quinta-feira, 27 de abril de 2023

 

“O ALIENISTA”

ou

(DAS PÁGINAS

DE UM LIVRO,

TRANSPOSTO PARA

UM PALCO,

UM ESPETÁCULO

DE GABARITO

PROFISSIONAL.)



(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados.)



Ao ler o subtítulo desta crítica, quem não é “habitué” de TEATRO pode estar se perguntando o que desejo dizer com ele. É simples: o espetáculo aqui analisado é feito por atores ainda não profissionais, mas que têm um comportamento, no palco, como se já o fossem. Faz parte do “UNIRIO TEATRO MUSICADO”, um projeto acadêmico que existe, e resiste, desde 1995, graças à coragem e ao talento do professor RUBENS LIMA Jr., seu fundador e diretor de todos os espetáculos até hoje encenados pelo “Projeto”, e seus colaboradores.


Rubens Lima Jr.



Sempre é bom lembrar que, pelas mãos do RUBINHO, como o professor é, carinhosamente, chamado, surgiram alguns dos mais representativos atores e atrizes do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, hoje, profissionais de sucesso, como Cristiano Penna, Fabricio Negri, Maria Netto, Sabrina Korgut, Leo Bahia, Tauã Delmiro, Victor Maia, Guilherme Borges, Pedro Henrique Lopes, Aurora Dias, Thadeu Mattos, Larissa Landim, Rodrigo Naice, Flora Menezes, Hugo Kerth, Rodrigo Morura, Thuany Scheidegger, Vinicius Teixeira, Vitor Martinez, Nando Brandão, Carol Pita, Ester Dias, Robson Lima, Bárbara Sut, Raquel Antunes e muitos outros, alguns deles já tendo experimentado a posição de protagonistas.




A cronologia do “Projeto” comportava dez produções, até a atual montagem de “O ALIENISTA”, a décima primeira, a saber: “Canções para um Mundo Novo” (2007); “Canções para um Amor Perdido (2008); “Cambaio” (2009); "The Rock Horror Show" (2010); “Tommy – A Ópera Rock” (2011); “Monty Python’s Spamalot (2012); "The Book of Mormon" (2013); “O Jovem Frankenstein” (2015); “O Mambembe” (2016); e “O Primo da Califórnia” (2018).



 

SINOPSE:

A obra gira em torno da história de Simão Bacamarte, médico respeitado, que viajou pela Europa e pelo Brasil.

Quando criou um consultório, na cidade fluminense de Itaguaí, resolveu se casar com uma viúva, Dona Evarista.

A relação do casal não era baseada no amor, e sim na possibilidade de ter filhos.

Simão acreditava que Evarista seria uma boa parceira, para o intuito dele, no entanto, nunca chegaram a ter filhos.

Mais tarde, ele resolve criar um manicômio na cidade, o qual recebeu o nome de “Casa Verde”.

Empenhado em seus estudos voltados para a psiquiatria, Simão começa a ter muitos internos, que viviam em Itaguaí e arredores.

Isso, porque o médico começou a enxergar loucura em muitas pessoas.

Costa, um homem que perdeu toda sua herança, foi considerado louco pelo alienista.

Essas atitudes começam a deixar os cidadãos da cidade apreensivos, o que gera um movimento, liderado pelo barbeiro Porfírio.

O movimento, que ficou conhecido como “Revolta do Canjica”, foi batizado assim porque Canjica era o apelido do barbeiro.

Diante dos protestos na frente da sua casa, o doutor recebe a massa com indiferença e retorna aos seus afazeres, no entanto, Porfírio tinha o intuito de seguir carreira política e, ao chamar Simão para uma reunião, acaba se aliando a ele.

E as internações continuam na cidade.

Devido às internações dos 50 membros que estavam apoiando a revolução de Porfírio, outro barbeiro da cidade, João Pina, consegue auxiliar na deposição de Canjica.

Ainda que todos tentassem lutar para acabar com a “Casa Verde”, o local se fortalecia, com o passar do tempo.

