terça-feira, 24 de janeiro de 2023

“JULIUS CAESAR

– VIDAS PARALELAS”,

ou

(METALINGUAGEM

A SERVIÇO DO

BOM TEATRO.)

ou

(É OBRA-PRIMA

QUE SE FALA?)



        Quando preciso escrever sobre uma OBRA-PRIMA do TEATRO, como neste momento, sinto bastante dificuldade para iniciar a escrita, completamente perdido, em meio a um turbilhão de ideias e detalhes sobre os quais preciso falar. É imperativo. Por outro lado, sei, por experiências anteriores, que, “rompida a muralha”, tudo haverá de fluir com naturalidade, a seu tempo e no lugar em que cabe. É só encontrar o início da caminhada, a ponta do fio a ser puxada.



    Concentrado, aqui, no que vi, na última sexta-feira, dia 20, e aplaudi, de pé, ao final da sessão, com um brado de “BRAVO!”, saído das profundezas de mim, lembrei-me de uma pequena frase, cunhada, recentemente, pela minha colega de críticas, Paty Lopes, da qual me aproprio, agora, com sua anuência: “GUSTAVO GASPARANI perdeu o freio!”. GUSTAVO, para quem não sabe, é o autor do texto da peça em tela e, também, seu diretor. Só que vou me permitir ampliar aquela declaração, em formato metafórico, de reconhecimento do talento do, também, grande ator: GUSTAVO GASPARANI PERDEU O FREIO, DIRIGINDO UM CAMINHÃO “JAMANTA”, DESCENDO UMA LADEIRA BASTANTE ÍNGREME, A 200KM POR HORA; E “NA BANGUELA”! Essa figura de linguagem, a metáfora, tão utilizada, no dia a dia, pelas pessoas, sem que, muitas vezes, nem se deem conta disso e que consiste na utilização de uma ou mais palavras, com sentido figurado (conotativo), como se fosse uma comparação implícita, creio ser perfeita para uma referência ao trabalho daquele artista, o qual, a meu ver, está atravessando a melhor fase de sua vitoriosa vida como profissional de TEATRO. É bom acrescentar que, à minha frase, também adicionei um pouco de hipérbole, que consiste no exagero da verdade das coisas, para fins expressivos, intencionalmente, como forma de lhes dar destaque.



    Como se não bastasse estar brilhando, em cena, no Centro Cultural Municipal Sergio Porto, como ator, no monólogo “Como Não Ser Montgomery Clift?”, que recomendo muito, enquanto se preparava, ensaiando o solo, GUSTAVO iniciou um processo de concepção cênica do espetáculo aqui analisado, o qual consumiu dois meses de trabalho árduo, para a direção, atores, principalmente, e artistas de criação. É uma pena – e vou lamentar sempre – que, no Rio de Janeiro, onde vivo, uma equipe de muitos artistas e técnicos ensaie um espetáculo teatral por tanto tempo, para pouquíssimas apresentações, em temporadas curtas, ou melhor, curtíssimas, quase “relâmpago”, de um mês, geralmente, a maioria. Esta encenação, em qualquer outro lugar fora do Brasil, certamente, ficaria em cartaz, sempre com lotação esgotada, por muitos meses. A atual temporada, que espero ser prorrogada, ou a primeira de muitas, no Rio e no Brasil inteiro, tem a duração de somente um mês, no total de míseras 16 sessões, para um público, restritíssimo, de privilegiados espectadores. A capacidade normal de lotação do Teatro OI Futuro é de 63 lugares, entretanto, para esta encenação, foram retiradas, salvo engano, as três primeiras fileiras de assentos, na frente da plateia, para poder ampliar o espaço cênico. Não é de se estranhar, pois, que, quando a venda dos ingressos é aberta, a cada segunda-feira, em poucos minutos, a lotação se torna esgotada, para as quatro sessões da semana.



