“JULIUS CAESAR
– VIDAS PARALELAS”,
ou
(METALINGUAGEM
A SERVIÇO DO
BOM TEATRO.)
ou
(É OBRA-PRIMA
QUE SE FALA?)
Quando preciso escrever sobre uma OBRA-PRIMA do TEATRO,
como neste momento, sinto bastante dificuldade para iniciar a escrita,
completamente perdido, em meio a um turbilhão de ideias e detalhes sobre os
quais preciso falar. É imperativo. Por outro lado, sei, por experiências
anteriores, que, “rompida a muralha”, tudo haverá de fluir com
naturalidade, a seu tempo e no lugar em que cabe. É só encontrar o início da
caminhada, a ponta do fio a ser puxada.
Concentrado, aqui, no que vi, na última sexta-feira, dia 20,
e aplaudi, de pé, ao final da sessão, com um brado de “BRAVO!”, saído das profundezas de mim,
lembrei-me de uma pequena frase, cunhada, recentemente, pela minha colega de
críticas, Paty Lopes, da qual me aproprio, agora, com sua
anuência: “GUSTAVO GASPARANI perdeu o freio!”. GUSTAVO,
para quem não sabe, é o autor do texto da peça em tela e, também, seu diretor.
Só que vou me permitir ampliar aquela declaração, em formato metafórico, de
reconhecimento do talento do, também, grande ator: GUSTAVO
GASPARANI PERDEU O FREIO, DIRIGINDO UM CAMINHÃO “JAMANTA”, DESCENDO UMA
LADEIRA BASTANTE ÍNGREME, A 200KM POR HORA; E “NA BANGUELA”! Essa
figura de linguagem, a metáfora, tão utilizada, no dia a dia, pelas pessoas,
sem que, muitas vezes, nem se deem conta disso e que consiste na utilização de
uma ou mais palavras, com sentido figurado (conotativo), como se
fosse uma comparação implícita, creio ser perfeita para uma referência ao
trabalho daquele artista, o qual, a meu ver, está atravessando a melhor fase de
sua vitoriosa vida como profissional de TEATRO. É bom acrescentar que, à
minha frase, também adicionei um pouco de hipérbole, que consiste no exagero da
verdade das coisas, para fins expressivos, intencionalmente, como forma de lhes
dar destaque.
Como se não bastasse estar brilhando, em cena, no Centro Cultural
Municipal Sergio Porto, como ator, no monólogo “Como Não Ser
Montgomery Clift?”, que recomendo muito, enquanto se preparava,
ensaiando o solo, GUSTAVO iniciou um processo de concepção cênica do
espetáculo aqui analisado, o qual consumiu dois meses de trabalho árduo, para a
direção, atores, principalmente, e artistas de criação. É uma pena – e vou
lamentar sempre – que, no Rio de Janeiro, onde vivo, uma equipe de muitos
artistas e técnicos ensaie um espetáculo teatral por tanto tempo, para pouquíssimas
apresentações, em temporadas curtas, ou melhor, curtíssimas, quase “relâmpago”,
de um mês, geralmente, a maioria. Esta encenação, em qualquer outro lugar fora
do Brasil, certamente, ficaria em cartaz, sempre com lotação esgotada, por
muitos meses. A atual temporada, que espero ser prorrogada, ou a primeira de
muitas, no Rio e no Brasil inteiro, tem a duração de somente um mês, no total
de míseras 16 sessões, para um público, restritíssimo, de privilegiados espectadores.
A capacidade normal de lotação do Teatro OI Futuro é de 63
lugares, entretanto, para esta encenação, foram retiradas, salvo engano, as
três primeiras fileiras de assentos, na frente da plateia, para poder ampliar o
espaço cênico. Não é de se estranhar, pois, que, quando a venda dos ingressos é aberta,
a cada segunda-feira, em poucos minutos, a lotação se torna esgotada, para as
quatro sessões da semana.
