quinta-feira, 17 de novembro de 2022

“BRINQUEDOS

CONSERTADOS”

ou

(UMA JUSTA, 

E MERECIDA, HOMEGAEM A UM

HOMEM 

DE/DO TEATRO.)




        


       Não seria preciso repetir que sou muito cético, com relação ao TEATRO INFANTOJUVENIL, e motivos, para isso, não me faltam, visto que, a despeito de as produções, nesse nicho, nos últimos anos, virem subindo de nível, ainda a maioria, infelizmente, é de péssima qualidade, em todos os sentidos, o que é um verdadeiro desastre, um desserviço, já que são montagens destinadas a seres em formação, os quais poderão, ou não, estar nas plateias do futuro. É óbvio que, depois de terem assistido a uma sucessão de espetáculos ruins, sofríveis ou péssimos, as crianças, que são a plateia mais exigente e espontânea que existe, nas suas reações, começam a “pegar ranço” do TEATRO, perdendo todo e qualquer interesse por ele. E não merecem elas nenhum tipo de censura. Estão certíssimas. É uma pena que, por conta disso, fiquem, cada vez mais, “coladas” às telas e telinhas, que também, em excesso, são nocivas para a sua formação humana e intelectual.

 

 



   Recebo muitos convites para espetáculos destinados aos pequenos, sendo que, muitas vezes, quando assisto a alguns, percebo que podem, e devem, ser vistos e prestigiados pela família inteira. Alguns contêm um certo grau de complexidade, de hermetismo, e não atingem, “de primeira”, o seu objetivo, uma vez que as crianças deixam de entender algumas coisas. Mas, por outro lado, isso pode não ser considerado um fator negativo, porque faz com que os pais, os adultos que acompanham os “baixinhos” (Baixou a “entidade” Xuxa. Momento descontração.), possam explicar, aos miúdos, o que eles não entenderam e, assim, fica fortalecido o elo do diálogo entre aqueles e estes. Não é o caso de “BRINQUEDOS CONSERTADOS”, que é uma peça bastante simples, fácil de ser entendida, que parece mostrar o óbvio, o previsível, entretanto, podem as crianças não perceber – e cabe aos adultos fazer a complementação –, existem mensagens subjacentes, no texto, nas quais o autor pode até não ter pensado, quando o escreveu. No caso da encenação ora analisada, acho que ele pensou, sim, porque a dramaturgia não foi criada por qualquer um. É produto da prodigiosidade de um homem de/do TEATRO, um dos artistas mais respeitados do TEATRO BRASILEIRO, no chamado “TEATRO de adultos”. Falo de um gênio, infelizmente falecido em março de 2019: DOMINGOS OLIVEIRA, que, além de dramaturgo, foi diretor de TEATRO, ator e um dos nossos maiores cineastas.

  


 

     Para não me estender muito, não falarei do grande DOMINGOS, como autor de textos para o TEATRO, cinema e televisão. Não falarei do DOMINGOS grande diretor de TEATRO. Também não é o consagrado cineasta que me interessa aqui. Estou fixado no DOMINGOS, pai da Mariana (Maria Mariana, atriz, escritora e roteirista.), que foi a fonte de inspiração (para) ou a “mola propulsora” deste texto, escrito em 1977, quando a pequena tinha apenas 4 anos de idade. DOMINGOS só escreveu duas peças infantis, tendo sido “BRINQUEDOS CONSERTADOS” a primeira, fruto de seu desejo de se comunicar com a filha. Trata-se de uma adaptação, para o TEATRO, de uma peça, “Os Brinquedos Consertados”, escrita, inicialmente, para a TV, em 1963.

  


 

Ao contrário do que muitos possam pensar, TEATRO INFANTIL é uma coisa muito séria e demanda muito cuidado e atenção, por parte de quem escreve os textos, dirige as peças ou as representa. Não pode ser feito de qualquer maneira, porque “se é pra criança, serve qualquer coisa”. Sinto muita pena de quem pensa dessa forma. DOMINGOS tinha consciência de que “o TEATRO INFANTIL é um grande desafio, e a peça surge da sua busca em conquistar e manter a atenção das crianças”, “essa gente pequena maravilhosa, fonte de toda a sabedoria humana”, como ele dizia.

 

 


  


SINOPSE:

O velho Gepeto (FRED EÇA) tem uma oficina de brinquedos.

