OU TUDO
OU NADA
– O MUSICAL
(OU TUDO OU TUDO.)
Com
quantos “paus” se faz uma canoa? É
claro que dependerá da canoa e para que fim ela será utilizada.
Com quantos
algarismos, com quantos muitos zeros, após o “$”, se pode montar um espetáculo de TEATRO? Um MUSICAL, por
exemplo?
Depende do
espetáculo; depende do MUSICAL;
depende do tipo de TEATRO; depende
do tipo de MUSICAL; depende da
qualidade do espetáculo; depende da qualidade do MUSICAL; depende da quantidade e da qualidade do material humano
envolvido no projeto; depende do comprometimento de quem “compra” o projeto;
depende do objetivo a ser atingido; depende do público a que ele se destina;
depende de quanto se deseja lucrar com ele; depende de quanto se conseguirá
captar, licitamente ou não, inclusive dos cofres públicos; depende da
transparência que deverá haver na sua produção; depende..., depende...,
depende...
Mas TEATRO é um bicho complicado mesmo!!! DEPENDE muito, de tudo e de todos!!!
Definamos,
então, a que TEATRO estamos nos
referindo. Falamos de um TEATRO da
melhor qualidade possível. Estamos falando de um dos melhores musicais já
montados no Brasil, de grande sucesso em vários países importantes no mundo.
Estamos falando de um espetáculo que tem, originalmente, uma roupagem
americana, mas que se adaptou, como uma luva, à atual realidade brasileira e
que vem lotando o Theatro NET Rio, com grande sucesso de público e de
crítica.
O leigo,
leitor das colunas que dão espaço às personalidades “vipais”, diria que, para montar esse MUSICAL, os produtores gastaram milhões. Claro que não! Isso não seria TEATRO;
seria uma barbaridade!!!
Estamos
falando de “OU TUDO OU NADA” (“The Full
Monty”), um espetáculo de grande porte, do ponto de vista qualitativo, e,
paradoxalmente, de baixo custo; “baixíssimo”, podemos dizer, em comparação aos
valores anunciados nas montagens de outros musicais encenados, no Rio de
Janeiro, nos últimos tempos, alguns de qualidade duvidosa ou, até mesmo, ignorando
o binômio “boa qualidade”. “OU TUDO OU NADA” custou uma pequena
fração do orçamento empregado em tantos “desastres” que há por aí. Uma produção modesta; um espetáculo
grandioso!!!
De todos
os méritos que esta montagem carrega – e
são muitos – este é, sem dúvida, um dos maiores: MUITA BOA QUALIDADE COM POUCO CUSTO.
“CRIATIVIDADE”,
teu nome é “OU TUDO OU NADA”!
Hora de testes.
Quem
assiste ao musical, e sai maravilhado(a) do teatro, não acredita que TUDO AQUILO custou apenas R$500.000,00, acrescidos, é claro de
outros cifrões e zeros, em forma de muito esforço, muito suor, muito trabalho,
muita dedicação, muita coragem, muita criatividade, muita competência e muita
fé. E muitos amigos, grandes profissionais, filhotes do Quixote, que acreditam
no sonho impossível. E não perderam nada em acreditar, porque o sonho é
possível; ou melhor, tornou-se possível.
“OU TUDO OU NADA” não é um musical
“cabeça”, não é nada rebuscado, não conta com efeitos especiais, desenvolvidos
na NASA, não apresenta atores
vestidos de luxuosos tecidos importados, transformados em modelitos de “haute
couture”... Nada contra estes, até gosto muito de alguns. Mas, ao contrário, “OU TUDO OU NADA” está aí para provar
que o simples, o reciclável, pode ser, e
é, bom, bonito, divertido, leve, alegre, de altíssima qualidade.
Trata-se
de um espetáculo para fazer rir, muito,
porém não abandonando a crítica, observada por cada um dos espectadores, uma
vez que, por uma imensa felicidade, trata de um tema central tão próximo aos
brasileiros. Aliás, alguns temas centrais: crise econômica e desemprego são dois
deles.
O embrião da
peça foi um dos grandes sucessos de bilheteria do cinema, nos anos 90, “The Full Monty”, batizado, no Brasil,
com o mesmo nome da peça. O filme, britânico, por coincidência, era independente
e também de baixo orçamento, além de não trazer, no elenco, nomes de peso da
chamada Sétima Arte.
A comédia
era ambientada na cidade de Sheffield,
Inglaterra, antes, próspera, em fase
de decadência, e contava a história de seis demitidos – sujeitos comuns - que
arranjavam um meio “muito original” de dar a volta por cima: subir ao palco
para um “strip-tease”. Para isso, tinham de enfrentar seus medos e inseguranças,
quanto à aparência, ao investir no “show”, em que, como diferencial, prometiam
a nudez completa. “The Full Monty”,
imediatamente, ganhou o reconhecimento do público, virando fenômeno de
bilheteria.
