sábado, 30 de setembro de 2017


A SALA LARANJA:

NO JARDIM DE INFÂNCIA
 

(TRANSFERINDO

FRUSTRAÇÕES E FRACASSOS.

ou

A RADIOGRAFIA DE UMA
SOCIEDADE DOENTE.

ou

COMO SER RIDÍCULO E FRÍVOLO
EM POUCAS LIÇÕES.)

 
 

            Sabe aquela peça que provoca muito riso, muitas gargalhadas e o espectador sai do Teatro - quando não ocorre ainda no decorrer da peça - se perguntando: ESTOU RINDO DE QUÊ? EXISTE GRAÇA NO PATÉTICO, NO RIDÍCULO?

            Às vezes um riso não expressa apenas alegria; paradoxalmente, por trás dele, pode estar uma profunda tristeza; é um riso nervoso, de constatação de uma situação quase de impotência, diante do patético que as pessoas expressam em suas loucuras, das quais, normalmente, não se dão conta.

Sim, a ideia que fica, ao assistir o fantástico espetáculo “A SALA LARANJA: NO JARDIM DE INFÂNCIA”, em cartaz no Teatro Cândido Mendes (VER SERVIÇO.) é a de que a humanidade enlouqueceu de vez, que as pessoas perderam, totalmente, o senso de ridículo, de tolerância, de companheirismo, de cumplicidade, de solidariedade, de coletividade, de urbanidade, de respeito e amor ao próximo... E acho que ainda ficou alguma coisa de fora. Mas sou levado a pensar que estamos perto disso...

Ultimamente, os “hermanos” argentinos têm me proporcionado prazeres indescritíveis, com grandes textos teatrais, que, graças aos DEUSES DO TEATRO, são garimpados por diretores e produtores brasileiros, quando não atores e atrizes, que os trazem, para serem montados aqui.

Que excelente safra de dramaturgos portenhos tem surgido nos últimos anos! Estou pensando, seriamente, em dar um pulinho a Buenos Aires, para ver, “in loco”, mais alguns desses ricos trabalhos. Fiquei sabendo que lá, no momento, está difícil escolher o que ver, de tantas excelentes ofertas.

O grande texto de “A SALA LARANJA...” chegou até nós, trazido pelo ator e produtor, ROBSON TORINNI, que adquiriu seus direitos de montagem no Brasil.
 
 


Esta “A SALA LARANJA...” foi escrita por uma dramaturga, VICTORIA HLADILO, e, para os que não têm contato com o universo do qual a peça trata ou para aqueles que não estão envolvidos, diretamente, com a educação escolar, em sala de aula, pode parecer uma grande “viagem” da escritora, no auge de sua imaginação criativa, o que ela escreveu, entretanto, como professor, que abandonou o magistério há pouco mais de um ano, após 47 de dedicação a ele, quase exclusiva, à difícil e sublime tarefa de educar, das primeiras séries ao nível superior, como eu, ela nada mais fez, sem exagerar nas tintas, do que trazer, para o palco, a triste realidade que se observa nas reuniões escolares, potencializada quanto menores são as crianças, os pobres alunos, verdadeiras armas de sedução e exercício do poder, por parte de seus pais doentes.

Aquilo a que se propõe a autora está perfeitamente colocado em cena. É óbvio que a ficção dá liberdade à criatividade, porém tudo, ainda que possa parecer extrapolar os limites do tolerável, ali, é verdadeiro. E representado da forma mais magistral possível, por um excelente elenco, que parece ter sido escalado milimetricamente, a dedo, para atuar.

O texto é tão magnífico, que, a peça - no original, “La Sala Roja” - estreou, em Buenos Aires, em 2013, e lá continua em cartaz, já tendo sido vista por mais de dez mil espectadores resultantes de apresentações para públicos pequenos de até 80 pessoas por sessão. O espetáculo deve, mesmo, ser montado em pequenos ambientes, por ser intimista e para dar, ao público, a impressão de que também participa daquela reunião, como é a proposta dos atores, em cena. No Teatro Cândido Mendes, o número de espectadores ultrapassa, apenas um pouquinho, da casa dos 100.