Em uma manhã, ao receber o leiteiro (MOISÉS BITTENCOURT), se depara com três brinquedos quebrados na porta de sua oficina.

Eram um tambor furado (Tambor Arquibaldo o mesmo MOISÉS), um palhaço com a corda quebrada (Palhaço Tic-Tac – FELIPE FAGUNDES) e um ursinho de pelúcia, sujo, encardido e manchado (Urso Afonso – JOÃO MIRANDA).

Ao trazê-los para dentro, como num passe de mágica, eles ganham vida e contam que viviam na casa de um menino pobre, Paulinho (MIGUEL VENERABILE), o qual não tinha condições financeiras para consertá-los, o que os levou a fugir de lá.

Gepeto resolve consertá-los, com a condição de que voltassem para a casa do menino, que devia estar sofrendo com o sumiço dos brinquedos.

Depois de prontos, os três se negam a voltar e, então, são vendidos a um outro menino Gaspar (O mesmo MIGUEL.), este muito rico, porém sem nenhum apreço pelos brinquedos que possui.

Lembrando do carinho que tinham com o menino pobre e de como este gostava deles e os tratava muito bem, os três resolvem fugir novamente, mas, dessa vez, de volta aos braços do menino pobre, que os recebe com imensa alegria, na noite de Natal!

 

 


 

        O diminutivo, na língua portuguesa, pode ser empregado com várias intenções, além da mais comum, que é nomear algo de pequenas dimensões. Entre essas intenções, uma é o desejo de designar alguma coisa de pouco valor, um emprego pejorativo. Então, quando eu digo que esta peça é uma “historinha bonitinha”, isso poderia ser compreendido como um eufemismo: “Essa peça não é feia, não é ruim.”. (Mas, também, não é boa.) A fim de que não paire nenhuma dúvida, deixo bem marcada a minha intenção de afirmar que “BRINQUEDOS CONSERTADOS” é uma peça que conta uma “historinha bonitinha”, no sentido mais afetivo possível. Na verdade, no palco, pode faltar tudo, menos amor, afeto, carinho, por parte de todos os envolvidos no projeto, o qual, acima de tudo, é uma belíssima homenagem à memória de DOMINGOS OLIVEIRA.

 

 



 

     Tanto é fato, que me sinto na obrigação de compartilhar, com quem me honra com sua leitura, algumas informações interessantes às quais tive acesso, via “release”, a mim enviado por LEILA MEIRELLES (Assessoria de Imprensa).

 


 

      A ideia de montar a peça veio de FERNANDO GOMES, seu diretor, no momento em que, ao fazer uma mudança de residência, encontrou, vasculhando suas gavetas, o texto da peça, que lhe havia sido entregue por DOMINGOS, há muitos anos, quando trabalhavam juntos. Diz FERNANDO: “Achar esse texto, nesse momento, pareceu um sinal para realizar o projeto.”. Digo eu: SANTO SINAL! SANTA MUDANÇA! SANTO PROJETO!




      A partir de lá, o diretor procurou arrebanhar profissionais de TEATRO, gente que tinha laços afetivos com DOMINGOS, seus “amigos-discípulos”, para que, juntos, pudessem concretizar uma linda e merecida homenagem ao inesquecível amigo, o que vemos no palco de Teatro XP. Para isso, por exemplo, FERNANDO convidou MARCELA NUNES, que despertou para a carreira artística como fã do espetáculo “Confissões de Adolescente”, que marcou época e uma geração, adaptação, para o TEATRO, do livro homônimo, de Maria Mariana, exatamente aquela para quem “BRINQUEDOS CONSERTADOS” foi escrita. Também se chegou aos dois FREDERICO EÇA, filho do maestro Luizinho Eça e de Lenita Plonczynski. Durante o casamento de Lenita com DOMINGOS, FRED EÇA foi criado por DOMINGOS, como seu filho. Ainda houve espaço para MOISÉS BITTENCOURT, que começou, como contrarregra, no Teatro do Planetário, o qual foi dirigido por DOMINGOS, de 1996 a 2001, e, logo, virou seu assistente de direção. Depois, foram sendo agregados ao projeto outros nomes, todos compondo o time que transforma em realidade a proposta sensível do pai de Maria Mariana.