Mal-entendido: não eram “strippers”.
Transformado
em musical de sucesso, na Broadway, por TERRENCE
MCNALLY e DAVID YAZBEK, a
comédia ganhou dezenas de montagens mundo afora e, agora, está sendo montada no
Brasil, com concepção e direção do experiente diretor e ator TADEU AGUIAR, que acaba de ser
fartamente premiado por “Quase Normal”,
outro lindo espetáculo dirigido por ele.
Esta produção, inteiramente concebida no
Brasil, é um exemplo, clássico e vivo, do sucesso de
realizações da Broadway em nossa terra, o que, felizmente, já vem sendo feito,
e muito bem feito, há alguns anos, por TADEU
e outros grandes empreendedores do TEATRO
MUSICAL BRASILEIRO.
“OU TUDO OU NADA, O
MUSICAL” estreou, em 2000, primeiro, em San Diego, como prévia, e, depois, na Broadway; em 2002, no West
End (Londres). Por coincidência, guardadas as devidas proporções, a
estreia, no Brasil, foi em Niterói,
no Teatro Popular Oscar Niemeyer,
para, depois, firmar temporada no Theatro
NET Rio.
A partir de 2003, o musical teve produções
internacionais nos seguintes países: Dinamarca, República Tcheca, Coreia do
Sul, África do Sul, Holanda, Itália, Japão, Hong Kong, Islândia, Israel,
Suécia, Grécia, Austrália, Canadá, Espanha, Grã-Bretanha, Croácia, México,
Alemanha, Peru, Bermudas, Filipinas e Singapura, além de remontagens nos
Estados Unidos e na Inglaterra.
SINOPSE:
1º ATO:
Na cidade empobrecida de Sheffield, Inglaterra,
as siderúrgicas estão abandonadas, os equipamentos foram removidos e as linhas
de produção silenciaram. Melhores amigos, JERRY
LUKOWSKI (MOUHAMED HARFOUCH) e DAVE
BUKATINSKY (CLAUDIO MENDES), vivem do seguro-desemprego, há cerca de um ano
e meio, sem conseguir novos empregos, assim como antigos colegas, e lamentam
suas vidas sem rumo, descrevendo-se como “lixo”.
Enquanto isso, a mulher de DAVE, GEÓRGIA (KACAU GOMES), e muitas amigas comparecem a um
espetáculo dos “Chippendales”. Com
sua independência recém-conquistada, como provedoras das famílias, elas
declaram: “O mundo é das mulheres”.
Tendo entrado, clandestinamente, no clube que
apresentava os “shows” de “strippers”, só para mulheres, e escondidos no
banheiro masculino, JERRY e DAVE escutam um lamento de GEÓRGIA, a respeito das inseguranças de
DAVE, em parte, por causa do excesso
de peso.
PAM (SAMANTHA CARACANTE), ex-mulher de JERRY, fala sobre seu casamento
desfeito e suas intenções de entrar na justiça contra ele, por causa do atraso
da pensão.
O filho de JERRY, NATHAN (XANDE VALOIS), também está
cansado do espírito de derrota do pai e não quer mais passar fins de semana com
ele.
As mulheres, elas e outras, haviam entrado no
banheiro masculino, por curiosidade, para saber como era lá dentro.
JERRY e DAVE estão inquietos e intrigados com a disposição das mulheres de
pagar para assistir a um “strip-tease”.
JERRY decide organizar uma “performance”
parecida, para arrecadar dinheiro
suficiente, a fim de poder pagar sua dívida.
O primeiro a aderir à ideia é o esquisito e
solitário MALCOLM (ANDRÉ DIAS),
vigia da fábrica desativada, onde DAVE e JERRY trabalharam. Depois de uma
tentativa de se matar, enchendo o carro do gás tóxico, que saía do escapamento
do veículo, canalizado para dentro do automóvel, por meio de um duto, e de ser
salvo por DAVE, ele se junta à dupla,
para uma discussão sobre os métodos mais eficientes de suicídio. Com a sensação
de que achara dois amigos, MALCOLM
se integra à trupe, ganhando mais segurança e forças, para viver menos agarrado
à sua dominadora mãe inválida, MOLLY.
O próximo da lista é o antigo gerente, o classe
média HAROLD NICHOLS (CARLOS ARRUZA),
que está tomando lições de dança com a mulher, VICKI (PATRÍCIA FRANÇA). HAROLD
esconde, da mulher, que está desempregado. Esta é uma compradora feroz,
consumista ao extremo, que continua achando a vida doce e feliz. HAROLD aceita ser o coreógrafo do
grupo.
Começam as audições, para escolher os outros “strippers”.
