“MINHA VIDA
EM MARTE.”
ou
(ELA FOI
PARA LÁ
E SE DEU
BEM MAL.
OU
NÃO?!)
Na última 5ª feira (11 de janeiro de 2023), atendendo a um convite feito por RENATA MAGALHÃES,
assessora de imprensa do Teatro Casa Grande, fui àquele excelente Teatro
carioca, um dos melhores, para participar de dois eventos. O primeiro, um “happy hour”,
com a cerimônia de descerramento de uma placa, oferecida pelo governo municipal
do Rio de Janeiro, o qual reconheceu aquela icônica e histórica casa de
espetáculos como patrimônio cultural do Rio de Janeiro, por seus quase
57 anos de bons serviços prestados ao município, título concedido por meio de
um Decreto publicado no Diário Oficial do município, no dia 20 de outubro de
2022. A partir de agora, o Teatro Casa Grande passa a integrar o Circuito dos
Teatros do projeto “Circuitos do Patrimônio Cultural Carioca”, organizado pelo
Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. O segundo motivo foi assistir à estreia
do espetáculo “MINHA VIDA EM MARTE”, com texto e interpretação de MÔNICA
MARTELLI, sob a direção de SUSANA GARCIA. Na verdade, “MINHA VIDA
EM MARTE” não está estreando, no Rio de Janeiro, uma vez que já havia sido
apresentada aqui, numa profícua temporada, a
partir de junho de 2017, no Teatro dos 4.
Tenho uma grande ligação afetiva com o Teatro Casa Grande por dois motivos principais. Foi lá que atuei, no TEATRO profissional, pela segunda vez, num espetáculo infantil, uma super produção, “Dom Chicote-Mula-Manca e seu Fiel Escudeiro Zé Chupança”, em 1971/72, quando interpretei, por alguns meses, um dos protagonistas, Dom Chicote, ao lado de uma famosa estrela global da época e de um ótimo elenco, no qual se destacava um certo rapaz franzino, chamado Ney de Souza Pereira, transformado, logo depois, numa velocidade estonteante, em Ney Matogrosso. O que também me liga, afetivamente ao Casa Grande, foram os vários momentos em que participei das famosas reuniões – verdadeiros comícios “indoor” - que clamavam pela volta do Estado Democrático de Direito, que nos fora roubado pelos gorilas milicos e os desprezíveis civis responsáveis pelo lamentável golpe militar de 1964, “página infeliz da nossa História, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações” (Chico Buarque de Holanda.).
Durante o grande período em que
trabalhei no Casa Grande, ficava fascinado com o amor e a dedicação que a dupla
de sócios - e amigos - fundadores do Teatro, Max Haus e Moysés Ajhaenblat, demonstravam pela casa. Cheguei a pensar, ingenuamente, que os dois moravam lá, de tanto tempo que eles passavam no Teatro. Eu chegava bem antes do início da sessão e gostava muito de conversar com ambos, principalmente com o Max, entretanto, confesso, até com um certo grau de
vergonha, que, somente há pouco tempo, consegui saber quem era um ou outro. Hoje, acho que era pelo fato de
enxergá-los quase com uma “entidade”, indissociável, uma espécie
de Cosme e Damião - também nunca soube distinguir quem é quem - na imagem.
Pareciam uma só persona, com um “clone”, como sombra.
Seu Max, para a nossa tristeza, já faleceu,
porém Seu Moysés, já muito idoso, ainda está vivo, felizmente, e esteve
presente na cerimônia de anteontem, o que me deixou muito feliz, ao lado de Dona
Vilma, viúva de Max Haus. Outro fator que também contribuiu para a minha alegria, naquela
noite, responsável pela grande emoção que tomou conta de mim e pelo embaçamento
da minha visão, por alguns minutos, foi o grande jornalista, escritor e “imortal”
Senhor Zuenir Ventura, figura frequente na luta pela democracia, corajosamente
encampada pelo Casa Grande, nas já citadas reuniões, ao lado de grandes nomes
das artes e da política. Tancredo Neves, em 11 de novembro de 1984, decidiu chamar o espaço do Teatro Casa Grande de o “Território Livre da Democracia”.
