quinta-feira, 19 de novembro de 2015


OU TUDO

OU NADA

– O MUSICAL

 

(OU TUDO OU TUDO.)

 


 

 

Com quantos “paus” se faz uma canoa? É claro que dependerá da canoa e para que fim ela será utilizada.

Com quantos algarismos, com quantos muitos zeros, após o “$”, se pode montar um espetáculo de TEATRO? Um MUSICAL, por exemplo?

Depende do espetáculo; depende do MUSICAL; depende do tipo de TEATRO; depende do tipo de MUSICAL; depende da qualidade do espetáculo; depende da qualidade do MUSICAL; depende da quantidade e da qualidade do material humano envolvido no projeto; depende do comprometimento de quem “compra” o projeto; depende do objetivo a ser atingido; depende do público a que ele se destina; depende de quanto se deseja lucrar com ele; depende de quanto se conseguirá captar, licitamente ou não, inclusive dos cofres públicos; depende da transparência que deverá haver na sua produção; depende..., depende..., depende...

Mas TEATRO é um bicho complicado mesmo!!! DEPENDE muito, de tudo e de todos!!!

Definamos, então, a que TEATRO estamos nos referindo. Falamos de um TEATRO da melhor qualidade possível. Estamos falando de um dos melhores musicais já montados no Brasil, de grande sucesso em vários países importantes no mundo. Estamos falando de um espetáculo que tem, originalmente, uma roupagem americana, mas que se adaptou, como uma luva, à atual realidade brasileira e que vem lotando o Theatro NET Rio, com grande sucesso de público e de crítica.

O leigo, leitor das colunas que dão espaço às personalidades “vipais”, diria que, para montar esse MUSICAL, os produtores gastaram milhões. Claro que não! Isso não seria TEATRO; seria uma barbaridade!!!

Estamos falando de “OU TUDO OU NADA” (“The Full Monty”), um espetáculo de grande porte, do ponto de vista qualitativo, e, paradoxalmente, de baixo custo; “baixíssimo”, podemos dizer, em comparação aos valores anunciados nas montagens de outros musicais encenados, no Rio de Janeiro, nos últimos tempos, alguns de qualidade duvidosa ou, até mesmo, ignorando o binômio “boa qualidade”. “OU TUDO OU NADA” custou uma pequena fração do orçamento empregado em tantos “desastres” que há por aí. Uma produção modesta; um espetáculo grandioso!!!

De todos os méritos que esta montagem carrega – e são muitos – este é, sem dúvida, um dos maiores: MUITA BOA QUALIDADE COM POUCO CUSTO.

 “CRIATIVIDADE”, teu nome é “OU TUDO OU NADA”!

 


Hora de testes.

 

Quem assiste ao musical, e sai maravilhado(a) do teatro, não acredita que TUDO AQUILO custou apenas R$500.000,00, acrescidos, é claro de outros cifrões e zeros, em forma de muito esforço, muito suor, muito trabalho, muita dedicação, muita coragem, muita criatividade, muita competência e muita fé. E muitos amigos, grandes profissionais, filhotes do Quixote, que acreditam no sonho impossível. E não perderam nada em acreditar, porque o sonho é possível; ou melhor, tornou-se possível.

“OU TUDO OU NADA” não é um musical “cabeça”, não é nada rebuscado, não conta com efeitos especiais, desenvolvidos na NASA, não apresenta atores vestidos de luxuosos tecidos importados, transformados em modelitos de “haute couture”... Nada contra estes, até gosto muito de alguns. Mas, ao contrário, “OU TUDO OU NADA” está aí para provar que o simples, o reciclável, pode ser, e é, bom, bonito, divertido, leve, alegre, de altíssima qualidade.

Trata-se de um espetáculo para fazer rir, muito, porém não abandonando a crítica, observada por cada um dos espectadores, uma vez que, por uma imensa felicidade, trata de um tema central tão próximo aos brasileiros. Aliás, alguns temas centrais: crise econômica e desemprego são dois deles. 

O embrião da peça foi um dos grandes sucessos de bilheteria do cinema, nos anos 90, “The Full Monty”, batizado, no Brasil, com o mesmo nome da peça. O filme, britânico, por coincidência, era independente e também de baixo orçamento, além de não trazer, no elenco, nomes de peso da chamada Sétima Arte.

A comédia era ambientada na cidade de Sheffield, Inglaterra, antes, próspera, em fase de decadência, e contava a história de seis demitidos – sujeitos comuns - que arranjavam um meio “muito original” de dar a volta por cima: subir ao palco para um “strip-tease”. Para isso, tinham de enfrentar seus medos e inseguranças, quanto à aparência, ao investir no “show”, em que, como diferencial, prometiam a nudez completa. “The Full Monty”, imediatamente, ganhou o reconhecimento do público, virando fenômeno de bilheteria.