        O que vou dizer agora, considerando-se que a temporada teatral carioca de 2023 começou, no dia 5 próximo passado, de uma forma como, há muitos anos, eu não me lembro de ter iniciado, com tantos espetáculos da melhor qualidade (Dos 12 aos quais assisti, até o sábado passado, dia 21, apenas um não me agradou e, por conseguinte, pelo respeito que tenho aos artistas, que sempre procuram, da melhor forma possível e com a mais pura das boas intenções, e com muito sacrifício, dar o seu melhor, não mereceu uma apreciação crítica minha, porque, se fosse obrigado a fazê-la, seria negativa.), considero “JULIUS CAESAR – VIDAS PARALELAS” o melhor de todas essas boas produções, “com muitos corpos de vantagem”. Ainda faltam onze meses e uma semana para o término da atual temporada teatral da cidade do Rio de Janeiro, em 2023, mas não serei nem um pouco surpreendido, se, a prevalecer o critério de qualidade, deste espetáculo, saírem muitas indicações, em todas as categorias, com possíveis vencedores, nos prêmios de TEATRO destas bandas.



 

SINOPSE:

A montagem parte da tragédia “Júlio César”, de William Shakespeare, para abordar as intrincadas relações de poder que perpassam a trama original, mas, aqui, inseridas em um novo contexto: os ensaios de uma companhia teatral que prepara justamente uma montagem da peça sobre o famoso imperador romano.

Em cena, uma companhia teatral está ensaiando a famosa peça sobre aquele emblemático político e ditador da História de Roma.

Todas as questões de um grupo de TEATRO que convive há décadas, bem como assuntos mais amplos da classe artística, vão se revelando no decorrer da trama, cruzando-se com a história original de Shakespeare, a qual vai se desenhando ao longo dos ensaios.

Nas duas situações, vêm à tona dilemas milenares da humanidade.

 


 


        Desde 2014, quando brilhou no solo “Ricardo III” (Espero que ainda esteja disponível, em alguma plataforma, a versão “on-line”.), pelo qual recebeu muitas indicações a prêmios de TEATRO, com adaptação sua e de Sergio Modena, este, também, diretor do espetáculo, e “Samba Futebol Clube”, que escreveu e dirigiu, encenado no mesmo ano, outro grande sucesso seu, de público e de crítica, GASPARANI desejou montar um texto de Shakespeare com o elenco de “Samba...”, e o primeiro em que pensou foi “Júlio César” (título em português), porém achou que o original “nadava” em muita oratória e retórica e que não se prestaria para ser encenado na forma de musical, como ele havia pensado, gênero no qual GUSTAVO sempre transitou de forma excelente.



Alguns óbices fizeram com que o projeto ficasse na gaveta, até que, durante os ensaios de outro espetáculo de sucesso, de GASPARANI “e sua gente”, “Insetos”, com direção de Rodrigo Portella, em 2018, o grupo fez uma leitura do texto original de Shakespeare (“Júlio César”) e renasceu o desejo de levar adiante a montagem da peça. Ocorre que, desde quando travou contato, pela primeira vez, com o original shakespeariano, GUSTAVO identificou uma estupenda relação entre os temas de que tratava a obra do grande bardo inglês, ou sejam, disputa de poder, as questões psicológicas de ambição, de inveja, de mágoas, presentes na peça, no âmbito da macropolítica romana, com o momento presente, o que torna este “JULIUS CAESAR – VIDAS PARALELAS” uma obra universal e atemporal. E existem, sim, como GUSTAVO enxergou, muita coisa em comum, em qualquer relação interpessoal, independentemente de épocas e das pessoas nelas envolvidas, sejam entre um casal, uma família, numa sala de aula, numa sala de professores e – Por que não?! – num grupo de TEATRO.



Surgiu, então, a ideia de montar um espetáculo que falasse do poder em suas amplas possibilidades, tanto na, já citada, macropolítica romana, de 44 anos a.C., como no micropoder das relações cotidianas. Durante o segundo semestre de 2021, o autor escreveu o texto ora encenado no palco do Teatro do Centro Cultural OI Futuro. A ideia seria entregar a direção a outro profissional e participar da encenação atuando, porém, por questões de ajustes de agendas, resolveu tomar as rédeas da direção, pelo que só temos a agradecer. GASPARANI acha, e eu também, que foi o melhor que poderia ter acontecido, uma vez que, para quem pensou na concepção do espetáculo, teve a ideia de levantá-lo, idealizou o projeto e escreveu o texto, se tornaria mais “fácil” concretizar as suas ideias, com todos os seus detalhes. O adjetivo “fácil” veio grafado em destaque, uma vez que nenhuma facilidade deve ter existido para a esta montagem, a não ser o fato de contar com um elenco merecedor de todos os aplausos e artistas de criação de comprovada experiência e talento, sobre os quais falarei adiante. Um primor de FICHA TÉCNICA!