O que vou dizer agora, considerando-se que a temporada
teatral carioca de 2023 começou, no dia 5 próximo passado, de uma forma como,
há muitos anos, eu não me lembro de ter iniciado, com tantos espetáculos da
melhor qualidade (Dos 12 aos quais assisti, até o sábado passado, dia 21,
apenas um não me agradou e, por conseguinte, pelo respeito que tenho aos
artistas, que sempre procuram, da melhor forma possível e com a mais pura das
boas intenções, e com muito sacrifício, dar o seu melhor, não mereceu uma apreciação crítica minha,
porque, se fosse obrigado a fazê-la, seria negativa.), considero “JULIUS
CAESAR – VIDAS PARALELAS” o melhor de todas essas boas produções, “com
muitos corpos de vantagem”. Ainda faltam onze meses e uma semana para o
término da atual temporada teatral da cidade do Rio de Janeiro, em 2023, mas não serei
nem um pouco surpreendido, se, a prevalecer o critério de qualidade, deste
espetáculo, saírem muitas indicações, em todas as categorias, com possíveis vencedores,
nos prêmios de TEATRO destas bandas.
SINOPSE:
A montagem parte da tragédia “Júlio César”, de William
Shakespeare, para abordar as intrincadas relações de poder que
perpassam a trama original, mas, aqui, inseridas em um novo contexto: os
ensaios de uma companhia teatral que prepara justamente uma montagem da peça
sobre o famoso imperador romano.
Em cena, uma companhia teatral está ensaiando a famosa peça sobre aquele
emblemático político e ditador da História de Roma.
Todas as questões de um grupo de TEATRO que convive há décadas,
bem como assuntos mais amplos da classe artística, vão se revelando no decorrer
da trama, cruzando-se com a história original de Shakespeare, a qual vai se desenhando ao longo dos ensaios.
Nas duas situações, vêm à tona dilemas milenares da humanidade.
Desde 2014, quando brilhou no solo “Ricardo III”
(Espero que ainda esteja disponível, em alguma plataforma, a versão “on-line”.),
pelo qual recebeu muitas indicações a prêmios de TEATRO, com adaptação
sua e de Sergio Modena, este, também, diretor do espetáculo, e
“Samba Futebol Clube”, que escreveu e dirigiu, encenado no mesmo ano,
outro grande sucesso seu, de público e de crítica, GASPARANI desejou
montar um texto de Shakespeare com o elenco de “Samba...”,
e o primeiro em que pensou foi “Júlio César” (título em
português), porém achou que o original “nadava” em muita oratória
e retórica e que não se prestaria para ser encenado na forma de musical, como ele havia pensado, gênero
no qual GUSTAVO sempre transitou de forma excelente.
Alguns
óbices fizeram com que o projeto ficasse na gaveta, até que, durante os ensaios
de outro espetáculo de sucesso, de GASPARANI “e sua gente”,
“Insetos”, com direção de Rodrigo Portella, em 2018, o grupo
fez uma leitura do texto original de Shakespeare (“Júlio César”) e
renasceu o desejo de levar adiante a montagem da peça. Ocorre que, desde quando
travou contato, pela primeira vez, com o original shakespeariano, GUSTAVO
identificou uma estupenda relação entre os temas de que tratava a obra do
grande bardo inglês, ou sejam, disputa de poder, as questões
psicológicas de ambição, de inveja, de mágoas, presentes na peça, no âmbito
da macropolítica romana, com o momento presente, o que torna este “JULIUS
CAESAR – VIDAS PARALELAS” uma obra universal e atemporal. E existem, sim,
como GUSTAVO enxergou, muita coisa em comum, em qualquer relação interpessoal,
independentemente de épocas e das pessoas nelas envolvidas, sejam entre um
casal, uma família, numa sala de aula, numa sala de professores e – Por
que não?! – num grupo de TEATRO.
Surgiu,
então, a ideia de montar um espetáculo que falasse do poder em suas amplas
possibilidades, tanto na, já citada, macropolítica romana, de 44 anos
a.C., como no micropoder das relações cotidianas. Durante o segundo semestre de
2021, o autor escreveu o texto ora encenado no palco do Teatro do Centro
Cultural OI Futuro. A ideia seria entregar a direção a outro profissional
e participar da encenação atuando, porém, por questões de ajustes de agendas,
resolveu tomar as rédeas da direção, pelo que só temos a agradecer. GASPARANI
acha, e eu também, que foi o melhor que poderia ter acontecido, uma vez que,
para quem pensou na concepção do espetáculo, teve a ideia de levantá-lo,
idealizou o projeto e escreveu o texto, se tornaria mais “fácil”
concretizar as suas ideias, com todos os seus detalhes. O adjetivo “fácil”
veio grafado em destaque, uma vez que nenhuma facilidade deve ter existido para
a esta montagem, a não ser o fato de contar com um elenco merecedor de todos os
aplausos e artistas de criação de comprovada experiência e talento, sobre os
quais falarei adiante. Um primor de FICHA TÉCNICA!