Passou um filme, de longuíssima-metragem, na minha cabeça. Hoje, o Teatro Casa
Grande é gestado pela segunda geração das famílias dos seus fundadores, nas
pessoas de Leo Haus e Sílvia Haus, filhos do velho Max, e Rodrigo Gerheim,
filho do Senhor Moysés. A cerimônia foi comandada por Leo Haus e a honra do
descerramento da famosa “plaquinha azul” coube à atriz Mônica
Martelli, visivelmente emocionada. Foi uma noite inesquecível, quando pude reencontrar
tantos queridos amigos que o TEATRO me deu, agora, na "pós-pandemia" (Será que já passou?! Acho que não, totalmente.).
- X -
Na verdade, “MINHA VIDA EM MARTE” não é
uma estreia, visto que, como já disse, houve uma vitoriosa temporada do solo,
em 2017, no Teatro do 4, no Rio de Janeiro. Depois, o espetáculo fez uma
brilhante carreira, Brasil afora, somente interrompida, em 2020, pela pandemia
de Covid-19. Trata-se, portanto de uma reestreia, sendo que o único detalhe
diferente do que vi antes, há cinco anos e meio, foram mínimas alterações no texto –
mínimas mesmo – para torná-lo mais atual, com um pouco mais de frescor na linguagem e em algumas referências. O tema é universal e atemporal. Trata-se de uma comédia deliciosa. A crítica registrada abaixo é uma cópia da
que publiquei no dia 17 de junho de 2017, com uma ou outra, quase imperceptível,
alteração, na tentativa de pintar, com todas as cores, a minha alegria em poder
me divertir bastante e aplaudir, novamente, MÔNICA MARTELLI novamente. O solo cômico é uma
continuação de outro espetáculo estrelado por ela, em 2000, “Os Homens São De
Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou”, também um extremo sucesso de público e de
crítica, como vem sendo este.
- X –
(Crítica
publicada em 2017, que se aplica a hoje.)
Se há um comentário que me irrita profundamente, quando o assunto é TEATRO, é o de que “comédia é uma arte menor”. Isso é pura prova de ignorância e preconceito, ambos no mesmo campo semântico. Infelizmente, até em determinados prêmios de TEATRO, verifica-se uma certa “má vontade”, em alguns jurados, para reconhecer o talento de artistas e técnicos, mais daqueles que destes, envolvidos em grandes projetos de TEATRO em forma de COMÉDIAS. Esse fato, lamentavelmente, não está rerstrito ao Brasil e ao TEATRO. É só pesquisar, por exemplo, na história do "Oscar", e ver quantas COMÉDIAS mereceram a estatueta. Isso é uma lástima, mas existe, sim; acreditem! E tanto é verdade, que até Fábio Porchat, em boa hora, teve a feliz ideia de criar um prêmio destinado, única e exclusivamente, à COMÉDIA.
Em primeiro lugar,
todos sabemos – e, aqui, terei de repetir o óbvio – que é muito mais difícil fazer
rir que chorar. Se for monólogo, então, a responsabilidade do(a)
ator/atriz mais que dobra. É preciso muito talento, como o de MÔNICA MARTELLI,
para encarar, solitariamente, do alto de um palco, um público de centenas
de pessoas, que superlota (Lotação já esgotada, por alguns dias, desde a estreia.) o Teatro
e ser aplaudida, em cena aberta, várias vezes, e ovacionada, ao final, no caso
aqui analisado.
Estou falando
de “MINHA VIDA EM MARTE”, COMÉDIA (com todas as maiúsculas),
que está em cartaz no Teatro Casa Grande (VER SERVIÇO.) E a atriz
em questão é a bela e talentosa MÔNICA MARTELLI, que, além de
interpretar o monólogo, foi quem o escreveu.
Acho - ou quase tenho
certeza disso - que MÔNICA não tinha noção do potencial de seu
talento, como redatora e atriz, quando resolveu encenar, há quase 22 anos, um espetáculo nos mesmos moldes que este, “Os Homens São De
Marte... E É Pra Lá Que Eu Vou”, que fez uma grandiosa carreira, de anos, com
sucesso absoluto de público e de crítica, lotando o Teatro Vannucci, no Rio de Janeiro, e tantos outros, por onde viajou, por todo o Brasil. Foram, ao todo, 40
cidades, em 20 estados, com uma esticada a Portugal.
