quinta-feira, 7 de julho de 2022

 

“GAIVOTAS”

ou

(UMA ODE AO

TEATRO.)




 

           TEATRO “de verdade”, como nos velhos tempos. TEATRO dentro do TEATRO, quase uma “metalinguagem”. TEATRO de muito boa qualidade. Assim, começo minha crítica sobre o espetáculo “GAIVOTAS”, em cartaz no Teatro Poeirinha (VER SERVIÇO.).




        A peça, que foi encenada, virtualmente, durante a pandemia, com o ator Paulo Giardini, num dos papéis masculinos (Assisti à exibição e gostei muito, apesar de avesso a esses “experimentos cênicos virtuais”.), o que não quer dizer que já tenhamos nos livrado desta, ganhou, agora, uma montagem presencial, como forma de homenagear o grande dramaturgo russo ANTON TCHÉKHOV, “com reflexões sobre as relações humanas”. E como é difícil e, ao mesmo tempo, instigante, analisar as relações humanas, falar e tratar delas!!! O Homem, em seu universo, cercado de seus iguais, expondo suas emoções, dúvidas, inquietações, questionamentos, esperanças, dentro do grupo, da bolha, em que vive, sempre foi, é e será um excelente estímulo para escritores, de uma forma geral, incluindo os dramaturgos. Quem aprecia o bom TEATRO, o chamado “teatrão”, sem a menor pincelada de depreciação - muito pelo contrário -, está diante de um prato cheio, quase transbordando, quando se propõe a assistir a “GAIVOTAS”.



       O projeto foi idealizado pela atriz e produtora BIBIANA ROZENBAUM e pelo diretor FERNANDO PHILBERT, para celebrar os 125 anos da primeira encenação de “A GAIVOTA, obra-prima do já citado dramaturgo.



     O texto de “GAIVOTAS”, entretanto, é do consagrado dramaturgo romeno, MATÉI VIȘNIEC, radicado na França, contemporâneo, um dos mais aplaudidos e montados autores, nos últimos anos, bastante premiado, em várias partes do mundo. Entre nós, brasileiros, goza de uma enorme boa reputação, contando com uma legião de admiradores de seus trabalhos. Além de escrever para o TEATRO, MATÉI também é poeta e jornalista.


(MATÉI VIȘNIEC - Foto: The Romenia Journal.)


   Antes de entrar na análise da peça, faço questão de dizer que o subtítulo desta crítica não foi criado por mim, mas é do diretor, FERNANDO PHILBERT, que assim se pronunciou, durante uma conversa que tivemos, após a estreia do espetáculo: “A peça é uma ode ao TEATRO.”, com o que concordo plenamente, achando que nada melhor a definiria, a ponto de roubar-lhe a definição da montagem.



(Fernando Philbert - Foto: autor desconhecido.)

      Os que conhecem a obra-prima de TCHÉCHOV sabem que, no final da peça “A GAIVOITA”, a figura central da trama, KONSTANTIN GAVRILOVICH TREPLIOV, um jovem escritor, um aspirante à pena, suicida-se, por conta de sua obra ter sido rejeitada pelos amigos intelectuais de sua mãe, a famosa atriz IRINA NIKOLÁIEVNA ARKÁDINA. “GAIVOTAS” é uma adaptação de um texto dramático de MATÉI VIȘNIEC, cujo título é “NINA OU DA FRAGILIDADE DAS GAIVOTAS EMPALHADAS”, no qual a genialidade do grande dramaturgo parte da hipótese de o suicídio não ter se concretizado - a cena do suicídio é apenas sugerida, quando os que estão dentro da casa ouvem um estampido, no quintal -, fazendo com que KONSTANTIN reapareça, quinze anos depois, à casa onde morava, para se reencontrar com NINA MIKHAILOVNA ZARÊTCHNAIAN, seu amor, a qual estava apaixonada por BORIS ALEKSIEVICH TRIGORIN, um famoso escritor e amante da mãe de KONSTANTIN.




