sábado, 30 de abril de 2022

 “MEU CORAÇÃO

(OU DE CARINHO

E DE SEXO)”

ou

(“MEU CORAÇÃO, 

NÃO SEI POR QUÊ,

BATE FELIZ 

QUANDO TE VÊ”.)




    Quantas coisas a gente não repete, na fala ou na escrita, no decorrer das nossas vidas? Eu, por exemplo, estou sempre dando por mim a repetir quão é agradável ir a um Teatro com uma expectativa “X” e sair dele com ela multiplicada. E quanto maior for(em) o(s) algarismo(s) “multiplicador(es)”, melhor será o “produto”. E, ontem, 29 de abril de 2022, isso, mais uma vez, aconteceu, depois de eu ter assistido à peça “MEU CORAÇÃO (OU DE CARINHO E DE SEXO)”, na reabertura da Sala Baden Powell, em Copacabana, Rio de Janeiro.



        Antes de iniciar uma crítica sobre o espetáculo, que bem a merece, preciso dizer, com toda a sinceridade, confesso, que igual, ou maior, expectativa eu tinha de ver a “nova” Sala, anunciada, reformada, durante o longo tempo em que ficou fechada, por conta da pandemia de COVID-19. E, se, por um lado, a peça superou as minhas expectativas, a frustração tomou conta de mim, quando adentrei aquele espaço e vi que pouquíssima coisa mudou. A Sala Baden Powell faz parte da cadeia de equipamentos administrados pelo município do Rio de Janeiro, que tem dinheiro para muitas “fanfarrices” do alcaide, menos para a CULTURA. E, quando sobra algum, é mal empregado. Fizeram, naquele espaço cultural, uma pequena “maquiagem”, para que ele pudesse voltar a funcionar, e deixaram-no, um pouquinho mais, com “cara de Teatro”, visto que antes, até 1994, ali funcionava o Cine Ricamar, que foi um dos mais charmosos “cinemas de rua” da cidade, fechado em 1994, só voltando a abrir as suas portas seis anos depois, no ano 2000, para servir como um Teatro. “Para servir como”, mas não foi preparado para ser um. Ouvi dizer que a reforma, que incluía até a troca das poltronas, havia acontecido recentemente, durante a pandemia, como já falei, mas isso, na verdade, não ocorreu. É um Teatro, com uma “carinha de Teatro”, ao qual faltam muitos recursos básicos, para que seja considerado um local destinado a espetáculos teatrais.



       O que escrevi, no parágrafo anterior, só faz valorizar, ainda mais, a montagem teatral a que assisti ontem, porque é preciso muita garra, muito amor à ARTE, para se fazer TEATRO ali. De boa qualidade, então, é um grande desafio! E todos os envolvidos no projeto aqui avaliado, e os funcionários da casa merecem todo o meu respeito, por enfrentar e superar as muitas dificuldades – porque facilidades, para a CULTURA, não interessam muito aos governos, ou (DES)governos, nas três esferas – e nos proporcionar um ótimo espetáculo, “bem franciscano”, sim, “a perder de vista”, porém de ótima qualidade.



       Para não me furtar a oportunidade e ratificar o início desta crítica, lá estou eu a dizer (Estou começando a achar que gosto mais do falar dos portugueses, que quase não usam o gerúndio; praticamente não o fazem nunca, preferindo o verbo no infinitivo, precedido da preposição “A”. Momento descontração.) que o tripé que sustenta qualquer espetáculo teatral é formado por um bom texto, uma boa direção e um bom elenco, sem desmerecer o trabalho de todos os artistas de criação (cenário, figurino, iluminação...).



          Dois elementos do referido tripé estão, aqui, representados por uma mesma pessoa: JOÃO CÍCERO. Seu texto é ótimo e sua direção idem. O terceiro, o elenco, é formado por um casal de jovens atores, completamente desconhecidos por mim, até então, mas que me verão em todas as plateias de peças em que estiverem tuando, daqui por diante: CARLOS MARINHO e PAULA FURTADO. Um não é mais importante que o outro; os nomes aparecem em obediência à ordem alfabética, ou por acaso.

 




SINOPSE:

No espetáculo, WANDA (PAULA FURTADO) e CLAUDEMIR (CARLOS MARINHO) mantêm uma relação clandestina e compartilham momentos afetuosos, violentos e confusos, ao longo da vida.