Um dos candidatos começa a dançar, sem jeito, e interrompe o teste, dizendo que
as crianças estão no carro, esperando por ele, e que ali não era lugar para
crianças. NATHAN, filho de JERRY, estava presente.
NOAH “JEGUE” SIMMONS
(SÉRGIO MENEZES)
é um candidato aceito. Ele tem uma vivência de dança, embora porte uma artrite
avançada.
ETHAN GIRARD (VICTOR MAIA), que diz dançar como Donald O’Connor, em “Cantando na Chuva”, cuja qualidade
decisiva é um (anunciado) imenso pênis, vive tentando subir pelas paredes,
literalmente, como no filme, levando tombos homéricos.
Eles ainda incluem, na trupe, a pianista JEANET TE
BURMEISTER (SYLVIA MASSARI), experiente em musicais, afastada, porém, das
atividades artísticas há bastante tempo, que acompanha os rapazes, durante os
ensaios.
DAVE está preocupado com seu
peso. HAROLD acompanha os hábitos
dispendiosos de VICKI.
No primeiro ensaio, HAROLD desanima, com a falta de jeito dos rapazes. Mas JERRY encontra uma maneira de animar
todo mundo, puxando os movimentos para a linguagem do esporte.
2º ATO:
Apesar de os ensaios continuarem, os rapazes
ainda estão em dúvidas se aquele era o melhor meio de fazer algum dinheiro – a
insegurança a respeito das próprias aparências é enorme.
O clube pede um depósito para a reserva da
noite. JERRY tenta conseguir algum
dinheiro com a ex-mulher, mas PAM se
recusa a ajudar. NATHAN decide usar
sua poupança e JERRY fica comovido
com a fé do menino no pai.
Mais tarde, ensaiando na casa de HAROLD, eles se despem, pela primeira
vez, uns na frente dos outros. E começam os pesadelos sobre o fracasso. Eles
são interrompidos por carregadores, tentando tirar os bens materiais da casa de
HAROLD – e os homens saem correndo
do bando, ao encontrá-los quase pelados. A camaradagem aumenta.
Num ensaio geral, os rapazes, NATHAN e JEANET TE são pegos pela
polícia – menos MALCOLM e ETHAN, que conseguem escapar e se
encantam um pelo outro, na chegada à casa de MALCOLM. São interrompidos pela piora da saúde de MOLLY.
Uma chorosa PAM
pega NATHAN, na delegacia. Na saída,
os rapazes são cercados por mulheres, que perguntam por que devem assistir ao “show”
que eles fariam, depois de terem visto as filipetas, que estavam sendo
distribuídas, por NATHAN, anunciando
o evento. E JERRY, num átimo, anuncia:
“Ficaremos
completamente nus”. Mas DAVE
desiste da apresentação, uma semana antes do “show”, sentindo-se muito gordo,
que ninguém quereria apreciar – incluindo a própria mulher, GEÓRGIA.
No funeral de MOLLY, ETHAN e MALCOLM demonstram seu relacionamento,
sutilmente.
Tudo parece perdido. Mas GEÓRGIA e VICKI
reafirmam sua fé nos maridos, apesar de tudo. E mais: a publicidade, conseguida
pela prisão, fez com que os ingressos se esgotassem.
Assim, eles decidem enfrentar o desafio e fazer
uma única apresentação, dos “Gigantes do
Aço”, numa única noite – incluindo HAROLD,
que conseguiu emprego. DAVE também
aparece, mas JERRY entra em espiral
de dúvida no último momento, e é NATHAN
quem o convence de que deve ir em frente. E ele vai!
Em cena, uma terrível crise econômica e seis personagens se desnudam
completamente, como uma possível única saída, que os fizesse dar a volta por cima
e vencer. Pode-se enxergar, naquele ato, uma interessante metáfora: é preciso,
em algum momento, ou em tantos outros, que nos dispamos dos nossos medos, dos
nossos preconceitos, dos nossos “pré-conceitos”, dos nossos pudores, em busca
de um ideal, de um futuro tão desejado e merecido.
Dentre os grandes
destaques do espetáculo, UM DOS
MELHORES MUSICAIS DO ANO, merecem espaço:
1)
O texto – Embora escrito por
americanos, e há bastante tempo, o texto
do musical parece que saiu do computador ontem e se encaixa, perfeitamente, na atual
realidade brasileira, porque abrange temas e preocupações do momento,
praticamente universais, como uma crise - econômica, política e moral -, que
gera desemprego e tudo de ruim que dele decorre, ao mesmo tempo que provoca a
criatividade humana, para driblar o momento ruim e garantir a sobrevivência e,
até mesmo, a superação e o sucesso. A crise acontece em qualquer lugar do mundo
e é o melhor momento para se empreender. Na ficção e na realidade.
