quarta-feira, 7 de dezembro de 2016


OS CADERNOS DE KINDZU

 

(A SAGA CONTINUA.)

 

 

 

            Às vezes, demora um pouco, para surgir um novo espetáculo da AMOK TEATRO, mas sempre vale a pena esperar. Valeu o hiato entre o magnífico “Salina (A Última Vértebra)”, que ganhou vários prêmios e foi indicada a tantos outros, e este sensacional “OS CADERNOS DE KINDZU”, ora em cartaz, até o dia 18 de dezembro (2016), no Teatro III, do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro.

            A mais recente produção do grupo, com a brilhante direção da dupla ANA TEIXEIRA e STÉPHANE BRODT, é baseada na obra “Terra Sonâmbula”, escrito em 1992, e no universo do grande escritor moçambicano, MIA COUTO.

 

 
Vanessa Dias.
 


 
SINOPSE:
 
O espetáculo conta a trajetória do jovem KINDZU (THIAGO CATARINO), que, para fugir das atrocidades de uma devastadora guerra civil, deixa sua vila e parte para uma viagem iniciática.
 
Nela, encontra outros fugitivos, refugiados e personagens repletos de humanidade, que lhe farão viver experiências, ancoradas tanto na cultura tradicional do sudeste da África quanto na vivência de um conflito devastador.
 
Após ter perdido o pai, KINDZU nota a tristeza da mãe, vê pessoas mortas à sua volta e toma a decisão de ir embora, em busca dos naparamas, os guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do rapaz, a única esperança contra os senhores da guerra, nos quais ele deposita sua fé e aos quais pretende se juntar.
 
A trajetória do herói se desvia do objetivo, à medida que ele vai conhecendo outras pessoas e suas histórias.
 
Uma dessas pessoas, especialíssima, para ele, é FARIDA, uma jovem, que crê ser amaldiçoada, por quem o protagonista se apaixona.
 

 
 

Thiago Catarino.
 

            Já inicio esta modesta análise, dizendo que não se deve tentar estabelecer nenhuma comparação entre as duas peças, “Salina...” e “...KINDZU”, ainda que ambas sejam, igualmente, fascinantes.

            Para ser escrita, foi levado em consideração o diário de KINDZU, formado por doze cadernos, nos quais se desenvolvem narrativas, que revelam a dimensão onírica e mítica da existência, como formas de resistir à violência, como declara a diretora ANA TEIXEIRA, no lindo e bem cuidado programa da peça.

Com este espetáculo, a companhia dá continuidade a uma pesquisa, iniciada com “Salina (A Última Vértebra”), visando a uma investigação das formas narrativas, inspiradas em tradições de matriz africana, tão ricas e encantadoras e, ao mesmo tempo, de pouco conhecimento para os brasileiros. São, porém, duas diferentes propostas de linguagem cênica, uma vez que, enquanto “Salina...” faz um mergulho numa África ancestral, “...KINDZU” se volta para uma África pós-colonial.
 

 
Sérgio  Loureiro e Thiago Catarino.
 

Segundo STÉPHANE BRODT, um dos criadores do espetáculo, “O texto de ‘OS CADERNOS DE KINDZU’ foi abordado com a abertura de quem busca um diálogo criativo e não uma tradução cênica de uma obra literária. Ao longo desse processo, uma nova narrativa foi-se construindo. A trajetória de KINDZU e seus companheiros encontraram uma identidade própria na cena, porém não se afastaram da escrita de MIA COUTO, da sua riqueza poética e suas imagens, ancoradas na cultura oral africana”. O texto é uma reinvenção, uma reconstrução de uma saga de um herói sonhador e de uma história de amor. Pode-se dizer que a oralidade, a marca da tradição do ato de contar histórias, que vai passando, de geração a geração, perpetuando-se no universo cultural, está presente em toda a peça.

O que se vê, em cena, não é uma mera transposição, adaptada, de uma obra literária, para a linguagem teatral. A dramaturgia é livre, misturando narrativas e diálogos, e, ao mesmo tempo, não se permite afastar, por uma desconstrução, do estilo do consagrado e premiado escritor MIA COUTO, porém agrega, à obra, valores, aparentemente, incompatíveis com o TEATRO, no Brasil, mas cujo resultado, no entanto, é fantástico. É muito inspirador ver a sintaxe lusa, já que, como ex-colônia de Portugal, os moçambicanos falam sob influência dos portugueses, com destaque para as belíssimas colocações pronominais e diferentes regências, nominais e verbais, sem falar, obviamente, nas variações semânticas.   

“Passando do conto à ação e da palavra ao canto, o espetáculo propõe uma incursão na guerra de independência do Moçambique, para explorar a natureza humana e a necessidade de reconstruir a vida e a memória. Com ‘OS CADERNOS KINDZU’, o AMOK TEATRO aborda o fantástico e explora a língua portuguesa, em diferentes sonoridades”, diz o “release” da peça.


 
Stéphane Brodt e Thiago Catarino.


E prossegue o “release”: “O espetáculo aprofunda a pesquisa cênica, iniciada com o projeto ‘Salina (A Última Vértebra)’, onde o AMOK investiga diferentes formas da narrativa, no contexto de culturas africanas, afro-brasileiras e, agora, afro-lusitanas. Com ‘...KINDZU’, a música, a literatura e o teatro se fundem numa expressão única e indissociável”. Trata-se, portanto, de um belo exemplo de espetáculo multimídia.

            Se alguém tentar encontrar um ponto fraco no espetáculo, perderá seu tempo e deixará de usufruir momentos mágicos, poucas vezes vistos em TEATRO. Do texto à interpretação dos atores, passando pelos elementos técnicos, por assim dizer, e pela direção da peça, tudo é digno de destaque e elogios, fruto de um profundo e demorado trabalho de pesquisa, visando ao belo, estética e poeticamente falando.

            O trabalho dos atores, que se revezam em mais de um papel, com exceção de THIAGO CATARINO (KINDZU), o protagonista, e de GRACIANA VALLADARES (FARIDA), é irretocável. Os dois estiveram em “Salina...”, além de JULIANA LOPES e SÉRGIO LOUREIRO, mas ainda marcam presença, nesta montagem, de forma inquestionável, GUSTAVO DAMASCENO e VANESSA DIAS, além de STÉPHANE BRODT, em luxuosa participação especial. Todos, sem exceção, executam, com a maior dignidade, a função de atuar, além de cantar e tocar vários instrumentos, ocupando-se da bela trilha sonora, criação coletiva do GRUPO AMOK, e permanecem em cena, quer participem, quer não dela, entretanto muito me impressionou e comoveu, merecendo um destaque especial, a atuação de THIAGO. É tão bom ver um ator, ainda jovem, se entregar, de corpo e alma, a um personagem, mergulhar de cabeça e conseguir transportar o espectador para outro plano. Nem o desconforto das cadeiras do Teatro III, do CCBB, foi capaz de me desviar do foco desse ator, que não sai de cena, salvo engano, em momento algum, durante os 120 minutos de duração do espetáculo, que passam sem que se perceba.

 

 
Thiago Catarino.


            THIAGO atingiu um tom de voz e de pronúncia suave e melodioso, que faz bem aos ouvidos. O personagem é cativante; forte e frágil, ao mesmo tempo. Forte, nos seus objetivos, e frágil, diante de tantas adversidades e possibilidades de não conseguir atingir o seu ideal. Dá vontade de invadir o espaço cênico e acarinhá-lo, a cada derrocada, que ele não permite que o derrube. É uma fênix, em cena.

GRACIANA VALLADARES é uma atriz de grandes recursos, que também consegue emocionar a plateia, com sua interpretação da sofrida FARIDA, capaz de angariar a simpatia e a cumplicidade de todos; mais que isso, o público sofre com ela, não fisicamente, mas a dor da alma, que dói mais. Mais um excelente trabalho dessa grande atriz.



 
Graciana Valladares.
 

JULIANA LOPES (MÃE KINDZU, TIA EUZINHA e JULIANA - a prostituta cega), extrapola toda e qualquer expectativa de um espectador que não conheça, ainda, seu potencial interpretativo. Não me surpreendeu, porém. Nas três personagens, tem um rendimento acima do normal, com destaque para a personagem da prostituta cega, para a qual reserva um humor triste e faz com que achemos graça de sua desgraça. A caracterização física da personagem, por si, já desperta o interesse de quem assiste ao espetáculo, mas isso, associado à interpretação da atriz, é responsável por uma excelente composição de uma personagem.