   No texto de VIȘNIEC, os que formam o triângulo amoroso, KONSTANTIN, NINA e BORIS, se apresentam, em função do tempo passado, mais maduros e amargurados, precisando “lidar com as pontas soltas, deixadas pelas decisões que tomaram ao longo de suas vidas”. Segundo o “release”, que me chegou às mãos por intermédio de ALESSANDRA COSTA (Assessoria de Imprensa), “‘Gaivotas’ traz uma mensagem de esperança e superação. As personagens são como gaivotas, mortas e empalhadas, nas lembranças do passado, mas nada impede que, no universo de VIȘNIEC, elas possam ter uma nova chance.”.



(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)


 


SINOPSE:

 

NINA (BIBIANA ROZENBAUM) representa a mulher que enfrenta a sociedade, em busca de sua realização pessoal.


Ela não se envergonha em questionar as próprias escolhas.


GAIVOTAS põe um foco de luz na complexidade das relações humanas.


 



          É certo que a SINOPSE soa muito vaga e, ao mesmo tempo, serve para despertar o interesse e a curiosidade do espectador, para conhecer essa personalidade feminina, tão forte, ou tão fraca, vivendo um jogo de relações conturbadas, com dois homens, KONSTANTIN (SÁVIO MOLL) e BORIS (ANTONIO GONZALEZ).



        Embora eu não conheça o original que serviu para a adaptação, esta agradou-me bastante e confesso que fui ao Teatro com muita expectativa e, também, com bastante saudade de algumas montagens de “A GAIVOTA”, a que assisti, ao longo de mais de cinquenta anos, principalmente uma de 1974, com um elenco estelar. Vários grandes nomes do nosso TEATRO, como Sérgio Britto, Fernanda Montenegro, Renata Sorrah, Fernando Torres, Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Celso Frateschi e Enrique Diaz, por exemplo, já viveram personagens da peça. Mas eu sabia que seria outra coisa que me esperava, mas não, exatamente, o quê, e a curiosidade era bem grande.



       O primeiro detalhe que impacta o espectador, quando ele adentra o local da encenação, é a cenografia, algo tão simples quanto magnífico, executada, com total cuidado pelo cenotécnico ANDRÉ SALLES. Imaginem paredes cobertas de “neve” – não vou me deter nos detalhes de como ela foi feita –, obra da premiada e genial cenógrafa NATÁLIA LANA, que utiliza, ainda, no cenário, uma mesa de escritório, sobre a qual estão alguns objetos, e algumas cadeiras. É importante dizer que essa “neve” dialoga com a bela iluminação, de VILMAR OLOS. A luz acompanha ou “agasalha” cada cena, impondo-se, de acordo com o tom de cada uma delas, mais ou menos tensa. Os figurinos, assinados por MARIETA SPADA são lindos e de um bom gosto a toda prova, sem falar no fino acabamento de cada peça do vestuário dos três personagens. Obedecem à época e ao nível social dos três personagens.


(Foto: Gilberto Bartholo.)


(Foto: Gilberto Bartholo.)


          Dos demais elementos da ficha técnica, os quais, reunidos aos já mencionados, colaboram para um belo produto final, merecem destaques a excelente direção musical, de MARCELO ALONSO NEVES, contribuindo, sobremaneira, para a criação de um ambiente exigido pelo texto, a direção de movimento, a cargo de MARINA SALOMON e o visagismo, criado por MAYCO SOARES.   




    

            FERNANDO PHILBERT, que dirige o quarto texto de MATÉI, também se encarregou da adaptação do original e o faz, valendo-se, também, de algumas falas do original de TCHÉKHOV, além de um pequeno texto de Domingos Oliveira e um trecho de uma entrevista do autor romeno sobre a democracia. “Nada mais atual!”. "Um achado!!! PHILBERT fez seu trabalho de direção em função das limitações do espaço do Teatro Poeirinha, que me agradou, porém gostaria de ver a montagem do texto num outro Teatro, num palco italiano, maior, ainda que se trate de um texto bem intimista, mas com coxias, que permitissem a oportunidade de entradas e saídas dos personagens de outra forma, evitando repetições. Mas, se o fruto à mão é um limão, um bom diretor, como FERNANDO PHILBERT, consegue fazer uma deliciosa limonada.





