terça-feira, 12 de julho de 2022

 

“O HOMEM

DO PLANETA

AUSCHWITZ”

ou

(UM COMOVENTE

DIÁLOGO

ENTRE O “LÓGICO”

E O PASSIONAL.)

ou

(SOBRE A

"BANALIDADE

DO MAL".)

ou

(E O QUE NÓS

TEMOS COM ISSO?

TUDO!!!)


 

 

     Assisti, no último domingo (10 de julho de 2022), no Teatro Laura Alvim (Casa de Cultura Laura Alvim) (VER SERVIÇO.) a um magnífico espetáculo, ainda que “duro”, “pesado”, que nos leva a muitas reflexões, inclusive, infelizmente, a de que “a História pode se repetir”. São apenas sessenta minutos, mas o suficiente para nos tocar profundamente e testar a nossa empatia por um povo, os judeus, principalmente as vítimas de AUSCHWITZ, o maior campo de concentração, localizado no sul da Polônia, operado pelo Terceiro Reich e colaboracionistas, nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha Nazista, maior símbolo do Holocausto, perpetrado pelo nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial.



Auschwitz.


SINOPSE:

     Dois personagens reais e um diálogo fictício entre eles.

   No texto inédito, de MIRIAM HALFIM, com direção de ARY COSLOV, o escritor judeu polonês YEHIEL DE-NUR (1909–2001), interpretado por MARIO BORGES, e a filósofa judia alemã HANNAH ARENDT (1906–1975), vivida por SUSANA KRUGER, travam um caloroso e doloroso embate, do qual não sai um vencedor nem um vencido. 

   Ambos têm um encontro imaginário, sem data nem lugar específicos.

   O objeto do debate entre os dois é o julgamento de Adolf Eichmann, em 1961, em Jerusalém, que foi uma referência na história da ascensão e derrota do nazismo de Adolf Hitler, entre 1933 e 1945.

     Eichmann foi executor das mais tenebrosas ordens de Hitler nos campos de concentração.

 





 

     A fim de que os meus leitores possam se orientar, com relação ao objetivo do excelente texto, acho pertinente a transcrição de algumas informações, que fazem parte do “release”, chegado às minhas mãos por MEISE HALABI (MH Assessoria de Imprensa): “YEHIEL (BORGES) é um sobrevivente de campo de concentração, que, depois da Segunda Guerra Mundial, se estabeleceu em Israel, onde se tornou escritor, celebrado localmente. ARENDT (KRUGER) é um expoente internacional da filosofia política, que escapou do nazismo e se abrigou nos Estados Unidos, onde fez a carreira de filósofa e escritora, para o mundo.”





  E prossegue o “release”: “O julgamento de Eichmann provocou uma catarse, que uniu todo o povo judeu. Sobreviventes do Holocausto puderam expor o horror que haviam passado durante a guerra, em depoimentos ao vivo. YEHIEL era uma das vítimas das atrocidades. ARENDT acompanhou o julgamento, no tribunal israelense, como jornalista e observadora. Ela escrevia artigos para a revista “New Yorker” e, mais tarde, os reuniu, no livro polêmico “Eichmann em Jerusalém”, lançado em 1963. Foi nessa publicação que a autora definiu, pela primeira vez, seu conceito de “banalidade do mal”, provocando intensas discussões e controvérsias, até os dias de hoje. Nesse livro, HANNAH se mostrou decepcionada com o julgamento, que considerou excessivamente dramático e, até mesmo, ‘teatral’. Um dos momentos criticados foi o testemunho de YEHIEL DE-NUR, que desmaiou, no decorrer de seu depoimento emocionado.” A título de ilustração o conceito de “banalidade do mal”, para a consagrada filósofa, pensadora e escritora diz respeito à “mediocridade do não pensar, e não, exatamente, o desejo ou a premeditação do mal, personificado e alinhado ao sujeito demente ou demoníaco".





 O título da peça, “O HOMEM DO PLANETA AUSCHWITZ”, se refere, exatamente, a YEHIEL, um dos sobreviventes do campo de extermínio, onde foi prisioneiro por dois anos, estabelecendo-se, quando livre, em Israel, depois da guerra, como já foi dito, anteriormente. Como escritor, seus livros narram, de forma nua e crua, a mais realista possível, o que viu e viveu no campo de concentração. Ele sentiu, na própria pele, o horror de Auschwitz, foi testemunha ocular das abominações, das terríveis atrocidades praticadas contra os “seus” e, por isso mesmo, considerava-se com direito a um lugar de fala e “alimentava uma nítida divergência com o que ARENDT escreveu sobre o julgamento de Eichmann”. Essa divergência, exposta pelos dois pontos de vista, serve de alimento para o acirrado e tenso diálogo entre os personagens.



