalho que demandou muito tempo o fazer um resumo de sua extensa e bem-sucedida biografia, como artista. Tive a mais grata surpresa, quando pude conhecer o seu trabalho. Falarei dele como alguém que conheci no TEATRO, mas que, acima de tudo, tem seu nome ligado à música. PLINIO OLIVEIRA é um artista de múltiplos talentos: cantor, compositor, pianista, arranjador, orquestrador, regente, produtor, escritor, autor e diretor de TEATRO MUSICAL e palestrante. Tem passado, praticamente, toda a sua vida no sul do Brasil, tendo nascido no Rio Grande do Sul, morando em Curitiba, desde os 7 anos de idade. Iniciou-se, muito pequeno ainda, aos nove anos, na música, estudando piano. Bem jovem, aos 18, depois de já muito premiado, em festivais de música, foi contratado como arranjador em estúdio de gravação, função que exerceu até os 28 anos, produzindo discos para artistas independentes, “jingles” e trilhas sonoras para comerciais de TV, rádio e cinema e direção musical de “shows” e peças de TEATRO. Em 1995, produziu, gravou e lançou seu primeiro CD independente, iniciando sua atividade musical, que exerce até hoje e que sempre foi o foco de seu trabalho: produção de discos, DVDs, vídeos, “shows”, palestras e concertos. Nos últimos anos é que se voltou para os espetáculos de TEATRO MUSICAL, ancorados na qualidade histórica da MPB. É um grande amante e conhecedor dos maiores artistas da música internacional, popular e erudita. Em 2000, escreveu sua primeira sinfonia para grande orquestra: a “Sinfonia Mística”. Em 2010, escreveu a segunda, agora em homenagem a Chico Xavier, a “Sinfonia do Amor”, como foi batizada. Em 2018, estreou seu musical “Um Cisco” - A Vida de Chico Xavier”, em Curitiba, São Paulo e Salvador. Também faz parte do seu portfólio o musical “Francisco de Assis – A Canção do Sol”. Em 2019, o musical “O Filho do Homem” entrou em cartaz em São Paulo. Em 2021, PLINIO OLIVEIRA aportou no Rio de Janeiro, onde tem planos de se fixar, com seu magistral currículo, e, aqui, idealizou e dirigiu diversos espetáculos, encantando o público com a qualidade de suas produções, contando, para isso, com um excelente elenco, garimpado em audições, realizadas junto ao celeiro cultural da região, inclusive em projetos sociais, os quais se somaram a dois cantores e intérpretes de São Paulo, que estão, há mais tempo, com o artista. Em setembro de 2021, realizou o “show” “Você Me Faz Tão Bem”, no Teatro Rival, no Rio, e, em dezembro, o “Show da Paz Rio”, no mesmo Teatro. Em abril de 2022, montou “O Filho do Homem”, no Teatro dos Grandes Atores, também no Rio. Em junho, estreou o “Falando de Amor”, um “stand-up” musical, quinzenal, exibido às quartas-feiras, no Teatro das Artes. Em julho, no mesmo Teatro das Artes, estreou o “Clássicos da Broadway”. Em 8 de outubro, ainda no Teatro das Artes, foi a vez do seu musical “O Pequeno Príncipe” (Motivo desta crítica.). Em 27 de outubro, no Teatro SESI Firjan Jacarepaguá, estreou o seu musical “100 Anos de Música”. Continuam em cartaz, até 17 de dezembro de 2022, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, os espetáculos “O PEQUENO PRINCIPE” e “Clássicos da Broadway”. Para 2023, está nos planos do artista trazer, para os palcos cariocas, várias novidades, dentre elas os musicais “Um Cisco - A Vida de Chico Xavier” e “Silvia, o Triunfo da Vida”, entre outros. Com 40 anos de carreira, PLINIO OLIVEIRA é, sem dúvida, um dos artistas e produtores independentes mais ativos da sua geração. Se me detive tanto a falar sobre PLINIO, é porque considero um “presente” sua presença, com seu trabalho e talento, entre nós.