SÉRGIO LOUREIRO também é um ator que marca presença em qualquer trabalho de que participa, e não é diferente aqui. Quer como o PAI KINDZU, quer como QUINTINHO, suas participações são irretocáveis.

GUSTAVO DAMASCENO, para nossa alegria, volta a trabalhar com o AMOK TEATRO, depois de um período, atuando em outras companhias. Sua volta deve ser comemorada em grande estilo, pois se trata de um dos melhores atores de TEATRO, da sua geração e, neste espetáculo, ratifica seu talento, interpretando ROMÃO PINTO, que representa o português dominador, colonizador, um grande vilão, e o ANÃO XIPOCO, um elemento da cultura de Moçambique, um regionalismo, que significa “alma penada, que vagueia sem destino, um fantasma”.

 
 

Gustavo Damasceno.
 

Não tinha, ainda, tido o prazer e a oportunidade de conhecer o trabalho de VANESSA DIAS, que se desdobra em três personagens, ASSMA, ANÃO XIPOCO e VIRGÍNIA, saindo-se muito bem em todos eles. Ela começou a trabalhar no AMOK, substituindo uma atriz, em “Histórias de Família” e “Kabul”, nas turnês internacionais do grupo (Edimburgo e China), além de ter feito a assistência de direção de “Salina...”.

“Last, but not least”, temos STÉPHANE BRODT, numa fantástica interpretação do comerciante indiano SURENDRA, rejeitado e que não ama pretos, nem brancos; ama seres humanos.   


 
Stéphane Brodt.


Em todas as montagens do AMOK TEATRO, o cenário, os figurinos e a iluminação são três elementos que formam um tripé de sustentação para o espetáculo, dando suporte a que o trabalho dos atores seja valorizado. Não é diferente aqui.

No centro do palco, sempre poucos elementos cênicos, fixamente, ou quase nenhum. Eles ficam no perímetro do espaço cênico, prontos a serem utilizados nas cenas em que se fizerem necessários, assim como todos os instrumentos musicais utilizados, alguns bem exóticos. É sempre muito criativo o cenário nas peças do AMOK, assinados por ANA TEIXEIRA e STÉPHANE BRODT, responsáveis, também, pelos figurinos, muito próprios e igualmente criativos, servindo totalmente aos personagens.

A terceira perna do tripé, a iluminação, a cargo de um mestre, RENATO MACHADO, é mais intimista, menos intensa, na maior parte do tempo, com alguns detalhes localizados, que valorizam as cenas, como os focos azuis, projetados sobre instrumentos que simulam o barulho das ondas do mar. Isso é de suma importância, para a criação de um clima, tão necessário às cenas.  
 
            E, como os Três Mosqueteiros, na verdade, eram quatro, eu diria que, mais que um tripé de sustentação, o que funciona, aqui, é um quadripé, do qual também faz parte outro importante elementos no trabalho do AMOK que é a música. Ela nos conduz na viagem com KINDZU e é um elemento que nos provoca uma surpresa após a outra. As canções, com letras em línguas ou dialetos africanos, além de lindas, são de uma sonoridade que deleita e nos faz flutuar , de leveza e prazer. Tudo sob a direção musical de STÉPHANE BRODT.

 

Thiago Catarino e Luciana Lopes.


            Dentre os tantos detalhes que merecem atenção, nesta montagem, destaco a excelente ideia de o público, ao adentrar o auditório do Teatro, já encontrar os atores dispostos à volta do espaço cênico, ouvindo VANESSA DIAS a interpretar uma canção portuguesa, acompanhando-se ao acordeão. Isso vai iniciando a plateia no universo dos fatos a serem contados. A primeira canção, interpretada coletivamente, chama a atenção, por sua beleza melódica e pela interpretação do elenco.

           Na primeira cena, propriamente, já se pode sentir o que fará, de maravilhoso, THIAGO CATARINO, no decorrer da peça. Ele, diante de uma cruz, que facilmente reporta a um túmulo, visivelmente emocionado, reza uma longa oração, uma espécie de Pai-Nosso, na língua “tsonga”, uma etnia majoritária na região da África em que se passa história. 

            Algumas cenas são marcantes e contam, diretamente, com a indispensável colaboração do iluminador. Uma delas é quando KINDZU rema, numa jangada, um excelente trabalho de corpo do ator. 

            Duas outras provam que é possível passar verdade e beleza, em cenas de sexo, sem qualquer tipo de exageros ou apelação. O nu, em cena, tanto pode ser belo e necessário como chocante e sem sentido. Tanto a cena em que FARIDA é estuprada pelo desprezível personagem ROMÃO quanto a noite de amor, entre KINDZUFARIDA são provas cabais disso, de uma beleza e de um lirismo incomensuráveis. Confesso que a cena do estupro é tão fascinantemente construída, sem que os corpos se toquem, que considero uma das coisas mais belas que já vi em TEATRO, assim como me encantei com o sexo entre os dois enamorados, feito por trás de uma tela, por meio de sombras, no qual o máximo a que chegam os atores é despirem-se das vestes que lhes cobrem a parte superior do corpo e quase não se tocarem. Um primor de cena!

 
O estupro I.
                                   

O estupro II.

A noite de amor.



 
FICHA TÉCNICA:
 
OS CADERNOS DE KINDZU é uma criação do AMOK TEATRO, a partir da obra “Terra Sonâmbula” de MIA COUTO.

Direção, Cenário e Figurino: Ana Teixeira e Stéphane Brodt
Assistente de Direção: Sandra Alencar

Atores: Graciana Valladares (Farida), Gustavo Damasceno (Romão Pinto e Anão Xipoco), Luciana Lopes (Mãe Kindzu, Tia Euzinha e Juliana), ​Sérgio Loureiro (Pai Kindzu e Quintinho) Thiago Catarino (Kindzu) e Vanessa Dias (Assma, Anão Xipoco e Virgínia).

Participação especial: Stéphane Brodt (Surendra)

Luz: Renato Machado
Direção Musical: Stéphane Brodt
Música (criação e interpretação): o elenco
Fotos: Daniel Barboza
Designer Gráfico: Paulo Lima
Assessoria de Imprensa: LEAD Comunicação
Produção Executiva: Zana Marques
Coordenação Administrativa: Eureka Ideias / ​Sônia Dantas
 

 
 

Vanessa Dias e Graciana Valladares.
 
 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 26 de outubro a 18 de dezembro (2016)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rio de Janeiro - Teatro III
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro, Rio de Janeiro – RJ
Telefone para Informações: (21) 2547-0156
Dias e Horários: De 4ª feira a domingo, às 19h30min
Valor dos Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia-entrada)
Telefone da Bilheteria: (21) 3808-2020
Duração: 120 minutos
Classificação Etária: 14 anos
Gênero: Drama
 

 
            O tom onírico e o realismo mágico que pontuam todo o espetáculo, a ponto de permitir que o herói converse com o fantasma de seu pai e sonhe com a liberdade para seu povo, além da plasticidade do espetáculo e o peso da beleza que contém sua sonoridade fazem com que eu o classifique como um dos grandes espetáculos do ano, certamente fazendo jus a indicações a prêmios.

            Não é um espetáculo voltado ao lazer; é para mexer com a emoção do espectador, tirando-o de sua zona de conforto e provocando-lhe reflexões acerca do preço que se paga pela liberdade e pelo desejo de conquistas, mormente as que não são físicas.

 

(FOTOS: DANIEL BARBOZA.)
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016


60! DÉCADA DE ARROMBA – DOC.MUSICAL

 
(QUE VIAGEM!

QUE PRIMOR!

QUE ENCANTO!

QUE ESPETÁCULO!

ou

UM ESPETÁCULO FEITO SÓ POR PROTAGONISTAS, ONDE NÃO HÁ ESPAÇO PARA COADJUVÂNCIA.)