 



 
SINOPSE:
 
 
Em uma reunião de pais, num jardim de infância, um grupo de adultos “sem-noção” convive, forçadamente, para coordenar e resolver todos os detalhes que envolvem seus filhos, entre 4 e 5 anos, na escolinha. Na verdade, todos se aturam; ninguém se aceita. Todos se julgam superiores e donos da verdade.
 
Defender as necessidades dos filhos é a desculpa para expressar suas reivindicações individuais e impor suas opiniões como verdades. Todos se arvoram a ser os “sabe-tudo”, a ter a melhor solução para todos os males.
 
Desejos secretos e frustrações começam a aparecer, tornando a reunião uma disputa de ego e poder.
 
No final, e durante toda a ação também, demonstram que só querem o melhor para si. Uma lição do que há de pior, em termos de egocentrismo.
 


 
 

            Quem tenta conduzir a convocada reunião, antes da entrada das crianças, para mais um dia letivo, é INÊS (ISABEL CAVALCANTI), a professora da turminha, uma vez que RENATA, a diretora, está presa no trânsito, vítima de um dos tradicionais “engarrafamentos” cariocas, e não consegue chegar, para participar do encontro, embora monitore tudo, por telefone, com INÊS. A diretora não aparece em cena.

            Como acontece, via de regra, muitos pais, pelos mais distintos motivos, deixam de comparecer a esse tipo de reunião, quando convidados, e os que vão só levam problemas, a maioria pueris, e provocam tempestades em copos d’água. Não é diferente aqui. Apenas marcam presença os pais de quatro das crianças (Não se sabe o número exato das que compõem a turma, creio eu, embora, normalmente, gire em torno de doze.), que são: VERÔNICA (DANIELA PORFÍRIO) e DIEGO (RAFAEL SIEG), pais de PEDRINHO; MARTIN (ROBSON TORINNI), pai de VALENTINA; VERÔNICA (RENATA CASTRO BARBOSA), mãe de ELISEU; e GABRIELA (PRISCILLA BAER), mãe de FÉLIX, esta pela primeira vez naquele “hospício”; não como “visitante”, mas, também, como “interna”.

            É comum, nesse tipo de reunião, que quem a conduz proponha, aos pais, atividades lúdicas, motivacionais, dinâmicas de grupo, com o propósito de uma socialização, de que todos se conheçam melhor e fiquem mais relaxados e à vontade, para a participação no evento, mas o tiro saiu pela culatra. Tudo parece tão ridículo e patético, atingindo as raias do surreal, principalmente quando percebemos que a professora trata aqueles marmanjos como crianças. Depois de algum tempo, até que entendemos o porquê. Melhor teria sido não entender, já que seria uma única louca, e não um bando de.

            Se o objetivo da reunião é agregar, chegar a acordos, para resolver pequenas e ridículas pendengas, cada um, movido por um egoísmo brutal, enxergando só o próprio umbigo e seus interesses pessoais, procura “puxar a sardinha para a sua brasa”, brasa esta que já chega bem atiçada, e o resultado é um verdadeiro caos.

            É impressionante ver quão impossível é conseguir manter que aqueles seres, ditos “adultos”, e, consequentemente, esperados praticantes da boa educação e do bom senso, se comportam de forma animalesca, totalmente fora dos padrões de comportamento que seria esperado por parte de adultos civilizados, todos pertencentes a uma classe social de média para alta, igualando-se – se não for pior – ao comportamento de criancinhas!

              A primeira grande boa surpresa da peça se dá, quando, ao entrar no minúsculo espaço do Teatro Cândido Mendes, o público se depara com uma réplica PERFEITA de uma sala de aula de um Jardim de Infância, onde se dará a tal reunião, cujo belíssimo trabalho de cenografia, de DINA SALEM LEVY, não omitiu um mínimo detalhe sequer. Conheço bem essa ambientação.

Para se acomodar em seus lugares, os espectadores têm de cruzar o espaço cênico, sentindo-se, a partir dali, parte integrante da peça, sem que esta seja interativa. O próprio cenário já propõe o ridículo, que permeará o espetáculo, até o ápice, na última cena, quando, cumprindo determinações de RENATA, por telefone, os pais, tendo INÊS “arranhando” um violão, ensaiam uma canção de “boas-vindas”, para os rebentos, que nada mais é do que “Meu Pintinho Amarelinho”, com direito a uma ridícula coreografia. Já viram algo mais patético?
 