       Devemos à sua grande coragem e amor à ARTE a produção e encenação do musical infantil “O PEQUENO PRÍNCIPE”, ao qual tive o prazer de assistir, por duas vezes, com profunda emoção, que me levou às lágrimas, baseado na OBRA-PRIMA homônima (“Le Petit Prince”), do escritor e aviador aristocrata francês ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY, uma novela (Gênero literário, não a de TV.), originalmente publicada em inglês e francês, em abril de 1943, nos Estados Unidos. O livro trata de temas como solidão, amizade, amor e perda, envolvendo um jovem “PRÍNCIPE” que caiu na Terra. É um livro de memórias, no qual o autor reconta suas experiências de aviação, no Deserto do Saara, e já está consagrada a ideia de que ele usou essas experiências como base para o livro. É uma das obras literárias mais traduzidas no mundo, tendo sido publicado em mais de 220 idiomas e dialetos, em mais de 150 países. EXUPÉRY foi, também, autor das ilustrações originais. Quando morreu, em julho de 1944, o livro tinha vendido cerca de 30.000 exemplares, e não poderia ele imaginar que, até hoje, “O PEQUENO PRÍNCIPE” já atingiu a marca de mais de 80.000.000 de unidades vendidas.





SINOPSE:

Um defeito no avião obriga o “Piloto” (MARKO ORTIZ) a fazer um pouso forçado no Deserto do Saara.

Em meio à situação, o aviador é abordado por um pequeno e sério menino loiro, o Pequeno Príncipe (JOÃO CARLOS SOUZA / MURILO LIMA ROSA), que lhe pede para desenhar um carneiro.

O Piloto descobre que o garotinho vem de um pequeno planeta, chamado Asteroide B-612, “para conhecer outros mundos”.

Juntos, vivem uma grande história de aventuras, reflexões e amizade.




 

      Li o livro, na infância, e achei uma “historinha bonitinha”; reli-o, na adolescência, e comecei a perceber que não se tratava, apenas, de uma “historinha bonitinha”; muitas vezes, voltei à sua leitura, como adulto, e não tive a menor dificuldade para entender que, a exemplo de outros, não se trata de um livro infantil e que existem muitas mensagens subjacentes, as quais, nele, têm muito mais valor, ou seja, o que está nas entrelinhas, um farto material para reflexões. A obra já foi adaptada para várias linguagens e mídias, tais como história em quadrinhos, especial de TV, desenho animado, cinema e TEATRO. Neste formato, assisti a algumas montagens, porém a nada que se aproxime da produção aqui analisada. Usando de toda a minha sinceridade, afirmo que já assisti a muitos espetáculos infantis e infantojuvenis, em mais de 50 anos de total dedicação ao TEATRO, contudo nenhuma das encenações, por mais que me tenham tocado, se aproxima desta, pelo conjunto da obra. Não há, absolutamente, nada que possa ser apontado como uma falha, neste espetáculo.




    A adaptação de PLINIO é magnífica. Mantendo-se fiel ao original, o adaptador se deu o direito, totalmente aprovado por mim e aceito pelas plateias, de acrescentar um encontro do PEQUENO PRÍNCIPE com uma personagem que não existe no livro, surgindo, assim, uma das cenas que mais levam o público às gargalhadas. Falo de uma hilária “digital influencer”, interpretada, magnificamente, em ambas as sessões a que assisti, pela ótima atriz CAMI BOER, uma referência super atual, que concede, ao texto, um “frescor” e uma dose de excelente humor indescritíveis.