Essas
informações, eu as colhi do próprio autor e diretor, quando lhe pedi que me
contasse, em detalhes, como a peça havia surgido, da ideia à sua concretização.
GUSTAVO GASPARANI me enviou, via WhatsApp, um longo áudio
– adoro áudios longos - no qual terminava dizendo que, pelo fato de o texto ter
sido escrito durante um momento crucial da pandemia de COVID-19, que “paralisou”
o mundo, “nesse mundo louco que a gente estava vivendo” (E bota “louco”
nisso!!!), acabou sua peça virando uma “declaração de amor à CULTURA”,
muito linda e profunda, por sinal. Encerrou a mensagem, afirmando algo em que
eu também acredito, piamente: “O que pode mudar a nossa sociedade, a
longo prazo, não vão ser as políticas públicas, mas, sim, na essência, a
CULTURA; ou seja, a CULTURA é que pode transformar a gente, enquanto sociedade,
numa coisa melhor.”. E completou: “Apesar dos muitos anos de
existência da Humanidade, estamos começando, muito no início, ainda, a caminhar
nesse sentido.”. Que declarações mais pertinentes!!!
A
presente montagem foi concebida em comemoração aos 35 anos de atividade do
grupo carioca Cia. dos Atores, com três décadas e meia de
relevantes serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO, sendo, quero crer, o
grupo teatral mais longevo, em atividade ininterrupta, na cidade do Rio de
Janeiro. Fundada em 1988, formada, originalmente, pelo diretor Enrique
Diaz e pelos atores César Augusto, Marcelo Olinto
(figurinista da companhia), Marcelo Valle, Gustavo
Gasparini, Bel Garcia (infelizmente, já falecida), Suzana
Ribeiro e Drica Moraes, a Cia. dos Atores tem, a cada novo projeto,
participações de profissionais convidados. Nesta encenação, apenas dois nomes,
de seus membros efetivos, estão na FICHA TÉCNICA: GUSTAVO GASPARANI, como
diretor, e CESAR AUGUSTO, em seu melhor trabalho de interpretação,
afirmo eu. Os demais cinco atores, ISIO GHELMAN, GABRIEL MANITA,
GILBERTO GAWRONSKI, SUZANA NASCIMENTO e TIAGO HERZ atuam como
convidados. Dentre seus 29 espetáculos no currículo, destaco, dos que
tive a oportunidade de conferir, “A
Morta”, de Oswald de Andrade, em 1992; em 1995,
foi a vez de “Melodrama”; depois, vieram “Tristão e Isolda”, de 1996;
“Cobaias de Satã”,
1998; uma versão original de “O
Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, em 2000; “Meu Destino É Pecar”, de Nelson Rodrigues,
que recebeu encenação em 2002; “Ensaio.Hamlet”, em 2004, uma
montagem arrojada; “Devassa”, em 2010; “Conselho de Classe”,
espetáculo antológico, em 2014; e “Insetos”, em 2020; apenas para
citar alguns títulos que levaram o nome da Cia. aos quatro cantos
do Brasil.
É
surpreendente como uma ideia, que deveria ter gerado um texto, toma outro rumo,
completamente diferente, quando quem a teve e se propõe a desenvolvê-la, numa
peça teatral, se vê tocado por algo muito forte, como GUSTAVO GASPARANI reagiu
à pandemia de COVID-19. Sob esse aspecto, não seria nenhum absurdo, ainda que
possa parecer, afirmar que algo tão terrível, que ceifou centenas de milhares
de vidas humanas, só no Brasil, por conta de estarmos sendo, na época, (DES)governados
por um INOMINÁVEL e PERVERSO VERME GENOCIDA, também pode ter deixado, de
saldo, alguma coisa “positiva”. A partir do momento em que o
dramaturgo observou a interseção dos temas, no império romano, pré-Jesus
Cristo, e os dias de hoje, e que tudo poderia ser canalizado para uma companhia
de TEATRO, tentando montar um clássico da dramaturgia universal, toda a
sua vivência nos palcos, camarins, coxias e bastidores, de uma forma geral, lhe
serviu de inspiração para a escrita do texto. Quanto do que é ouvido naqueles
diálogos, escritos numa linguagem bem direta, sem “purpurinas”, GASPARANI
já sentiu na própria pele ou testemunhou, bem próximo a si! Se, para o público
leigo, tudo possa parecer novidade ou, até mesmo, inverossímil, para quem
transita no universo do TEATRO, como eu, sabe que nada, ali, é inventado.