 



            E foi inaugurada uma nova categoria de espetáculo teatral: o “documento musical”. O autor da façanha é FREDERICO REDER, um homem de TEATRO, proprietário do Theatro NET Rio, onde está em cartaz “60! DÉCADA DE ARROMBA – DOC.MUSICAL”, um espetáculo impecável, de fazer divertir e emocionar, de levar o público, de todas as idades ao delírio e às lágrimas. Um espetáculo que traz, à tona, lembranças de uma década de sonhos, que faz os jovens de hoje sentirem “saudade do que não viveram”, como ouvi da boca de dois, por mais paradoxal que isso possa parecer. Uma viagem no tempo, na qual nada do que ocorreu de mais marcante, durante a riquíssima década de 60, ficou de fora, graças ao irrepreensível trabalho de pesquisa de MARCOS NAUER, que demandou meses de um mergulho em jornais, revistas, vídeos, gravações e tudo mais que pudesse servir de documento da época. MARCOS também escreveu o roteiro do espetáculo, que, além de ter sido idealizado por ele e por FREDERICO REDER, foi, brilhantemente, dirigido por este, graças, segundo o próprio, ao grande incentivo de dois produtores associados e já tarimbados homens do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO: TADEU AGUIAR e EDUARDO BAKR.

            Espero que ninguém vá ao Theatro NET Rio com o objetivo de comparar o espetáculo a qualquer outro musical. Não há termos de comparação. É tudo inovador e da melhor qualidade. Não é um musical romântico, não é uma comédia musical, não é uma musical biográfico, não é um musical dramático... É um musical que trocou a dramaturgia tradicional por uma sequência cronológica de imagens e sons, em suas versões originais, alternando-se com canções e coreografias ao vivo, tudo interpretado por um elenco de 24 grandes artistas, com destaque para a cantora WANDERLÉA, um ícone de um movimento, mais que musical, que marcou a década de 60, a “Jovem Guarda”, criticado por alguns, que o achavam alienador, quando o Brasil vivia anos de chumbo, em função do maldito golpe militar de 1964, que tantas marcas negativas e de atraso nos legou, mas que provou, a “Jovem Guarda”, com o tempo, aos seus críticos, que eles estavam errados. Foi um movimento ingênuo, até certo ponto, mas que pregava amor e tolerância, dos quais, até hoje, estamos tão afastados e carentes.






O espetáculo utiliza ferramentas de documentário (fotos, vídeos e depoimentos reais), somadas a cenas, textos e canções apresentadas, ao vivo, por 24 atores / cantores / bailarinos, para contar a história da década de 1960.

“60 foi uma década muito importante em vários aspectos: nas artes, no esporte, nos movimentos sociais e políticos e no avanço tecnológico. Descobri, durante o processo da peça, que estávamos fazendo um documentário musical, em que cantamos toda a história, sem utilizar nenhum personagem real. A única personagem que trazemos para a cena é a WANDERLÉA, interpretando ela mesma. Um luxo”, diz o diretor FREDERICO REDER.
 
De acordo com o “release”, enviado por Minas de Ideias (assessoria de imprensa), “O momento era de grande agitação política, jovens reivindicavam seus direitos, pregando a bandeira do amor. WANDERLÉA embalava os sonhos de milhões de brasileiros, com os versos bem apropriados para a época, na música ‘É o Tempo do Amor’” (JÁ CHEGOU, JÁ CHEGOU / NOVAMENTE A BONANÇA / TODO MAL JÁ PASSOU / JÁ VOLTOU A ESPERANÇA / VAMOS DANÇAR E NAMORAR / SEMPRE ALEGRES SER / VIVENDO ASSIM, A SORRIR, / A VIDA TEM MAIS SABOR / É O TEMPO DO AMOR / É FELIZ, BEM FELIZ /  QUEM AMA DE VERDADE / SE VIVER COMO NÓS / SEM RANCOR NEM MALDADE / VAMOS CANTAR / SEM PENSAR QUE O MUNDO É TÃO RUIM / VIVENDO ASSIM, A SORRIR / A VIDA TEM MAIS SABOR / É O TEMPO DO AMOR”).



 

            O espetáculo é dividido em blocos, um para cada ano, subdivididos em microtemas e cenas. A genialidade da ideia já começa, ao ser mostrada a chegada do rádio, no Brasil, em 1922, seguindo-se da década de 50, que vai sendo mostrada na evolução do “dial” de um velho rádio, projetado, ao centro do primeiro telão (são dois: um no proscênio e outro na altura do meio do palco), enquanto vai sendo executado um bem elaborado “pot-pourri” de canções dos anos 50, num arranjo magnífico, do diretor musical e regente, TONY LUCCHESI, à proporção que são projetadas imagens da época, de fatos marcantes, incluindo a inauguração do primeiro canal de TV, no Brasil. Ao final da década, 1959, chega-se à festa de Ano-Novo, para a anunciação do período a ser homenageado e dissecado. Um bom “esquenta” para o espetáculo que, a essa altura, já está mexendo com o público, antes mesmo de ser, propriamente, iniciado. É preciso lembrar que as canções executadas são cantadas pelo elenco, sem aparecer.

A partir daí, a peça narra os principais acontecimentos, apresentando mais de cem canções dos mais diversos gêneros. De Roberto e Erasmo Carlos, passando por Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Elvis Presley, The Beatles, Tony e Celly Campello, Bibi Ferreira, Edith Piaf, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Mílton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maysa, Geraldo Vandré, apenas para citar alguns dos artistas lembrados e homenageados.
 
Extraído do “release”: “Se, hoje em dia, a discussão em torno do empoderamento feminino está em alta, já em 1960, mulheres marcaram época, com frases que deram o que falar. “NINGUÉM NASCE MULHER, TORNA-SE MULHER.”, afirmava a escritora francesa Simone de Beauvoir. Marilyn Monroe fazia sucesso e bradava: “MULHERES COMPORTADAS RARAMENTE FAZEM HISTÓRIA.”. Aqui, no Brasil, mulheres, como Leila Diniz, também não ficavam atrás, com atitudes e frases que marcaram história, como: “NA MINHA CAMA, DEITA QUEM EU QUISER.”.

 
 



Ainda do “release”: “Ícone ‘pop’ da década de 1960, WANDERLÉA sempre foi considerada um símbolo de vanguarda. Primeira mulher a posar nua, grávida, para uma foto e pioneira no uso das minissaias e do silicone, contribuiu para os direitos e a liberdade das mulheres de sua geração”.

“Fiquei muito emocionada, em receber esta homenagem, justamente quando a ‘Jovem Guarda’ completa 50 anos. Ainda mais estreando neste palco, onde fiz shows memoráveis, como ‘Maravilha’ e ‘Feito Gente’. Nunca havia imaginado integrar um grande musical”, diz WANDERLÉA.

O espetáculo é grandioso, em todos os sentidos. Produzido pela Brain+, em parceria com a Reder Entretenimento e a Estamos Aqui, “60! DÉCADA DE ARROMBA – DOC.MUSICAL” é uma superprodução, com 20 cenários, 10 toneladas de material cênico, mais de 300 figurinos, cerca de uma centena e meia de perucas, contando com 24 atores e uma espetacular orquestra de 10 músicos, com muitas cordas.

“Escrever um ‘doc.Musical’ foi começar do zero. Definimos que não seria biográfico e não seria ficcional, sem dramaturgia clássica. Tudo o que está em cena se originou do documental, do fato, da história real. Não há personagens definidos, o elenco, em cena, são todas as ‘pessoas que viveram aquela época’. As músicas cantadas aparem na cronologia em que foram lançadas e fizeram sucesso. O espectador acompanha a narrativa do espetáculo, ano a ano, relembra sua história e descobre novos acontecimentos”, conta o autor e pesquisador MARCOS NAUER.

Para encerrar o material que consta no “release”, “Um espetáculo construído a partir de canções conhecidas de todo o público, feito para toda a família, que mistura humor, números de circo, ilusionismo e cheio de emoção. Uma história cantada com fatos e músicas memoráveis. No repertório, não faltam sucessos, como “Banho De Lua”; “Biquíni De Bolinha Amarelinha”; “Beijinho Doce”; “Lata D’Água”; “Travessia”; “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores”; “Era Um Garoto Que, Como Eu, Amava Os Beatles E Os Rollings Stones”; “Ponteio”; “Exército Do Surfe (Nós Somos Jovens)”; “Filme Triste”; “Prova De Fogo”; “Pare O Casamento”; “Calhambeque” e outras internacionais, como “Blue Moon”; “La Bamba”; Non Je Ne Regrette Rien”; “Yellow Submarine”;  “I Say A Litlle Prayer For You”, entre tantos outros. Uma verdadeira viagem no tempo! São cerca de 200 minutos (mais de três horas) de espetáculo, com um intervalo, sem que o público perceba o tempo passando, a não ser em cena, cronologicamente. O tempo psicológico nos conduz nessa viagem.