 
 
 

Sem falar que são acomodados, esses “responsáveis”, em cadeirinhas infantis e têm de fazer suas “produções artísticas” sobre pequenas mesinhas, além de beber água ou café nas canecas de plástico, coloridas, de seus respectivos filhos, marcadas com uma etiqueta, com o nome de cada um. “Tudo pela ordem e organização!”.

LUIZA FARDIN assina os corretos figurinos, atentando, cuidadosamente, para as características, menos físicas e mais interiores, de cada personagem, evidenciando-lhes seus caracteres.

            Uma montagem como esta, como foi excelentemente concebida, por VÍTOR GARCIA PERALTA, dispensa parafernálias de iluminação, o que levou, corretamente, DANIEL GALVÁN a fazer uso de uma luz só, única, da primeira à última cena, forte e branca, como que para não deixar nenhuma sombra, para que o público pudesse enxergar tudo o que se passa naquele “manicômio”, travestido de sala de aula.

            Coisa das mais raras é ver um diretor emplacar, simultaneamente, numa única cidade, três sucessos, de púbico e de crítica (”O Garoto da Última Fila”, “Euforia” e “A SALA LARANJA: NO JARDIM DE INFÂNCIA”), e isso VICTOR GARCIA PERALTA consegue, não por outro motivo, que não seja o seu incomensurável talento. PERALTA é um dos diretores mais sensíveis e criativos que conheço. É quase possível identificar um trabalho seu, de direção, antes de se saber que levou o dedo dele, por algumas características presentes em quase todos os seus trabalhos. Ele capta, do papel, todas as intenções dos autores dos textos e busca maneiras práticas e marcações excelentes, para passar essas verdades, sem falar no trabalho de ajuda aos atores, na composição dos personagens. Uma direção dinâmica é o que se vê em cena.

Na “SALA LARANJA...”, aproveitando-se da geografia do espaço do Cândido Mendes, faz uso das escadas que separam os setores da plateia, levando os atores a subir e descer por elas, aproximando-se das pessoas e criando uma intimidade maior com elas. Esse detalhe funciona muito bem.

Uma observação bem interessante: no dia em que assisti à peça, que até gostaria de rever, VICTOR estava presente, como espectador, e não parava de gargalhar, sinal de aprovação do próprio trabalho, no que era seguido por todos os presentes. Não houve quem saísse do Teatro insatisfeito. Pelo contrário, a plateia se divertiu à farta. Espero que, depois, possam ter refletido sobre o que as fez rir tanto.

VICTOR GARCIA PERALTA é um dos nossos melhores diretores. Precisa se naturalizar brasileiro (Brincadeira; nosotros te adoramos!)

            Uma boa coxia se projeta no palco. É isso que vemos no brilhante trabalho de equipe de um elenco em que não há expoentes, não se pode destacar alguém, visto que todas as atuações se equivalem.
 
 
 
 


A princípio, pensei que o grande destaque seria RENATA CASTRO BARBOSA, que abre a peça e que, como os demais colegas de cena, dá um “show” de interpretação. Mas, depois, percebi que era só por conta da força de sua personagem, muito marcante, uma mulher totalmente frustrada, preconceituosa, julgadora da moral alheia, sem olhar para o próprio rabo, autoritária, que não se cansa de repetir que é a “representante do grupo”, como se aquele “título” lhe rendesse grande “status”. Fala com extrema rapidez, estressadamente, o tempo todo, sem querer permitir que os outros também expressem seus pensamentos. Quando, por pouco tempo, permanece calada, continua atuando, por gestos, caras e bocas, todos em forma de deboche e pouco caso dos demais.

Depois, com a chegada dos outros personagens e o início da atuação de cada um, na trama, percebi o peso de todos e o quanto de excentricidades, fraquezas e defeitos cada um carregava, sem me definir pela(s) pior(es) atitude(s). Todos os personagens são bastante diferentes, um do outro, tendo em comum, apenas, o fato de serem pessoas disfuncionais, e cada ator/atriz desempenha sua função com a maior dignidade e competência. A nossa desaprovação e a vontade de invadir o espaço cênico e partir para uma agressão física, para dar um basta àquela sandice, acontece, de verdade, graças à “verdade” que cada um passa.