É SYLVIA MASSARI, como JEANET TE, quem canta que
“as
coisas vão melhorar”. “Os personagens sabem disso e transmitem seu otimismo à plateia”.
Também é discutida a questão do papel do homem e
da mulher na sociedade.
Outra razão para a aceitação do texto é a excelente versão de ARTUR XEXÉO, sua melhor investida nesse setor. Há uma total
identificação do público com a história contada e é isso que faz com que a
divulgação, de boca em boca, lote o Theatro
Net Rio, de 5ª feira a domingo, com duas sessões aos sábados (Ver SERVIÇO.).
Kacau
Gomes e Claudio Mendes.
2)
Os cenários – Sem a menor sombra de
dúvidas, este elemento é um dos maiores destaques do espetáculo. Motivos?
a)
O conjunto é excelente.
b)
São confeccionados com peças e sobras de cenários de outras montagens,
dirigidas por TADEU AGUIAR e produzidas
por ele e por EDUARDO BAKR. Quem
tiver uma boa memória e a visão aguçada, há de reconhecer portas, paredes,
escadas, painéis, móveis, adereços de “Esta
é a nossa Canção”, “Baby, O Musical”,
“Quatro Fases do Amor”, “Quase Normal”, “O Dia em que Raptaram o Papa”... E que mal há nisso? Nenhum!!! O momento
de crise econômica, não de criatividade e inteligência!
c)
Em função do espaço do palco, que não é dos maiores, é perfeito o trabalho do cenógrafo (EDWARD MONTEIRO) e do queridíssimo e já tão famoso “SEU” FARIA (J. FARIA), pai de EDUARDO BAKR, que sempre é o
responsável pela execução dos cenários nas produções que levam a assinatura TADEU & EDUARDO (coordenação de
cenotécnica). O grande mérito de EDWARD
MONTEIRO E “SEU” FARIA é fazer caber tantos elementos cenográficos em cena,
sem interferir no espaço de que os atores precisam, para fazer bem o seu trabalho,
principalmente as coreografias.
d)
A funcionalidade do cenário, que faz
com que as trocas sejam muito rápidas e sem nenhum problema, em perfeita sincronia,
feitas por dois assistentes de palco e pelos próprios atores, que, mais uma
vez, “metem a mão na massa’, como operários desse magnífico ofício. Trabalho de
mutirão. Isso é lindo!!!
e)
A simplicidade dos cenários na construção de um espaço cênico. Uma única porta,
por exemplo, indica, quando transposta, o interior ou o exterior de uma casa.
Acrescida de um sofá, já vira a casa de outro personagem.
É bom
demais esse cenário!!!
Mouhamed
Harfouch e Xande Valois: “química” perfeita em cena.
3)
O figurino – E viva o acervo! E viva
NEY MADEIRA! E viva DANI VIDAL! E viva a reciclagem! E viva
a criatividade! E viva a vontade de acertar!
Os
figurinos são ótimos,
quase tudo resgatado de outras produções também.
Pega-se a batina, usada por TADEU AGUIAR, em “Bilac Vê
Estrelas”, por exemplo, e ajusta-se, para caber num outro ator, com menos
corpo, para que surja um padre em cena, no velório da mãe de MALCOLM. Aliás, nessa mesma cena, VICTOR MAIA usa um terno que pertenceu
ao falecido avô de EDUARDO BAKR.
Não! Não é para rir! É para aplaudir! É a mais
pura verdade! E isso é lindo!!!
Um traje de uma das atrizes traz as mangas de um
outro, a gola de um terceiro e um bordado de um quarto. Daí, surgiu um novo
figurino. E tudo deu certo. E muito certo! É assim que as coisas acontecem,
quando se deseja muito que elas aconteçam.
4)
A coreografia – Todas são
excelentes, graças ao trabalho de ALAN
REZENDE, muito bem executado pelos atores, todos, sem exceção, tanto os que
já são bailarinos, e têm ampla experiência em musicais, quanto os que se
propuseram a aprender e fazer pela primeira vez. Destaco os seguintes aspectos:
a)
Praticamente, todos os movimentos coreográficos estão, intimamente, ligados às
letras das excelentes canções, o que deve ser um requisito para coreografias em
musicais, já que, paralelamente à melodia e à dança, há uma letra, que ajuda a
contar a história. Nota dez!
b)
A coreografia solo do personagem JEGUE é excelente, valorizada, evidentemente,
pelo trabalho do ator SÉRGIO MENEZES.
c)
Outro momento alto da peça é a coreografia
que simula uma partida de basquete.
d)
O número solo de SYLVIA MASSARI, no início do 2º ato,
vem acompanhado de uma divertida e criativa coreografia, na qual são empregados apetrechos utilizados NA
limpeza de uma casa.
