domingo, 15 de janeiro de 2023

 

“MINHA VIDA

EM MARTE.”

ou

(ELA FOI 

PARA LÁ

E SE DEU 

BEM MAL.

OU NÃO?!)

 

 

 

                  Na última 5ª feira (11 de janeiro de 2023), atendendo a um convite feito por RENATA MAGALHÃES, assessora de imprensa do Teatro Casa Grande, fui àquele excelente Teatro carioca, um dos melhores, para participar de dois eventos. O primeiro, um “happy hour”, com a cerimônia de descerramento de uma placa, oferecida pelo governo municipal do Rio de Janeiro, o qual reconheceu aquela icônica e histórica casa de espetáculos como patrimônio cultural do Rio de Janeiro, por seus quase 57 anos de bons serviços prestados ao município, título concedido por meio de um Decreto publicado no Diário Oficial do município, no dia 20 de outubro de 2022. A partir de agora, o Teatro Casa Grande passa a integrar o Circuito dos Teatros do projeto “Circuitos do Patrimônio Cultural Carioca”, organizado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. O segundo motivo foi assistir à estreia do espetáculo “MINHA VIDA EM MARTE”, com texto e interpretação de MÔNICA MARTELLI, sob a direção de SUSANA GARCIA. Na verdade, “MINHA VIDA EM MARTE” não está estreando, no Rio de Janeiro, uma vez que já havia sido apresentada aqui, numa profícua temporada, a partir de junho de 2017, no Teatro dos 4.




             Tenho uma grande ligação afetiva com o Teatro Casa Grande por dois motivos principais. Foi lá que atuei, no TEATRO profissional, pela segunda vez, num espetáculo infantil, uma super produção, “Dom Chicote-Mula-Manca e seu Fiel Escudeiro Zé Chupança”, em 1971/72, quando interpretei, por alguns meses, um dos protagonistas, Dom Chicote, ao lado de uma famosa estrela global da época e de um ótimo elenco, no qual se destacava um certo rapaz franzino, chamado Ney de Souza Pereira, transformado, logo depois, numa velocidade estonteante, em Ney Matogrosso. O que também me liga, afetivamente ao Casa Grande, foram os vários momentos em que participei das famosas reuniões – verdadeiros comícios “indoor” - que clamavam pela volta do Estado Democrático de Direito, que nos fora roubado pelos gorilas milicos e os desprezíveis civis responsáveis pelo lamentável golpe militar de 1964, “página infeliz da nossa História, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações” (Chico Buarque de Holanda.).



        


             Durante o grande período em que trabalhei no Casa Grande, ficava fascinado com o amor e a dedicação que a dupla de sócios - e amigos - fundadores do Teatro, Max Haus e Moysés Ajhaenblat, demonstravam pela casa. Cheguei a pensar, ingenuamente, que os dois moravam lá, de tanto tempo que eles passavam no Teatro. Eu chegava bem antes do início da sessão e gostava muito de conversar com ambos, principalmente com o Max, entretanto, confesso, até com um certo grau de vergonha, que, somente há pouco tempo, consegui saber quem era um ou outro. Hoje, acho que era pelo fato de enxergá-los quase com uma “entidade”, indissociável, uma espécie de Cosme e Damião - também nunca soube distinguir quem é quem - na imagem. Pareciam uma só persona, com um “clone”, como sombra.



Max Haus



Moysés Ajhaenblat
(Foto: Gilberto Bartholo - durante a cerimônia.) 


            Seu Max, para a nossa tristeza, já faleceu, porém Seu Moysés, já muito idoso, ainda está vivo, felizmente, e esteve presente na cerimônia de anteontem, o que me deixou muito feliz, ao lado de Dona Vilma, viúva de Max Haus. Outro fator que também contribuiu para a minha alegria, naquela noite, responsável pela grande emoção que tomou conta de mim e pelo embaçamento da minha visão, por alguns minutos, foi o grande jornalista, escritor e “imortal” Senhor Zuenir Ventura, figura frequente na luta pela democracia, corajosamente encampada pelo Casa Grande, nas já citadas reuniões, ao lado de grandes nomes das artes e da política. Tancredo Neves, em 11 de novembro de 1984, decidiu chamar o espaço do Teatro Casa Grande de o “Território Livre da Democracia”. Passou um filme, de longuíssima-metragem, na minha cabeça. Hoje, o Teatro Casa Grande é gestado pela segunda geração das famílias dos seus fundadores, nas pessoas de Leo Haus e Sílvia Haus, filhos do velho Max, e Rodrigo Gerheim, filho do Senhor Moysés. A cerimônia foi comandada por Leo Haus e a honra do descerramento da famosa “plaquinha azul” coube à atriz Mônica Martelli, visivelmente emocionada. Foi uma noite inesquecível, quando pude reencontrar tantos queridos amigos que o TEATRO me deu, agora, na "pós-pandemia" (Será que já passou?! Acho que não, totalmente.).