Na época do lança,ento do monólogo anterior, MÔNICA MARTELLI tinha 36 anos e não poderia prever o sucesso que a peça, protagonizada e escrita por ela, alcançaria. Nem, tampouco, esperava a reviravolta que Fernanda, a personagem que criou, para falar de amor e discutir o empoderamento feminino, muito antes de a expressão cair no gosto popular, faria em sua trajetória pessoal. O sucesso foi tão retumbante, que virou filme e série de TV, sempre com elogiável aceitação.
Doze anos depois, aos 48 anos, MÔNICA está de volta, com sua nova obra, “MINHA VIDA EM MARTE”, e Fernanda, agora,mais velha, com 45 anos, vê-se à procura de respostas para, sobreviver na deseja vida conjugal. MÔNICA fala, de cadeira, sobre o assunto explorado na peça, por conhecer de perto, na própria carne, as situações da fictícia personagem, o que agrega bastante credibilidade a seu texto.
MÔNICA mergulha fundo no universo feminino, o que não é fácil nem para
uma mulher, e aborda as idiossincrasias da personagem, sem poder evitar alguns
lugares-comuns, é claro, porém sem as mesmices que estamos acostumados a ver,
sem ser repetitiva nem vulgar.
SINOPSE:
Se, em “Os Homens São de Marte...”, Fernanda estava em busca do amor, em “MINHA VIDA EM MARTE”, a personagem, agora, está casada, há oito anos, com Tom, com quem teve uma menina de cinco aninhos: Joana.
Este é o pano de fundo para a protagonista se questionar, na terapia de grupo. É nas sessões de análise que ela narra e vivencia, deliciosamente, as alegrias e os muitos problemas do seu casamento.
Ali, ela expõe assuntos íntimos, como, por exemplo, a falta de tesão ou as tentativas de “trabalhar a relação”, o que vive repetindo, e percebe que, nas relações estagnadas, adia-se o afeto e acumulam-se mágoas.
O texto toca em algumas conhecidas feridas e as aprofunda, como traição, machismo, trabalho duplo da mulher e educação dos filhos.
“MINHA VIDA EM MARTE” é um texto libertador, sem ser feminista, que foi escrito sob a premissa de que ser feliz é fundamental.
“É muito comum, no casamento, que a gente deixe para amanhã a ternura, o sexo e a tolerância. E, quando percebemos, a família, com que tanto sonhamos, está por um fio”, revela MÔNICA sobre o destino de Fernanda. O espectador passa todo o tempo da peça como um “coleguinha de terapia de grupo”, na expectativa de um final para a personagem, seja ele qual for; de preferência, o melhor, mesmo que ela tenha de pagar um alto preço por ele.
Pode ser que o destino de FERNANDA seja
o de conseguir superar o que possa parecer apenas uma crise conjugal ou, se
isso não puder acontecer, concretizar uma dolorosa separação, a qual,
certamente, traria muitos outros problemas, como o saber conviver com a
solidão, talvez o pior de todos, para os descasados.
Sobre o ótimo texto, nada a acrescentar, a não
ser o fato de que MÔNICA escreve para que todos, de qualquer
nível cultural, ouçam e compreendam o que ela põe na boca da personagem, e que
isso possa conduzir os espectadores, após o riso, a boas reflexões.
SUSANA GARCIA, irmã
da atriz, assina a direção, faz um bom trabalho, muito
correto, com a difícil tarefa de conduzir uma só pessoa em cena, com a
preocupação de manter a coerência da personagem, durante toda a peça, como
também criar boas marcações, que nem de longe possam gerar monotonia, trabalho
reforçado pela contribuição, sempre brilhante, de MÁRCIA RUBIN,
na direção de movimento. O espetáculo é muito dinâmico e prende a atenção da plateia da primeira à ultima cena.
(Sobre a cenografia, escrevo um parágrafo novo, uma vez que mudei de opinião, agora que revi a peça.) O cenário, de FLÁVIO GRAFF, é muitíssimo interessante. A ação se concentra no consultório de uma terapeuta. Para esse espaço, o único elemento de cena é um banco, com um "porta-trecos" acoplado a ele, localizado no centro do palco. Ao fundo, um quarto, numa perspectiva vista de cima, com muitos objetos aplicados, tudo muito “clean” e de muito bom gosto. Esteticamente, muito bonito e criativo.