    Acho importantíssimo o que PLINIO faz, antes do início da sessão, quando se dirige à plateia, ainda com as cortinas fechadas, para falar um pouco sobre o autor, o livro, a sua experiência artística e o espetáculo em si. Isso amplia a grande expectativa que já toma conta das pessoas. É a primeira versão da obra em forma de TEATRO MUSICAL a que assisto e, nela, amor, amizade, lealdade e frustrações trazem aprendizados, perdão, o sentido da vida e a natureza humana para bem perto de todos, na plateia, do mais jovenzinho ao mais idoso. Recebemos, emanada do palco, uma mensagem de amor e paz sensível e honesta. É muita concentração de talento e sensibilidade artística num espaço de poucos metros quadrados.







PLINIO se apresenta, na mesma proporção de excelência como se comportou na adaptação, com grande acerto, na direção, bastante criativa e “ágil”, feita de forma a que os espectadores se sintam "hipnotizados", pela história, pelos personagens e todos os elementos de criação artística, desde quando as cortinas se abrem. As canções, todas compostas por ele, letras e melodias, são lindas e “grudam” na nossa memória afetiva. Sobre o processo por que passou “O PEQUENO PRÍNCIPE”, até chegar ao palco, PLINIO, em conversa comigo, por telefone, revelou que, quando decidiu montar o espetáculo, lançou chamadas para audições, pelas redes sociais, e procurou o competente produtor de elenco ANDRÉ RUFINO, para que este encontrasse atores e atrizes interessados em fazer parte do projeto. Foram duas chamadas, às quais atenderam 83 pessoas, que passaram por três fases, até chegar a 14, menos o ator MARKO ORTIZ, que foi convidado. As audições ocorreram de junho a agosto deste ano; os ensaios, que duraram quarenta dias, foram feitos em setembro e outubro. Quando se propõe a escrever um musical para o TEATRO, PLINIO começa pelas canções e me confidenciou que, em uma semana, estava com todas as canções, que são muitas, já compostas. Acho que deve ser muito aplaudida a sua iniciativa de trabalhar com um grupo bem diversificado e pensando no fator inclusão social. Dessa forma, chegou a um elenco de extremíssima qualidade, no qual brilham, lado a lado, artistas brancos e negros. Aliás, é digna do meu maior aplauso a ideia de os dois meninos que interpretam o PEQUENO PRÍNCIPE serem negros. MURILO, de 12 anos, foi selecionado numa agência de atores mirins, já tendo alguma experiência, pouca, participando de comerciais para a TV. JOÃO, de 10, foi descoberto num projeto social, no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, visitado por PLINIO e algumas pessoas de sua equipe de trabalho. Lá, JOÃO faz parte do coral infantil do “Instituto Sabendo Mais”. Alguém chamou a atenção do diretor para o pequeno e PLINIO lhe pediu que se inscrevesse para as audições, com o que o garotinho concordou, ainda que sob muitas dúvidas, uma vez que nunca pisara, antes, um palco, como ator. Ambos são de um talento indescritível, parecendo talhados para atuar em musicais, pois dominam – é claro que, pela pouca idade, ainda têm muito a aprender e desenvolver – as três exigências para esse tipo de trabalho: atuar, cantar e dançar. Além disso, ambos são lindos, do ponto de vista estético, e, ao ser apresentado a eles, percebi que eram duas “pessoinhas” humildes, diante dos meus escancarados e sinceros elogios, e muito “doces e ingênuas; duas crianças puras”.