(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)


  Há uma excelente cumplicidade entre o trio de atores, totalmente necessária e exigida, para que o público consiga mergulhar no drama existencial dos três e se deixe emocionar pelas ações e reações, pelos conflitos internos e externos dos três. BIBIANA ROZENBAUM interpreta uma comovente NINA, oscilando, a personagem, entre a fragilidade de uma mulher ressentida e a fortaleza de quem luta por não ser uma perdedora, assim como SÁVIO MOLL se destaca, com seu KONSTANTIN, fragilizado, por seu fracasso como escritor, e morto de inveja do sucesso de BORIS (Permitam-me uma comparação, talvez um pouco exagerada, com relação à inveja: Wolfgfang Amadeus Mozart e Antônio Salieri), nas letras, não aprovando, de jeito algum, o relacionamento deste com sua mãe. ANTONIO GONZALEZ interpreta o consagrado escritor BORIS, farto da vida, aos 40 anos. Que bela aula de representação teatral os três nos dão!!!


















 BIBIANA ROZENBAUM, uma das idealizadoras do projeto, ao lado de FERNANDO PHILBERT, assim se pronuncia, no já citado “release”: “Desde a primeira leitura, eu me senti inspirada por NINA, uma mulher que não tem medo de enfrentar preconceitos, para alcançar seus sonhos. Ela não tem medo de errar. Apaixonei-me pelo texto, porque ele é atemporal. (...) A arte é uma ferramenta terapêutica, que ajuda no enfrentamento das angústias e dilemas cotidianos. Por isso ela é tão necessária.”. Além de concordar com a talentosa atriz, acrescento que a ARTE se torna, a cada dia, mais importante, para a nossa sobrevivência, uma espécie de “oxigênio”, ainda mais nos “dias de trevas” que vimos atravessando, há três anos e meio, no Brasil, “página infeliz da nossa História”, que há de chegar ao fim, daqui a um semestre.





          O diretor, FERNANDO PHILBERT, chama a nossa atenção para três temas que atravessam a peça, e eu reforço, aos que ainda assistirão ao espetáculo, esse seu destaque: a revolução, a busca por si mesmo e a vocação. Eles se entrecruzam, durante toda a narrativa. “A vida sempre dá para uma peça de TEATRO, e vice- versa.”, finaliza ele.


 

 

 



(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)



 


FICHA TÉCNICA:


Adaptação da Obra de MATEI VIȘNIEC

Direção e Adaptação – Fernando Philbert


Elenco - Bibiana Rozenbaum, Sávio Moll e Antonio Gonzalez


Direção de Movimento – Marina Salomon

Direção Musical – Marcelo Alonso Neves

Iluminação – Vilmar Olos

Cenário – Natália Lana

Figurino – Marieta Spada

Visagismo - Mayco Soares

Cenotécnico – André Salles

Comunicação Visual – Barbara Lana

Fotos: Nando Chagas

Assessoria de Imprensa – Alessandra Costa

Direção de Produção – Júnior Godim e Bibiana Rozenbaum

Idealização – Bibiana Rozenbaum e Fernando Philbert












 


SERVIÇO: 


Temporada - de 30 de junho a 28 de agosto de 2022.

Local: Teatro Poeirinha.

Endereço: Rua São João Batista, nº 104, Botafogo - Rio de Janeiro.

Dias e Horários: de quinta-feira a sábado, às 21h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).

Indicação Etária: 14 anos.

Gênero: Drama. 

 





       É preciso que valorizemos, cada vez mais, as produções de pequeno e médio porte, por demandarem muito mais sacrifício de um batalhão de gente, profissionais da melhor qualidade, os quais se entregam, de corpo e alma, para levantar espetáculos que precisam ser prestigiados, como este, no qual se percebem o carinho, a dedicação, o esforço e o talento de todos os envolvidos no projeto, razão mais que suficiente para que eu o RECOMENDE COM BASTANTE EMPENHO. E que cada um espectador possa ser um agente multiplicador, divulgando a peça, a fim de lotar o Teatro Poeirinha, como no dia da estreia, e que, ao final da apresentação, demonstrem sua satisfação, com muitos e merecidos aplausos!



(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)





(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)



Elenco e profissionais de criação.




Elenco e profissionais de criação, em dia de estreia.

(Foto, gentilmente, cedida por Francis Facchetti.)




FOTOS: NANDO CHAGAS

 

 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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