Essas informações, eu as colhi do próprio autor e diretor, quando lhe pedi que me contasse, em detalhes, como a peça havia surgido, da ideia à sua concretização. GUSTAVO GASPARANI me enviou, via WhatsApp, um longo áudio – adoro áudios longos - no qual terminava dizendo que, pelo fato de o texto ter sido escrito durante um momento crucial da pandemia de COVID-19, que “paralisou” o mundo, “nesse mundo louco que a gente estava vivendo” (E bota “louco” nisso!!!), acabou sua peça virando uma “declaração de amor à CULTURA”, muito linda e profunda, por sinal. Encerrou a mensagem, afirmando algo em que eu também acredito, piamente: “O que pode mudar a nossa sociedade, a longo prazo, não vão ser as políticas públicas, mas, sim, na essência, a CULTURA; ou seja, a CULTURA é que pode transformar a gente, enquanto sociedade, numa coisa melhor.”. E completou: “Apesar dos muitos anos de existência da Humanidade, estamos começando, muito no início, ainda, a caminhar nesse sentido.”. Que declarações mais pertinentes!!!



A presente montagem foi concebida em comemoração aos 35 anos de atividade do grupo carioca Cia. dos Atores, com três décadas e meia de relevantes serviços prestados ao TEATRO BRASILEIRO, sendo, quero crer, o grupo teatral mais longevo, em atividade ininterrupta, na cidade do Rio de Janeiro. Fundada em 1988, formada, originalmente, pelo diretor Enrique Diaz e pelos atores César Augusto, Marcelo Olinto (figurinista da companhia), Marcelo Valle, Gustavo Gasparini, Bel Garcia (infelizmente, já falecida), Suzana Ribeiro e Drica Moraes, a Cia. dos Atores tem, a cada novo projeto, participações de profissionais convidados. Nesta encenação, apenas dois nomes, de seus membros efetivos, estão na FICHA TÉCNICA: GUSTAVO GASPARANI, como diretor, e CESAR AUGUSTO, em seu melhor trabalho de interpretação, afirmo eu. Os demais cinco atores, ISIO GHELMAN, GABRIEL MANITA, GILBERTO GAWRONSKI, SUZANA NASCIMENTO e TIAGO HERZ atuam como convidados. Dentre seus 29 espetáculos no currículo, destaco, dos que tive a oportunidade de conferir, A Morta”, de Oswald de Andrade, em 1992; em 1995, foi a vez de “Melodrama”; depois, vieram Tristão e Isolda”, de 1996; Cobaias de Satã”, 1998; uma versão original de O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, em 2000; Meu Destino É Pecar”, de Nelson Rodrigues, que recebeu encenação em 2002; “Ensaio.Hamlet”, em 2004, uma montagem arrojada; “Devassa”, em 2010; “Conselho de Classe”, espetáculo antológico, em 2014; e “Insetos”, em 2020; apenas para citar alguns títulos que levaram o nome da Cia. aos quatro cantos do Brasil.





É surpreendente como uma ideia, que deveria ter gerado um texto, toma outro rumo, completamente diferente, quando quem a teve e se propõe a desenvolvê-la, numa peça teatral, se vê tocado por algo muito forte, como GUSTAVO GASPARANI reagiu à pandemia de COVID-19. Sob esse aspecto, não seria nenhum absurdo, ainda que possa parecer, afirmar que algo tão terrível, que ceifou centenas de milhares de vidas humanas, só no Brasil, por conta de estarmos sendo, na época, (DES)governados por um INOMINÁVEL e PERVERSO VERME GENOCIDA, também pode ter deixado, de saldo, alguma coisa “positiva”. A partir do momento em que o dramaturgo observou a interseção dos temas, no império romano, pré-Jesus Cristo, e os dias de hoje, e que tudo poderia ser canalizado para uma companhia de TEATRO, tentando montar um clássico da dramaturgia universal, toda a sua vivência nos palcos, camarins, coxias e bastidores, de uma forma geral, lhe serviu de inspiração para a escrita do texto. Quanto do que é ouvido naqueles diálogos, escritos numa linguagem bem direta, sem “purpurinas”, GASPARANI já sentiu na própria pele ou testemunhou, bem próximo a si! Se, para o público leigo, tudo possa parecer novidade ou, até mesmo, inverossímil, para quem transita no universo do TEATRO, como eu, sabe que nada, ali, é inventado. É “TEATRO na veia”! Verdade pura!



