“MARROM,
O MUSICAL”
ou
(UM ESPETÁCULO
À ALTURA DO TALENTO
DE ALCIONE.)
Pessoas
importantes, em qualquer atividade, que, no seu fazer diário, tenham
contribuído, de forma positiva, para enaltecer o Brasil e agradar
e levar alegria ao seu povo merecem, sempre, uma justa homenagem, e isso é
melhor ainda quando tal preito se dá com o homenageado ainda vivo. O ator e produtor JÔ SANTANA, diretor
da “Fatto Produções”, merece nossos agradecimentos e aplausos,
pelo fato de ter sido o idealizador da “Trilogia do Samba”,
iniciada em 2016, com o musical “Cartola - O Mundo é
um Moinho”, seguindo-se, em 2018, “Dona Ivone Lara -
Um Sorriso Negro”, ambos dois belos espetáculos, que vi duas
vezes, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro,
e que muito me emocionaram. Agora, JÔ convidou o consagrado multiartista
MIGUEL FALABELLA, para dirigir o musical que encerra a já citada “Trilogia”,
“MARROM, O MUSICAL”, uma justa e bela homenagem à cantora ALCIONE,
carinhosamente chamada, por seus amigos e admiradores, pelo singelo apelido de “MARROM”,
em alusão à cor de sua pele.
No Brasil, nos últimos anos, o nicho dos musicais vem crescendo a olhos vistos, para a minha alegria, eu, amante incondicional desse gênero teatral, a ponto de viajar a São Paulo, algumas vezes por ano, com o objetivo de assistir aos musicais que não virão para o Rio.
Existem alguns
encenadores que reúnem, em seus currículos, várias assinaturas de direção
em musicais. Todos, a meu juízo, cometem pecados e atingem virtudes, em
seus trabalhos. Há, infelizmente, os que não sabem, ainda, como dirigir um
musical, mas continuam tentando. Acho válido, porém, esperando que aprendam,
com cada erro, e consigam acertar um dia. MIGUEL FALABELLA é daqueles que
sabem fazer ótimos musicais. Quando erra, é por pouco; quando acerta, é por
muito, como é o caso do espetáculo em tela. É bom deixar registrado que,
todas as vezes que consegui enxergar algumas falhas nos muitos musicais
que receberam a assinatura de FALABELLA, com o meu modesto olhar de crítico,
sempre pronto a melhorar e evoluir, nas minhas análises, estas foram de pouco
relevo e jamais chegaram a “anular” um trabalho seu.
"Criador" e "Criatura".
Para qualquer um que esteja interessado em conhecer a importância de FALABELLA para as ARTES brasileiras, basta “dar um Google” e encontrará, na Wikipédia, a “enciclopédia livre virtual”, informações que ocupam um considerável espaço, tão gigantesca é a sua obra, como ator, autor, diretor, apresentador, roteirista, dublador e produtor. Aqui, seu trabalho será comentado, no momento devido, na condição de autor e diretor.
SINOPSE:
“MARROM, O MUSICAL” narra
a vida e a obra de um dos maiores nomes da MPB: ALCIONE.
Tem, como base
dramatúrgica, a estrutura do “Boi” maranhense, que resgata uma
história típica das relações sociais e econômicas da região, durante o período
colonial, mesclando as culturas europeia, africana e indígena.
Essas culturas mesclam
o sotaque de matraca, de zabumba, de orquestra, da baixada e de costa de mão.
Assim, usando ritmos e toadas nossas, o espetáculo se apropria de estruturas clássicas do TEATRO MUSICAL e traz, para os palcos, um “Boi” jamais visto antes.
ALCIONE,
maranhense que nunca deixa de valorizar e divulgar a cultura de seu
estado natal e, consequentemente, o Brasil, além da grande
cantora que é, também é compositora e multi-instrumentista,
com 30 álbuns gravados em estúdio e 9, ao vivo, já tendo vendido 8.000.000
de discos, no mundo inteiro, em 50 anos de carreira. Essa longevidade
no ofício, com o qual se notabilizou, guarda muitas histórias e vivências,
capazes de render um musical de TEATRO. E coube a MIGUEL
FALABELLA ser, ao mesmo tempo, o autor de um texto sobre a
trajetória dessa grande artista, assim como ser um “maestro”
a reger atores, bailarinos e músicos, para contar essas
histórias. Como dramaturgo, FALABELLA foi muito feliz, ao pôr em
pratica a ótima ideia de contar, paralelamente, duas principais histórias, sem,
aparentemente, nada ter a ver uma com a outra, que são a da cantora e a
do “Bumba-Meu-Boi do Maranhão”. E por que essa escolha?
Simplesmente porque não se pode falar de ALCIONE sem falar do Maranhão,
estado conhecido por suas muitas e variadas manifestações artísticas populares,
com destaque para aquele folguedo. Assim, o que se vê, no palco, é uma história
triste que acaba em festa, a do Boi, revisitada, entremeada com a
história dessa maranhense ilustre.
A
história do Boi está presente, nesta montagem, porque,
desde criança, ALCIONE era apaixonada por ela e vivia pedindo à sua mãe
que a contasse e recontasse para ela. A
festa do Boi é uma tradição que se mantém desde
o século XVIII, arrasta maranhenses e visitantes, por todos os
cantos da capital e do interior do estado, nos meses de junho e julho, e atinge
e contagia gente de todas as idades, dos mais jovens aos mais velhos. Em dezembro de 2019, o “Bumba-Meu-Boi do Maranhão”
foi declarado “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”, pela
UNESCO. Sugiro que procurem ler sobre a história do “Boi”,
que é assaz interessante. Vou pular essa parte, não por outro motivo que não
seja me deter mais na figura de ALCIONE.
O texto
se apresenta numa sequência cronológica, desde quando ALCIONE deixa a
casa dos pais, em São Luís do Maranhão, e vem para o Rio de
Janeiro, a fim de, daqui, ter sua grande ARTE espalhada por
todo o país e pelo exterior. Nessa trajetória, muitos altos e baixos, muitas
aventuras aconteceram, e FALABELLA coloca tudo isso em cena, de uma
forma bem descontraída, leve, valorizando todos os detalhes e momentos
importantes da vida da protagonista. Vivo sempre repetindo que meu senso
crítico sempre se aguça, quando se trata de um musical biográfico.
Não gosto da maioria, por repetir a mesma formatação, que chega a entediar,
porém não é o que acontece em “MARROM, O MUSICAL”. Tenho certeza de que
boa parte do acerto da peça reside na genial ideia do autor do texto,
ao colocar, para narrar, em alguns momentos, fazendo uma ponte entre as cenas,
uma espécie de “corifeu”, do TEATRO grego, cercado por um coro,
todos excelentes cantores e bailarinos, de modo que a narração ganha
muito dinamismo e prende a atenção do público. É, realmente, uma das
melhores ideias que destaco neste espetáculo.
O “release”,
que recebi, de ROGÉRIO ALVES e MAURÍCIO AIRES (Amigos Assessoria de Comunicação),
diz que “ALCIONE pode ser muitas: menina, mulher, uma loba, filha
amorosa, musicista apaixonada, perseguidora de sonhos.”. Todas essas “alciones”
são retratadas, na peça, e há um momento apoteótico, catártico,
em que FALABELLA, exatamente porque ALCIONE, sendo uma só, não
existe, achou de colocar nada menos do que onze magníficas cantrizes em
cena, cantando, juntas, onze “alciones”, usando o mesmo
exuberante figurino, um belo traje em amarelo, que “enche de luz”
o palco do Teatro Sérgio Cardoso (VER SERVIÇO.). Aquilo me
arrepiou de tal modo, que não pude conter meus gritos de “BRAVO!”,
em cena aberta. Esse é apenas um dos detalhes da ótima direção de MIGUEL
FALABELLA, mais uma vez colocando em prática seu talento, bom gosto e tudo
o que já sabe, adquirido ao longo de uma carreira de cerca de quatro décadas,
durante a qual, no TEATRO, dirigiu grandes espetáculos, musicais
ou não, ou teve alguma participação neles, como autor, ator, produtor
ou versionista, os quais estão escritos nos anais do TEATRO BRASILEIRO,
como, por exemplo (Não estão em ordem cronológica.), “Emily”;
“As Sereias da Zona Sul” (besteirol); “Como Encher
um Biquíni Selvagem”; “O Beijo da Mulher Aranha”; “Alô,
Dolly”; “Annie”; “Hebe – O Musical”; “South
America Way”; “Godspell”; “Império”, dramaturgia
dividida com Josimar Carneiro; “Os Produtores”;
“Haispray”; “A Gaiola das Loucas”; “Cabaret”;
“A Partilha”; “Veneza”; “Xanadu”; “Crazy
For You”; “A Madrinha Embriagada”; “O Homem de La
Mancha”; “Donna Summer, O Musical”; e “O Som e a
Sílaba”. Já disse ao MIGUEL, creio que até mais de uma vez, em tom
de brincadeira, é claro, que ele poderia montar o pior espetáculo do planeta,
o que, decerto, jamais aconteceria, que isso seria perdoado, uma vez que quem
deu vida a OBRAS-PRIMAS, como “A Partilha”, traduzida em
outros idiomas e montada em vários países; “Império”, espetáculo
a que assisti mais de vinte vezes; “O Homem de La Mancha”,
uma das maiores paixões da minha vida, que também vi algumas vezes; e “O
Som e a Sílaba”, que me fez perder o fôlego, em todas as vezes que
assisti à peça, tem crédito de sobra. Não precisaria ter feito mais
nada no TEATRO. E MIGUEL ainda vem agora com essa maravilha de “MARROM,
O MUSICAL”!!!
Já tendo
me expressado sobre a excelente qualidade do texto e da direção, vamos
falar, além do elenco, que ficará mais para adiante, dos elementos
artísticos de criação, a começar pela cenografia, concebida, a
quatro mãos, por ZEZINHO e TURÍBIO SANTOS, um palco redondo,
giratório, com alguns níveis diferentes, uma peça única, que é deslocada, pelos
próprios atores, durante toda a encenação, que, além de servir de
base para várias locações, ainda leva dinamismo à montagem.
Alguns poucos elementos, como espelhos de camarim, completam, pontualmente, o ótimo
cenário.
Dos elementos
plásticos, o que mais me chamou a atenção foram os figurinos, assinados por três grandes artistas de criação: LÍGIA ROCHA, JEMIMA
TUANY e MARCO PACHECO. Acho que, para uma só pessoa, ficaria difícil
dar conta de tantas peças, trocadas muitas vezes, pelos atores e atrizes.
São belíssimos os figurinos, exageradamente extravagantes, no bom
sentido, coloridos e alegres, bem ao estilo de ALCIONE, sempre
exuberante, quando se apresenta em público. O grande destaque, na minha
opinião, motivo de comentários elogiosos das pessoas que me cercavam, na plateia,
é a saia que um dos atores usa, na “Festa do Boi”, uma verdadeira
obra de arte, pelo requinte e a beleza dos bordados e aplicações nela.
VALMYR
FERREIRA, totalmente inserido no contexto do espetáculo, criou uma iluminação
“de festa”, visto que o musical nada mais é do que uma grande
celebração. Muitas luzes, muitas cores, uma paleta de tintas bastante
variada, luzes que também “dançam”, nas coreografias. Um “oceano
de luzes e cores”, para iluminar, mais ainda, os caminhos da “MARROM”.
Um desenho de luz dos melhores com que tive contato nos últimos tempos.
Um musical
pede coreografias; num musical em que uma sambista – ela não é
apenas isso – e um folguedo, como o “Boi”, estão presentes
pede uma coreografia exuberante, contagiante, “muito viva”,
criada por BÁRBARA GUERRA e RAFAEL MACHADO, eximiamente executada
por todos do elenco. Todas as coreografias, sem exceção, são excelentes,
vibrantes, e merecedoras de muitos aplausos.
GUILHERME
TERRA faz um estupendo trabalho de direção musical, além de reger e
tocar piano, vestindo, com arranjos especialíssimos, musicais e
vocais, as muitas canções que desfilam, durante o espetáculo,
a maioria, como não poderia deixar de ser, do repertório de ALCIONE, mas
também fazem parte do “set list” canções gravadas por
outros cantores, que passaram pela vida da “MARROM”. A orquestra recrutada
para tocar, no musical, é composta por grandes músicos, profissionais
de primeira linha.
São, também, merecedores do meu reconhecimento e dos meus aplausos, por seus
trabalhos, RAFAEL MENDES, aderecista e coordenador do Projeto Maranhão,
pelos adereços e objetos de cena; RICHARD LUIZ, pelo “design”
de vídeo; os profissionais da AUDIO S.A, pelo claríssimo
desenho de som; e um profissional que entende tudo de visagismo: DICKO
LORENZO.
E o elenco?!
Que elenco!!! São, ao todo, 23 atores e atrizes, que ainda cantam
e dançam, como exige um musical. Alguns – algumas atrizes,
creio eu – foram convidados por FALABELLA, mas a grande maioria foi
selecionada em audições, o terror de todos os artistas de musicais.
Pela extrema qualidade do material humano em cena, imagino quão difícil tenha
sido a seleção, até que se chegasse ao elenco, formado apenas por
negros e negras, o que nos enche de orgulho. Como é lindo e emocionante ver
tanto talento negro num palco, provando que a hegemonia branca, no TEATRO,
já não cabe mais e que existem, sim, e isso é formidável, muitos grandes
artistas negros, prontos a demonstrar seus talentos, bastando que sejam
convocados para isso. Todos executam, magnificamente, seu trabalho,
porém não posso negar destaque aos nomes de KAREN HILLS, LETÍCIA
SOARES e LILIAN VALESKA. Outros, certamente, também o merecem,
entretanto, infelizmente, não os conheço, porém deixo, aqui, meus aplausos
especiais para LUCAS WICKHAUS, o excepcional ator que interpreta
o já citado “corifeu”. Que felicidade, naquela tarde de um
sábado, ver aquela gente atuando!!! Saí do Teatro em total estado de graça.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Miguel Falabella
Direção: Miguel Falabella
Diretora Assistente: Iléa Ferraz
Direção Musical, Arranjos, Piano e Regência:
Guilherme Terra
Assistente de Direção Musical: Márcio Guimarães
ELENCO (por ordem alfabética): Ágata Matos,
Anastácia Lia, Carol Roberto, Daniela Santana, Eddy, Fernando Leite, Hipólyto,
Jefferson Gomes, Joyce Cosmo, Karin Hills, Lázaro Menezes, Leandro Villa,
Leilane Teles, Letícia Nascimento, Letícia Soares, Lilian Valeska, Lucas
Wickhaus, Luci Salutes, Mariana Gomes, Millena Mendonça, Rafael Leal, Rafael
Machado e Renato Caetano
MÚSICOS: Bruno Garcia Fermiano – Trompete; Bruno
Vieira - Violão 7 Cordas; Diego Pereira - Bateria e Alegria; Guilherme Montanha
- Sax, Flauta e Clarinete; Márcio Guimarães - Percussão e Cordas; e Felipe
Rodrigues Mota - Baixo
Coreografia: Bárbara Guerra e Rafael Machado
Cenografia: Zezinho e Turíbio Santos
Figurino: Ligia Rocha, Jemima Tuany e Marco Pacheco
Aderecista e Coordenador Projeto Maranhão: Rafael Mendes
Iluminação: Valmyr Ferreira
“Design” de Vídeo: Richard Luiz
“Designer” de Som: Audio S.A
Visagismo: Dicko Lorenzo
Assessoria de Comunicação: Maurício Aires e Rogerio Alves (Amigos Assessoria de
Comunicação)
Fotos e Vídeo: Patrícia Ribeiro
“Marketing” Cultural: Gheu Tibério
“Design” Gráfico: Dorotéia “Design”
Direção de Produção: Renato Araújo
Coordenação de Produção: Selma Santos
Produção Executiva: Márcia Uchôa
Assistente de Produção: Marcela Lima e Igor Reis
Produção: Fato Produções Artísticas
Crédito da Foto: Dorotéia “Design”
SERVIÇO:
Temporada: De
26 de agosto até 07 de novembro de 2022.
Local: Teatro
Sérgio Cardoso.
Endereço: Rua Rui Barbosa, nº 153 – Bela Vista – São Paulo – SP.
Telefone: (11)
3288-0136.
Dias e
Horários: sexta-feira e segunda-feira, às 20h30min; sábado, às 16h e às
20h30min; domingo, às 17h.
Ingressos à venda na plataforma Sympla:
https://bileto.sympla.com.br/event/74871/d/148103
Ponto de Venda, sem taxa de conveniência: Bilheteria do Teatro Sérgio Cardoso, de
terça-feira a sábado, das 14h às 19h, e vendas para o espetáculo do dia, das
14h até o início do espetáculo.
Valores dos
Ingressos: De R$80,00 a R$200,00 (inteiras). Também há meia entrada,
correspondente a 50% do valor das inteiras.
Compras pela
internet, com taxa: www.sympla.com.br
VENDAS PARA
GRUPO: Entrar em contato com “Fato Produções”, pelo telefone (11)98043
8763
Duração: 90
minutos.
Classificação
Etária: Livre.
Gênero: Musical.
Não será permitido entrada após o início
do espetáculo.
Trecho
extraído do já citado “release”: “Um espetáculo que
pretende reafirmar o TEATRO como um ato de comunhão. Que vai fazer rir, chorar,
cantar junto, se espantar, se emocionar, ser criança de novo, encontrar o
desconhecido. Vive bem quem sempre espera um gracejo. Quem vier de olhos e
braços abertos vai, certamente, sair da plateia, depois das quase duas horas –
pouco para contar e cantar tanto – como Alcione é com relação à vida e à arte
(...).”. Se essa era a proposta do espetáculo, posso garantir
que ela foi totalmente atingida, o que me faz recomendar,
com muito entusiasmo, esse excelente musical.
(Foto: autoria desconhecida.)
FOTOS:
PATRÍCIA RIBEIRO
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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