Até mesmo Dona Evarista, mulher do Alienista, não escapou de ser internada, apenas porque tinha tido uma noite mal dormida.

Quando 75% da cidade estava internada, quando Simão resolve voltar atrás e liberar todos os internos, certo de que sua teoria estava errada.

Assim, o Alienista recomeça a internar outras pessoas, agora seguindo outra teoria.

O primeiro interno é Galvão, o vereador da cidade.

Tempos depois, conclui que a sua teoria está errada novamente, por isso libera todos os pacientes internados na “Casa Verde” e conclui que o louco era ele.

Então, resolve se trancar na “Casa Verde”, onde morreu, dezessete meses depois. 

 


O livro, mais uma das muitas obras-primas escritas por Machado de Assis, não mantém seu foco apenas sobre a maneira como o cientificismo foi absorvido na sociedade brasileira; em particular, a carioca. O original não é um romance, e sim um conto, bem extenso, que também fala sobre a disputa de poder entre o discurso científico, representado pelo Dr. Simão Bacamarte, e o discurso religioso, personificado no Padre Lopes. O confronto entre ciência e religião estando sempre na ordem do dia. O texto machadiano doi publicado em 1882, entretanto a temática central ainda é bastante pertinente.



Transpor uma obra de arte, de uma linguagem para outra, não é para quem quer; é para quem pode. E, se a proposta é adaptar um livro, pertença ele a este ou aquele gênero literário, para a linguagem teatral, da narrativa para a dramaturgia, creio que a tarefa não é das mais fáceis. Se, ainda mais, essa peça de TEATRO for um musical, o talento de quem será o responsável por tal adaptação, muito contemporânea, é mais cobrado, o que não é problema para ALEXANDRE AMORIM, que fez o mesmo excelente trabalho, em montagens anteriores do “Projeto”, sempre com o melhor resultado possível. Depois de ter assistido a “O ALIENISTA”, percebo ALEXANDRE como uma espécie de “gênio”, nessa atividade. Os diálogos são riquíssimos e a cronologia dos aconteciomentos, devidamente encaixados na obra, facilitam muito, para o espectador, o entedimento da peça. Outro ponto bastante positivo, no texto adaptado, é a conservação do tom humorístico e extremamente irônico, sarcástico, marca registrada da genialidade do “Bruxo do Cosme Velho”, assim como a presença de forte crítica social e análise psicológica dos personagens, com destaque para comportamentos, atitudes, interesses, relações sociais e o egoísmo humano. ALEXANDRE manteve-se fiel à visão do contista, quando apresenta a loucura e a sanidade separadas por uma linha tênue. O mesmo talento empregado na adaptação do texto, demonstrou ALEXANDRE AMORIM, ao escrever as letras das canções, que ajudam a contar a história, como deve sempre acontecer em musicais. Essaletras receberam o tratamento musical de GABRIEL GRAVINA, GUILHERME ASHTON, GUILHERME DE MENEZES e MATHEUS BOECHAT. Ainda com relação à parte musical, GUILHERME BORGES assina os arranjos e a direção musical, impecáveis, por sinal. Tanto as letras quanto as melodias são inéditas.


Alexandre Amorim.




A obra tem um narrador onisciente, em terceira pessoa, função que, de forma inteligente e criativa, ALEXANDRE transferiu para o autor, Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS e o médico e cientista Sigmund FREUD, num encontro inusitado, que só a magia do TEATRO permite se tornar concreto.


 

        RUBINHO é um diretor que se prende aos mínimos detalhes e exige muito de seus dirigidos, de forma obstinada, visando à perfeição, “comme il faut”. É uma montagem acadêmica, sim, contudo a relação diretor / elenco se dá num nível muito profissional. A cada nova montagem, cresce, ainda mais, a minha admiração por seu trabalho de direção.



      Lutando contra o terrível “fantasma” da verba curta – falta de dinheiro, no popular -, o diretor consegue arrebanhar profissionais gabaritados, seus colegas professores da UNIRIO, para auxiliá-lo na difícil tarefa de levantar um espetáculo musical, como JANE CELESTE e MARIANA BALTAR, na assessoria fonoaudiológica, e DORIANA MENDES, na preparação vocal.