5)
As canções – São ótimas, algumas
lindas; outras, mais ainda. Para não deixar de fazer um destaque, fixo-me na
canção que JERRY canta para NATHAN, quando os dois estão na cama e
o pai põe o filho para dormir. É linda, comovente, de provocar lágrimas, ainda
mais pela imensa carga emotiva como MOUHAMED
HARFOUCH a interpreta. Chorei.
Não precisa de legenda.
6)
A direção – TADEU AGUIAR, já há muito, não precisa provar que é um dos melhores
diretores de MUSICAIS do Brasil.
Cada um diretor tem a sua marca, o seu estilo pessoal. Com ele não é diferente.
Tudo o que ele faz é simples, porém muito bonito e com muito cuidado; é engraçado,
porém provoca reflexões; é dinâmico, quando o dinamismo se faz necessário, e é
mais calmo, doce, suave, quando a ternura é requerida.
Consegue trabalhar com muita gente, ao mesmo
tempo, e ter um cuidado especial com cada um de seus dirigidos, valorizando o
potencial de cada um e unindo todos os esforços em prol do sucesso de um
projeto. Respeito muito o seu trabalho e, mais uma vez, aplaudo esta direção, e de pé.
7)
O elenco – O que dizer de 19 atores, alguns não muito conhecidos,
mas a maioria bastante experiente e muitos com um nome já consolidado no ramo
do TEATRO MUSICAL, como (por ordem
alfabética) ANDRÉ DIAS, CARLOS ARRUZA, CAROL FUTURO, CLAUDIO
MENDES, FÁBIO BIANCHINI, KACAU GOMES, LARISSA LANDIN, MOUHAMED
HARFOUCH, PATRÍCIA FRANÇA, SARA MARQUES, SÉRGIO MENEZES, SYLVIA
MASSARI, VICTOR MAIA e XANDE VALOIS?
Todos –
eu disse “TODOS” - estão trabalhando pela bilheteria. Em outras palavras,
os atores não recebem um salário fixo; entram num rateio sobre o que é
arrecadado com a venda dos ingressos. Isso
é lindo!!!
São todos profissionais – excelentes
profissionais – com seus compromissos a serem saldados (é claro que envolvidos
em outras atividades, que lhes proporcionam alguma renda), trabalhando por amor
à arte, por um ideal, por uma conquista coletiva, que lembra muito a ficção vista
no palco. Repito: ISSO É LINDO!!!
Felizmente, outras iniciativas como vêm sendo
postas em prática ultimamente. No momento de crise, a união tem der ser
reforçada.
Se fosse fazer uma análise do trabalho
de cada um elemento deste maravilhoso elenco,
tornaria este texto muito maior do que já vai ficar. Assim, vou tentar
condensar meus comentários:
a)
MOUHAMED HARFOUCH – Sem desmerecer
ninguém, só ele vale a ida ao teatro. Por um motivo muito simples: é um exemplo
de superação. Primeiro musical, nunca havia estudado dança ou canto. E topou um
desafio. “O” desafio. E está
conseguindo divertir e emocionar a plateia.
Não espere ver, no palco, um Nureyev nem um Pavarotti. Não! Ele não é um exímio bailarino, muito menos um “virtuose”
do canto. Mas canta e dança, como pede o
espetáculo. Não canta tão bem, tecnicamente falando, embora não faça feio;
mas canta com a alma, o que, neste
musical, é o mais importante.
Lembremo-nos de que os personagens são homens
comuns, trabalhadores, que se empenham em cantar e dançar, para fazer um “show”,
que lhes poderia salvar a vida. Tudo
dentro da proposta do espetáculo.
Aliás, o mesmo acontece com boa parte do elenco.
Sem a menor importância! Que ótimo que as limitações estejam em cena! Elas fazem parte da proposta. Digo que
todos são “ótimos cantores”.
O personagem do MOUHAMED é o mentor de toda a trama. Seu amor pelo filho, e tudo o
que ele faz, para garantir estar próximo ao menino, após a separação, é
comovente. Todas as cenas entre os dois são excelentes, lindas e, ao mesmo
tempo, engraçadas. Muita gente há de se identificar com o personagem.
Cumplicidade ao extremo.
b)
CLAUDIO GOMES – Sou fã incondicional
deste ator, de gestos pequenos e caras largas. Ele tem um jeito muito
personalíssimo de representar. É “cínico”; diz com a máscara facial, sem
precisar de palavras. Sempre achei que seu maior mérito, em todos os
personagens que o vi representar, estava nesse detalhe.
Os seis protagonistas têm um problema
particular, vivem um drama, ou uma preocupação, pessoal, que serve de
incentivo, uns aos outros.
O de JERRY
é conseguir dinheiro, para garantir o contato permanente com o filho, a guarda
compartilhada de NATHAN.