      A excelência do texto é fruto da leitura que MIRIAM HALFIM fez das obras do escritor e das críticas feitas à visão de HANNAH ARENDT, a respeito daquele julgamento, de 1961. Com muita leitura e uma profunda pesquisa, fazendo, praticamente, as vezes de uma “incisiva e obsessiva” historiadora, sem o ser, de profissão, HALFIM “imaginou um encontro dos dois, criando um embate possível entre eles. A troca de ideias, observações e conclusões tem momentos de alta contundência, trazendo à tona todo o horror que foi o nazismo.”. MIRIAM não é de fazer concessões e pressiona, com vigor, o dedo sobre feridas expostas, com o objetivo de sensibilizar, ao máximo, os que assistem às suas peças. Ela já o fez em outros excelentes textos anteriores, como "Meus Duzentos Filhos", por exemplo, espetáculo, solo, encenado, com muito sucesso, de público e de crítica, em 2018


Miriam Halfim.


      É, deveras, interessante salientar quão atual pode ser considerado o texto, guardadas as devidíssimas proporções, se prestarmos bastante atenção a ele, o que nos conduz a identificar que “muitos tópicos discutidos, na peça, são verdadeiramente atuais, 80 anos depois das práticas nazistas trágicas. Há especulações consistentes sobre a permanência dessas ideias tão condenáveis quanto as do nazismo”. É só olhar ao nosso redor e estar antenado, acompanhando o noticiário do dia a dia e tomando conhecimento das barbáries que vêm sendo cometidas, no Brasil, avalizadas por um “equivocado” (Eu e os eufemismos.) “governo” federal.



    Para justificar o primeiro subtítulo, que atribuí à críticaUM COMOVENTE  DIÁLOGO ENTRE O “LÓGICO”  E O PASSIONAL, há um fato, muito simples de ser observado: HANNAH, apesar de ter sido presa e passado por situações muito difíceis, tendo de fugir, mais de uma vez, até chegar ao seu destino final, não foi “hóspede” de Auschwitz e, por isso mesmo, pode ser considerada uma “observadora”, o que lhe concede a oportunidade de se valer mais do "racional", para “julgar um julgamento” (A construção foi proposital.). Por outro lado, alguém, como YEHIEL, que sofreu, na carne, o terror do campo de concentração, conheceu o “inferno” e “viu o diabo de perto”, tem o direito de extravasar todos os sentimentos de perda e sofrimento, relacionados ao tempo em que esteve naquele centro de confinamento militar, para "expiar", com a iminência da morte, por pertencer a uma raça, humana, tão igual a qualquer outra.



     O segundo subtítulo, SOBRE A "BANALIDADE DO MAL", este já foi devidamente explicado, alguns parágrafos acima.



    O terceiro subtítulo, E O QUE NÓS TEMOS COM ISSO? TUDO!!!, criei-o como uma forma de chamar a atenção de todos, tirar as pessoas de sua zona de conforto e trazê-las para uma reflexão quanto ao significado e o valor da empatia. Não é porque eu não sou judeu, que eu não deva me incomodar e me inconformar com o que representou o horror do nazismo, na História da Humanidade. Ou pode, ainda estar latente, por aí, muito próximo de nós, talvez. Talvez?! Não é porque eu não passei por aquele tormento, por aquela barbárie, porque eu não passei fome e frio e não fui jogado, esquelético e cadavérico, muitos ainda respirando, em covas coletivas, que eu não vou me colocar no lugar daqueles infelizes seres humanos, que nasceram “diferentes”, constituindo uma “raça menor”. Temos TUDO a ver com isso, sim, para não permitir que aquilo possa ressurgir das cinzas, como uma Fênix. Temos TUDO a ver, sim, porque não podemos nos calar, diante da ameaça de uma ditadura, venha ela fardada ou não. Temos TUDO a ver, sim, pois não podemos colocar fones de ouvidos e óculos bem escuros e ignorar que o poço em que estamos metidos não tem fundo; a cada dia, afundamos um pouquinho mais, E NÃO PODEMOS NOS DEIXAR AFOGAR NUMALAMA ESPESSA E MALCHEIROSA!!!