      Ainda por conta dos parcos recursos financeiros, a cenografia e os figurinos, que, na produção de um musical, demandam um custo elevado, sempre se destacam pela criatividade e menos pela suntuosidade, se bem que, os trajes dos personagens, aqui, além de bonitos e ajustados à época, são muito criativos e fazem uma bela figura.  



     ADRIANA MILHOMEM é a responsável pelo desenho de luz, que também aprovo, não como técnico, mas como apreciador do belo.



       O elenco é formado por 38 atores (Vide FICHA TÉCNICA.), todos com largos recursos nas esferas da interpretação, do canto e da dança. A propósito, fiquei muitíssimo impressionado com as coreografias, criadas por SHANTALA CAVALCANTI e muito bem executadas pelo homogêneo grupo Há, como sempre – e eu adoro – um número de sapateado, cuja coreografia é creditada a ALEXEI HENRIQUES.



       Alguns atores fazem sempre os mesmos papéis, porém há outros que são defendidos por duas ou mais pessoas, em sessões distintas. O todo me agradou sobremaneira, mas me permito destacar alguns nomes, na sessão a que estive presente: LUCAS RESENDE (Narrador – Machado de Assis), MIGUEL CONTI (Dr. Sigmund Freud – uma das melhores coisas que vi, em TEATRO, nos últimos tempos. Quanto talento, para apenas 21 ou 22 anos de vida!), TIAGO BASTIONE (Dr. Simão Bacamarte), LENITA MAGALHÃES (Dona Evarista) e RUTH CIRIBELLI (Madre Lurdes – Como canta esta moça!). Não pensaria duas vezes, para dizer que o quinteto já está pronto para pisar os palcos, como profissionais, e tenho plena certeza de que os aplaudirei muitas vezes, ao lado de nomes consagrados do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Os demais também mostram que estão no caminho certo, e, aqui, incluo meu sobrinho-neto, JOÃO BARTHOLO.



       Quem é só espectador, muitas vezes, não tem noção da grande quantidade de pessoas envolvidas num projeto teatral, como no exemplo da FICHA TÉCNICA abaixo:

         

 


 


 FICHA TÉCNICA:

Texto Original: Machado de Assis
Adaptação e Letras: Alexandre Amorim

Direção: Rubens Lima Jr.

ELENCO: Lucas Resende (Narrador - Machado deAssis),  Miguel Conti (Sigmund Freud), Tiago Bastione (Dr. Simão Bacamarte), Jude Fontenelle (Dona Evarista/Ensemble), Lenita Magalhães (Donba Evarista/Ensemble), Savico (Crispim Soares), Lohrana Canedo (Cesária/Ensemble), Yasmin Zandonade (Cesária/Ensemble), Carol Coimbra (Madre Lurdes/Ensemble),
Ruth Ciribelli (Madre Lurdes/Ensemble), Daniel de Mello (Porfírio), Luís G. Pirangi (Vereador Freitas), João Bartholo (João Pina), Cadu Chagas (Costa), Beatriz Casarotto (Prima do Costa/Ensemble), Larissa Jansen (Prima do Costa/Ensemble), Luca Santi (Mateus), Tomás Santa Rosa (Martim Brito), André Lopes (Presidente da Câmara), Gabriel Oliveira (Capitão da Guarda/Ensemble), Lorenzo (Capitão da Guarda/Ensemble), Andressa Toledo (Ensemble), Artemio Pereira (Ensemble), Georgius Gabriel (Ensemble), Isabela Gopin (Ensemble), Julia Vasconcelos (Ensemble), Kyara Zenga (Ensemble), Matheus França (Ensemble), Samantha Joshua (Ensemble), Shantala Cavalcanti (Ensemble) e
Thaisa Muniz (Ensemble)

Músicas: Gabriel Gravina, Guilherme Ashton, Guilherme de Menezes e Matheus Boechat