Deve ter sido muito difícil a escolha final do elenco, porém tenho a certeza de que ela foi muito bem conduzida, e o produto final é merecedor dos nossos mais calorosos aplausos. Como tive a oportunidade de assistir ao espetáculo duas vezes, pude conhecer o trabalho de quase todos os atores. Na primeira, vi o PEQUENO PRÍCIPE do MURILO; na segunda, o do JOÃO. Ambos excelentes! MARCKO ORTIZ, que vive da música, em São Paulo, é o titular do papel de Aviador. Um ótimo ator e canta como ninguém. Belo timbre de voz, afinação perfeita e “canta com a alma”. Vi o papel da Rosa ser interpretado por ANATASHA MECKENNA e JÉSSICA SANTOS, e gostei das duas, igualmente. Infelizmente, não consegui ver a atuação de ISABELE BARBIERI, como a Raposa, pois, nas duas vezes, ele foi muito bem interpretado, diga-se de passagem, por SOPHIE FRIED. Que excelente atuação a desta atriz! Fiquei apaixonado pelo trabalho de corpo do ator DANIEL MARIVAN, na pele da Serpente. Acredito que o rapaz seja bailarino ou que tenha sido submetido a um profundo trabalho de expressão corporal, para chegar àquele rendimento, de imensa excelência. Não tive a oportunidade de ver ANA FAJN, sua alternante, no mesmo papel. ARTHUR BOAVENTURA, como o Negociante, e AMILTON MEDEIROS, no papel do Mago, também são presenças muito marcantes, nesta montagem. RODRIGO PINHEIRO, na primeira vez, e AMILTON MEDEIROS, na segunda, se destacam como o Rei Presidente. E, finalmente, mas não menos importante, destaco o magnífico trabalho de CAMI BOER, a única, do elenco, que eu já havia visto atuando, e já gostava de seu trabalho. Não consegui, infelizmente, ver como se comporta, em cena, KARINE VON BRANDEMBURG, como a “Influencer”, mas fiquei com a impressão de que o papel teria sido escrito, especialmente, para CAMI, embora não tenha acontecido isso. A atriz, de grande potencial cômico, explora, muito bem, o perfil vaidoso e caricatural da personagem, a qual considero um “achado” do adaptador do texto. Segundo este, “A ‘Influencer’ é uma versão atual do contexto das mídias sociais do século XXI. Com seu celular sempre na mão, vive fazendo ‘selfies’, considera o PRINCIPEZINHO seu admirador e o convida para ser seu seguidor, nas redes sociais universais. Afinal, ela é a influenciadora com o maior número de seguidores das galáxias.”. A entrada dessa personagem, na rica galeria dos originais, é das melhores e oportunas “licenças poéticas” que já vi num palco. Agrega valores positivos à montagem a atuação do Corpo de Baile, formado por GABRIELLE VERÍSSIMO, GEOVANA DO VALE, JULIA RIOS, JOICE OLIVEIRA e JOANA OLIVEIRA.







Há uma cenografia simples, bonita, com poucos elementos cênicos e que funciona muito bem, tanto do ponto de vista de seu peso, na história, como de sua confecção. Foi criada por PLINIO OLIVEIRA e “incrementada” por UIRÁ CLEMENTE, que, também, executou o trabalho de cenotécnico. Apenas um aviãozinho quebrado, ao fundo esquerdo, no chão do palco; um círculo, não muito grande ao fundo, no centro e na parte de cima do palco, representando o asteroide de onde veio o PEQUENO PRÍNCIPE e que serve de superfície para umas excelentes projeções; além disso, apenas uma mesa com uma cadeira, um poço e uma pedra, que entram em duas cenas.




Os figurinos primam pela beleza, bom gosto, funcionalidade e detalhes na sua confecção, outra obra de arte assinada por PLINIO.





O desenho de luz, da mesma forma idealizado por PLINIO e que contou com a colaboração de MARCELO ANDRADE, iluminador, de grande competência, do Teatro das Artes, e, também, responsável pela operação da luz, envolve, como um terno abraço, todo o ambiente cênico e colabora para deixar em evidência tudo o que merece destaque no palco.




Um detalhe que me chamou muito a atenção foi a ótima qualidade de som e, também, como, nas duas sessões em que estive presente, funciona a fusão do acompanhamento, em “playback”, com a utilização, ao vivo, do piano, tocado por PLINIO OLIVEIRA, e do violino de DUDU VIANNA, um talentoso jovem, de 14 anos, que só se apresentou na segunda oportunidade que tive de ver a peça, e toca sem partitura.





Muitos aplausos para o perfeito trabalho de coreografia, a cargo de PATRICIA KMETEUK, e para ANDRÉ RUFINO, tanto como produtor de elenco quanto à frente da assistência de produção. O TEATRO é a “arte do coletivo”, que ninguém consegue executar, sem várias mãos “mexendo o caldeirão”.