 

 




 
SINOPSE:
 
Representante maior do movimento da “Jovem Guarda”, a cantora WANDERLÉA faz sua estreia em musicais, num espetáculo que faz um passeio musical pela década de 1960, com seus principais fatos e acontecimentos.
 
Um doc. musical emocionante e divertido para toda a família.
 




 


 
Antes de comentar, detalhadamente, cada ano, passo a fazer comentários gerais sobre alguns elementos da ficha técnica da peça.

            Não dá para falar de texto, pois este, propriamente, não existe, a não ser nas canções e nas matérias jornalísticas apresentadas, nada em forma dramatúrgica. Em compensação, todos os aplausos do mundo para o irretocável trabalho de pesquisa de MARCOS NAUER, que foi de uma precisão cirúrgica. Ele não deixou passar um detalhe que merecesse relevo.

            Com relação à direção, assinada por FREDERICO REDER, nenhum senão a ser dito. A proposta do trabalho foi executada a contento. Todas as ideias e resoluções são corretas, perfeitas, criativas. Entrou, nesta produção, com o pé direito, o FRED, e espero que nos brinde com futuros trabalhos de direção.

            NATÁLIA LANA, de notória competência, abusou do direito de ser criativa, fiel à época, e de ter bom gosto, na elaboração dos cenários da peça, que se estendem, como duas instalações, para fora do palco, na plateia superior, onde se veem objetos e eletrodomésticos da época, presos às paredes, mais dois telões, para projeções, já citados, e muitos outros ambientes, para diversas cenas. Todos os elementos cenográficos, sem a menor exceção, são necessários e de um acabamento de fazer gosto.
 




            Outro que consegue se superar, a cada trabalho, é BRUNO PERLATTO, que assina os mais de trezentos figurinos do espetáculo, inclusive os deslumbrantes vestidos usados por WANDERLÉA, sem que um, sequer, mereça repreensão. Muito pelo contrário. Os figurinos são belos e exuberantes, quando têm de ser, e engraçados e criativos, quando isso se faz necessário. São plenos de detalhes e há de se chamar atenção para estes, principalmente os sapatos e adereços, cada um combinando com um traje. Deveriam os figurinos ficar expostos, numa espécie de “museu”, quando o espetáculo fechasse as cortinas pela última vez, o que não espero ver acontecer tão cedo.

            Um musical alegre, como este, merece uma luz à altura, quente e vibrante, como ocorre na maior parte do tempo, excetuando-se os momentos intimistas, em que a responsável pelo magnífico desenho de luz, DANIELA SANCHEZ, adequou intensidade e tons. Uma luz belíssima!






            Dois elementos que não são presentes no TEATRO convencional, música e coreografia, num musical, representam uma enorme porcentagem de seu sucesso. Em “60!...”, dois nomes merecem um grande destaque. São eles o de TONY LUCCHESI, aqui já citado, e o de VICTOR MAIA.

            TONY, apesar de muito jovem, já é respeitadíssimo, por seus pares, por ser dono de um riquíssimo currículo, responsável pelos arranjos e pela direção musical de alguns dos mais consagrados musicais montados nos últimos anos, no Brasil. Isso já lhe rendeu prêmios e indicações a outros. Certamente, com o seu trabalho, neste musical, TONY está se candidatando a colher outros louros. São, simplesmente, sensacionais, os seus arranjos, vocais e instrumentais, a ideia de mesclar canções, a desconstrução dos arranjos originais de conhecidas canções, mudando-lhes, inclusive, os ritmos, e a condução, à frente de uma orquestra de dez músicos de primeiríssimo nível, na qual ele também toca, além de reger. Infelizmente, não me chegaram às mãos os nomes de seus companheiros músicos, que ficam ao fundo do palco, mas todos fazem um belíssimo trabalho e merecem meu reconhecimento.

            Quanto a VICTOR MAIA, a este, cabe um comentário a mais, visto que não é responsável apenas (como se “apenas” fosse a palavra correta a ser empregada) pelas coreografias, mas também por toda a parte de direção de movimento do espetáculo. Tudo o que é humano e se mexe em cena é produto do trabalho do VICTOR. É um talento indiscutível, que já coreografou tantos espetáculos de sucesso, porém, neste, a custa de muito trabalho e dedicação, VICTOR demonstrou uma criatividade incomensurável. As coreografias passam longe da mesmice que estamos acostumados a ver. A cada nova cena, uma nova e agradável surpresa. Mesmo não sendo bailarino, posso reconheer o altíssimo grau de dificuldade e criatividade presente em cada número coreográfico, perfeitamente executado pelo elenco. Conto, nos dedos de uma das mãos, as vezes em que vi um trabalho de coreografia tão lindo e rico num palco, num musical. E há de sobrar dedos.

É impressionante a qualidade do material de videografismo, produzido por THIAGO STAUFFER, assim como a sincronia como tudo é projetado, os desenhos e os filmes, com relação à execução das cenas, no palco, pelos atores. Aqui, vai um crédito para todos os técnicos, que fazem com que o espetáculo se desenvolva: os de som, de luz, maquinistas, camareiros e a todos os envolvidos no projeto.

Não poderia faltar, também, um elogio a TALITA KURODA e THIAGO CHAVES, responsáveis pelo impecável desenho de som, que não permite que o espectador deixe de ouvir, com nitidez, nada.





 
No que diz respeito ao elenco, uma frase, que utilizo como um dos subtítulos desta crítica, bastaria para dizer tudo o que penso dos 24 artistas em cena. Uso o termo “artista”, por ser mais amplo e abarcar várias modalidades de artes, já que todos cantam, dançam e representam: UM ESPETÁCULO FEITO SÓ POR PROTAGONISTAS, ONDE NÃO HÁ ESPAÇO PARA COADJUVÂNCIA.

A despeito da presença, em cena, de WANDERLEA, com toda a sua exuberância, talento e nome no mercado - por sua humildade, como pessoa e artista, tenho a certeza de que o seu pensamento vem ao encontro do meu -, todos os demais 23 em cena são, também protagonistas e todos têm seus momentos de solo, sem que um tente apagar o brilho dos demais colegas. Todos reúnem seus talentos, em prol da qualidade de um dos melhores espetáculos musicais a que tive o prazer e a alegria de assistir em toda a minha vida.

Estive presente a uma sessão especial, para convidados e amigos, no dia 29 de novembro próximo passado, e voltei dois dias depois, quando da estreia oficial, para o público.

No dia da sessão especial, na qual só estavam presentes pessoas ligadas à classe artística e amigos, o espetáculo foi ovacionado, da primeira à última cena, e elogiadíssimo por todos. Mas, para quem possa estar pensando que tal fato se deu, devido ao componente afetivo e, talvez, corporativista, de uma classe, que poderia haver naquele dia, quero deixar bem claro que a manifestação da plateia, composta de pagantes, na última 5ª feira, dia 1º de dezembro, foi igual ou, até mesmo, superior à daquela sessão para convidados. Viam-se muitas pessoas chorando, emocionadas, velhos e jovens, os quais, à saída, comentavam que voltariam e que levariam a mãe, o pai, o avô, a tia Fulana, a empregada, os amigos da faculdade ou do colégio... Sim, é um espetáculo para a família, é um espetáculo para quem não tem vergonha de se emocionar e ser feliz, é um espetáculo para quem não se preocupa em reprimir o choro. É um espetáculo que não precisa de mídia, uma vez que o “de boca em boca” é mais que suficiente para lotar o Theatro NET Rio, por meses.

Além da marcante presença de WANDERLÉA, fazem parte do elenco, por ordem alfabética, os seguintes atores/cantores/bailarinos: Amanda Döring, Analu Pimenta, André Sigom, Bel Lima, Cássia Raquel, Deborah Marins, Erika Affonso, Fabiana Tolentino, Giu Mallen, Jade Flores, Jullie, Leandro Massaferri, Léo Araújo, Marcelo Ferrari, Mateus Ribeiro, Pedro Arrais, Rachel Cristina, Raphael Rossatto, Rodrigo Morura, Rodrigo Naice, Rodrigo Serphan, Rosana Chayin e Tauã Delmiro. 
 