            Agradou-me, sobremaneira, o trabalho de ROBSON TORINNI, como MARTIN, pela transformação de seu personagem, totalmente inesperada e que chega a chocar o público. O personagem surta de tal forma, até chegar ao domínio da situação, pelo emprego de ameaças e, até, da força bruta, física. Amigo de infância de GABRIELA, a novata no grupo, ele guarda um segredo da “amiga” (Não vou dar “spoilller”, mas deixo uma pista: tem a ver com a caderneta de vacinação de FÉLIX, filho de GABRIELA, que é exigida na matrícula da criança, sendo que GABRIELA é vegana.), que a faz “comer na palma de sua mão”, do mesmo modo como ele também domina INÊS, que passa a ser um joguete nas suas mãos. Um belo trabalho de composição de personagem.
 
 
 

            DANIELA PORFÍRIO representa, muito bem, VERÔNICA, uma mulher de personalidade frágil, totalmente insegura, sempre desconfiada de que é traída pelo marido, histérica e uma das mais revoltadas, por sentir que seu PEDRINHO é discriminado e sofre “bullying” na escola, por parte dos colegas e da professora. Não se conforma com os votos do marido, sempre contrários aos dela e coincidentes com os das outras mulheres.

            DIEGO, RAFAEL SIEG, está ali, visivelmente, contra a sua vontade, não dando muita, ou nenhuma, importância à reunião, até que se vê obrigado a se incorporar ao grupo. Ele a mulher não se importam de discutir a relação em público, expondo a intimidade do casal, a “roupa suja”, a quem quiser ver e sentir seu cheiro azedo.

             INÊS, a professora, é uma perfeita idiota, que não está preparada para ser jogada às feras. Age com extrema inoperância, tentando pôr panos quentes e apagar os focos de incêndio, sem que os panos tenham sido aquecidos e sem ter mangueiras de bombeiros nas mãos. Propõe ridículas atividades de dinâmica de grupo, como a construção de um presente para a turma, com a utilização de sucatas. Isso vai gerar a feitura de um elefante meio amorfo. Ela lembra, insistentemente, aos “artistas”, que todos deveriam se empenhar em fazer o melhor possível, pois havia uma disputa entre as turmas e os pais de uma outra classe estavam liderando as preferências, após a construção de um magnífico “foguete”. Durma-se com um barulho desses!!!
 
 
 

Sua tensão vai aumentando, à medida que percebe que a diretora não chegará, para assumir aquela desordem, e a ela caberá tão árdua função. Não tem a menor ideia da dimensão de seus atos, ao tratar aquelas raivosas criaturas como crianças. Não sabe se deve se preocupar com a reunião, com um problema no sistema hidráulico da escola (um cano estourou) ou em atender às determinações, a distância, transmitidas pela superiora, por telefone. O desespero vai tomando conta da personagem, até se sentir refém, nas mãos vingativas de MARTIN. Um sensacional trabalho de ISABEL CAVALCANTI.

Para finalizar a apreciação do elenco, falta falar do ótimo trabalho de PRISCILLA BAER, que interpreta GABRIELA, uma médica, vegana, a qual pratica uma medicina natural, por métodos não ortodoxos e convencionais, como partos na banheira e uso de florais, que ela mesma utiliza, durante a peça, mormente nos momentos de maior tensão. Pode-se dizer que, por fugir aos padrões tradicionais, exagerando um pouco, sua personagem ganha tons de caricata, sem chegar a tal. Basta dizer que o toque de seu celular é um mantra indiano. E quando ela pede a palavra, para distribuir livrinho de culinária “natureba”, tentando doutrinar os presentes a seguir uma “alimentação saudável”? Conseguem visualizar a cena?
 
 
 


            Aqueles pais e mães brigam por tudo, nada de merecida relevância.

Qual deveria ser a “brincadeira” da dinâmica de grupo? MARTIN vence a guerra, com a proposta da “brincadeira” do “cadáver esquisito”. Veem alguma coincidência?