 



   Tudo funciona corretamente, nesta montagem, pelo que parabenizo seus produtores, que não economizaram e se preocuparam com os mínimos detalhes, com o intuito de agradar, de verdade, ao público, aqui representados pelas crianças e pelos adultos. É importante dizer que um ou outro pequeno ajuste feito ao texto, visando a torná-lo mais próximo à realidade de hoje, 45 anos após ter sido escrito por DOMINGOS, não lhe altera, em nada, as mensagens e os recados que seu autor desejou que fossem captados. No texto, o autor “procura a inocência do olhar da criança e apresenta uma dramaturgia fortemente influenciada pelas histórias de Hans Christian Andersen, de quem sempre foi admirador”. DOMINGOS OLIVEIRA disse que “a inocência, como o amor, é um estado de alma que permite ver o mundo como ele é, como Deus o fez, e que todos nós a tivemos sob nossa posse”. Simbolicamente, os três brinquedos que precisavam de reparos, partindo de suas próprias reflexões, fazem uma escolha e pagam um preço por ela. O importante é que, como acontece com todos os humanos, no decorrer de suas vidas, as escolhas, certas ou erradas, devem ser feitas, sempre visando à felicidade. E, se tiver sido errada, “faz parte do jogo”. É “levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima”, mirando, sem medo de ser feliz, aquilo que, realmente, importa na vida, tendo o amor como alvo. Esses importantíssimos e necessários ensinamentos estão presentes num texto simples, escrito num nível de linguagem bem acessível até aos mais pequenininhos.

 

 



        E já que falei em simbolismo, há um outro, muito importante, na peça, porque DOMINGOS escolheu, não por acaso, o dia de Natal, uma comemoração do nascimento daquele que, para os que creem, veio ao mundo para pregar apenas a paz e o amor ao próximo, para que os três brinquedos, agora perfeitos e prontos para alegrar a vida do menino pobre, retornassem à casa deste.

  


 

       Um detalhe, nesta peça, da maior importância é a preocupação de levar às crianças a mensagem de que não devem gastar tantas horas de seu dia em contato direto com o mundo virtual, que se torna mais imperativo, a cada dia, e, sim, se voltar para a valorização dos brinquedos simples, educativos, que levam o “brincante” a explorar sua imaginação. “Num mundo acelerado, em que as crianças transitam no virtual, desde que nascem, praticamente, a montagem resgata, através do universo lúdico proposto, brinquedos simples e criativos, que despertam a fantasia infantil, propondo uma experiência mais sensorial e singela nas relações, em que o afeto se sobrepõe à imagem.”. A peça fala, sobretudo, de amor, de relações, da vida. De amor à vida e sua valorização.

  



      Esgotados os comentários que julguei pertinentes ao texto, desvio o foco para o ótimo trabalho de direção, de FERNANDO GOMES, que apostou no “menos é mais” e fez uma direção “redonda”, sem maiores complicações, com excelentes soluções para algumas cenas e conflitos. Não é fácil dirigir criança e, mais ainda, quando um(a) pequeno(a) ator (atriz) está em cena, como numa ilha: uma criança cercada de adultos por todos os lados. E mais difícil, ainda, é o trabalho do diretor, quando essa criança, extremamente talentosa, é um menino de 9 anos, chamado MIGUEL VENERABILE, que parece “estar ligado a uma tomada de 220 volts”, “brincando de fazer uma coisa séria, de trabalhar”, com a maior naturalidade possível.




      Um espetáculo para crianças pede muita cor e movimento. As cores, bem vivas e variadas, estão presentes na cenografia, nos figurinos e no desenho de luz. O movimento, tanto nos deslocamentos dos atores, em cena, como nas execução das coreografias traz a marca do trabalho de ANA MAGDALENA, precisa e criativa em tudo. 

 



      Já que deixei o assunto ser desviado para o elenco, falando do MIGUEL, titular dos personagens Paulinho e Gaspar (Ele tem um “stand-in”, HAROUN ABUD.), afirmo que me deixei encantar por sua atuação, seu grau de verdade e esperteza, a ponto de colocar “cacos”, no texto, quando acha que deve, sem deixar de acrescentar que os dois meninos personagens que ele representa são diametralmente opostos, “antipodais”. Tem um grande futuro pela frente esse ator mirim.

 

 

Miguel Venerabile.


Idem.


Haroun Abud.


Idem.

   Todos os demais que compõem o elenco tem atuações excelentes, alguns dos quais em papéis duplos. Um dos principais requisitos, quando se representa para um público infantil, é saber como estabelecer uma boa comunicação com a plateia, e disso todos entendem muito bem e sabem como pôr em prática.