Zuenir Ventura
(Foto: Gilberto Bartholo - durante a cerimônia.)








- X -

 

              Na verdade, “MINHA VIDA EM MARTE” não é uma estreia, visto que, como já disse, houve uma vitoriosa temporada do solo, em 2017, no Teatro do 4, no Rio de Janeiro. Depois, o espetáculo fez uma brilhante carreira, Brasil afora, somente interrompida, em 2020, pela pandemia de Covid-19. Trata-se, portanto de uma reestreia, sendo que o único detalhe diferente do que vi antes, há cinco anos e meio, foram mínimas alterações no texto – mínimas mesmo – para torná-lo mais atual, com um pouco mais de frescor na linguagem e em algumas referências. O tema é universal e atemporal. Trata-se de uma comédia deliciosa. A crítica registrada abaixo é uma cópia da que publiquei no dia 17 de junho de 2017, com uma ou outra, quase imperceptível, alteração, na tentativa de pintar, com todas as cores, a minha alegria em poder me divertir bastante e aplaudir, novamente, MÔNICA MARTELLI novamente. O solo cômico é uma continuação de outro espetáculo estrelado por ela, em 2000, “Os Homens São De Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou”, também um extremo sucesso de público e de crítica, como vem sendo este.



- X –

 

(Crítica publicada em 2017, que se aplica a hoje.)


  

 

             Se há um comentário que me irrita profundamente, quando o assunto é TEATRO, é o de que “comédia é uma arte menor”. Isso é pura prova de ignorância preconceito, ambos no mesmo campo semântico. Infelizmente, até em determinados prêmios de TEATRO, verifica-se uma certa “má vontade”, em alguns jurados, para reconhecer o talento de artistas e técnicos, mais daqueles que destes, envolvidos em grandes projetos de TEATRO em forma de COMÉDIAS. Esse fato, lamentavelmente, não está rerstrito ao Brasil e ao TEATRO. É só pesquisar, por exemplo, na história do "Oscar", e ver quantas COMÉDIAS mereceram a estatueta. Isso é uma lástima, mas existe, sim; acreditem! E tanto é verdade, que até Fábio Porchat, em boa hora, teve a feliz ideia de criar um prêmio destinado, única e exclusivamente, à COMÉDIA.




 

           Em primeiro lugar, todos sabemos – e, aqui, terei de repetir o óbvio – que é muito mais difícil fazer rir que chorar. Se for monólogo, então, a responsabilidade do(a) ator/atriz mais que dobra. É preciso muito talento, como o de MÔNICA MARTELLI, para encarar, solitariamente, do alto de um palco, um público de centenas de pessoas, que superlota (Lotação já esgotada, por alguns dias, desde a estreia.) o Teatro e ser aplaudida, em cena aberta, várias vezes, e ovacionada, ao final, no caso aqui analisado.




 

              Estou falando de “MINHA VIDA EM MARTE”COMÉDIA (com todas as maiúsculas), que está em cartaz no Teatro Casa Grande (VER SERVIÇO.) E a atriz em questão é a bela e talentosa MÔNICA MARTELLI, que, além de interpretar o monólogo, foi quem o escreveu.


 

        


           Acho - ou quase tenho certeza disso - que MÔNICA não tinha noção do potencial de seu talento, como redatora e atriz, quando resolveu encenar, há quase 22 anos, um espetáculo nos mesmos moldes que este, “Os Homens São De Marte... E É Pra Lá Que Eu Vou”, que fez uma grandiosa carreira, de anos, com sucesso absoluto de público e de crítica, lotando o Teatro Vannucci, no Rio de Janeiro, e tantos outros, por onde viajou, por todo o Brasil. Foram, ao todo, 40 cidades, em 20 estados, com uma esticada a Portugal.