Quem deveria entregar o presente ao aniversariante do dia: uma das outras crianças ou a própria professora? E isso rende...

Como deveriam ser as festas dos aniversariantes do mês? E isso rende...

            E quanto ao cumprimento do uso do uniforme? Caberia um dia livre para cada criança ir vestida como bem entendesse, inclusive com fantasias? E isso rende...

            Os pais devem continuar entrando, na sala de aula, para buscar seus filhos ou não? As justificativas, que se opõem, são de toda ordem e algumas ridículas. E isso rende...

            Como deverá ser a apresentação artística das crianças, na festa de final de ano? Sugestões totalmente diferentes umas das outras. E isso rende...

            Que canção escolher para ensaiar, com o objetivo de dar “boas vindas” às crianças? E isso rende... Até que “O Pintinho Amarelinho venceu, embora com magra margem de vantagem.
 
 


            Enfim... Em nenhum momento, alguém levantou algum questionamento quanto ao método de ensino empregado pela escolinha. Em nenhum momento, alguém se interessou em saber como ia o rendimento e o desenvolvimento de sua criança na turma. Em nenhum momento, alguém se lembrou que, ali, deveriam estar preparando suas crianças para a vida, para a prática da cidadania.

            Será que os espectadores pensaram no futuro daquelas pobres crianças, filhas de quem são?

            Não posso encerrar estes escritos sem falar de um momento em que DIEGO, “sem querer” (Será?) derruba uma caixa de brinquedos, que se espalham por toda o chão da sala. Da ordem, surge a desordem.

Também não posso omitir o momento em que DIEGO e MARTIN, que guardam rusgas do passado, chegam às vias se fato e rolam, brigando, pelo chão.
 
 


Menos ainda, omitir que os pais, que deveriam dar o exemplo, fazem a maior bagunça, na sala, e são “obrigados” pela Tia INÊS, a arrumá-la, antes da entrada das crianças.               


 

 

 
FICHA TÉCNICA:
Texto: Victoria Hladilo
Tradução: Elisa Brites, Robson Torinni e Victor Garcia Peralta
Revisão de Texto: Carol Herling e Peu Araújo
Direção: Victor Garcia Peralta
 
Elenco : Renata Castro Barbosa, Isabel Cavalcanti, Priscilla Baer, Daniela Porfírio, Rafael Sieg e Robson Torinni
 
Cenário: Dina Salem Levy
Figurino: Luiza Fardin
Iluminação: Daniel Galván
Direção de Movimento: Cristina Amadeo
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Sonoplastia: Joel Duarte Júnior
Designer Gráfica: Danielle V. Cardoso
Assessoria de Imprensa: Equipe D Comunicação
Fotos: Júnior Marins
Cenotécnica: Fátima de Souza
Maquiagem (fotos): Nani Gama
Assistente de Maquiagem: Alline Katyuza
Operador de luz: Pedro Paulo
Operador de Som e Contrarregra: Joel Duarte Jínior
Direção de produção: Deborah Aguiar e Robson Torinni
Produção Executiva: Robson Torinni e No Problem Produções
Administração e Assistente de Produção: Lis Maia
Estagiária de produção: Carol Marques
Assessoria Jurídica: Marcelo Martins
Produtores Associados: Robson Torinni e Sandro Fernandes
Idealização: Elisa Brites, Robson Torinni e Victor Garcia Peralta
Realização: REG’S Produções Artísticas Ltda.
 

 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 01 de setembro a 29 de outubro de 2017.
Local: Teatro Cândido Mendes
Endereço: Rua Joana Angélica. 63 – Ipanema – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2525-1000
Dias e Horários: Às 6ªs feiras e sábados, às 20h30min; aos domingos, às 20h
Duração: 70 minutos.
Valor do ingresso: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia).
Indicação Etária: 12 anos.
 

 
 

            Sim, “seria cômico, se não fosse sério”.

Seria cômico, se não fosse triste e deplorável.

Seria cômico, se não fosse apenas ficção...

            Não percam, por nada, este excelente espetáculo!