É “TEATRO na veia”! Verdade pura!
A
estrutura dramática é um primor, alternando cenas do texto de
Shakespeare, durante os ensaios de “Júlio César”,
com cenas de hoje, todas muito realistas, envolvendo conflitos entre o elenco e
a diretora. Esse revezamento contribui muito para que a peça se desenvolva com
bastante dinamismo. A cada vez que se passa de um tempo a outro, de um espaço a
outro, é criada uma expectativa, da parte do público, para quando a história
voltar ao ponto em que foi interrompida.
Ensaiado
em outro lugar, o espetáculo, ao ser transposto para o Teatro do Centro
Cultural OI Futuro, recebeu uma marcação especialíssima; isso equivale
dizer que a encenação foi concebida levando em conta o espaço físico, extremamente
bem explorado pelo diretor, fazendo com que a quarta parede seja derrubada e o
elenco transite pela plateia e, em algumas cenas, ocupe locais totalmente
insólitos, em se tratando de espaço cênico. Também os seis atores fazem entradas
e saídas com várias opções, o que garante, sempre, uma surpresa nova. E o
público gosta de ser surpreendido. Afirmo, sem titubear, que fui testemunha
de uma das melhores direções teatrais a que tive acesso, em mais de cinquenta
anos de TEATRO. As soluções encontradas por GASPARANI são,
sem exceção, admiráveis, como, só para citar um exemplo, transformar duas
cortinas, fechadas, uma em cada canto do palco, em colunas romanas, em
consonância com o cenário e a luz.
A cenografia,
magistral obra de BELI ARAÚJO, é totalmente aproveitada pela direção e,
sendo simples, é, paradoxalmente, sofisticada, além de pertinente, representando
uma considerável fração da beleza e do acerto da peça. Nenhum elemento cenográfico,
no palco ou fora dele, está ali apenas para ocupar espaço e “decorar”;
tudo, absolutamente tudo, tem uma razão de existir e é aproveitado de uma forma
genial, a mais criativa possível, pelo diretor.
Para
que se tenha uma ideia da funcionalidade e da significação dos figurinos,
uma genial “sacada” de MARCELO OLINTO, digo que o
figurinista, de forma inteligentíssima e prática, “investiu no realismo
contemporâneo, por meio de roupas frequentemente usadas numa sala de ensaio,
como moletons e camisetas”. (Trecho extraído do “release”
enviado por PAULA CATUNDA (Assessoria de Imprensa). Neste, também
consta uma esclarecedora declaração de OLINTO: “Fiz um trabalho de
tingimento manualmente, usando uma cartela de cores com tons de cinza, azul,
vinho e verde. Na transição para a peça de Shakespeare que os personagens estão
ensaiando, usamos o moletom com capuz que, amarrado de diferentes maneiras, vai
ganhando novas identidades.”. Não sei se conseguem imaginar como isso
funciona a contento, mas lhes garanto que é de uma forma surpreendente.
Considerando-se que os atores, durante os ensaios de “Julio Cesar”,
são testados em vários personagens, as cores da parte superior dos moletons
também servem para identificar cada um deles.
Todos
os artistas de criação são importantíssimos, em todas as montagens teatrais,
cada um fazendo bem a sua parte, mas, nesta, especialmente, aplaudo com um leve
vigor a mais, ANA LUZIA DE SIMONI, que deve ter “levado uma surra”,
até chegar a conceber um desenho de luz de extrema complexidade, levando
em conta todas as marcações e detalhes de algumas cenas. Era preciso iluminar,
do jeito mais correto possível, todas as áreas do espaço cênico estabelecido
pelo diretor, de forma a gerar efeitos especiais, lindos, em termos plásticos.
Um belíssimo trabalho em que a cenografia e a luz confabulam, entre si, “comme
il faut”.