O de DAVE,
o personagem do CLAUDIO, é a
vergonha do próprio corpo. Ele é gordo, e isso gera problemas entre ele e a
esposa, que sempre está à procura de sexo, mas a baixa estima do marido, com
relação ao “corpo feio”, faz com que ele perca o interesse pelos “compromissos
matrimoniais”.
Com o desemprego, o problema ganha maiores
proporções.
É o melhor amigo de JERRY, mas é meio cético, com relação
às ideias do amigo.
A despeito de sempre tê-lo na conta de um ótimo
ator, confesso que CLAUDIO foi uma
das grandes e agradáveis surpresas, para mim, neste espetáculo, assim como
aconteceu com relação a outros, como o próprio MOUHAMED. CLAUDIO MENDES
dá um “show” de interpretação e também vale a ida ao teatro, para vê-lo
cantando.
Claudio
Mendes.
c)
ANDRÉ DIAS – Alguém já viu o ANDRÉ fazer, em TEATRO, algum trabalho que merecesse um adjetivo abaixo de “excelente”? Lanço o desafio. Não vou
enumerar todos os ótimos personagens que interpretou até hoje e que lhe
renderam muitos prêmios. Vou falar, apenas, do MALCOLM (“NÃO MAICON!”,
como ele grita, enfurecido, cada vez que alguém pronuncia, erradamente, o seu nome).
ANDRÉ é um ator completo:
interpreta, canta (tem uma belíssima e potente voz) e dança com grande maestria.
É um ator muito estudioso, aplicado no ofício que escolheu. É um mestre dos musicais!
O personagem que lhe coube é muito bem
representado, até pelo “physique du role” do ator. Seu grande drama pessoal é
duplo: vive para uma mãe entrevada e tirânica, MOLLY, e não consegue “sair do armário” e assumir a sua
sexualidade.
Depressivo ao extremo, sem amigos (o
egocentrismo da mãe contribui para isso), fraco nas decisões, chega a tentar o
suicídio, de uma forma esdrúxula, como a solução para os seus problemas, aos
quais é agregado, posteriormente, o da demissão da fábrica.
Antes de ser demitido, depois dos outros, como vigia
noturno da fábrica, facilita os ensaios do grupo, cedendo-lhes um espaço, até
que, descoberto o delito, é demitido. Mais
um grande personagem, na vasta galeria do ANDRÉ DIAS.
d)
VICTOR MAIA – Jovem, porém veterano
em musicais, como ator e grande coreógrafo. Aqui, paradoxalmente, ele faz o
sujeito que acha que sabe dançar e não leva o menor jeito para a coisa. Esse é
o seu grande problema, e isso é que faz a plateia rolar de rir com o personagem
ETHAN, o mais “desinibido” de todos.
É sempre o primeiro a querer tirar a roupa. Apregoa ser bem dotado, em termos
de pênis, mas confessa, na hora “H”, que, “quando fica nervoso, ‘ele’ diminui
de volume”.
Aproximas-se bastante do personagem de ANDRÉ DIAS, e os dois acabam se
envolvendo numa relação homoafetiva, que, muito distante de poder parecer uma “apelação”
do texto (“Mas tinha de ter relação gay
na peça?”), é um dos subtemas mais bonitos e bem explorados na trama. E
muito oportuno, também, numa época em que ainda se assassinam homossexuais,
como se todas as formas de amor não valessem a pena.
ETHAN acaba sendo, antes de
qualquer coisa, o primeiro grande amigo de MALCOLM.
A cena em que os dois, durante a o velório de MOLLY, juram, um ao outro, amor eterno e
fidelidade na amizade, é uma das mais lindas do espetáculo. A canção é
belíssima, a direção é perfeita e a interpretação dos dois atores é antológica.
Chorei, nas duas vezes em que assisti ao musical. E, certamente, chorarei
outras vezes. VICTOR também está ótimo
em cena!
e)
SÉRGIO MENEZES – Outra agradável
surpresa. Como ator, já o admirava. Como ator, cantor e dançarino (Ou
bailarino? Sempre tenho essa dúvida!), não sabia que era tão bom. Versátil! O
seu JEGUE é “fake”. Aí está o grande
problema do personagem. O único negro do grupo, todos acham que ele é bem
dotado, a julgar pelo seu apelido: JEGUE.
O nome é NOAH SIMMONS. Mas não é bem
assim. Nas duas vezes em que vi o espetáculo, SÉRGIO foi aplaudido, merecidamente, em cena aberta, durante um
solo de canto e dança. Muito bom o seu
trabalho!
f)
CARLOS ARRUZA – Outro veterano em
grandes musicais. O seu problema? Ou melhor, do seu personagem? No fundo, no
fundo, é a mulher, consumidora contumaz, acostumada a mordomias e de quem ele
vive tentando esconder que também perdera o emprego de supervisor da fábrica.