 


Mal-entendido: não eram “strippers”.
 

Transformado em musical de sucesso, na Broadway, por TERRENCE MCNALLY e DAVID YAZBEK, a comédia ganhou dezenas de montagens mundo afora e, agora, está sendo montada no Brasil, com concepção e direção do experiente diretor e ator TADEU AGUIAR, que acaba de ser fartamente premiado por “Quase Normal”, outro lindo espetáculo dirigido por ele.

Esta produção, inteiramente concebida no Brasil, é um exemplo, clássico e vivo, do sucesso de realizações da Broadway em nossa terra, o que, felizmente, já vem sendo feito, e muito bem feito, há alguns anos, por TADEU e outros grandes empreendedores do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO.

            “OU TUDO OU NADA, O MUSICAL” estreou, em 2000, primeiro, em San Diego, como prévia, e, depois, na Broadway; em 2002, no West End (Londres). Por coincidência, guardadas as devidas proporções, a estreia, no Brasil, foi em Niterói, no Teatro Popular Oscar Niemeyer, para, depois, firmar temporada no Theatro NET Rio.

 

A partir de 2003, o musical teve produções internacionais nos seguintes países: Dinamarca, República Tcheca, Coreia do Sul, África do Sul, Holanda, Itália, Japão, Hong Kong, Islândia, Israel, Suécia, Grécia, Austrália, Canadá, Espanha, Grã-Bretanha, Croácia, México, Alemanha, Peru, Bermudas, Filipinas e Singapura, além de remontagens nos Estados Unidos e na Inglaterra.

 

 

 
SINOPSE:
 
1º ATO:
 
Na cidade empobrecida de Sheffield, Inglaterra, as siderúrgicas estão abandonadas, os equipamentos foram removidos e as linhas de produção silenciaram. Melhores amigos, JERRY LUKOWSKI (MOUHAMED HARFOUCH) e DAVE BUKATINSKY (CLAUDIO MENDES), vivem do seguro-desemprego, há cerca de um ano e meio, sem conseguir novos empregos, assim como antigos colegas, e lamentam suas vidas sem rumo, descrevendo-se como “lixo”.
 
Enquanto isso, a mulher de DAVE, GEÓRGIA (KACAU GOMES), e muitas amigas comparecem a um espetáculo dos “Chippendales”. Com sua independência recém-conquistada, como provedoras das famílias, elas declaram: “O mundo é das mulheres”.
 
Tendo entrado, clandestinamente, no clube que apresentava os “shows” de “strippers”, só para mulheres, e escondidos no banheiro masculino, JERRY e DAVE escutam um lamento de GEÓRGIA, a respeito das inseguranças de DAVE, em parte, por causa do excesso de peso.
 
PAM (SAMANTHA CARACANTE), ex-mulher de JERRY, fala sobre seu casamento desfeito e suas intenções de entrar na justiça contra ele, por causa do atraso da pensão.
 
O filho de JERRY, NATHAN (XANDE VALOIS), também está cansado do espírito de derrota do pai e não quer mais passar fins de semana com ele.
 
As mulheres, elas e outras, haviam entrado no banheiro masculino, por curiosidade, para saber como era lá dentro.
 
JERRY e DAVE estão inquietos e intrigados com a disposição das mulheres de pagar para assistir a um “strip-tease”.
 
JERRY decide organizar uma “performance” parecida, para arrecadar dinheiro  suficiente, a fim de poder pagar sua dívida.
 
O primeiro a aderir à ideia é o esquisito e solitário MALCOLM (ANDRÉ DIAS), vigia da fábrica desativada, onde DAVE e JERRY trabalharam. Depois de uma tentativa de se matar, enchendo o carro do gás tóxico, que saía do escapamento do veículo, canalizado para dentro do automóvel, por meio de um duto, e de ser salvo por DAVE, ele se junta à dupla, para uma discussão sobre os métodos mais eficientes de suicídio. Com a sensação de que achara dois amigos, MALCOLM se integra à trupe, ganhando mais segurança e forças, para viver menos agarrado à sua dominadora mãe inválida, MOLLY.
 
O próximo da lista é o antigo gerente, o classe média HAROLD NICHOLS (CARLOS ARRUZA), que está tomando lições de dança com a mulher, VICKI (PATRÍCIA FRANÇA). HAROLD esconde, da mulher, que está desempregado. Esta é uma compradora feroz, consumista ao extremo, que continua achando a vida doce e feliz. HAROLD aceita ser o coreógrafo do grupo.
 