Riam bastante, mas não deixem de refletir sobre as suas atitudes do dia a dia, sobre as suas salas laranjas!
 
 

 
 




FOTOS: JÚNIOR MARINS.)
 
 
 
 

 



 

 

 





 

 

 

 



 

 

 

 

 

 





 

 

 


 
 

quarta-feira, 27 de setembro de 2017


OS SETE GATINHOS

 

(DA ARTE DE SE FAZER DE UM TEXTO RUIM UM EXCELENTE ESPETÁCULO.)

 

 

 

            Que me perdoem as “viúvas” de NELSON RODRIGUES, mas vou começar pela mesma ladainha. Conheço dois sujeitos com o mesmo nome: um cronista, outro dramaturgo. Aquele me encanta, eu o adoro; este eu abomino, com algumas raras concessões.

            Sim, já perdi a conta de quantas vezes já disse, inclusive aqui, que não gosto das peças de NELSON, sem medo das pedradas que poderão me dar. Elas nunca me atingirão, pois estou muito bem protegido daqueles que, por gosto pessoal, idolatram o dramaturgo e dos que, para não ficarem “fora da onda” embarcam nessa viagem. Não sendo “maria-vai-com-as-ouras”, defendendo a minha personalidade e coerência, pelo que entendo por ARTE, recuso-me a “concordar” com A, B ou C – ou o alfabeto inteiro, que seja -, só porque fazem parte da intelligentsia”, dos intelectuais verdadeiros ou falsos, aos quais nada devo, com as minhas opiniões, e que amam a obra dramática rodriguiana. Cada um gosta do que quiser e eu respeito o gosto alheio, mesmo que o ache duvidoso.

            Num rápido balanço, das sua 19 peças escritas, eis o meu saldo: Gosto de “Vestido de Noiva”, “Dorotéia” e “O Beijo No Asfalto”. Não gosto das outras, porém até tolero algumas, como “Anti-Nelson Rodrigues”, “Senhora dos Afogados” e “Perdoa-me por me traíres”. Definitivamente, não gosto das outras e, por duas, tenho verdadeira aversão: “Álbum de Família” e “Os Sete Gatinhos”, muito embora NUNCA me recuse a assistir a qualquer peça escrita por ele.
  









 



            O que me move a escrever sobre esta montagem de “OS SETE GATINHOS”, em cartaz no Teatro da CAIXA Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.) não é, obviamente a qualidade do texto, e sim o trabalho teatral, em si, da mesma forma como fui capaz de escrever sobre “Álbum de Família”, numa brilhante concepção do Grupo Transanteontem, em abril de 2016, no Teatro Poeira.

Naquela ocasião, utilizei, como subtítulo “QUANDO O TEXTO É COADJUVANTE”. Se não me importasse em ser repetitivo, poderia usá-lo aqui, já que ocorre a mesma coisa.

            Sim, nesta brilhante montagem, dirigida por BRUCE GOMLEVSKI, o texto, para mim, é mero, “meríssimo”, coadjuvante e só serve para que o competente diretor, fazendo uso de seu talento de ótimo encenador, tantas vezes já comprovado, além do ótimo ator que é, obedecendo, logicamente, à cabeça insana do autor do texto, construísse um espetáculo de grandes qualidades, como espetáculo teatral.

            Mesmo que fosse uma outra peça, que não merecesse a minha ocupação em escrever sobre ela, seria quase certo fazê-lo, só para ter a oportunidade de registrar, com muita alegria, a reinauguração de um dos melhores Teatros do Rio de Janeiro, que já abrigou tantos sucessos, de público e de crítica, e que se manteve fechado por alguns anos, privando o carioca de mais uma sala de espetáculos, o que, infelizmente, vem ocorrendo com uma certa frequência nos últimos anos, ainda com outras idênticas ameaças por vir. Obrigado, DEUSES DO TEATRO!!!

            Talvez a peça tenha sido escolhida para a reinauguração do Teatro que leva o nome de seu autor e/ou, também, para se comemorar os 60 anos de sua escritura, em 1957.




            A esta altura, já devo ter perdido alguns leitores, mas não abro mão das minhas convicções e, para não perder mais, não me furto a dizer que reconheço alguns, poucos, aspectos interessantes no texto, algumas falas até brilhantes, no meio de um amontoado de sandices. Sobre o texto, é só o que tenho a dizer.