    Depois de digressões, que podem parecer, a alguns, desnecessárias e fruto da comoção que o espetáculo me causou, melhor é partir para uma análise critica desta montagem, a qual RECOMENDO MUITO. Geralmente, inicio os meus comentários, abordando o texto, excelente, como já disse, sobre o qual apenas poderia acrescentar a riqueza que há nos diálogos, muito claros e bastante ágeis. Em cada fala, as palavras são devidamente “saboreadas” pelos dois intérpretes. Um detalhe quanto ao fato de não ficar explícito onde e quando se dá o encontro dos dois personagens: isso não faz a menor diferença.



   De todos os elementos que alicerçam uma montagem teatral, nesta, especificamente, tenho a aplaudir, calorosamente, a extraordinária cenografia, criada por MARCOS FLASKMAN. Neste cenário, o pouco é muito: apenas dois bancos, posicionados, mais ou menos, no centro do palco, porém o que me levou a uma exclamação, misto de surpresa, admiração, encantamento e sei lá mais o quê, tão logo adentrei o auditório e olhei para o palco, foi a peça que se encontra ao fundo e ao centro, algo difícil de ser descrito, porém, creio eu, facilmente decodificado pelos espectadores que vão ao Teatro Laura Alvim já sabendo do que trata o espetáculo: é uma peça, de madeira, cheia de fios elétricos, entrelaçados, e um poste com uma iluminação fraca, que nos remete aos “muros” dos campos de concentração, dotados de cercas eletrificadas, para impedir fugas. Não que eu seja chegado a divagações, porém, quando estou escrevendo uma crítica e algo muito interessante, marcante, ligado àquilo que estou abordando, num determinado momento, me vem à mente, luto por não pegar uma “estrada vicinal”, fugindo ao assunto e retardando o final da crítica, mas acabo não o conseguindo. No caso, aqui, devo dizer que, tão logo bati os olhos naquele cenário, veio-me à mente uma peça, das melhores a que já assisti, em mais de cinquenta anos de TEATRO, a qual sempre me arrancou muitas lágrimas, nas muitas vezes em que pude vê-la montada, que é “Bent”, um texto de 1979, do dramaturgo norte-americano Martin Sherman, tratando da perseguição aos “gays”, pelo Terceiro Reich, na Alemanha, depois do assassinato do chefe da Sturmabteilung, Ernst Röhm. Presos, num campo de concentração, Max e Horst, os dois protagonistas amantes morrem: Horst, baleado pelos guardas; Max suicida-se, agarrando-se à cerca eletrificada, depois da morte do seu amor. Que cenário tão simples quanto deslumbrante e significativo!



   WANDERLEY GOMES resolveu, a contento, a criação dos figurinos, bem simples; o de HANNAH, na minha opinião, está mais próximo à época em que se dá o ficcional encontro. AURÉLIO DE SIMONI, um grande mestre, como sempre, idealizou, e pôs em prática, uma bela iluminação, totalmente voltada à exigência do texto e em consonância, evidentemente, com o desejo do diretor, ARY COSLOV, o qual também é responsável por uma boa trilha sonora, tendo, como base, muitos sons (percepções sensoriais) e ruídos (sons “indesejados”), que contribuem para criar os momentos de maior tensão, principalmente, na peça. ARY gosta de assinar a trilha sonora dos espetáculos que dirige e sempre o faz muito bem. A direção de movimento, trabalho de MARCELO AQUINO merece destaque, por ser bem fiel às cenas, acompanhando a serenidade que há em algumas e a “azáfama” que outras requerem.



  Sobre a direção, de ARY COSLOV, de tantas sob sua responsabilidade a que já assisti, arriscaria dizer que é uma das melhores, se não for a que mais me agradou. Dois atores “intensos” e um texto idem poderiam levar a montagem para um caminho perigoso, do exagero e da pieguice, ou pieguismo, o que, de certo, não faria, do espetáculo, uma montagem que merecesse ser vista e recomendada. Mas lá está COSLOV, com seu talento de diretor de atores”, para reger a música e nos proporcionar um belo espetáculo. Faço, aqui, uma confissão, com a qual não concordo: ouvi, de duas pessoas, que o ator MARIO BORGES grita demais e que poderia ser mais contido, nas suas explosões. Penso diferente: na pele do personagem, a interpretação não deveria ser de outra forma. YEHIEL não teria como apresentar outro comportamento, visto que o personagem chegou ao limite da contenção de tanta dor e sofrimento e tinha, mesmo, que gritar, “vomitar” tudo o que foi obrigado a guardar por muitos anos. Acertou o ator; acertou a direção.