Começam as audições, para escolher os outros “strippers”. Um dos candidatos começa a dançar, sem jeito, e interrompe o teste, dizendo que as crianças estão no carro, esperando por ele, e que ali não era lugar para crianças. NATHAN, filho de JERRY, estava presente.
 
NOAH “JEGUE” SIMMONS (SÉRGIO MENEZES) é um candidato aceito. Ele tem uma vivência de dança, embora porte uma artrite avançada.
 
ETHAN GIRARD (VICTOR MAIA), que diz dançar como Donald O’Connor, em “Cantando na Chuva”, cuja qualidade decisiva é um (anunciado) imenso pênis, vive tentando subir pelas paredes, literalmente, como no filme, levando tombos homéricos.
 
Eles ainda incluem, na trupe, a pianista JEANETTE BURMEISTER (SYLVIA MASSARI), experiente em musicais, afastada, porém, das atividades artísticas há bastante tempo, que acompanha os rapazes, durante os ensaios.
 
DAVE está preocupado com seu peso. HAROLD acompanha os hábitos dispendiosos de VICKI.
 
No primeiro ensaio, HAROLD desanima, com a falta de jeito dos rapazes. Mas JERRY encontra uma maneira de animar todo mundo, puxando os movimentos para a linguagem do esporte. 
 

2º ATO:
 
Apesar de os ensaios continuarem, os rapazes ainda estão em dúvidas se aquele era o melhor meio de fazer algum dinheiro – a insegurança a respeito das próprias aparências é enorme.
 
O clube pede um depósito para a reserva da noite. JERRY tenta conseguir algum dinheiro com a ex-mulher, mas PAM se recusa a ajudar. NATHAN decide usar sua poupança e JERRY fica comovido com a fé do menino no pai.
 
Mais tarde, ensaiando na casa de HAROLD, eles se despem, pela primeira vez, uns na frente dos outros. E começam os pesadelos sobre o fracasso. Eles são interrompidos por carregadores, tentando tirar os bens materiais da casa de HAROLD – e os homens saem correndo do bando, ao encontrá-los quase pelados. A camaradagem aumenta.
 
Num ensaio geral, os rapazes, NATHAN e JEANETTE são pegos pela polícia – menos MALCOLM e ETHAN, que conseguem escapar e se encantam um pelo outro, na chegada à casa de MALCOLM. São interrompidos pela piora da saúde de MOLLY.
 
Uma chorosa PAM pega NATHAN, na delegacia. Na saída, os rapazes são cercados por mulheres, que perguntam por que devem assistir ao “show” que eles fariam, depois de terem visto as filipetas, que estavam sendo distribuídas, por NATHAN, anunciando o evento. E JERRY, num átimo, anuncia: “Ficaremos completamente nus”. Mas DAVE desiste da apresentação, uma semana antes do “show”, sentindo-se muito gordo, que ninguém quereria apreciar – incluindo a própria mulher, GEÓRGIA.
 
No funeral de MOLLY, ETHAN e MALCOLM demonstram seu relacionamento, sutilmente.
 
Tudo parece perdido. Mas GEÓRGIA e VICKI reafirmam sua fé nos maridos, apesar de tudo. E mais: a publicidade, conseguida pela prisão, fez com que os ingressos se esgotassem.
 
Assim, eles decidem enfrentar o desafio e fazer uma única apresentação, dos “Gigantes do Aço”, numa única noite – incluindo HAROLD, que conseguiu emprego. DAVE também aparece, mas JERRY entra em espiral de dúvida no último momento, e é NATHAN quem o convence de que deve ir em frente. E ele vai!
 



Em cena, uma terrível crise econômica e seis personagens se desnudam completamente, como uma possível única saída, que os fizesse dar a volta por cima e vencer. Pode-se enxergar, naquele ato, uma interessante metáfora: é preciso, em algum momento, ou em tantos outros, que nos dispamos dos nossos medos, dos nossos preconceitos, dos nossos “pré-conceitos”, dos nossos pudores, em busca de um ideal, de um futuro tão desejado e merecido.

 

Dentre os grandes destaques do espetáculo, UM DOS MELHORES MUSICAIS DO ANO, merecem espaço:

 

1) O texto – Embora escrito por americanos, e há bastante tempo, o texto do musical parece que saiu do computador ontem e se encaixa, perfeitamente, na atual realidade brasileira, porque abrange temas e preocupações do momento, praticamente universais, como uma crise - econômica, política e moral -, que gera desemprego e tudo de ruim que dele decorre, ao mesmo tempo que provoca a criatividade humana, para driblar o momento ruim e garantir a sobrevivência e, até mesmo, a superação e o sucesso. A crise acontece em qualquer lugar do mundo e é o melhor momento para se empreender. Na ficção e na realidade. É SYLVIA MASSARI, como JEANETTE, quem canta que “as coisas vão melhorar”. “Os personagens sabem disso e transmitem seu otimismo à plateia”.