  


 

        O respeito ao público infantil, principalmente, não permite que os elementos de criação sejam relegados a segundo plano. Tudo tem de ser de feito com capricho e bom gosto. Então, que sejam contratados profissionais de ponta, para a execução de cenários, figurinos, iluminação e outros. Não há um nome, na FICHA TÉCNICA, cujo trabalho mereça um comentário negativo.

  



A bela cenografia foi criada por uma premiadíssima e sensível artista, a cenógrafa CLÍVIA COHEN, que, mesmo residindo, há algum tempo, em Portugal, provou que a distância não impede um verdadeiro artista de criar um lindo, alegre e expressivo cenário, repleto de detalhes interessantíssimos, o qual é mais valorizado pelo trabalho caprichado de ANDRÉ SALLES, um cenotécnico dos mais requisitados, por sua dedicação no ofício de dar formas concretas ao que o(a) responsável pelo trabalho de idealização e criação do cenário colocou no papel.

 



    A mesma CLÍVIA assina os figurinos, lindos, alegres, coloridos, com pequenos detalhes que saltam aos nossos olhos, todos totalmente ajustados a cada personagem.

  



        Para realçar tudo o que está sobre o palco, nada mais indicado do que uma correta iluminação, esta sob a responsabilidade de FREDERICO EÇA, que utiliza uma paleta bem variada e, também, compôs as canções que fazem parte de uma trilha sonora original.

  



       Poucas vezes valorizado pelos críticos de TEATRO e jurados de prêmios, o visagismo, que corresponde à maquiagem e a outros detalhes que entram na composição exterior dos personagens, é da melhor qualidade, trabalho de MATHEUS PASTICCHI.

  


 


FICHA TÉCNICA:

Texto: Domingos Oliveira

Direção: Fernando Gomes

Assistência de Direção: Lara Gay

Direção de Movimento e Coreografias: Ana Magdalena

 

Elenco (por ordem alfabética): Felipe Fagundes (Palhaço Tic-Tac), Frederico Eça (Gepeto), João Miranda (Urso Afonso), Lina Mello (Mãe / Lápis), Miguel Venerabile (Paulinho / Gaspar), Moisés Bittencourt (Leiteiro / Tambor Arquibaldo), Haroun Abud (“stand-in”), Lara Gay (“stand-in”)

 

Cenários e Figurinos: Clívia Cohen

Cenógrafo Assistente: José Cohen

Cenotécnico: André Salles

Figurinista Assistente: Lucila Belcic

Aderecistas: Márcia Marques, William Marcelo e Adriana Dias

Iluminação e Trilha Sonora Original: Frederico Eça

Gravação e Execução: Sigaud Homestudio

Visagismo: Matheus Pasticchi

Arte “Design”: Thiago Ristow

Contrarregra (e Pinóquio): Phael Carvalho

Diretor de Palco: Bené Benevides

Operador de Luz: Kelson Santos

Operador de som: Aline Monteiro

Assessoria de Imprensa: Leila Meirelles e Marcela Nunes

Redes Sociais: Marcella Rodrigues

Fotos: Edu Rodrigues e Duda Ferreira

Direção de Produção: Marcela Nunes e Ricardo Fernandes

Realização: Mnunes Produções Artísticas

 

 


 


SERVIÇO:

Temporada: De 05 a 27 de novembro de 2022.

Local: Teatro XP.

Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, nº 1110 – Leblon – Rio de Janeiro (Dentro do Jockey Clube Brasileiro).

Telefone: (21)3807-1110.

Dias e Horários: Sábados e domingos, às 16h.

Valor dos Ingressos: R$70,00 (inteira) e R$35,00 (meia entrada).

Venda “on-line”: Plataforma Sympla.

Duração: 50 minutos.

Classificação Indicativa: Livre.

Gênero: Teatro Infantil.

 

 



     Mesmo bastante assoberbado, com várias críticas para serem escritas, não pude deixar de me dedicar a esta, seguindo o meu princípio de somente escrever sobre espetáculos que me agradam e mereçam que eu me deixe ocupar por muitas horas, como sempre se dá.





        RECOMENDO ESTE ESPETÁCULO, que me deixou mais “leve”, no fim da tarde do último sábado, 12 de novembro de 2022.


 

 

FOTOS: EDU RODRIGUES

e

DUDA FERREIRA

  



Domingos Oliveira.
(Foto: autoia desconhecida.)

 

 

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