 

 

FICHA TÉCNICA:

 

Baseado no livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupéry

Texto e Canções: Plinio Oliveira

Direção: Plinio Oliveira

Direção Musical e Arranjos: Plinio Oliveira

 

Elenco: Aviador: Marko Ortiz; Pequeno Príncipe: João Carlos Souza e Murilo Lima Rosa; Rosa: Anatasha Meckenna e Jessica Santos; Raposa: Sophia Fried e Isabele Barbieri; Serpente: Daniel Marivan e Ana Fajn; Negociante: Arthur Boaventura; Mago: Amilton Medeiros; Rei Presidente: Andrei Ferreira e Rodrigo Pinheiro; “Influencer”: Cami Boer e Karine Von Brandemburg; Violinista: Dudu Vianna; e Pianista: Plinio Oliveira

 

Corpo de Baile: Gabrielle Veríssimo, Geovana do Vale, Julia Rios, Joice Oliveira e Joana Oliveira

 

Cenografia: Plinio Oliveira e Uirá Clemente

Cenotécnico: Uirá Clemente

Figurinos: Plinio Oliveira

Desenho de Áudio e Iluminação: Plinio Oliveira

Iluminação: Marcelo Andrade

Coreografias: Patricia Kmeteuk

Produtor de Elenco: André Rufino

Assistente de Produção: André Rufino e Beth Campos

Operação de Áudio: Ryan Einstein

Operação de Luz: Marcelo Andrade

Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes

Fotos: Dalton Valério

Produção: Plinio Oliveira

 

 

 


 

 

SERVIÇO:

 

Temporada: De 12 de novembro a 20 de dezembro de 2022.

Local: Teatro das Artes.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52, Shopping da Gávea, 2º piso – Gávea – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2540-6004.

Dias e Horários: Sábados e domingos, sempre às 16h.

Valor dos Ingressos: R$70,00 (inteira) e R$35,00 (meia entrada).

Venda “on-line”: https://divertix.com.br/teatro/o-pequeno-principe

Duração: 60 minutos. 

Classificação Etária: Livre. 

Gênero: Musical Infantil.

 

 

       



        “O PEQUENO PRÍNCIPE” é uma experiência inesquecível, que dura, cronologicamente, apenas 60 minutos, mas fica guardada, eternamente, nas mentes e corações de todos os que têm o privilégio de assistir à sua montagem.




       Escolhi, para encerrar esta crítica, que deve ter passado, aos que me leem, toda a minha emoção, ao escrevê-la, um trecho, que extraí do “release” da peça, uma reprodução de palavras de PLINIO OLIVEIRA, o responsável maior por eu ter demorado três dias, para dar forma gráfica aos meus sentimentos: “No livro original, EXUPÉRY traz a conhecida frase da Raposa: “Você é eternamente responsável pelo que cativa”. Mas, na minha montagem, não semeio, na mente das crianças e dos adultos, esse conceito de que amor é obrigação. Amor não tem obrigações. O amor tem o prazer de cuidar. No musical, o PEQUENO PRÍNCIPE retorna para a sua Rosa, não porque se sente responsável por ela, mas porque a ama. Não é por medo de falhar em sua obrigação; é pelo prazer de querer bem”. Que coisa linda!

 


Antoine Saint-Exupéry 
(Foto: autoria desconhecida.)

Deixemos, pois, despertar o PEQUENO PRÍNCIPE que sei estar adormecido dentro de cada um de nós!

 







FOTOS: DALTON VALÉRIO (Oficiais),

GILBERTO BARTHOLO 

BETH CAMPOS.

 

 

GALERIA PARTICULAR (FOTOS: BETH CAMPOS)

 

 

Com Plinio Oliveira e João Carlos Souza.


Com Murilo Lima Rosa.


Com Daniel Marivan.


Com Dudu Vianna.


 

VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!