Cedendo a uma “chantagem” que lhes fariam os antigos subordinados, também demitidos,
contando à sua esposa que ele também era um deles, aceita ser o “coreógrafo” do
grupo, uma missão nada fácil. ARRUZA
também executa, com correção, o seu papel.
Carlos Arruza e Patrícia
França.
g)
XANDE VALOIS – O que é este ator-mirim, meus senhores?
Na brincadeira, digo que não é um menino de onze
anos, completados em setembro último; falo que é um “anão”, disfarçado de
criança (“pré-adolescente”, para ele não ficar aborrecido comigo). É um
abençoado esse XANDE.
Um ator completo, já feito. Parece já ter
nascido, conhecendo tudo sobre o ofício de representar. É impressionante o
trabalho e a presença deste “rapazinho” no palco! Desde sua postura em cena até
a voz, que não é de criança nem aquela indefinida, que é o terror dos meninos
nessa fase da vida.
Ele não brinca de fazer TEATRO. É um PROFISSIONAL,
com todas as maiúsculas.
É impossível não notá-lo, sempre que está no
palco, quer faça parte da cena, diretamente, quer não. Em geral, gente da idade
dele, por melhor que seja, atuando, quando não está falando, fica alheio à
ação, esperando ver “onde vai cair a pipa”, para, se possível, correr atrás e
abandonar o palco.
Não é o caso dele. O tempo todo, está atento a
tudo, participando da cena, expressivo até nos seus silêncios.
Estou totalmente encantado com ele, com o
profissional que ele é.
E como convence no personagem! Como passa o amor
ao pai e a compreensão e percepção que tem do problema, fazendo o possível, e o
impossível, para tornar menor o sofrimento de JERRY!
Muitos aplausos,
de pé, e muitos “BRAVOs!” para o XANDE!!!
Xande Valois,
em destaque.
h)
PATRÍCIA FRANÇA – Embora num papel não
tão expressivo, é outra grande surpresa; para mim, pelo menos. Não como atriz,
porém não sabia que cantava tão bem. Canta muito, afinadíssima, voz,
tecnicamente, colocada. Está excelente
em cena!
i)
SYLVIA MASSARI – Os tantos “anos de
janela” e seu enorme talento fazem com que SYLVIA
brilhe neste espetáculo, dando vazão à sua veia cômica e cantando cada vez
melhor. Seu solo, no início do segundo ato, é sempre aplaudido em cena aberta.
E bem merecido. Quero sempre ver SIYLVIA
MASSARI em musicais!
Não precisa de legenda.
j)
Todos os demais atores e atrizes, sem exceção, completam, com correção, a afinação
de um elenco extraordinário, com um leve destaque para as atrizes.
Tenho certeza de que quem for
assistir ao espetáculo – e motivos não faltam para isso – não conseguirá
piscar, mas chamo a atenção de todos para algumas cenas e detalhes nesta encenação:
- A abertura, que apresenta projeções
de notícias atuais, sobre os problemas que os brasileiros estamos enfrentando,
algumas carregadas de ironias e todas relacionadas ao espetáculo.
- A atuação das atrizes interagindo
com a plateia.
- A voz de Kacau Gomes, nos seus
solos.
- A atuação da excelente banda, posicionada acima do palco, no
canto esquerdo, na visão da plateia.
- A cena do banheiro masculino, no
clube de “strippers”, que lembra muito as situações encontradas nos
“vaudevilles”.
Os maridos ouvem, sem
querer, as “queixas” das esposas.
- A aula de “como ser sexy”, dada pelo personagem, “stripper” profissional, de FÁBIO BIANCHINI a JERRY. É hilária!
- A cena em que JERRY e DAVE encontram MALCOLM dentro de um carro, totalmente
fechado, tentando o suicídio. O “incentivo” dos dois ao aspirante a defunto é
de fazer rolar de rir.
“Dando força” ao
candidato a suicida.
- A cena do velório de MOLLY é, ao mesmo tempo, linda e muito
engraçada, uma vez que, como já foi dito, enquanto, numa linda canção,
brilhantemente interpretada por ANDRÉ
DIAS e VICTOR MAIA, os dois se
prometem, um ao outro, paralelamente, num dos cantos do palco, para “não perder
tempo”, os personagens de SÉRGIO MENEZES,
MOUHAMED HARFOUCH e CARLOS ARRUZA, discretamente, treinam,
ensaiam, uma coreografia, para o “show”, ao som da referida canção.
- O número final é para lavar a alma, para fazer com que o espectador
saia do teatro otimista, sabendo que, apesar de toda a treva em que o Brasil
está mergulhado, graças aos últimos (des)governos, ainda podemos ter esperanças
de dias melhores, lutar, criar, reinventar e deixar um país melhor para os
nossos filhos e netos.