Direção Musical: Guilherme Borges

Coreografias:Shantala Cavalcanti

Coreografias de Sapateado:Alexei Henriques

Preparação Vocal:Doriana Mendes

Assessoria Fonoaudiológica:Jane Celeste e Mariana Baltar

Cenografia:Gabriel Oliveira

Figurinos: Clara Vasconcellos, Yan Guilherme, Daniel Furtado e Julia Couri

Orientação de Indumentária: Carla Costa

"Design" de Luz: Adriana Milhomem

Caracterização e Visagismo: Everton Cherpinsk

Orientação de Caracterização e Visagismo: Mona Magalhães

Adereços: Chris Eksterman

Direção de Produção: Luís G. Pirangi

Assistente de Direção:Claudio Ribeiro

Assistente de Direção Residente: Carol Pita e Tom Karabachian

Assistente de Direção Musical: Igor Zupo

Assistentes de Preparação Vocal: Carol Vanni, Clara Lira e Alessandra Quintes

Músicos da Banda: Guilherme Borges, Clara Lira, Igor Zupo e Lívia Félix

Arquiteta: Ana Beatriz Lima

Assistentes de Cenografia: Eduarda Brandão e Mariana Faria

Assistentes de Figurinos: Rayane Flaviano, Betina de Bem e Bruna Lima

Assistentes de Caracterização: Beatriz Charles e Beatriz Blois

Assistentes de Produção: Julia Afonso, Lorenzo, Maria Luiza Mattos, Matheus Max e Savico

Assessoria de Imprensa e Social Media: Cadu Chagas, Larissa Jansen, Lorenzo, Maria Luiza Mattos, Savico e Tomás Santa Rosa

Estagiária: Bruna Meireles

Operador de Luz: Marcella Amorelli e Lara Aline Pereira

Técnico de Luz:Anderson Ratto e Alexandre Capett

Produção Musical: Tiago Batistone

Técnico de Som:Diogo Sarcinelli (Estúdio Radames Gnattali) e Lívia Félix (Palcão UNIRIO)

Operadora de Som: Lívia Félix

"Designer" Gráfico: Cadu Chagas

Base do "Design": Vivian de Luna

Fotografias: Carolina Liaño e Maria Luiza Mattos

Cenotécnico UNIRIO: Alexandre Guimarães e Derô Martíns

Costureiras UNIRIO: Katia Salles e Regina Olivia

Camareiro UNIRIO: Jai Gonçalves

 

 


 

 

 SERVIÇO: 

Temporada: De 07 a 30 de abril de 2023.

Local: Palcão da UNIRIO (Sala Pascoal Carlos Magno).

Endereço: Avenida Pasteur, 436 – Urca – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: Às 4ªs, 5ªs e 6ªs feiras, às 20h30min; aos sábados, às 20h; aos domingos, às 19h30min.

Valor dos Ingressos: ENTRADA FRANCA, com distribuição de ingressos uma hora antes das sessões, por ordem de chegada.

Duração: 140 minutos.

Classificação Etária: 14 anos.

Gênero: COMÉDIA MUSICAL.

 

 



 Acompanhei, pelos contatos com o JOÃO BARTHOLO, todo o processo de criação, que foi iniciado em 2019, com audições, começou a ser ensaiado lá, entretanto ficou pelo meio do caminho, por causa da epidemia de COVID-19. Vi o quanto de garra, sacrifício, e amor à ARTE, mormente o TEATRO, marcou este processo de montagem, que merece os meus mais efusivos aplausos e que eu RECOMENDO MUITO.

 

 

 

FOTOS: CAROLINA LIAÑO

E

MARIA LUIZA MATTOS

 

 

GALERIA PARTICULAR:




Com João Bartholo.



Com MiguelConti, Mariana Baltar 
e Josimar Carneiro.



Com Rubens Lima Jr.



Com Daniel de Mello e Lenita Magalhães.



Com Cassio Pandolph e Dhu Moraes.










VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!! 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

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PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

 






























































 

 



 

 


 



 

 

 

 

 

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