Gustavo Gasparani
(Foto: autoria desconhecida.)


A estrutura dramática é um primor, alternando cenas do texto de Shakespeare, durante os ensaios de “Júlio César”, com cenas de hoje, todas muito realistas, envolvendo conflitos entre o elenco e a diretora. Esse revezamento contribui muito para que a peça se desenvolva com bastante dinamismo. A cada vez que se passa de um tempo a outro, de um espaço a outro, é criada uma expectativa, da parte do público, para quando a história voltar ao ponto em que foi interrompida.



Ensaiado em outro lugar, o espetáculo, ao ser transposto para o Teatro do Centro Cultural OI Futuro, recebeu uma marcação especialíssima; isso equivale dizer que a encenação foi concebida levando em conta o espaço físico, extremamente bem explorado pelo diretor, fazendo com que a quarta parede seja derrubada e o elenco transite pela plateia e, em algumas cenas, ocupe locais totalmente insólitos, em se tratando de espaço cênico. Também os seis atores fazem entradas e saídas com várias opções, o que garante, sempre, uma surpresa nova. E o público gosta de ser surpreendido. Afirmo, sem titubear, que fui testemunha de uma das melhores direções teatrais a que tive acesso, em mais de cinquenta anos de TEATRO. As soluções encontradas por GASPARANI são, sem exceção, admiráveis, como, só para citar um exemplo, transformar duas cortinas, fechadas, uma em cada canto do palco, em colunas romanas, em consonância com o cenário e a luz.



A cenografia, magistral obra de BELI ARAÚJO, é totalmente aproveitada pela direção e, sendo simples, é, paradoxalmente, sofisticada, além de pertinente, representando uma considerável fração da beleza e do acerto da peça. Nenhum elemento cenográfico, no palco ou fora dele, está ali apenas para ocupar espaço e “decorar”; tudo, absolutamente tudo, tem uma razão de existir e é aproveitado de uma forma genial, a mais criativa possível, pelo diretor.



Para que se tenha uma ideia da funcionalidade e da significação dos figurinos, uma genial “sacada” de MARCELO OLINTO, digo que o figurinista, de forma inteligentíssima e prática, “investiu no realismo contemporâneo, por meio de roupas frequentemente usadas numa sala de ensaio, como moletons e camisetas”. (Trecho extraído do “release” enviado por PAULA CATUNDA (Assessoria de Imprensa). Neste, também consta uma esclarecedora declaração de OLINTO: “Fiz um trabalho de tingimento manualmente, usando uma cartela de cores com tons de cinza, azul, vinho e verde. Na transição para a peça de Shakespeare que os personagens estão ensaiando, usamos o moletom com capuz que, amarrado de diferentes maneiras, vai ganhando novas identidades.”. Não sei se conseguem imaginar como isso funciona a contento, mas lhes garanto que é de uma forma surpreendente. Considerando-se que os atores, durante os ensaios de “Julio Cesar”, são testados em vários personagens, as cores da parte superior dos moletons também servem para identificar cada um deles.



Todos os artistas de criação são importantíssimos, em todas as montagens teatrais, cada um fazendo bem a sua parte, mas, nesta, especialmente, aplaudo com um leve vigor a mais, ANA LUZIA DE SIMONI, que deve ter “levado uma surra”, até chegar a conceber um desenho de luz de extrema complexidade, levando em conta todas as marcações e detalhes de algumas cenas. Era preciso iluminar, do jeito mais correto possível, todas as áreas do espaço cênico estabelecido pelo diretor, de forma a gerar efeitos especiais, lindos, em termos plásticos. Um belíssimo trabalho em que a cenografia e a luz confabulam, entre si, “comme il faut”.