Também é discutida a questão do papel do homem e da mulher na sociedade.

Outra razão para a aceitação do texto é a excelente versão de ARTUR XEXÉO, sua melhor investida nesse setor. Há uma total identificação do público com a história contada e é isso que faz com que a divulgação, de boca em boca, lote o Theatro Net Rio, de 5ª feira a domingo, com duas sessões aos sábados (Ver SERVIÇO.).

 


Kacau Gomes e Claudio Mendes.

 

 

2) Os cenários – Sem a menor sombra de dúvidas, este elemento é um dos maiores destaques do espetáculo. Motivos?

 

a) O conjunto é excelente.

 

b) São confeccionados com peças e sobras de cenários de outras montagens, dirigidas por TADEU AGUIAR e produzidas por ele e por EDUARDO BAKR. Quem tiver uma boa memória e a visão aguçada, há de reconhecer portas, paredes, escadas, painéis, móveis, adereços de “Esta é a nossa Canção”, “Baby, O Musical”, “Quatro Fases do Amor”, “Quase Normal”, “O Dia em que Raptaram o Papa”... E que mal há nisso? Nenhum!!! O momento de crise econômica, não de criatividade e inteligência!

 

c) Em função do espaço do palco, que não é dos maiores, é perfeito o trabalho do cenógrafo (EDWARD MONTEIRO) e do queridíssimo e já tão famoso “SEU” FARIA (J. FARIA), pai de EDUARDO BAKR, que sempre é o responsável pela execução dos cenários nas produções que levam a assinatura TADEU & EDUARDO (coordenação de cenotécnica). O grande mérito de EDWARD MONTEIRO E “SEU” FARIA é fazer caber tantos elementos cenográficos em cena, sem interferir no espaço de que os atores precisam, para fazer bem o seu trabalho, principalmente as coreografias.

 

d) A funcionalidade do cenário, que faz com que as trocas sejam muito rápidas e sem nenhum problema, em perfeita sincronia, feitas por dois assistentes de palco e pelos próprios atores, que, mais uma vez, “metem a mão na massa’, como operários desse magnífico ofício. Trabalho de mutirão. Isso é lindo!!!

 

e) A simplicidade dos cenários na construção de um espaço cênico. Uma única porta, por exemplo, indica, quando transposta, o interior ou o exterior de uma casa. Acrescida de um sofá, já vira a casa de outro personagem.

É bom demais esse cenário!!!

 

 


Mouhamed Harfouch e Xande Valois: “química” perfeita em cena.

 

 

3) O figurino – E viva o acervo! E viva NEY MADEIRA! E viva DANI VIDAL! E viva a reciclagem! E viva a criatividade! E viva a vontade de acertar!

Os figurinos são ótimos, quase tudo resgatado de outras produções também.

Pega-se a batina, usada por TADEU AGUIAR, em “Bilac Vê Estrelas”, por exemplo, e ajusta-se, para caber num outro ator, com menos corpo, para que surja um padre em cena, no velório da mãe de MALCOLM. Aliás, nessa mesma cena, VICTOR MAIA usa um terno que pertenceu ao falecido avô de EDUARDO BAKR.

Não! Não é para rir! É para aplaudir! É a mais pura verdade! E isso é lindo!!! 

Um traje de uma das atrizes traz as mangas de um outro, a gola de um terceiro e um bordado de um quarto. Daí, surgiu um novo figurino. E tudo deu certo. E muito certo! É assim que as coisas acontecem, quando se deseja muito que elas aconteçam.

 

4) A coreografia – Todas são excelentes, graças ao trabalho de ALAN REZENDE, muito bem executado pelos atores, todos, sem exceção, tanto os que já são bailarinos, e têm ampla experiência em musicais, quanto os que se propuseram a aprender e fazer pela primeira vez. Destaco os seguintes aspectos:

 

a) Praticamente, todos os movimentos coreográficos estão, intimamente, ligados às letras das excelentes canções, o que deve ser um requisito para coreografias em musicais, já que, paralelamente à melodia e à dança, há uma letra, que ajuda a contar a história. Nota dez!

 

b) A coreografia solo do personagem JEGUE é excelente, valorizada, evidentemente, pelo trabalho do ator SÉRGIO MENEZES.

 

c) Outro momento alto da peça é a coreografia que simula uma partida de basquete.

 

d) O número solo de SYLVIA MASSARI, no início do 2º ato, vem acompanhado de uma divertida e criativa coreografia, na qual são empregados apetrechos utilizados NA limpeza de uma casa.