            BRUCE, evidentemente, um admirador da obra de NELSON, captou, com maestria, todas as intenções do autor e valorizou cada uma delas. Potencializou sua (do NELSON) loucura, com geniais “sacadas” de direção e soube, como ninguém, inserir cada ator/atriz na pele de seu personagem, o que torna a montagem excelente, como já tive a oportunidade de dizer.

            Sim, ali está, exatamente, o pensamento de NELSON; ali, está reunida uma galeria de gente doente, carente, demente e outros “-entes”. BRUCE levou cada um ao seu patamar maior de aproximação, que a ficção permite, com a realidade.

             
 
 

 
SINOPSE:
 
 
A peça conta a história da família NORONHA e, em especial, de SILENE (LOUISE MARRIE).
 
Ela é a caçula das cinco filhas de DONA ARACY (ALICE BORGES) e SEU NORONHA (TONICO PEREIRA).
 
NORONHA, que só trata a mulher por GORDA, é um contínuo da Câmara de Deputados e mora no Grajaú com a esposa e suas filhas AURORA (KAREN COELHO), HILDA (INGRID GAIGHER), DÉBORA (PATRÍCIA CALLAI), ARLETE (LUIZA MALDONADO) e SILENE, de apenas 16 anos, a caçula, motivo que a faz ser a mais mimada de todas e, por ser a única "pura", ter o direito a uma boa educação, em um colégio interno.
 
Mas, logo, a vida deles toma um rumo diferente, quando a garota é acusada, no colégio, de matar, a pauladas, uma gata grávida, de sete gatinhos.
 
A família NORONHA parece tão normal quanto qualquer outra, mas, por trás das aparências, esconde segredos inconfessáveis.
 
As quatro filhas mais velhas se prostituem, para garantir a castidade e a boa educação de SILENE.
 
A partir do incidente ocorrido na escola, descobre-se que a jovem não é pura como todos pensam.
 

 
 
 


            A montagem é da CIA TEATRO ESPLENDOR, fundada e dirigida por BRUCE GOMLEVSKY, que, pela primeira vez, não atua num elenco de uma peça apresentada por sua CIA.

            A título de esclarecimento, transcrevo um trecho do “release”, enviado por JSPONTES, assessoria de imprensa: “Aqui, em ‘OS SETE GATINHOS’, as bases da tragicomédia de NELSON RODRIGUES estão na relação virgindade / prostituição - a família apodrece dentro da ordem capitalista, prostituindo-se, cada vez mais, para conseguir mais dinheiro, ao mesmo tempo que é devorada pela nostalgia da pureza, de quando as quatro filhas prostitutas eram virgens”.

            Se me propus a escrever sobre uma peça de que não gosto – do texto, que fique bem esclarecido -, é porque apreciei muito da leitura feita pela direção, da excelente atuação do elenco e dos elementos técnicos que envolvem a montagem.
 
 
 
 


            Dentro do que propõe o texto, não poderia ser mais expressivo o fantástico cenário, de FERNANDO MELLO DA COSTA, que “apresenta uma casa de dois andares, formada por praticáveis. Todos os cômodos estão expostos ao público. Alguns elementos realistas, como cadeiras, algum mobiliário e variados objetos amontoados, compõem todos os ambientes, que exalam a decadência da família”. É, exatamente, no final da descrição, extraída do “release”, que se concentra a excelência do trabalho de FERNANDO. Ele consegue, com sua concepção cenográfica, construir um ambiente que cheira a algo podre, no reino do Grajaú.
 
 


            CAROL LOBATO, tantas vezes premiada, acertou na escolha do que utilizou para vestir os personagens, de acordo, exatamente, com suas características, físicas e psicológicas, obedecendo, obviamente, aos costumes da época em que se passa a ação.

            WAGNER PINTO, com seu projeto de iluminação, também se incorporou ao espírito da peça e nos apresenta uma luz que valoriza a cenografia e põe em destaque, sem abusar da intensidade de luz, o que deve ser destacado.

            Não encontrei qualquer falha no trabalho de direção, de BRUCE GOMLEVSKI, e creio que um de seus maiores acertos foi optar por uma trilha sonora original, executada, ao vivo, por dois músicos: FELIPE COTTA e ANDRÉ SILVESTRE. Achei genial a ideia de ambos atuarem na sonoplastia, produzindo sons marcantes, que pontuam algumas cenas inteiras ou momentos especiais destas.
 



            A ideia de utilizar o espaço da plateia, em algumas cenas, também é bastante interessante, ainda que não original. Mas, quando feito com boas justificativas, não há espaço para se discutir originalidade. Ponto positivo, também, para a iniciativa de fazer as cenas iniciais no proscênio, com o cenário ainda não à mostra.

            O elenco se comporta com uma grande homogeneidade, ninguém fora de seu personagem, com destaques para TONICO PEREIRA e ALICE BORGES.

            ALICE, que tem uma veia cômica apurada, compôs uma GORDA que sabe até onde pode ir, sem se tornar caricata. Um de seus maiores méritos é atuar fora da cena. Se repararmos na atriz, enquanto está no palco, a veremos, certamente, interpretando o tempo todo, mesmo que não participe, diretamente, da cena. Sua submissão e conivência, paradoxalmente, arrancam risos da plateia e, até, algumas gargalhadas. Uma bela composição!!!
 
 
 
 

            Quanto a TONICO, vale a pena ir ao Teatro CAIXA Nelson Rodrigues só para vê-lo atuando. É, sem a menor dúvida, um dos nossos maiores atores, reconhecido pelo público e pela crítica. É daqueles atores que agradam a púbicos completamente diferentes, como os da TV e os do TEATRO. Muito respeitado e querido por seus pares e amigos, nos quais me incluo, deveria ser ele o grande homenageado, com esta montagem, por toda a sua contribuição ao TEATRO BRASILEIRO, tendo atuado em quase 50 produções teatrais, fora os trabalhos em outras mídias. O seu NORONHA é perfeito, no ponto (sem trocadilhos). 

Não falta muito para que eu me veja na obrigação moral de chamá-lo de “SEU TONICO”, como forma de reverência, da mesma maneira como trato as grandes damas do TEATRO: DONA FULANA
 
 

 

 
 

 
FICHA TÉCNICA: 
 
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Bruce Gomlevsky
 
Elenco / Personagem: 
Alice Borges / Dona Aracy
Tonico Pereira e Lourival Prudêncio (substituto) / Seu Noronha
Karen Coelho / Aurora
Louise Marrie / Silene
Luiza Maldonado / Arlete
Patrícia Callai / Débora
Ingrid Gaigher / Hilda
Gustavo Damasceno / Bibelot
Jaime Lebovitch / Seu Saul
Luiz Furlanetto / Dr. Bordalo
Thiago Guerrant / Portela
 
Músicos: Felipe Cotta e André Silvestre
Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurino: Carol Lobato
Iluminação: Wagner Pinto
Direção de Produção: Luiz Prado
Realização: LP ARTE Produções
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany
 

 
 
 


 
SERVIÇO:
Temporada: De 14 de setembro a 29 de outubro.
Local: Teatro da CAIXA Nelson Rodrigues.  
Endereço: Avenida República do Chile, 230 – Centro – Rio de Janeiro.  
Telefone: (21) 3980-3815.
Dias e Horários: 5ª e 6ª feira, às 20h; sábado e domingo, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$40,00 (plateia) e R$30,00 (balcão). Meia entrada para quem fizer jus ao benefício.
Duração do Espetáculo: 90 minutos.
Capacidade: 409 lugares.
Gênero: Tragicomédia.
Classificação Etária: 16 anos.
 


 
 
 
 


            Embora eu sempre pregue a minha máxima, aceita por muitos, de que um bom espetáculo começa por um bom texto, vejo-me, outra vez, e tendo NELSON RODRIGUES envolvido, na obrigação de reconhecer que há exceções – muito raras, é verdade – e esta montagem de “OS SETE GATAINHOS” é uma delas.

 
         Recomendo, com o maior empenho esta montagem!

 

 

 

(FOTOS: DALTON VALÉRIO.)