Como
são bem utilizadas as projeções e vídeos, criados por BATMAN ZAVAREZE!
São lindas e muito significativas, plenas de representatividade, “disparadas”
em várias direções e sobre superfícies lisas e outras inusitadas, provocando
efeitos plásticos deslumbrantes.
Dando
prosseguimento ao desfile de trabalhos dos artistas da área de criação, tenho a
obrigação de atribuir a GABRIEL MANITA, que faz parte do elenco, o
crédito pelo ótimo trabalho de direção musical. Quero, aqui, destacar a
canção, escolhida por GASPARANI, desde quando escrevia a peça, que entra
no final da última cena, enquanto os atores deixam o palco, após os
agradecimentos, e o público, o auditório: “Negro Amor”, numa
gravação da eternamente lembrada Gal Costa, versão de Caetano
Veloso e Péricles Cavalcanti, para o original, composto
por Bob Dylan, “It's All Over Now, Baby Blue”. Prestem atenção à sua letra e pensem na relação dela com a
peça, principalmente com a referida cena final, na qual fica bem explicito o porquê do “VIDAS PARALELAS!”, do título da peça.
Num
espetáculo em que TUDO ESTÁ PERFEITO, não se deve falar em “cereja
do bolo”, contudo, se desejarem atribuir a expressão com equivalência ao
elenco da peça, eu acato, sem questionamentos, visto que, a despeito do magnífico
texto, da irretocável direção e do belíssimo trabalho executado
por todos os artistas de criação, custa-me imaginar outras pessoas naquele
palco, tal é o nível de excelência do trabalho de cada um e a afinação, a
cumplicidade, que há entre o sexteto.
Quatro
são os personagens principais (Catarina Ribas, SUZANA
NASCIMENTO; Júlio Costa, CESAR AUGUSTO; Ricardo
Silveira, GILBERTO GAWRONSKI; e Eduardo Valente,
ISIO GHELMAN), mas GABRIEL MANITA (Bernardo Cury) e TIAGO
HERZ (Ângelo Almeida) também se apresentam com muito acerto em seus
personagens.
SUZANA
interpreta a diretora do espetáculo encenado pela fictícia companhia de TEATRO.
Por sua condição de mulher, sente-se “inferiorizada”, com relação
aos cinco homens do elenco, e boicotada por eles. Não que o seja (inferior),
na verdade, por seu merecimento e competência profissional, entretanto é assim como eles a veem e a tratam,
à exceção do personagem vivido por ISIO GHELMAN, com o qual Catarina
tem uma maior afinidade e uma relação de amizade, fora do palco e das salas de
ensaios. Edu procura ajudar a amiga a “segurar a barra”.
Ela vive o drama de tentar resolver e conciliar as dificuldades encontradas
para a definição dos papéis da peça, destinados a cada um do elenco, e todos os
obstáculos que se colocam à sua frente, dificultando o seu trabalho de diretora
teatral, com sua vida particular, em que pesa muito a dedicação à filha, que Catarina reconhece estar prejudicada. A existência da personagem, na trama, é de
extrema necessidade, um vetor para que o autor possa tratar da discriminação
quanto ao trabalho e à capacidade de criar, de muitos homens, em relação às
mulheres. SUZANA é uma das melhores atrizes que este país já conheceu e
um prêmio de Melhor Atriz de 2023, para ela, por este trabalho, seria bem justo.
Qualquer
um – ou todos – dos três atores principais da companhia, ISIO GHELMAN, GILBERTO
GAWRONSKI e CESAR AUGUSTO, merece(m), no mínimo, indicações a
prêmios de Melhor(es) Ator(es) de 2023. ISIO frequenta
pouco as telas e telinhas e, por isso mesmo, considerando que as pessoas vão
muito pouco, infelizmente, ao TEATRO, no Rio de Janeiro (No Brasil todo,
para dizer a verdade.), não é conhecido pelo grande público, mas é uma presença
muito marcante em todos os espetáculos de TEATRO dos quais participa.
Vejo-o como um dos melhores atores talhados para as tábuas e não seria
de se esperar menos nesta produção. Sempre que está em cena, atrai a atenção do
espectador, com uma interpretação muito realista e natural. Uma das melhores
cenas deste espetáculo é quando Edu explica, diretamente, à
plateia, num tom bastante didático e professoral, a trama da peça que a
companhia está tentando montar. Para facilitar essa compreensão, do enredo
desenvolvido por Shakespeare, projeções são feitas, no fundo do
palco e nas paredes laterais do Teatro, como se fosse um mestre
utilizando recursos audiovisuais, um “datashow”, em suas aulas.