WANDERLÉA, nascida Wanderléa Charlup Boere Salim, em Governador Valadares, a 5 de junho de 1946, descendente de libaneses, está completando 50 anos de carreira, do alto dos seus 71 anos de idade, desfilando uma plástica invejável e cantando cada vez melhor. Como os bons vinhos, valoriza-se, mais ainda, com o passar dos anos. Uma diva, devidamente reconhecida como tal e ovacionada, todas as noites, durante o espetáculo. É sua estreia, em musicais, depois de quase um ano para ser convencida por FREDERICO REDER, mas a cantora já teve algumas experiências anteriores, como atriz, no cinema, tendo participado de alguns filmes, como "Juventude e Ternura" (protagonista) (1968), direção de Aurélio Teixeira, e “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (1968), no qual contracenou com Roberto Carlos e Erasmo Carlos, o tripé que sustentou o movimento da “Jovem Guarda”. A partir de agosto de 1965, passou a comandar, com os dois amigos inseparáveis, Roberto e Erasmo, o programa “Jovem Guarda, na antiga TV Record, de São Paulo. Transmitido nas tarde de domingo, o programa teve uma das maiores audiências da época e lançou diversos artistas. WANDERLÉA e Celly Campello foram as primeiras estrelas do “rock” brasileiro. Terminada a fase áurea da “Jovem Guarda”, continuou a carreira, como cantora “pop”. Segundo o diretor do espetáculo - e eu concordo plenamente -, WANDERLÉA é a “cereja do bolo” de “60! DÉCADA DE ARROMBA – DOC.MUSICAL”.



 
  




O ESPETÁCULO, ANO A ANO, PASSO A PASSO:
 

PRÓLOGO:

 
MÚSICA – “QUE SERÁ”? - DALVA DE OLIVEIRA.
MÚSICA – “BEIJINHO DOCE” – ELIANA e ADELAIDE CHIOZZO.  
MÚSICA – “LATA D´ÁGUA” – MARLENE.
MÚSICA – “XOTE DAS MENINAS” – LUIZ GONZAGA. 
MÚSICA – “NEURASTÊNICO” – BETINHO E SEU CONJUNTO.
MÚSICA – “A ÁGUA LAVA TUDO” – EMILINHA BORBA.
MÚSICA – “ROCK AROUND THE CLOCK” e VERSÃO EM PORTUGUÊS (“RONDA DAS HORAS”) – BILL HALLEY AND HIS COMETS.
MÚSICA – “ROCK AND ROLL EM COPACABANA” – CAUBY PEIXOTO.
MÚSICA – “A TAÇA DO MUNDO É NOSSA” – CORAL DO CANECO
MÚSICA – “LACINHO COR DE ROSA” – CELLY CAMPELLO






1960:

MÚSICA – “ESTÚPIDO CUPIDO” – JULLIE, acompanhada de todas as atrizes.
As atrizes, vestidas de forma igual, reproduzem a boneca Barbie.
MÚSICA – “BANHO DE LUA” – BEL LIMA.
Atenção para o arranjo da canção!
MÚSICA – “BLUE MOON” – LÉO ARAÚJO e mais quatro atores.
O quinteto forma uma réplica perfeita do conjunto vocal The Marcels 
MÚSICA – “A LUA É DOS NAMORADOS” – JULLIE.
Atenção para o arranjo da canção!
MÚSICA – “ME DÁ UM DINHEIRO AÍ” – TODOS.
Atenção para o arranjo da canção!
MÚSICA – “IT´S NOW OR NEVER” – TODOS.
Atenção para o arranjo da canção!
MÚSICA – “A NOITE DO MEU BEM” – ÉRIKA AFFONSO.
MÚSICA – “HINO AO AMOR” – CÁSSIA RAQUEL.
Prestem atenção ao belíssimo arranjo para o dueto, que reúne as duas canções acima. Algo antológico, em musicais, enquanto são projetadas cenas do filme “La Dolce Vita”, de Federico Fellini.)
MÚSICA – “SÚPLICA CEARENSE”.
Atores, como retirantes, entram pela plateia, cantando e se encostam no palco, quando se transformam em “candangos”, que trabalharam na construção de Brasília.
MÚSICA – “CHICLETE COM BANANA”.
Atores cantam, como pertencentes ao “high society” da nova Capital Federal, na festa de fundação de Brasília. A eles, juntam-se os “candangos”, numa “integração social”.
MÚSICA – JINGLE “VARRE, VARRE VASSOURINHA” – TODOS.
Essa canção foi a marca da campanha presidencial de Jânio Quadros. Prestem atenção à coreografia com as vassouras!
 




1961:

MÚSICA – “ALL THE WAY” – RAPHAEL ROSSATO.
RAPHAEL, vestido de astronauta, faz uma belíssima interpretação para esta canção, que foi um dos maiores sucesos de Frank Sinatra.
MÚSICA – “BESAME MUCHO” – ROSANA CHAYIN.
MÚSICA – “FICA COMIGO ESTA NOITE” – LEANDRO MASSAFERRI.
MÚSICA – “QUIZÁZ, QUIZÁZ, QUIZÁS” – ROSANA CHAYIN.
MÚSICA – “NEGUE” – LEANDRO MASSAFERRI.
A sequência das quatro canções acima, todos consagrados boleros, que marcaram uma grande influência da música latina no Brasil, é bastante interessante, uma vez que, além de serem muito bem interpretados pela dupla, foram transformados em tangos.
MÚSICA – “NÃO TENHO NAMORADO” – JULLIE E MARCELO FERRARI.
MÚSICA – “GOSTOSO, GOSTOSO MESMO É NAMORAR” – JULLIE E MARCELO FERRARI
Esse número foi aplaudido em cena aberta, nas duas vezes em que assisti ao espetáculo, graças às brilhantes interpretações do casal, na pele da boneca Barbie e do boneco Ken, seu “namorado”.
MÚSICA – “BIQUÍNI DE BOLINHA AMARELINHA” – VÁRIOS.
A canção vem após a execução de um trecho de “Surf in USA”, com The Beach Boys. Essa é uma cena batante engraçada, uma vez que a letra da canção é interpretada, por alguns atores, de forma a provocar o humor que ela sugere.
MÚSICA – “O BOM MENINO” – TODOS.
MÚSICA – “SE ESSA RUA FOSSE MINHA” – TODOS.
Essa sequência homenageia o circo, na figura de dois ícones, que marcaram a minha infância: Carequinha e Arrelia, os maiores palhaços brasileiros de todos os tempo. Aqui, infelizmente, também foi necessário falar da tragédia do Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, que pegou fogo, num incêndio criminoso, matando 372 pessoas e deixando, gravemente feridas, centenas de outras, das cerca de três mil, que lotavam o circo. Após essa tragédia, uma figura muito popular, um motorista de caminhão, que perdera a família no incêndio, passou a ser um símbolo da paz e do amor. Trata-se de José Datrino, conhecido como o Profeta Gentileza, também mencionado na pesquisa.
             Não se pode omitir, nesse bloco, um número de ilusionismo e hipnose, magistralmente comandado por RODRIGO MORURA, com uma mulher da plateia (atriz) que sobe ao palco e levita, culminando numa interessante surpresa.

 


 
1962:
 
MÚSICA – “THE TWIST” – DEBORAH MARINS.
MÚSICA – “LET’S TWIST AGAIN
MÚSICA – “TWIST AND SHOUT”.
MÚSICA – “LIÇÃO DE TWIST”.
MÚSICA – “LA BAMBA” – LÉO ARAÚJO, TAUÃ DELMIRO E RODRIGO NAICE
Essa sequência também diverte bastante o público, pois, enquanto se procura cantar e divulgar o “twist”, ritmo que marcou bastante os salões da época, um trio de “falsos mexicanos bigodudos”, surgindo de várias partes do palco e da plateia, interrompe as canções, para cantar “La Bamba”, com uma coreografia hilária.