             Naquela peça, a lamentação era por não conseguir, a despeito de tanta procura, encontrar um homem que a completasse, que fosse a “metade da sua laranja”, já um pouco madura demais (A personagem Fernanda; não a laranja.). Aqui, encontramos uma espécie de continuação da saga da protagonista, que passa a relatar as aventuras e desventuras de um casamento: o sonho e o pesadelo.


              


      Na época do lança,ento do monólogo anterior, MÔNICA MARTELLI tinha 36 anos e não poderia prever o sucesso que a peça, protagonizada e escrita por ela, alcançaria. Nem, tampouco, esperava a reviravolta que Fernanda, a personagem que criou, para falar de amor e discutir o empoderamento feminino, muito antes de a expressão cair no gosto popular, faria em sua trajetória pessoal. O sucesso foi tão retumbante, que virou filme e série de TV, sempre com elogiável aceitação.




 

          Doze anos depois, aos 48 anos, MÔNICA está de volta, com sua nova obra, “MINHA VIDA EM MARTE”, e Fernanda, agora,mais velha, com 45 anos, vê-se à procura de respostas para, sobreviver na  deseja vida conjugal.  MÔNICA fala, de cadeira, sobre o assunto explorado na peça,  por conhecer de perto,  na própria carne, as situações da fictícia personagem, o que agrega bastante credibilidade a seu texto.




 

            MÔNICA mergulha fundo no universo feminino, o que não é fácil nem para uma mulher, e aborda as idiossincrasias da personagem, sem poder evitar alguns lugares-comuns, é claro, porém sem as mesmices que estamos acostumados a ver, sem ser repetitiva nem vulgar.

 

 



  

SINOPSE: 

Se, em “Os Homens São de Marte...”, Fernanda estava em busca do amor, em “MINHA VIDA EM MARTE”, a personagem, agora, está casada, há oito anos, com Tom, com quem teve uma menina de cinco aninhos: Joana. 

Este é o pano de fundo para a protagonista se questionar, na terapia de grupo. É nas sessões de análise que ela narra e vivencia, deliciosamente, as alegrias e os muitos problemas do seu casamento. 

Ali, ela expõe assuntos íntimos, como, por exemplo, a falta de tesão ou as tentativas de “trabalhar a relação”, o que vive repetindo, e percebe que, nas relações estagnadas, adia-se o afeto e acumulam-se mágoas.

O texto toca em algumas conhecidas feridas e as aprofunda, como traição, machismo, trabalho duplo da mulher e educação dos filhos. 

“MINHA VIDA EM MARTE” é um texto libertador, sem ser feminista, que foi escrito sob a premissa de que ser feliz é fundamental.

 



 


  “É muito comum, no casamento, que a gente deixe para amanhã a ternura, o sexo e a tolerância. E, quando percebemos, a família, com que tanto sonhamos, está por um fio”, revela MÔNICA sobre o destino de Fernanda. O espectador passa todo o tempo da peça como um “coleguinha de terapia de grupo”, na expectativa de um final para a personagem, seja ele qual for; de preferência, o melhor, mesmo que ela tenha de pagar um alto preço por ele.




 

    Pode ser que o destino de FERNANDA seja o de conseguir superar o que possa parecer apenas uma crise conjugal ou, se isso não puder acontecer, concretizar uma dolorosa separação, a qual, certamente, traria muitos outros problemas, como o saber conviver com a solidão, talvez o pior de todos, para os descasados.


 


     Sobre o ótimo texto, nada a acrescentar, a não ser o fato de que MÔNICA escreve para que todos, de qualquer nível cultural, ouçam e compreendam o que ela põe na boca da personagem, e que isso possa conduzir os espectadores, após o riso, a boas reflexões.


 



    SUSANA GARCIA, irmã da atriz, assina a direção, faz um bom trabalho, muito correto, com a difícil tarefa de conduzir uma só pessoa em cena, com a preocupação de manter a coerência da personagem, durante toda a peça, como também criar boas marcações, que nem de longe possam gerar monotonia, trabalho reforçado pela contribuição, sempre brilhante, de MÁRCIA RUBIN, na direção de movimento. O espetáculo é muito dinâmico e prende a atenção da plateia da primeira à ultima cena.





    (Sobre a cenografia, escrevo um parágrafo novo, uma vez que mudei de opinião, agora que revi a peça.) cenário, de FLÁVIO GRAFF, é muitíssimo interessante. A ação se concentra no consultório de uma terapeuta. Para esse espaço, o único elemento de cena é um banco, com um "porta-trecos" acoplado a ele, localizado no centro do palco. Ao fundo, um quarto, numa perspectiva vista de cima, com muitos objetos aplicados, tudo muito “clean” e de muito bom gosto. Esteticamente, muito bonito e criativo.