Tudo o
que escrevi, com relação à competência e à carreira de ISIO, estendo a GILBERTO
GAWRONSKI, um ator visceral, que se joga, de cabeça e “às cegas”,
no sentido de intensidade, com muito amor e dedicação, aos personagens que
representa. É assim que reconhecemos, no palco, a sua criação para o personagem
Ricardo Silveira, destemperado e irritado com a demora da
diretora em definir quem serão os titulares dos papéis da peça. É claro que ele
pretende interpretar o protagonista, achando-se o mais talentoso, para isso, e
não esconde a sua pretensão.
Admiro,
como aos dois anteriores, o trabalho de CESAR AUGUSTO, como ator, a
despeito de, nos últimos tempos, ele vir se dedicando mais a dirigir os
colegas. CESAR é um excelente ator e prova isso na pele de Julio Costa.
Alguns de seus momentos de quase solo me emocionaram demais.
Reitero meus aplausos, também, aos trabalhos de MANITA e HERZ.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia:
Gustavo Gasparani (partindo da tragédia “Júlio César”, de William Shakespeare)
Direção:
Gustavo Gasparani
Assistente
de Direção: Menelick de Carvalho
Elenco
(por ordem alfabética): Cesar Augusto, Gabriel Manita, Gilberto Gawronski, Isio
Ghelman, Suzana Nascimento e Tiago Herz
Cenografia:
Beli Araújo
Figurinos:
Marcelo Olinto
Iluminação:
Ana Luzia de Simoni
Projeções
e Vídeos: Batman Zavareze
Direção
Musical: Gabriel Manita
Captação
de conteúdo e clipes para redes sociais: Daniel Barboza
“Design” Gráfico”: Felipe Braga
Fotografia:
Nil Caniné e Batman Zavereze
Assessoria
de Imprensa: Paula Catunda
Redes
Sociais: Rafael Teixeira
Direção de Produção: Claudia Marques – Fábrica de Eventos
SERVIÇO:
Temporada:
de 12 de janeiro a 12 de fevereiro de 2023.
Local:
Teatro do Centro Cultural Oi Futuro.
Endereço:
Rua Dois de Dezembro, nº 63 - Flamengo – Rio de Janeiro.
Telefone:
(21)3131-3060.
Dias
e Horários: 5ª e 6ª feira, às 20 horas; sábado e domingo, às 19 horas.
Valor
dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada).
Recomendação
Etária: 12 anos.
Duração:
120 minutos.
Gênero: Drama.
Por oportuno, a título de ilustração, acrescento que o original de Shakespeare foi publicado em 1599, ao que tudo indica, mas sem que se tenha a ceteza disso, e “recria a conspiração que levou ao assassinato do grande ditador romano Júlio César, bem como os seus desdobramentos”. 424 anos depois, “a contemporaneidade do texto é surpreendente, com personagens envolvidos em disputas de poder, intrigas, manipulações e traições”. Com sua dramaturgia, GUSTAVO GASPARANI “propõe uma reflexão pertinente sobre questões sociais e políticas, entrecruzando a trama original de Shakespeare e as relações encontradas nos bastidores do processo criativo de uma companhia teatral fictícia”, utilizando, de forma impecável, o recurso da metalinguagem, “uma história dentro de outra”, o TEATRO dentro do TEATRO.
Extraído
do já citado “release”: “O aposto “VIDAS PARALELAS” faz
referência às analogias estabelecidas entre os personagens da obra de
Shakespeare e os integrantes da companhia teatral da trama criada por GASPARANI”,
o qual afirma: “A peça propõe um espelhamento entre essas figuras”.
Fico
por aqui, com a vontade de escrever muito mais, ainda, sobre esta “OBRA-PRIMA”,
porém estou consciente de que já me estendi bastante. Mas ainda falta dizer –
Ou será que não?! – que RECOMENDO, COM O MAIOR
EMPENHO, ESTE ESPETÁCULO.
O elenco e o diretor.
FOTOS: NIL CANINÉ
e
BATMAN ZAVEREZA
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
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