MÚSICA – “GAROTA DE IPANEMA”, “SAMBA DO AVIÃO” e “A FELICIDADE” – ANDRÉ SIGON, CÁSSIA RAQUEL, ÉRIKA AFFONSO, AMANDA DÖRING, RAPHAEL ROSSATO e RODRIGO SERPHAN.
Aqui, como não poderia deixar de ser, o alvo é a “bossa-nova”, movimento artístico-musical que projetou o nome do Brasil no exterior.
MÚSICA – “MANHÃ DE CARNAVAL” – ANALU PIMENTA.
Não tenho a menor ideia do motivo, mas não posso ouvir essa canção, que vou, facilmente, às lágrimas. Para mim, é uma das mais lindas que conheço, que ganha um destaque maior na magnífica interpretação de ANALU.
O grande detalhe teatral dessa cena é que ela entra numa homenagem a Marilyn Monroe. O diretor, de froma criativa e impecável, colocou ANALU cantando num canto do palco, por trás do primeiro telão transparente, com uma luz tênue sobre ela, e, na outra ponta, um manequim com uma réplica do vestdo que imortalizou Marilyn, no filme “O Pecado Mora Ao Lado”, de Billy Wilder, na cena em que, ao passar sobre um “respiradouro” do metrô de Nova York, o vestido é levantado pela corrente de ar. O modelo usado por ANALU é igual, porém na cor preta, simbolizando o luto e o pesar pelo desaparecimento tão precoce da atriz.
             Nesse bloco, merecem destaque as imagens do filme “O Pagador de Promessas”, de Anelmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, e do programa Chico Anysio Show, um marco do humor na televisão brasileira.


 
 


1963: 

MÚSICA – “SPLISH, SPLASH”– ANDRÉ SIGON
             Nessa cena, um detalhe chama a atenção na cenografia, que é a reprodução da fachada do Cine Metro, além da divertida coreografia.
MÚSICA – “FILME TRISTE”– AMANDA DÖRING.
             Mais um momento de descontração e bom humor, creditados ao teor da letra da canção, interpretada por AMANDA e mais três atrizes, que atuam como “mães” da personagem. Atentem para o detalhe da atriz entrando no cinema, pasasando por uma porta giratória, que gira intermitentemente, ao som de uma caixinha de música.
MÚSICA – “GAROTA SOLITÁRIA” – TAUÃ DELMIRO E RODRIGO NAICE.
             FREDERICO REDER apostou na dupla TAUÃ DELMIRO e RODRIGO NAICE, para explorar a veia cômica dos dois excelentes atores. Além de outras cenas cômicas, em que atuam como dois "clowns", eles aparecem, aqui, como duas mulheres muito feias, interpretando uma letra de gosto duvidoso (“Esta noite, eu chorei tanto, sozinha, sem ninguém... / Será que eu sou feia?”). A plateia se diverte muito.
MÚSICA – “NO, JE NE REGRETE RIAN” – RODRIGO SERPHAN.
             Nessa cena, homenageia-se Edith Piaf, quando de sua morte. Não me lembro de ter ouvido essa canção belíssima interpretada por um homem. Confesso que a interpretação de RODRIGO me comoveu bastante. É de fazer arrepiar.
MÚSICA – “SAMBA EM PRELÚDIO” – FABIANA TOLENTINO.
A canção é belissimamente interpretada por FABIANA, enquanto são projetadas imagens sobre a morte do presidente norte-americano JOHN KENNEDY.
 


 
 

1964:

MÚSICA – “AQUARELA DO BRASIL” – CÁSSIA RAQUEL.
             Indo contra a corrente, eu detesto essa canção, mas CÁSSIA a interpreta com tal propriedade, com sua voz potente e afinada, que até me fez mudar (um pouco) de opinião. Não consigo “digerir” o “mulato inzoneiro”, “a merencória luz da lua”, o “esse coqueiro, que dá coco”, o “aonde amarro a minha rede” e o “aonde eu mato a minha sede”. Perdão, Ary Barroso, mas não dá!  
MÚSICA – “RUA AUGUSTA” – RODRIGO MORURA.
MÚSICA – “CALHAMBEQUE” – RAPHAEL ROSSATO.
MÚSICA – “PAREI NA CONTRAMÃO” – MARCELO FERRARI.
             Para ilustrar essa sequência de canções, que falam de carros, grandes sucesos da “Jovem Guarda”, foi utilizado um automóvel conversível, inflável, de tamanho natural, um requinte da cenografia.
MÚSICA – “RITMO DA CHUVA” – MATEUS RIBEIRO.
             A canção, romântica e melosa, uma versão, que tornou famoso o cantor Demétrius, é lindamente interpretada por MATEUS, por trás do primeiro telão, onde são projetados pingos de chuva, num simples efeito especial, que funciona muito bem, do ponto de vista estético e plástico.
MÚSICA -  SUPERCALIFRAGILISTICEXPIALIDOCIOUS – ANALU PIMENTA.
             Fazendo parte da trilha sonora do filme “Mary Poppins”, a canção é maravilhosamente interpretada por ANALU, com projeções, destacando-se a sincronia entre o que é dito na canção, as ações da atriz e as imagens.
MÚSICA – “MEU BEM LOLIPOP” – JADE FLORES.
             Como a interpretação de JADE, são interessantes as singelas imagens projetadas, de roupinhas de papel, para serem recortadas, para bonecas, um ingênuo brinquedo, tão ao gosto das meninas da época.
MÚSICA – “TERROR DOS NAMORADOS” – PEDRO ARRAIS.
MÚSICA – “NÃO” – JADE FLORES.
MÚSICA – “EXÉRCITO DO SURF (NÓS SOMOS JOVENS)” – TODOS.
Nota-se, visivelmente, nesse ponto do espetáculo, a ansiedade do público pela primeira aparição de WANDERLÉA.
Outro detalhe que não pode deixar de ser mencionado, e valorizado, é um número de sapateado, espetacular, no qual se destaca PEDRO ARRAIS.
MÚSICA – “OPINIÃO” – ÉRIKA AFFONSO.
ÉRIKA interpreta a canção num cenário e numa postura que representam uma reprodução fiel da capa desse disco emblemático (o “show” foi gravado ao vivo).  
MÚSICA – “CAN´T BUY ME LOVE”, “IN MY LIFE”, “I WANNA HOLD YOUR HANDS” – TODAS AS MULHERES.
             Doze atrizes, divididas em três quartetos, fazem algo inédito (pelo menos, para mim), que são quartetos femininos interpretando Beatles, em arranjos memoráveis.
             No bloco, destacam-se imagens do seriado de TV “A Feiticeira”, um campeão de audiência da época, trecho de um filme de José Mojica Marins, O Zé do Caixão, e imagens do flme “A Noviça Rebelde”, um marco nos filmes musicais, que levou milhões de pessoas aos cinemas.
 


 
 
1965:
 
MÚSICA – “SHE LOVES YOU” – TODAS AS ATRIZES.
O mesmo que no bloco anterior.
MÚSICA – “TERNURA” – WANDERLÉA.
Aqui, acontece a primeira participação da cantora, que é erguida, ao alto do palco, por um elevador, e canta, descendo uma escadaria, no melhor estilo Broadway. A plateia não dá trégua e, além de cantar, com ela, a canção inteira, ainda lança gritos de toda ordem, que lembram os bons tempos dos auditórios de rádio e TV.
Nada melhor, para encerrar o primeiro ato, após 110 minutos (1 hora e 50 minutos) de intensa emoção, que viriam a ser complementados por mais 90 minutos (1 hora e meia), após um intervalo de 15 minutos, durante os quais, no primeiro telão, podem ser “curtidos”comerciais de TV daquela década.
No último bloco do primeiro ato, podem ser vistos, ainda, vídeos de Elis Regina, a maior cantora do Brasil, de todos os tempos, cantando “Arrastão”, que venceu o 1º Festival da Música Popular Brasileirada TV Excelsior.
Também, nesse bloco, há espaço para a inauguração da TV Globo, que viria a se tornar, no futuro, a segunda maior rede de televisão comercial do mundo.
 