Como são bem utilizadas as projeções e vídeos, criados por BATMAN ZAVAREZE! São lindas e muito significativas, plenas de representatividade, “disparadas” em várias direções e sobre superfícies lisas e outras inusitadas, provocando efeitos plásticos deslumbrantes.



Dando prosseguimento ao desfile de trabalhos dos artistas da área de criação, tenho a obrigação de atribuir a GABRIEL MANITA, que faz parte do elenco, o crédito pelo ótimo trabalho de direção musical. Quero, aqui, destacar a canção, escolhida por GASPARANI, desde quando escrevia a peça, que entra no final da última cena, enquanto os atores deixam o palco, após os agradecimentos, e o público, o auditório: “Negro Amor”, numa gravação da eternamente lembrada Gal Costa, versão de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, para o original, composto por Bob Dylan, It's All Over Now, Baby Blue”. Prestem atenção à sua letra e pensem na relação dela com a peça, principalmente com a referida cena final, na qual fica bem explicito o porquê do “VIDAS PARALELAS!”, do título da peça.



Num espetáculo em que TUDO ESTÁ PERFEITO, não se deve falar em “cereja do bolo”, contudo, se desejarem atribuir a expressão com equivalência ao elenco da peça, eu acato, sem questionamentos, visto que, a despeito do magnífico texto, da irretocável direção e do belíssimo trabalho executado por todos os artistas de criação, custa-me imaginar outras pessoas naquele palco, tal é o nível de excelência do trabalho de cada um e a afinação, a cumplicidade, que há entre o sexteto.    



Quatro são os personagens principais (Catarina Ribas, SUZANA NASCIMENTO; Júlio Costa, CESAR AUGUSTO; Ricardo Silveira, GILBERTO GAWRONSKI; e Eduardo Valente, ISIO GHELMAN), mas GABRIEL MANITA (Bernardo Cury) e TIAGO HERZ (Ângelo Almeida) também se apresentam com muito acerto em seus personagens.



SUZANA interpreta a diretora do espetáculo encenado pela fictícia companhia de TEATRO. Por sua condição de mulher, sente-se “inferiorizada”, com relação aos cinco homens do elenco, e boicotada por eles. Não que o seja (inferior), na verdade, por seu merecimento e competência profissional, entretanto é assim como eles a veem e a tratam, à exceção do personagem vivido por ISIO GHELMAN, com o qual Catarina tem uma maior afinidade e uma relação de amizade, fora do palco e das salas de ensaios. Edu procura ajudar a amiga a “segurar a barra”. Ela vive o drama de tentar resolver e conciliar as dificuldades encontradas para a definição dos papéis da peça, destinados a cada um do elenco, e todos os obstáculos que se colocam à sua frente, dificultando o seu trabalho de diretora teatral, com sua vida particular, em que pesa muito a dedicação à filha, que Catarina reconhece estar prejudicada. A existência da personagem, na trama, é de extrema necessidade, um vetor para que o autor possa tratar da discriminação quanto ao trabalho e à capacidade de criar, de muitos homens, em relação às mulheres. SUZANA é uma das melhores atrizes que este país já conheceu e um prêmio de Melhor Atriz de 2023, para ela, por este trabalho, seria bem justo.



Qualquer um – ou todos – dos três atores principais da companhia, ISIO GHELMAN, GILBERTO GAWRONSKI e CESAR AUGUSTO, merece(m), no mínimo, indicações a prêmios de Melhor(es) Ator(es) de 2023. ISIO frequenta pouco as telas e telinhas e, por isso mesmo, considerando que as pessoas vão muito pouco, infelizmente, ao TEATRO, no Rio de Janeiro (No Brasil todo, para dizer a verdade.), não é conhecido pelo grande público, mas é uma presença muito marcante em todos os espetáculos de TEATRO dos quais participa. Vejo-o como um dos melhores atores talhados para as tábuas e não seria de se esperar menos nesta produção. Sempre que está em cena, atrai a atenção do espectador, com uma interpretação muito realista e natural. Uma das melhores cenas deste espetáculo é quando Edu explica, diretamente, à plateia, num tom bastante didático e professoral, a trama da peça que a companhia está tentando montar. Para facilitar essa compreensão, do enredo desenvolvido por Shakespeare, projeções são feitas, no fundo do palco e nas paredes laterais do Teatro, como se fosse um mestre utilizando recursos audiovisuais, um “datashow”, em suas aulas.