 

   O figurino, novamente saído da criatividade de MARCELA VIRZZI, é um elemento de grande destaque. MARCELA cria umas inovações muito interessantes nas trocas de roupa, em cena, aproveitando peças, ao avesso, em expansões ou reduções, transformando-as em outras, tudo acompanhando e emoldurando os diversos momentos da personagem. A atriz “vira uma cebola, de várias camadas”. Um belíssimo trabalho!




 

(Como no parágrafo referente à cenografia, idem, no que diz respeito à iluminação.) MANECO QUINDERÉ também está presente, na ótima FICHA TÉCNICA (Quem quer fazer sucesso tem que se cercar de ótimos profissionai.), dando a sua boa contribuição na luz, acompanhando os diálogos - detalhe interessantíssimo -, variando, muito corretamente, em tons e intensidades, de acordo com o estado de espírito da personagem e as muitas situações. Esse ótimo desenho de luz é um grande desafio para quem opera a mesa de iluminação, por necesitar de muita atenção e de uma precisão cirúrgica, na troca de luzes.





   Um detalhe que também cai muito bem, na peça, é a excelente trilha sonora, a quatro mãos, de LUCAS MARCIER FABIANO KRIEGER. Todas as canções foram escolhidas, a dedo, para sublinhar e valorizar as cenas.




 

   Falar de MÔNICA MARTELLI não requer muitas palavras. É uma atriz que, por seu belo porte físico, já tem uma grande presença em cena. É uma ótima profissional, que atua com muita naturalidade, e com um “up”: uma grande atriz cômica, com um excelente e particular tempo de comédia, indispensável, na difícil arte de fazer rir. Suas entonações e seus silêncios, sempre nos momentos exatos, assim como suas máscaras faciais e seus súbitos cortes no texto são sempre motivo para que a plateia gargalhe. Claro que tudo isso é valorizado, quando apoiado num ótimo texto. MÔNICA é dona de um carisma muito forte e sabe como estabelecer a comunicação com uma plateia.

 

 



FICHA TÉCNICA: 

Texto: Mônica Martelli

Direção: Susana Garcia


Interpretação: Mônica Martelli

 

Cenografia: Flávio Graff

Figurino: Marcela Virzzi

Iluminação: Maneco Quinderé

Trilha Sonora: Lucas Marcier e Fabiano Krieger

Direção de Movimento: Márcia Rubin

Fotos: Dalton Valério

Direção de Produção: Herson Capri

Produção: Capri Produções

Assessoria de imprensa: Antônio Trigo

 

 


 




 

SERVIÇO:

Temporada: De 12 a 29 de janeiro de 2023.

Local: Teatro Casa Grande.

Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 – loja A - Leblon – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2511-0800.

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 19h (Abertura do Teatro uma hora antes do início do espetáculo.).

Valores dos Ingressos: A partir de R$100,00 (inteira) e R$50,00 (meia entrada).

Compras via internet: Plataforma eventim.com.br ou na bilheteria do Teatro.

Horário de funcionamento da bilheteria: 3ª feira e 4ª, das 12h às 18h; de 5ª feira a domingo, de 15h até 30 minutos após o início da sessão.

Capacidade: 926 lugares.

Classificação Etária: 14 anos (Menores de 18 anos apenas acompanhados de seus pais ou responsáveis.). 

Gênero: Monólogo Cômico.

 


 



        Não tenho a menor dúvida, a julgar pelo que vi, por todos os comentários que tenho ouvido sobre a peça e, também, pelo borderô diário, de que “MINHA VIDA EM MARTE” cumprirá a mesma trajetória do espetáculo anterior e queiram os DEUSES DO TEATRO que seja por mais tempo. É o meu mais sincero desejo, pela excelente qualidade do trabalho que se vê no palco do Teatro Casa Grande. (Com relação a esta nova temporada, é de se lamentar que ela seja tão curta.)




 

            Pretendo rever a peça, sem a menor dúvida, mais vezes.



 


(Foto: autoria desconhecida.)




(Foto: autoria desconhecida.)





Mônica Martelli e Susana Garcia.


(Foto: autoria desconhecida.)




 

(FOTOS: DALTON VALÉRIO.)

 

 


Agradecimentos (Foto: Gilberto Bartholo,

na primeira temporada.)

 

 

 

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