 
 

1966:

MÚSICA – “PARE O CASAMENTO” – WANDERLÉA
             Nada melhor, para abrir o segundo ato, que um outro número de WANDERLÉA, talvez o seu maior sucesso, dentre tantos. Doze atrizes, vestias de noivas, fazem parte da cena, além de alguns atores.
MÚSICA – “PODE VIR QUENTE QUE EU ESTOU FERVENDO” – MULHERES.
             A canção é interpretada num andamento diferente do original e com inserções de “Light My Fire”, suceso de José Feliciano.
MÚSICA – “PROVA DE FOGO” – WANDERLÉA.
             Numa ideia genial, a cantora interpreta a canção, sentada numa possante motociclata, simulando uma intensa viagem de moto, dentro do clima da música, com um telão de “led” projetando muitas labaredas.
MÚSICA – “ERA UM GAROTO QUE, COMO EU, AMAVA OS BEATLES E OS ROLLING STONES” – TODOS.
             O arranjo feito para esta canção é um dos melhores de todo o espetáculo. Ela é cantada “a capella” e, enquanto um grupo canta a letra da canção, um outro produz, com a boca, sons, semelhantes aos utilizados nos “raps”, com uma conotação de rajadas de metralhadoras. Um  momento de grande emoção.
MÚSICA – “MEU BEM” e “A PRAÇA” – RODRIGO MORURA.
MÚSICA – “O BOM” - LÉO ARAÚJO e “VOU BOTAR PRA QUEBRAR” - ROSANA CHAYIN.
MÚSICA – “O BOM RAPAZ” – ANDRÉ SIGON.
MÚSICA – “QUERIDA” – PEDRO ARRAIS.
MÚSICA – “A VOLTA” – RODRIGO SERPHAN E MATEUS RIBEIRO.
MÚSICA – “MENINA LINDA”.
MÚSICA – “FECHE OS OLHOS”.
MÚSICA – “QUERO QUE VÁ TUDO PRO INFERNO” – RAPHAEL ROSSATO.
MÚSICA – “NAMORADINHA DE UM AMIGO MEU” – LEANDRO MASSAFERRI.
MÚSICA – “FESTA DE ARROMBA” – TODOS.
MÚSICA – “TIJOLINHO” – TAUÃ DELMIRO E RODRIGO NAICE.
MÚSICA – “GATINHA MANHOSA” – MARCELO FERRARI.
MÚSICA – “ESQUEÇA” – MULHERES.
             Esse bloco é uma homenagem explícita à “Jovem Guarda”, por meio de canções que se tornaram os chamados “carros-chefes” de alguns dos grande ídolos daquele movimento, como Os Incríveis (ex-The Clevers), Ronnie Von, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Os Vips, Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Bobby di Carlo, na ordem em que são apresentadas as canções.
                        Não faltou espaço para falar de “A Banda”, de Chico Buarque, e “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, que dividiram o público e o primeiro prêmio, no Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Recod, de São Paulo. Eu testemunhei, “in loco”, esse evento inesquecível, completamente dividido entre uma e outra.
                        Também, aqui, há menção ao grande sucesso dos Beatles, já conquistando, também, o cinema.
                        Em musicais, é comum, para marcar o fim do intervalo e chamar a atenção do público para o início do segundo, a orquestra executar um “medley”, com canções da peça, o que não ocorre neste musical. Isso foi substituído por um número de plateia, durante o qual uma dupla, afinadíssima, em todos os sentidos, TAUÃ DELMIRO e RODRIGO NAICE, entra, pela plateia, encarnando duas freiras e sobem ao palco, para conversar com o público e reger um coral (a plateia) numa canção “que elas compuseram”, que nada mais é que “Dominique”, versão de uma singela canção francesa, que fez muito sucesso entre nós, na voz da cantora Giane.


 
 


1967:

MÚSICA – “CORAÇÃO DE PAPEL” – TODOS.
MÚSICA – “EU TE AMO MESMO ASSIM” – DEBORAH MARINS.
Outro momento de descontração, graças à divertida inerpretação de DEBORAH.
MÚSICA – “ALGUÉM NA MULTIDÃO” – TODOS.
MÚSICA – “ALL YOU NEED IS LOVE” – TODOS.
MÚSICA – “É O TEMPO DO AMOR”– WANDERLÉA.
             “É O TEMPO DO AMOR” passou a ser, mais ou menos, um hino do espetáculo, tanto que volta a ser interpretada no final da peça, em função da mensagem que a letra prega.
MÚSICA – TRAVESSIA – LÉO ARAÚJO.
Que voz linda, dentro de um corpo franzino, de um grande artista, nesta homenagem a Mílton Nascimento!
MÚSICA – “LOVE ME TENDER”, “ALWAYS ON MY MIND” e “CAN'T HELP FALLING IN LOVE – DEBORAH MARINS, JULLIE, AMANDA DÖRING, FABIANA TOLENTINO, RAQUEL CRISTINA E ROSANA CHAYIN.
             Essa é uma das cenas mais bonitas e comoventes do espetáculo, não só pelas canções, magistralmente interpretadas, como também por ser uma homenagem a Elvis Presley. A cena é, plasticamente, linda, com as cantoras vestidas, impecavelmente, de preto, portando velas e com um véu negro cobrindo os rostos, como se fossem as “viúvas do Elvis”. Acrescente-se a tudo isso um belo número de acrobacia espacial, em que uma atriz se exibe, pendurada num grande lustre, no qual são depositadas todas as velas, ao final do número.  
MÚSICA – “YELLOW SUBMARINE” – TODOS.
             Momento pueril. Ao som da canção, TAUÃ DELMIRO e RODRIGO NAICE entram, pela plateia, dentro de um imenso submarino amarelo inflável, outro requinte da cenografia.                         
MÚSICA – “AQUARIUS” - LEANDRO MASSAFERRI e “LET THE SUNSHINE IN” - ANALU PIMENTA
             Durante essa cena, passou um filme na minha cabeça, que me levou às lágrimas. Lembrei-me de que estreei, como ator profissional, na primeira montagem de “Hair”, no Brasil, sob a direção de Ademar Guerra. O espetáculo iniciou sua carreira, entre nós, em São Paulo, em 1969, apesar de já ter estreado, em abril de 1968, na Broadway.
             Linda a caracterização dos atores, bem como o colorido dos figurinos, que era marca registrada do movimento “hippie”, que pregava paz e amor.
MÚSICA – “ALEGRIA, ALEGRIA” – TODOS.
MÚSICA – “RODA VIVA” – TODOS.
MÚSICA – “DOMINGO NO PARQUE” – TODOS.
MÚSICA – “PONTEIO” – TODOS.
             Mais uma vez, os festivais de Música Popular Brasleira, que marcaram a década, se fazem presentes, lembrando alguns de nossos grandes compositores, surgidos naquelas competições, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Edu Lobo.
MÚSICA – “TE AMO” e “NOSSA CANÇÃO” – WANDERLÉA.
             Para ecerrar o bloco, mais uma feliz aparição de WANDERLÉA, interpretando um de seus grandes sucessos e uma outra canção, gravada por ela, mas que se tornou famosa na voz de Roberto Carlos.
             Nesse bloco, MARCOS NAUER reservou um espaço para mostrar cenas de um marco no chamado Cinema Novo, o filme “Terra em Transe”, de Gláuber Rocha, e “O Rei da Vela”, um dos maiores sucessos em TEATRO, do diretor José Celso Martinez Corrêa, à frente do inesquecível Teatro Oficina.

 

 

 
1968:

MÚSICA – “SE VOCÊ PENSA” – MULHERES
             Durante a execução da canção “Se Você Pensa”, de Roberto e Erasmo Carlos, um grupo de mulheres aparece, discretamente, sem qualquer apelação ou exagero, por trás do segundo telão transparente, sob uma luz fraca, com os seios à mostra, enquanto são projetadas cenas da famosa “queima dos sutiãs”, uma atitude de protesto das  mulheres, em luta por sua liberdade de expressão e reconhecimento de igualdade, em relação aos direitos dos homens. Cena bastante impactante.
MÚSICA – “PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES” – ATORES e PLATEIA.
             Aqui, durante a execução da canção, que se tornou um hino de resistência às atrocidades cometidas pelos “gorilas” que promoveram o Golpe Militar de 1964 e decretaram o AI-5, que fechou o Congresso Nacional e pôs a pá de cal derradeira na democracia brasileira, aparecem, na penumbra, presos políticos, sentados no chão, como num campo de concentração. Uma cena muito expressiva. Dura de se ver, mas necessária.
             Como já disse Zuenir Ventura, 1968 foi “O ano que não terminou”. Um dos momentos mais marcantes desse ano também aparece nesta peça. Trata-se do discurso de Caetano Veloso, no III Festival Internacional da Canção, no Teatro Tuca, da PUC de São Paulo, organizado pela TV Globo, ao ser vaiado, durante a execuçaõ de sua canção concorrente “É Proibido Proibir”



     



 
“…Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado? É a mesma juventude que vai sempre, sempre, matar, amanhã, o velhote inimigo que morreu ontem? Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada!
Hoje, não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu!
Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram no ‘Roda Viva’ e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E, por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de “charleston”. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar, por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso!
Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil (entrando no palco). Gilberto Gil está aqui comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Para acabar com isso tudo de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! Junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente.
Deus está solto! 
(Cantando) Me dê um beijo, meu amor / Eles estão nos esperando / Os automóveis ardem em chamas / (declamando) Derrubar as prateleiras / As estantes / As estátuas / As vidraças, / louças, livros, sim / E eu digo, (gritando) sim / E eu digo, não ao não / E eu digo: (cantando) Proibido proibir. (Discursando) Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram qualificar a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver. Chega …”
 