O figurino,
novamente saído da criatividade de MARCELA VIRZZI, é um elemento de
grande destaque. MARCELA cria umas inovações muito
interessantes nas trocas de roupa, em cena, aproveitando peças, ao avesso, em
expansões ou reduções, transformando-as em outras, tudo acompanhando e
emoldurando os diversos momentos da personagem. A atriz “vira uma cebola, de
várias camadas”. Um belíssimo trabalho!
(Como no parágrafo referente à cenografia, idem, no que diz respeito à iluminação.) MANECO QUINDERÉ também está presente, na ótima FICHA TÉCNICA (Quem quer fazer sucesso tem que se cercar de ótimos profissionai.), dando a sua boa contribuição na luz, acompanhando os diálogos - detalhe interessantíssimo -, variando, muito corretamente, em tons e intensidades, de acordo com o estado de espírito da personagem e as muitas situações. Esse ótimo desenho de luz é um grande desafio para quem opera a mesa de iluminação, por necesitar de muita atenção e de uma precisão cirúrgica, na troca de luzes.
Um detalhe que também cai muito bem, na peça, é a excelente trilha sonora, a quatro mãos, de LUCAS MARCIER e FABIANO KRIEGER. Todas as canções foram escolhidas, a dedo, para sublinhar e valorizar as cenas.
Falar de MÔNICA MARTELLI não
requer muitas palavras. É uma atriz que, por seu belo porte físico, já tem uma
grande presença em cena. É uma ótima profissional, que atua com muita naturalidade, e
com um “up”: uma grande atriz cômica, com um
excelente e particular tempo de comédia, indispensável, na difícil arte de
fazer rir. Suas entonações e seus silêncios, sempre nos momentos exatos, assim
como suas máscaras faciais e seus súbitos cortes no texto são
sempre motivo para que a plateia gargalhe. Claro que tudo isso é valorizado,
quando apoiado num ótimo texto. MÔNICA é dona de um
carisma muito forte e sabe como estabelecer a comunicação com uma plateia.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Mônica
Martelli
Direção: Susana Garcia
Interpretação: Mônica Martelli
Cenografia:
Flávio Graff
Figurino: Marcela
Virzzi
Iluminação: Maneco
Quinderé
Trilha Sonora:
Lucas Marcier e Fabiano Krieger
Direção de
Movimento: Márcia Rubin
Fotos: Dalton
Valério
Direção de
Produção: Herson Capri
Produção: Capri
Produções
Assessoria de
imprensa: Antônio Trigo
SERVIÇO:
Temporada: De
12 a 29 de janeiro de 2023.
Local: Teatro Casa
Grande.
Endereço: Avenida
Afrânio de Melo Franco, 290 – loja A - Leblon – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2511-0800.
Dias e Horários: De
5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 19h (Abertura do Teatro uma hora antes
do início do espetáculo.).
Valores dos
Ingressos: A partir de R$100,00 (inteira) e R$50,00 (meia entrada).
Compras via
internet: Plataforma eventim.com.br ou na bilheteria do Teatro.
Horário de
funcionamento da bilheteria: 3ª feira e 4ª, das 12h às 18h; de 5ª feira a
domingo, de 15h até 30 minutos após o início da sessão.
Capacidade: 926
lugares.
Classificação
Etária: 14 anos (Menores de 18 anos apenas acompanhados de seus pais ou
responsáveis.).
Gênero: Monólogo Cômico.
Não tenho a menor
dúvida, a julgar pelo que vi, por todos os comentários que tenho ouvido sobre a
peça e, também, pelo borderô diário, de que “MINHA VIDA EM MARTE” cumprirá
a mesma trajetória do espetáculo anterior e queiram os DEUSES DO TEATRO que seja por mais tempo. É o meu mais sincero desejo, pela excelente qualidade do trabalho que se vê no palco
do Teatro Casa Grande. (Com relação a esta nova temporada, é de se lamentar que ela seja tão curta.)
Pretendo
rever a peça, sem a menor dúvida, mais vezes.
(Foto: autoria desconhecida.)
(Foto: autoria desconhecida.)
Mônica Martelli e Susana Garcia.
(Foto: autoria desconhecida.)
(FOTOS:
DALTON VALÉRIO.)
Agradecimentos (Foto: Gilberto Bartholo,
na primeira temporada.)
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário