“A LUTA –
A TERCEIRA PARTE
DE ‘OS SERTÕES’,
DE EUCLIDES
DA CUNHA,
NO TEATRO”
ou
(UMA AULA DE
TEATRO VISCERAL.)
Sempre gostei muito de monólogos e já assisti a uma
quantidade incalculável deles, em mais de cinquenta anos de dedicação ao
TEATRO, muitos de excelente qualidade e outros tantos que me levaram ao
arrependimento por ter saído de casa e perdido meu tempo. São “ossos do
ofício”. Quando alguém pensa em desenvolver um projeto de um solo,
em cena, tem que estar muito cônscio de que o texto merece ser
encenado, de que o(a) ator/atriz que vai atuar precisa ser um(a) profissional
de primeira linha, de que as “rédeas” de comando estarão na
mão de um diretor de comprovada competência, além de procurar artistas
de criação “de peso”, para a concretização daquele propósito.
As dificuldades para se erguer uma montagem teatral, nos dias de hoje, todos sabemos, são muitas, agravadas pela pandemia de COVID-19, QUE NÃO ACABOU, e o apoio institucional, oficial, seja na esfera municipal, estadual ou federal, é quase nenhum. Patrocínios, via de regra, conseguem aqueles que, talvez, menos precisassem deles, mas, como o que está em jogo, para os patrocinadores, com raríssimas exceções, é o “retorno”, os “mecenas” apoiam espetáculos em que estejam envolvidos nomes conhecidos, astros populares, tornados famosos pela TV.
Assim,
quando tenho a oportunidade de travar contato com gente muito bem intencionada,
com um grande talento, que se joga, de corpo inteiro, e alma também, na produção
de um espetáculo teatral, um monólogo, com recursos próprios, muito
parcos, compensados pelo amor ao TEATRO, fico numa alegria imensa e,
ainda que ocupadíssimo, consigo encontrar um tempinho, para dedicar uma crítica
ao espetáculo, como é o caso de “A LUTA – A TERCEIRA PARTE DE ‘OS
SERTÕES’, DE EUCLIDES DA CUNHA, NO TEATRO”, nas pessoas de ROSE ABDALLAH
e AMAURY LORENZO.
ROSE é
a corajosa idealizadora deste projeto e assina a direção
da peça. Atriz com mais de três décadas de atuação,
integrante da “Cia. Os Fodidos Privilegiados”, desde 1995, é discípula confessa do grande homem de TEATRO Antônio
Abujamra. Tem, em seu currículo, algumas assinaturas de direção,
inclusive de outros solos, e o faz de uma maneira muito correta, com muita doação e generosidade, sabendo, aqui,
extrair do ator, AMAURY LORENZO, o que ele tem de melhor, como “profissional
das tábuas”, da mesma forma como consegue perceber todas as intenções
do autor do texto em que IVAN JAF se baseou, para escrever a dramaturgia
da peça, e, com muita propriedade, deu o destaque a tudo que o merecia.
Com
relação ao texto da peça, muito bem adaptado do original, o livro “Os
Sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), a intenção do
dramaturgo foi transformar o ator em um rapsodo (Artista
popular ou cantor que, na antiga Grécia, ia, de cidade em cidade, recitando
poemas; meramente, um contador de histórias, diferente do aedo, o qual compunha
os próprios poemas e os cantava, acompanhado de um instrumento musical. O
rapsodo não é acompanhado por nenhum instrumento. – Adaptado da Wikipédia.),
que conta, em uma longa prosa épica, as batalhas ocorridas em Canudos,
em 1896, entre os homens e mulheres, chefiados por Antônio
Conselheiro, e as forças militares da República, recém-proclamada
no Brasil (1889). Da mesma maneira como os rapsodos
cantavam a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero,
mantendo essas longas epopeias vivas pela fala e a memória – tradição oral,
como ocorre, no Brasil, com relação à poesia de cordel -, antes de poderem
ser escritas, pode-se imaginar a “Guerra de Canudos”, segundo a
visão de Euclides da Cunha, sendo narrada por um “contador
de História”, diante de uma plateia. Uma história da História.
O
livro de Euclides da Cunha, mescla de relato histórico
e literatura, uma das obras mais emblemáticas do pré-modernismo
brasileiro, publicado em 1902, é uma narrativa muito longa –
mais de 600 páginas -, uma obra regionalista, que tem como cenário
o interior da Bahia, durante1896 e 1897. Apresenta um caráter crítico e realista, na qual o escritor, faz uso
de uma linguagem cientificista, para recriminar o nacionalismo e
ufanismo exacerbado da sociedade brasileira da época, mostrando a face
cotidiana e realista do país e das pessoas que o compõem. É estruturado em três
partes, que apresentam vários capítulos. São elas: “A Terra”,
quando o leitor é apresentado, por uma detalhada descrição, ao ambiente
- local, clima, relevo, fauna, flora, vegetação etc. -, do sertão e
da seca que assola a região. Na segunda, intitulada “O Homem”,
CUNHA descreve o homem local, o sertanejo, o vaqueiro,
o jagunço, o cangaceiro, suas vidas e costumes, num
verdadeiro tratado e estudo antropológico e sociológico. “A LUTA”, a terceira
parte, e mote da peça, conta, de forma bem realista e com os mínimos
detalhes, os embates entre os inimigos, com o aniquilamento de
grande parte da população local. Foram muitos embates trágicos e sangrentos,
sobre os quais não se pode dizer que houve vencedores ou vencidos. Uma guerra
insana, na qual predominou muita crueldade. Total insanidade em
jogo, de ambas as partes. Quatro expedições, do Exército Nacional,
tentaram destruir o Arraial de Canudos, habitado por cerca de 20
mil pessoas. O fim da “Guerra”? A destruição de Canudos.
SINOPSE:
O espetáculo descreve o sertão, o sertanejo e
a trajetória de Antônio Conselheiro, até se tornar o líder da
comunidade de Canudos e adversário do governo republicano.
Em seguida, narra os primeiros conflitos e o momento
em que a guerra é declarada, no final de 1896.
Segue, descrevendo as sucessivas batalhas,
decorrentes das expedições do Exército: as lideradas pelo major Febrônio
de Brito, pelo coronel Moreira César, pelo general Artur
Oscar de Andrade, todas derrotadas, até a última, vencedora, comandada
pelo próprio Ministro da Guerra, o marechal Bitencourt.
Termina com a morte de Antônio Conselheiro, os últimos momentos da resistência no arraial e a degola dos prisioneiros.
“Euclides da Cunha retrata uma luta entre as forças republicanas, que traziam a modernidade, contra o obscurantismo religioso, que alicerçava a monarquia; os brasileiros do litoral contra os do interior; as elites contra o povo; a fé contra a razão... para concluirmos que os dois lados acabaram se unindo pela intolerância e a violência”.
Já tendo feito as devidas referências sobre o ótimo texto
e à corretíssima direção, tenho a dizer que o trabalho de AMAURY
LORENZO é das coisas mais comoventes e “fortes” que vi nos últimos
tempos. Ele se basta. Não há um cenário – a plateia
imagina -, palco nu; o cenário é AMAURY. A luz, com todo
respeito a RICARDO METEORO, que a desenhou, é totalmente desnecessária.
Bastaria uma vela acesa ou uma lanterna, para que o público pudesse enxergar o ator. Isso porque a iluminação é AMAURY. O figurino, com
o qual não concordo plenamente, embora tenha compreendido a explicação que
recebi da diretora da peça, é um terno, muito bem talhado, puxado para o
cáqui, talvez uma referência à cor do barro do sertão e da caatinga. Por baixo,
uma camiseta regata, branca. Nas palavras de ROSE ABDALLAH, uma mistura
de detalhes das vestes dos sertanejos e dos militares. O figurino é AMAURY.
Bailarino de formação, AMAURY LORENZO é um ator
intenso, imenso, estupendo, visceral... E haja adjetivos
para elogiar seu formidável trabalho. Ele conta e vive a história,
com sua voz e corpo, interpretando os personagens da trama,
como Antônio Conselheiro, os seus fiéis, os jagunços,
os sertanejos, os soldados da República, o Coronel Moreira
César, e o Coronel Tamarindo. Em cena, o ator
canta, movimenta-se, traz os sons do sertão, com sua própria voz. Fiquei
muitíssimo impressionado com sua capacidade de fazer toda a parte sonoplástica
do espetáculo, incluindo os ruídos dos tiros, de armas de pequeno e
médio porte e até canhões, assim como determinados sons, que lembram os aboios
dos vaqueiros do sertão, num tom de lamento, dolência e sofrimento. Um
trabalho preciosíssimo, de dificílima execução.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Ivan Jaf (Baseado na Terceira Parte de “Os
Sertões”, de Euclides da Cunha)
Idealização: Rose Abdallah
Direção: Rose Abdallah
Ator: Amaury Lorenzo
Direção de Movimento: Amaury Lorenzo e Johayne
Hildefonso
Iluminação: Ricardo Meteoro
Música Original: Alexandre Dacosta
Vídeo: Sérgio Lobato | Cambará Filmes
Fotos: Vitor Kruter
Identidade Visual: Inova Brand
Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Gurgel
Apoio Produção: Bambu Produtora
Realização: Abdallah Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 05 a 29 de setembro de 2022.
Local:Teatro Glaucio Gill.
Endereço: Praça Cardeal Arcoverde, s/nº – Copacabana –
Rio de Janeiro (Ao lado da estação Cardeal Arcoverde, do metrô.).
Dias e Horários: Todas as segundas-feiras de setembro
de 2022, às 20h.
Valor dos
Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 60 minutos.
Indicação Etária: 14 anos.
Gênero: Monólogo Dramático.
Ficaria muito feliz, porque gosto de dividir com os que amo
os prazeres que o TEATRO me proporciona, se todos os que me leem e confiam
na minha opinião fossem conferir, “in loco”, tudo o que escrevi
sobre este espetáculo, extremamente comovente e que “mexeu”
muito comigo, com a minha emoção, pela temática, o texto, todos
os elementos que entraram na sua montagem e, acima de tudo, a brilhante
atuação de AMAURY LORENZO. Se eu recomendo o espetáculo? Nem vou
perder meu tempo e encerro, por aqui, esta crítica.
FOTOS: VITOR KRUTER
GALERIA PARTICULAR:
Com Amaury Lorenzo.
Com Rose Abdallah.
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
Agradeço! Sua crítica é muito importante para o seguimento de A Luta! Evoé
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