 

5) As canções – São ótimas, algumas lindas; outras, mais ainda. Para não deixar de fazer um destaque, fixo-me na canção que JERRY canta para NATHAN, quando os dois estão na cama e o pai põe o filho para dormir. É linda, comovente, de provocar lágrimas, ainda mais pela imensa carga emotiva como MOUHAMED HARFOUCH a interpreta. Chorei.

 






Não precisa de legenda.

 

 

6) A direçãoTADEU AGUIAR, já há muito, não precisa provar que é um dos melhores diretores de MUSICAIS do Brasil. Cada um diretor tem a sua marca, o seu estilo pessoal. Com ele não é diferente. Tudo o que ele faz é simples, porém muito bonito e com muito cuidado; é engraçado, porém provoca reflexões; é dinâmico, quando o dinamismo se faz necessário, e é mais calmo, doce, suave, quando a ternura é requerida.

Consegue trabalhar com muita gente, ao mesmo tempo, e ter um cuidado especial com cada um de seus dirigidos, valorizando o potencial de cada um e unindo todos os esforços em prol do sucesso de um projeto. Respeito muito o seu trabalho e, mais uma vez, aplaudo esta direção, e de pé.

 

7) O elenco – O que dizer de 19 atores, alguns não muito conhecidos, mas a maioria bastante experiente e muitos com um nome já consolidado no ramo do TEATRO MUSICAL, como (por ordem alfabética) ANDRÉ DIAS, CARLOS ARRUZA, CAROL FUTURO, CLAUDIO MENDES, FÁBIO BIANCHINI, KACAU GOMES, LARISSA LANDIN, MOUHAMED HARFOUCH, PATRÍCIA FRANÇA, SARA MARQUES, SÉRGIO MENEZES, SYLVIA MASSARI, VICTOR MAIA e XANDE VALOIS?

Todos – eu disse “TODOS” - estão trabalhando pela bilheteria. Em outras palavras, os atores não recebem um salário fixo; entram num rateio sobre o que é arrecadado com a venda dos ingressos. Isso é lindo!!!

São todos profissionais – excelentes profissionais – com seus compromissos a serem saldados (é claro que envolvidos em outras atividades, que lhes proporcionam alguma renda), trabalhando por amor à arte, por um ideal, por uma conquista coletiva, que lembra muito a ficção vista no palco. Repito: ISSO É LINDO!!!

Felizmente, outras iniciativas como vêm sendo postas em prática ultimamente. No momento de crise, a união tem der ser reforçada.

            Se fosse fazer uma análise do trabalho de cada um elemento deste maravilhoso elenco, tornaria este texto muito maior do que já vai ficar. Assim, vou tentar condensar meus comentários:

 

a) MOUHAMED HARFOUCH – Sem desmerecer ninguém, só ele vale a ida ao teatro. Por um motivo muito simples: é um exemplo de superação. Primeiro musical, nunca havia estudado dança ou canto. E topou um desafio. “O” desafio. E está conseguindo divertir e emocionar a plateia.

Não espere ver, no palco, um Nureyev nem um Pavarotti. Não! Ele não é um exímio bailarino, muito menos um “virtuose” do canto. Mas canta e dança, como pede o espetáculo. Não canta tão bem, tecnicamente falando, embora não faça feio; mas canta com a alma, o que, neste musical, é o mais importante.

Lembremo-nos de que os personagens são homens comuns, trabalhadores, que se empenham em cantar e dançar, para fazer um “show”, que lhes poderia salvar a vida. Tudo dentro da proposta do espetáculo.

Aliás, o mesmo acontece com boa parte do elenco. Sem a menor importância! Que ótimo que as limitações estejam em cena! Elas fazem parte da proposta. Digo que todos são “ótimos cantores”.

O personagem do MOUHAMED é o mentor de toda a trama. Seu amor pelo filho, e tudo o que ele faz, para garantir estar próximo ao menino, após a separação, é comovente. Todas as cenas entre os dois são excelentes, lindas e, ao mesmo tempo, engraçadas. Muita gente há de se identificar com o personagem.

 

 


Cumplicidade ao extremo.

 

 

b) CLAUDIO GOMES – Sou fã incondicional deste ator, de gestos pequenos e caras largas. Ele tem um jeito muito personalíssimo de representar. É “cínico”; diz com a máscara facial, sem precisar de palavras. Sempre achei que seu maior mérito, em todos os personagens que o vi representar, estava nesse detalhe.

Os seis protagonistas têm um problema particular, vivem um drama, ou uma preocupação, pessoal, que serve de incentivo, uns aos outros.

O de JERRY é conseguir dinheiro, para garantir o contato permanente com o filho, a guarda compartilhada de NATHAN.

O de DAVE, o personagem do CLAUDIO, é a vergonha do próprio corpo. Ele é gordo, e isso gera problemas entre ele e a esposa, que sempre está à procura de sexo, mas a baixa estima do marido, com relação ao “corpo feio”, faz com que ele perca o interesse pelos “compromissos matrimoniais”.

Com o desemprego, o problema ganha maiores proporções.

É o melhor amigo de JERRY, mas é meio cético, com relação às ideias do amigo.

A despeito de sempre tê-lo na conta de um ótimo ator, confesso que CLAUDIO foi uma das grandes e agradáveis surpresas, para mim, neste espetáculo, assim como aconteceu com relação a outros, como o próprio MOUHAMED. CLAUDIO MENDES dá um “show” de interpretação e também vale a ida ao teatro, para vê-lo cantando.

 



Claudio Mendes.

 

 

c) ANDRÉ DIAS – Alguém já viu o ANDRÉ fazer, em TEATRO, algum trabalho que merecesse um adjetivo abaixo de “excelente”? Lanço o desafio. Não vou enumerar todos os ótimos personagens que interpretou até hoje e que lhe renderam muitos prêmios. Vou falar, apenas, do MALCOLM (“NÃO MAICON!”, como ele grita, enfurecido, cada vez que alguém pronuncia, erradamente, o seu nome).

ANDRÉ é um ator completo: interpreta, canta (tem uma belíssima e potente voz) e dança com grande maestria. É um ator muito estudioso, aplicado no ofício que escolheu. É um mestre dos musicais!

O personagem que lhe coube é muito bem representado, até pelo “physique du role” do ator. Seu grande drama pessoal é duplo: vive para uma mãe entrevada e tirânica, MOLLY, e não consegue “sair do armário” e assumir a sua sexualidade.

Depressivo ao extremo, sem amigos (o egocentrismo da mãe contribui para isso), fraco nas decisões, chega a tentar o suicídio, de uma forma esdrúxula, como a solução para os seus problemas, aos quais é agregado, posteriormente, o da demissão da fábrica.

Antes de ser demitido, depois dos outros, como vigia noturno da fábrica, facilita os ensaios do grupo, cedendo-lhes um espaço, até que, descoberto o delito, é demitido. Mais um grande personagem, na vasta galeria do ANDRÉ DIAS.
 

d) VICTOR MAIA – Jovem, porém veterano em musicais, como ator e grande coreógrafo. Aqui, paradoxalmente, ele faz o sujeito que acha que sabe dançar e não leva o menor jeito para a coisa. Esse é o seu grande problema, e isso é que faz a plateia rolar de rir com o personagem ETHAN, o mais “desinibido” de todos. É sempre o primeiro a querer tirar a roupa. Apregoa ser bem dotado, em termos de pênis, mas confessa, na hora “H”, que, “quando fica nervoso, ‘ele’ diminui de volume”.

Aproximas-se bastante do personagem de ANDRÉ DIAS, e os dois acabam se envolvendo numa relação homoafetiva, que, muito distante de poder parecer uma “apelação” do texto (“Mas tinha de ter relação gay na peça?”), é um dos subtemas mais bonitos e bem explorados na trama. E muito oportuno, também, numa época em que ainda se assassinam homossexuais, como se todas as formas de amor não valessem a pena.

ETHAN acaba sendo, antes de qualquer coisa, o primeiro grande amigo de MALCOLM.

A cena em que os dois, durante a o velório de MOLLY, juram, um ao outro, amor eterno e fidelidade na amizade, é uma das mais lindas do espetáculo. A canção é belíssima, a direção é perfeita e a interpretação dos dois atores é antológica. Chorei, nas duas vezes em que assisti ao musical. E, certamente, chorarei outras vezes. VICTOR também está ótimo em cena!

 

e) SÉRGIO MENEZES – Outra agradável surpresa. Como ator, já o admirava. Como ator, cantor e dançarino (Ou bailarino? Sempre tenho essa dúvida!), não sabia que era tão bom. Versátil! O seu JEGUE é “fake”. Aí está o grande problema do personagem. O único negro do grupo, todos acham que ele é bem dotado, a julgar pelo seu apelido: JEGUE. O nome é NOAH SIMMONS. Mas não é bem assim. Nas duas vezes em que vi o espetáculo, SÉRGIO foi aplaudido, merecidamente, em cena aberta, durante um solo de canto e dança. Muito bom o seu trabalho!



f) CARLOS ARRUZA – Outro veterano em grandes musicais. O seu problema? Ou melhor, do seu personagem? No fundo, no fundo, é a mulher, consumidora contumaz, acostumada a mordomias e de quem ele vive tentando esconder que também perdera o emprego de supervisor da fábrica. Cedendo a uma “chantagem” que lhes fariam os antigos subordinados, também demitidos, contando à sua esposa que ele também era um deles, aceita ser o “coreógrafo” do grupo, uma missão nada fácil. ARRUZA também executa, com correção, o seu papel.

 

 


Carlos Arruza e Patrícia França.

 

 

g) XANDE VALOISO que é este ator-mirim, meus senhores?

Na brincadeira, digo que não é um menino de onze anos, completados em setembro último; falo que é um “anão”, disfarçado de criança (“pré-adolescente”, para ele não ficar aborrecido comigo). É um abençoado esse XANDE.

Um ator completo, já feito. Parece já ter nascido, conhecendo tudo sobre o ofício de representar. É impressionante o trabalho e a presença deste “rapazinho” no palco! Desde sua postura em cena até a voz, que não é de criança nem aquela indefinida, que é o terror dos meninos nessa fase da vida.

Ele não brinca de fazer TEATRO. É um PROFISSIONAL, com todas as maiúsculas.

É impossível não notá-lo, sempre que está no palco, quer faça parte da cena, diretamente, quer não. Em geral, gente da idade dele, por melhor que seja, atuando, quando não está falando, fica alheio à ação, esperando ver “onde vai cair a pipa”, para, se possível, correr atrás e abandonar o palco.

Não é o caso dele. O tempo todo, está atento a tudo, participando da cena, expressivo até nos seus silêncios.

Estou totalmente encantado com ele, com o profissional que ele é.

E como convence no personagem! Como passa o amor ao pai e a compreensão e percepção que tem do problema, fazendo o possível, e o impossível, para tornar menor o sofrimento de JERRY!

Muitos aplausos, de pé, e muitos “BRAVOs!” para o XANDE!!!

 

 


Xande Valois, em destaque.

 

h) PATRÍCIA FRANÇA – Embora num papel não tão expressivo, é outra grande surpresa; para mim, pelo menos. Não como atriz, porém não sabia que cantava tão bem. Canta muito, afinadíssima, voz, tecnicamente, colocada. Está excelente em cena!

 

i) SYLVIA MASSARI – Os tantos “anos de janela” e seu enorme talento fazem com que SYLVIA brilhe neste espetáculo, dando vazão à sua veia cômica e cantando cada vez melhor. Seu solo, no início do segundo ato, é sempre aplaudido em cena aberta. E bem merecido. Quero sempre ver SIYLVIA MASSARI em musicais!

 


Não precisa de legenda.

 

j) Todos os demais atores e atrizes, sem exceção, completam, com correção, a afinação de um elenco extraordinário, com um leve destaque para as atrizes.

 

            Tenho certeza de que quem for assistir ao espetáculo – e motivos não faltam para isso – não conseguirá piscar, mas chamo a atenção de todos para algumas cenas e detalhes nesta encenação:

 

            - A abertura, que apresenta projeções de notícias atuais, sobre os problemas que os brasileiros estamos enfrentando, algumas carregadas de ironias e todas relacionadas ao espetáculo.

 

 

 

 



 

  

            - A atuação das atrizes interagindo com a plateia.

 

            - A voz de Kacau Gomes, nos seus solos.



            - A atuação da excelente banda, posicionada acima do palco, no canto esquerdo, na visão da plateia.

 

            - A cena do banheiro masculino, no clube de “strippers”, que lembra muito as situações encontradas nos “vaudevilles”.

 

 


Os maridos ouvem, sem querer, as “queixas” das esposas.

 

 

            - A aula de “como ser sexy”, dada pelo personagem, “stripper” profissional, de FÁBIO BIANCHINI a JERRY. É hilária!



            - A cena em que JERRY e DAVE encontram MALCOLM dentro de um carro, totalmente fechado, tentando o suicídio. O “incentivo” dos dois ao aspirante a defunto é de fazer rolar de rir.

 


“Dando força” ao candidato a suicida.

 

 

            - A cena do velório de MOLLY é, ao mesmo tempo, linda e muito engraçada, uma vez que, como já foi dito, enquanto, numa linda canção, brilhantemente interpretada por ANDRÉ DIAS e VICTOR MAIA, os dois se prometem, um ao outro, paralelamente, num dos cantos do palco, para “não perder tempo”, os personagens de SÉRGIO MENEZES, MOUHAMED HARFOUCH e CARLOS ARRUZA, discretamente, treinam, ensaiam, uma coreografia, para o “show”, ao som da referida canção.

 

            - O número final é para lavar a alma, para fazer com que o espectador saia do teatro otimista, sabendo que, apesar de toda a treva em que o Brasil está mergulhado, graças aos últimos (des)governos, ainda podemos ter esperanças de dias melhores, lutar, criar, reinventar e deixar um país melhor para os nossos filhos e netos.

 

            É preciso que continuemos esgotando a capacidade de espectadores do Theatro NET Rio, uma vez que, apesar de o elenco ganhar parte do que é arrecadado com a venda dos ingressos, a produção tem, mensalmente um custo de mais de R$120.000,00, para cumprir seus compromissos, pagando a músicos, técnicos e gastando em outras despesas, como divulgação, por exemplo.

 

Portanto, nada de pedir convites!!!

 


É comédia, mas também dá para chorar de emoção, com estes dois.

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
Autores: Terrence McNally (texto) e David Yazbek (música)
Direção: Tadeu Aguiar
Direção Musical: Miguel Briamonte
Versão para o português: Artur Xexéo
 
 
Elenco: MOUHAMED HARFOUCH (JERRY)
CLAUDIO MENDES (DAVE)
ANDRÉ DIAS (MALCOLM)
VICTOR MAIA (ETHAN)
CARLOS ARRUZA (HAROLD)
SÉRGIO MENEZES (JEGUE)
XANDE VALOIS (NATHAN)
PATRÍCIA FRANÇA (VICKI)
KACAU GOMES (GEÓRGIA)
SYLVIA MASSARI (JEANETTE)
SAMANTHA CARACANTE (PAM),
CAROL FUTURO (ESTELA)
SARA MARQUES (SUSAN)
LARISSA LANDIN (JOANA)
FABIO BIANCHINI (BOBBY / KENO)
FELIPE NIEMEYER (TEDDY)
GABRIEL PEREGRINO (REGIS)
RAPHAELL ALONSO (MARTY)
CHRISTIANE MATTOS (VELHA DO ASILO).
Músicos: Miguel Briamonte, Daniel Sanches – piano
                Josias Franco, Ricardo Hulck, Marco Moreira (Chiquinho) – sopros 
                Pedro Silveira –  guitarra
                Leandro Vasques – baixo
                Tiago Calderano – bateria
 
Cenário: Edward Monteiro
Coordenação de Cenotécnica: J Faria
Figurino: Ney Madeira e Dani Vidal
Coreografia: Alan Rezende
Desenho de Luz: David Bosboom e Daniela Sanchez
Desenho de Som: Gabriel D’Angelo e Bruno Pinho
Multimídia: Paulo Severo
Assistente de Direção: Flávia Rinaldi
2a Assistente de Direção: Claire Nativel
Assistente de Coreografia: Rafael Camel
Assistente de Produção: Leandro Giglio
Assistente de Direção Musical: Daniel Sanches
Orquestração: Harold Wheeler
Arranjos Vocais e Incidentais: Ted Sperling
Arranjos para Músicas de Dança: Zane Mark
Preparação Vocal: Mirna Rubim
Design Gráfico: Claudia Xavier
Fotos: Gustavo Bakr
Coordenação de Produção: Norma Thiré
Produtor Associado: Brainstorming Entretenimento
Produção geral: Eduardo Bakr
Realização: Estamos Aqui Produções Artísticas
Baseado no filme da Fox Searchlight Picture, escrito por Simon Beaufoy, produzido por Uberto Pasolini,  direção de Peter Cattaneo.
 

 

 

 


Isto é só o início.



E isto é o final.

Ou haverá mais?

Vá conferir, se está curioso(a)!

 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Theatro Net-Rio.
 
Endereço: Shopping Siqueira Campos - Rua Siqueira Campos, 143 - Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.
 
Telefone: (21)2147-8060.
 
Estacionamento pago   /   Acesso para portadores de necessidades especiais.
 
Temporada: Até 20 de dezembro.
 
Dias e Horários: 5ª feira e 6ª feira, às 21h;
                             sábado, às 18h e 21h30min;
                             domingo, às 19h.
 
Capacidade: 614 lugares.
 
Valores dos Ingressos: R$150,00; R$100,00; e R$50,00 (dependendo da localização; com direito a meia-entrada, de acordo com a legislação em vigor, além de descontos especiais.)
 
Bilheteria: De 2ª feira a domingo, das 10h às 22h.
 
www.ingressorapido.com.br
 

Duração do espetáculo: 140 minutos (com intervalo).
 
Classificação Etária: 10 anos.

 

 


Aplausos e agradecimentos, na sessão para convidados.

 

“Ou Tudo ou Nada” conta a história da superação e do sucesso pessoal de gente comum, buscando de maneira original sua autoestima perdida em meio à crise econômica.

        

Vamos assistir à peça e fazer o mesmo?

           

 

 

(FOTOS: GUSTAVO BAKR – DIVULGAÇÃO.)

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos de Marisa Sá.)






Com Mouhamed Harfouch.




Com Xande Valois, o pequeno grande ator.




Com André Dias.




Com Victor Maia.

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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