É preciso que continuemos esgotando
a capacidade de espectadores do Theatro NET Rio, uma vez que, apesar de o elenco ganhar
parte do que é arrecadado com a venda dos ingressos, a produção tem,
mensalmente um custo de mais de R$120.000,00,
para cumprir seus compromissos, pagando a músicos, técnicos e gastando em
outras despesas, como divulgação, por exemplo.
Portanto,
nada de pedir convites!!!
É comédia, mas também dá para chorar de emoção, com estes
dois.
FICHA
TÉCNICA:
Autores:
Terrence McNally (texto) e David Yazbek (música)
Direção:
Tadeu Aguiar
Direção Musical:
Miguel Briamonte
Versão
para o português: Artur Xexéo
Elenco: MOUHAMED
HARFOUCH (JERRY)
CLAUDIO
MENDES (DAVE)
ANDRÉ DIAS
(MALCOLM)
VICTOR
MAIA (ETHAN)
CARLOS
ARRUZA (HAROLD)
SÉRGIO
MENEZES (JEGUE)
XANDE
VALOIS (NATHAN)
PATRÍCIA
FRANÇA (VICKI)
KACAU
GOMES (GEÓRGIA)
SYLVIA
MASSARI (JEANET TE)
SAMANTHA
CARACANTE (PAM),
CAROL
FUTURO (ESTELA)
SARA
MARQUES (SUSAN)
LARISSA
LANDIN (JOANA)
FABIO
BIANCHINI (BOBBY / KENO)
FELIPE
NIEMEYER (TEDDY)
GABRIEL
PEREGRINO (REGIS)
RAPHAELL
ALONSO (MARTY)
CHRISTIANE
MATTOS (VELHA DO ASILO).
Josias Franco, Ricardo Hulck,
Marco Moreira (Chiquinho) – sopros
Pedro Silveira – guitarra
Leandro Vasques – baixo
Tiago Calderano – bateria
Cenário:
Edward Monteiro
Coordenação
de Cenotécnica: J Faria
Figurino:
Ney Madeira e Dani Vidal
Coreografia:
Alan Rezende
Desenho de
Luz: David Bosboom e Daniela Sanchez
Desenho de
Som: Gabriel D’Angelo e Bruno Pinho
Multimídia:
Paulo Severo
Assistente
de Direção: Flávia Rinaldi
2a
Assistente de Direção: Claire Nativel
Assistente
de Coreografia: Rafael Camel
Assistente
de Produção: Leandro Giglio
Assistente
de Direção Musical: Daniel Sanches
Orquestração:
Harold Wheeler
Arranjos
Vocais e Incidentais: Ted Sperling
Arranjos
para Músicas de Dança: Zane Mark
Preparação
Vocal: Mirna Rubim
Design Gráfico:
Claudia Xavier
Fotos: Gustavo
Bakr
Coordenação
de Produção: Norma Thiré
Produtor
Associado: Brainstorming Entretenimento
Produção
geral: Eduardo Bakr
Realização:
Estamos Aqui Produções Artísticas
Baseado no
filme da Fox Searchlight Picture, escrito por Simon Beaufoy, produzido por
Uberto Pasolini, direção de Peter
Cattaneo.
Isto é só o início.
E isto é o final.
Ou haverá mais?
Vá conferir, se está
curioso(a)!
SERVIÇO:
Theatro Net-Rio.
Endereço: Shopping Siqueira Campos - Rua Siqueira Campos , 143 - Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.
Telefone: (21)2147-8060.
Estacionamento pago / Acesso
para portadores de necessidades especiais.
Temporada: Até 20 de dezembro.
Dias e Horários: 5ª feira e 6ª feira, às 21h;
sábado, às 18h e 21h30min;
domingo, às 19h.
Capacidade: 614 lugares.
Valores dos Ingressos: R$150,00; R$100,00; e R$50,00
(dependendo da localização; com direito a meia-entrada, de acordo com a
legislação em vigor, além de descontos especiais.)
Bilheteria: De 2ª feira a domingo, das 10h às 22h.
www.ingressorapido.com.br
Duração do espetáculo: 140 minutos (com intervalo).
Classificação Etária: 10 anos.
Aplausos e agradecimentos, na sessão para convidados.
“Ou
Tudo ou Nada”
conta a história da superação e do sucesso pessoal de gente
comum, buscando de maneira original sua autoestima perdida em meio à crise
econômica.
Vamos assistir à peça e fazer o mesmo?
(FOTOS: GUSTAVO BAKR –
DIVULGAÇÃO.)
GALERIA PARTICULAR
(Fotos de Marisa Sá.)
Com Mouhamed Harfouch.
Com Xande Valois, o pequeno grande ator.
Com André Dias.
Com Victor Maia.
Ou Tudo ou Nada é tudoooo de bom!
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