 




1969:

MÚSICA – “ABC” – ÉRIKA AFFONSO, CÁSSIA RAQUEL E ANALU PIMENTA.
MÚSICA – “I WANT YOU BACK” - ÉRIKA AFFONSO, CÁSSIA RAQUEL E ANALU PIMENTA.
MÚSICA – “I´LL BE THERE” - ÉRIKA AFFONSO, CÁSSIA RAQUEL E ANALU PIMENTA.
             Antes da execução das canções deste bloco, é feita uma alusão ao surgimento da boneca Barbie negra. Aqui, é relembrado o conjunto vocal “The Jackson Five”, que revelou um dos maiores astros da música “pop” de todos os tempos: Michael Jackson. As três cantrizes dão um “show” de interpretação, levando o público à loucura.
MÚSICA – “I SAY A LITTLE PRAYER FOR YOU” – ROSANA CHAYIN, DEBORAH MARINS, MATEUS RIBEIRO, MARCELO FERRARI, FABIANA TOLENTINO, PEDRO ARRAIS, GIU MALLEN, AMANDA DÖRING e RODRIGO MORURA.
             Nesse bloco, toca-se num tema polêmico, tabu, que se refere às diferentes formas de amor: entre casais héteros, homoafetivos, de ambos os sexos, de “casais de três”, casais "normais", mostrando que “quaquer maneira de amor vale a pena”. É uma cena linda, sem qualquer tipo de apelação ou levantamento de bandeiras, regada a uma linda canção, imortalizada por Dionne Warwick. A cena é encerrada com um trecho de “Over The Rainbow” (Além do Arco-Íris), acredito que como uma alusão ao símbolo do movimento “gay”.
MÚSICA – “MERCEDEZ BENS” – BEL LIMA, ROSANA CHAYIN E JADE FLORES.
             O Festival de Woodstock se faz presente, neste momento, representado por Janis Joplin.
MÚSICA – “AQUELE ABRAÇO” – TODOS.
MÚSICA – “ATRÁS DO TRIO ELÉTRICO” – TODOS.
MÚSICA – “PAÍS TROPICAL” – TODOS.
             Esse é o maior momento de congraçamento com a público, quando os atores se espalham pela plateia e todos formam um grande coral, para cantar os três grandes sucessos, de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jorge Ben Jor.
MÚSICA – “FOI ASSIM” – WANDERLÉA.
             Como o prenúncio de que “the dream is over”, anunciando o final do espetáculo, a plateia fica em estado de êxtase total, ao ver WANDERLÉA entrar, pelo fundo da plateia, vestida tal qual uma rainha, entoando a canção e parando, vez por outra, para cumprimentar um espectador e ser delirantemente ovacionada por todos. Tive a honra de beijar-lhe a mão, ao ter sido escolhido por ela, para ser um dos privilegiados a ficar cara a cara com aquele monumento de mulher, artista e ser humano.
MÚSICA – É PRECISO SABER VIVER – TODOS.
             Uma vez tendo atingido o palco, WANDERLÉA faz um agradecimento aos presentes e fala da importância da década de 60 e do movimento da “Jovem Guarda”. É um texto decorado, ao qual ela, sem conseguir conter a emoção, fugiu, nas duas vezes em que assisti ao espetáculo. Acredito que ocorra em todas as sessões. É uma emoção muito forte, para ser contida e para se obedecer a um texto.
             Em tempo: nesse bloco, ainda se faz uma referência à conquista da Lua, com excelentes imagens.


 



 
 
FICHA TÉCNICA:
 
Roteiro e Pesquisa: Marcos Nauer
Direção: Frederico Reder
Direção Musical: Tony Lucchesi
 
Elenco: Wanderléa, Amanda Döring, Analu Pimenta, André Sigom, Bel Lima, Cássia Raquel, Deborah Marins, Erika Affonso, Fabiana Tolentino, Giu Mallen, Jade Flores, Jullie, Leandro Massaferri, Léo Araújo, Marcelo Ferrari, Mateus Ribeiro, Pedro Arrais, Rachel Cristina, Raphael Rossatto, Rodrigo Morura, Rodrigo Naice, Rodrigo Serphan, Rosana Chayin e Tauã Delmiro 
 
Coreografia: Victor Maia
Figurino: Bruno Perlatto
Cenário: Natália Lana
Iluminação: Daniela Sanchez
Diretora Assistente: Alessandra Brantes

Diretora Residente: Roberta Cid
Videografismo Cenário: Thiago Stauffer
Desenho de Som: Talita Kuroda e Thiago Chaves
Direção de Produção: Juliana Reder e Frederico Reder
Produtores Associados: Tadeu Aguiar e Eduardo Bakr
Produtor Executivo: Leandro Bispo
Produtor Assistente: Allan Fernando, Joelma Di Paula e Alex Felippe
Diretor Executivo: Léo Delgado
Gerente de Marketing: Maurício Tavares
Direção de Arte: Bárbara Lana
Assistente de Direção Musical: Alexandre Queiroz
Operador de Som: Talita Kuroda e Thiago Chaves
Figurinista Assistente: Teresa Abreu
Assistente de Figurino: Karoline Mesquita
Estagiária de Figurinista: Tayane Zille
Estagiária de Figurinista: Jemima Oliveira
Estagiária de Figurinista: Gabriela Silva Fernandes
Coreógrafa Assistente: Clara Costa
Dance Captain: Rodrigo Morura
Cenógrafa Assistente: Marieta Spada
Assistente de Cenografia: Guilherme Ribeiro
Camarins: Vivi Rocha e Kaká Silva
 


 
 
 


SERVIÇO:
 
Temporada: de 1º a 18 de dezembro de 2016.
Local: Theatro Net Rio – Sala Tereza Rachel.
Endereço: Rua Siqueira Campos, 143 – Sobreloja – Copacabana. (Shopping Cidade Copacabana).
Dias e Horários: 5ª e 6ª feira, às 21h; sábado, às 18h30min e 21h30min; domingo, às 20h.
Valor do Ingresso (com direito a meia-entrada): 5ª e 6ª feira = R$160,00 (plateia e frisas); R$120,00 (balcão I) R$50,00 (balcão II); sábado e domingo = R$180,00 (plateia e frisas); R$140,00 (balcão I) R$50,00 (balcão II)
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 200 minutos.
Capacidade do Teatro: 622 lugares.
Telefones do Teatro: (21) 2147-8060 / 2148-8060.
Vendas pela internet:  www.ingressorapido.com.br ou pelo aplicativo do Ingresso Rápido.
Vendas pelo telefone: Informações e Compra Ingresso Rápido - (11) 4003-1212.
Atendimento pós-venda Ingresso Rápido - (11) 4003 – 2051.
Horário de Funcionamento - Todos os dias, das 10h às 18h.
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 2ª feira a domingo, das 10 às 22h, inclusive feriados.
Reservas para grupos: Beatriz Barcelos- beatrizbarcelos@brainmais.com 
Somente pelo telefone: (21) 96629-0012.
Horário de atendimento - De 2ª feira a sábado, das 14h às 21h.
Formas de pagamento: Aceitamos todos os cartões de crédito, débito, vale cultura nas bandeiras (Alelo & Ticket) e dinheiro. Não aceitamos cheques.
Acessibilidade
Estacionamento no Shopping, entrada pela Rua Figueiredo Magalhães, 598.
 



 



Foram mais de três horas de total enlevo e emoção. O chão parece nos faltar, assim como o ar. As lágrimas não cansam de rolar pelas nossas faces e o coração é testado, cena a cena, minuto a minuto.

             Esse é o espetáculo “60! DÉCADA DE ARROMBA – DOC.MUSICAL”, que fica em cartaz, no Theatro NET Rio, até 18 de dezembro (2106), prometendo voltar no início de 2017. É um espetáculo para ficar anos em cartaz, sempre com lotação esgotada, por ser um magnífico trabalho de pesquisa e de formiguinhas, que se uniram para atingir um padrão de qualidade que não fica nada a dever aos musicais que estou acostumado a assistir no exterior.

             Vida longa ao espetáculo!!!



 


 
(FOTOS: ROBERT SCHWENCK – estúdio –

e DANIEL SEABRA / SERENDIPITY INC. – cena.)