Ary Coslov.


   E, já que falei da atuação de MARIO BORGES, um dos melhores atores de TEATRO, com muitos anos de experiência sobre as tábuas, passo a considerar, agora, o trabalho da dupla, ambos, MARIO e SUSANA, impecáveis em seus personagens. E mais nada precisa ser dito. Apenas devem, os que me leem, conferir o que lhes digo sobre esses dois grandes artistas de TEATRO. Isso é muito importante: de TEATRO.



 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Miriam Halfim

Direção: Ary Coslov

Assistente de Direção: Luciano Pontes


Elenco: Mario Borges e Susanna Kruger

 

Cenário: Marcos Flaksman

Figurino: Wanderley Gomes

Desenho de Luz: Aurélio de Simoni

Trilha Sonora: Ary Coslov

Direção de Movimento: Marcelo Aquino

“Design” Gráfico: Isio Ghelman

Fotógrafo: Guga Melgar (posadas) e Rafael Gandra (cena)

Rede Social: Rafael Gandra

Operador de Som: Gabriel Lessa

Operador de Luz: Marcelo de Simoni

Assistente de Produção: Osni Silva

Produtora Executiva: Bárbara Montes Claros

Diretor de Produção: Celso Lemos


 




 

 

SERVIÇO:

Temporada: de 01 a 24 de julho de 2022.

Local: Teatro Laura Alvim.

Endereço: Avenida Vieira Souto, 176 - Ipanema – Rio de Janeiro.

Telefone: (21)2332-2040 e (21)2332-2042.

Dias e Horários: sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia entrada).
Vendas: 
funarj.eleventickets.com

Duração: 75 minutos.

Classificação Etária: 14 anos.

Capacidade: 193 lugares.

 

OBS.: Estão disponíveis 140 ingressos, gratuitos, do projeto “Eu Faço Cultura”, para beneficiários de programas sociais do governo.

Informações: www.eufacocultura.com.br

Assessoria de imprensa: Meise Halabi (MH Assessoria de Comunicação.)


 



 

      Quanto à pertinência e necessidade desta montagem, deste texto, em especial, abro parênteses para um momento, quase ao final do espetáculo, em que a atriz SUSANA KRUGER vai ao proscênio e, dando a impressão de que estava saindo do texto (Ou estaria mesmo?), pede ao técnico que opera a luz que acenda as luzes do salão e se dirige, diretamente, à plateia, quebrando a quarta parede, num discurso, aparentemente, "fora do texto" e fala da importância de nos preocuparmos com o momento político atual (Ela não cita o Brasil, mas isso é totalmente desnecessário.) e de estarmos atentos e alertas, para que “a História não venha a se repetir”. É um momento de catarse geral, que vale pelo espetáculo inteiro e leva o público a aplaudi-la efusivamente. Que bom que o recado foi dado e, melhor ainda, assimilado! Só falta ser concretizado.



    E, para terminar, nunca poderia ser desprezado o que diz o diretor da peça, trecho também extraído do já citado “release”, ao defender o fato de que esses episódios precisam ser relembrados, até porque eles não deixaram de existir no mundo contemporâneo”. Diz ele, textualmente: “É importante que tudo o que aconteceu com os judeus vítimas do nazismo não seja esquecido. É importante que a humanidade, hoje, se posicione, com firmeza, para que aquilo não volte a acontecer. Infelizmente, constatamos que existem sinais assustadores de que o preconceito e a intolerância - e não só em relação aos judeus - ainda fazem parte do comportamento humano. A peça serve como um alerta: não podemos permitir que aquele momento trágico de nossa história se repita”. ASSINO EMBAIXO DO QUE DISSE O ARY.



      Já escrevi que RECOMENDO MUITO o espetáculo, mas fiz questão de repetir a recomendação, na certeza de que os que atenderem a ela hão de concordar comigo. Mas não vão com a intenção de se divertir, de encontrar uma forma, simples, de lazer; vão com olhos e coração bem abertos e dispostos a refletir.



 Ary Coslov, Susana Kruger e Mario Borges.

 

 

 

FOTOS: GUGA MELGAR

e

RAFAEL GANDRA


 

 

GALERIA PARTICULAR:

 

 

(Com Susana Kruger.

Foto: Paulo Menezes.)


 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

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Um comentário:

  1. Parabens, Gilberto! Pelo texto, pelo envolvimento e pela sensibilidade! Querido Gilberto!

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