   Tudo o que escrevi, com relação à competência e à carreira de ISIO, estendo a GILBERTO GAWRONSKI, um ator visceral, que se joga, de cabeça e “às cegas”, no sentido de intensidade, com muito amor e dedicação, aos personagens que representa. É assim que reconhecemos, no palco, a sua criação para o personagem Ricardo Silveira, destemperado e irritado com a demora da diretora em definir quem serão os titulares dos papéis da peça. É claro que ele pretende interpretar o protagonista, achando-se o mais talentoso, para isso, e não esconde a sua pretensão.



Admiro, como aos dois anteriores, o trabalho de CESAR AUGUSTO, como ator, a despeito de, nos últimos tempos, ele vir se dedicando mais a dirigir os colegas. CESAR é um excelente ator e prova isso na pele de Julio Costa. Alguns de seus momentos de quase solo me emocionaram demais.



Reitero meus aplausos, também, aos trabalhos de MANITA e HERZ.  




Gabriel Manita e Tiago Herz
(Ensaio. Foto: autoria desconhecida.)


FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Gustavo Gasparani (partindo da tragédia “Júlio César”, de William Shakespeare)

Direção: Gustavo Gasparani

Assistente de Direção: Menelick de Carvalho

 

Elenco (por ordem alfabética): Cesar Augusto, Gabriel Manita, Gilberto Gawronski, Isio Ghelman, Suzana Nascimento e Tiago Herz

 

Cenografia: Beli Araújo

Figurinos: Marcelo Olinto

Iluminação: Ana Luzia de Simoni

Projeções e Vídeos: Batman Zavareze

Direção Musical: Gabriel Manita

Captação de conteúdo e clipes para redes sociais: Daniel Barboza

“Design” Gráfico”: Felipe Braga

Fotografia: Nil Caniné e Batman Zavereze

Assessoria de Imprensa: Paula Catunda

Redes Sociais: Rafael Teixeira

Direção de Produção: Claudia Marques – Fábrica de Eventos

 


 

 


SERVIÇO:

Temporada: de 12 de janeiro a 12 de fevereiro de 2023.

Local: Teatro do Centro Cultural Oi Futuro.

Endereço: Rua Dois de Dezembro, nº 63 - Flamengo – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)3131-3060.

Dias e Horários: 5ª e 6ª feira, às 20 horas; sábado e domingo, às 19 horas.

Valor dos Ingressos: R$60,00 (inteira) e R$30,00 (meia entrada).

Recomendação Etária: 12 anos.

Duração: 120 minutos.

Gênero: Drama.

 


 

        Por oportuno, a título de ilustração, acrescento que o original de Shakespeare foi publicado em 1599, ao que tudo indica, mas sem que se tenha a ceteza disso, e “recria a conspiração que levou ao assassinato do grande ditador romano Júlio César, bem como os seus desdobramentos”. 424 anos depois, “a contemporaneidade do texto é surpreendente, com personagens envolvidos em disputas de poder, intrigas, manipulações e traições”. Com sua dramaturgia, GUSTAVO GASPARANI “propõe uma reflexão pertinente sobre questões sociais e políticas, entrecruzando a trama original de Shakespeare e as relações encontradas nos bastidores do processo criativo de uma companhia teatral fictícia”, utilizando, de forma impecável, o recurso da metalinguagem, “uma história dentro de outra”, o TEATRO dentro do TEATRO.



Extraído do já citado “release”: “O aposto “VIDAS PARALELAS” faz referência às analogias estabelecidas entre os personagens da obra de Shakespeare e os integrantes da companhia teatral da trama criada por GASPARANI”, o qual afirma: “A peça propõe um espelhamento entre essas figuras”.



Fico por aqui, com a vontade de escrever muito mais, ainda, sobre esta “OBRA-PRIMA”, porém estou consciente de que já me estendi bastante. Mas ainda falta dizer – Ou será que não?! – que RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, ESTE ESPETÁCULO.


O elenco e o diretor.

 

FOTOS: NIL CANINÉ

e

BATMAN ZAVEREZA

 

 

 

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