É a história de um amor que explode, amadurece e hesita, frente aos desafios para alcançar sua plenitude.

Diferentemente das peças de amor tradicionais, que priorizam histórias das classes sociais altas, a peça lança o olhar para personagens economicamente desfavorecidos.

A partir de espaços sociais empobrecidos e pouco romantizados, o texto trata de questões universais do amor.

 




       Voltando ao mote do “tripé” e da “franciscanidade” desta montagem, já que há uma estreita relação entre os dois aspectos, para provar minha tese, vou começar pena cenografia, que, na ficha técnica, aparece com a rubrica direção de arte, a cargo de JOÃO DALLA, que penso, também, agasalhar os figurinos. O cenário é bastante “pobre”, em termos de elementos cenográficos, mas totalmente servindo de uma “boa moldura” para a montagem. Os personagens são pobres e moram em favelas. Das pouquíssimas peças da cenografia, fazem parte, por exemplo, duas cadeiras, bem simples. Se, por um ato de “demência”, por uma “sandice” do cenógrafo, fosses feitas de ouro maciço e, sob os refletores, reluzissem, acho que o público não notaria, porque o “tripé” se sobrepõe a tudo. Igualmente pobres e simples são os figurinos, seguindo, perfeitamente, as necessidades impostas pelo texto, pela história. Dão a impressão de serem peças do acervo pessoal dos atores. Ambos, cenário e figurinos estão totalmente inseridos no contexto.



        A peça conta com uma iluminação que também funciona bem, idealizada por RAFAEL SIEG. É correta, entretanto, talvez, RAFAEL, com a sua competência, que conheço bem, até pudesse “brincar” um pouco mais com a luz, se o Teatro lhe oferecesse melhores equipamentos técnicos para tal. A iluminação também funciona bem.



           É bem possível que o grande público não preste tanta atenção a um elemento que me agradou profundamente, o qual entra nos momentos certos e da melhor forma possível, que é a excelente trilha sonora, assinada por MÁRCIO PIZZI. De primeiríssima qualidade.



        Um pouco sobre o texto, inédito e que reflete sobre os limites éticos do amor, a partir do desejo e das confusões afetivas que envolvem as relações humanas, extraído do “release”, que me chegou, duplamente, às mãos, via JÚNIA AZEVEDO (ESCRITA COMUNICAÇÃO) e GABRIEL GARCIA, um dos produtores da peça, ao lado de JOÃO CÍCERO (O espetáculo não conta com patrocínios e foi feito “na raça”, com recursos dos dois.): A obra acompanha momentos significativos da relação de um casal de amantes, ao longo dos anos, num embate entre o real e o idealizado, entre o desejo e o medo, abordando temas como preconceito, violência e solidão.”. O texto é o primeiro de uma trilogia sobre amores obsessivos, livremente inspirada na letra da canção “Carinhoso”, de JOÃO DE BARRO (BRAGUINHA), planejada para ser encenada ainda este ano, se depender da vontade dos produtores, contando com a luxuosa ajuda dos DEUSES DO TEATRO, da qual ainda fazem parte “Meus Olhos (Ou Leituras Pornográficas)” e “Lábios Meus (Ou O Leito De Amor E Morte)”. “Em cada uma delas, uma relação amorosa obsessiva é discutida. Há, também, uma ligação do amor com uma doença corporal (no coração, nos olhos e nos lábios). As três peças constroem uma reflexão sobre limites éticos do amor em relações humanas e sociais da contemporaneidade.” – são palavras do autor do texto.



      Nesta peça, JOÃO CÍCERO, dramaturgo, diretor, historiador e crítico de TEATRO, um artista premiado, nos apresenta uma dramaturgia muito bem estruturada, em que mistura diálogos a narrativas, quebrando a quarta parede e convidando o público a entrar, com os personagens, na história e a dividir os dramas e os conflitos com os dois, utilizando uma linguagem simples, porém não vulgar, o que outro autor poderia ter feito, já que WANDA e CLAUDEMIR moram na periferia. Mas não existe, no meio desse universo, quem fale naturalmente, de forma correta, e que tenha pretensões a estudos mais adiantados, a uma ascendência acadêmica? É claro que sim! E assim é o casal. Muito bom o texto!



        Para representar os personagens, JOÃO CÍCERO convidou dois ex-alunos seus, da CAL” (Casa de Artes de Laranjeiras), CARLOS MARINHO e PAULA FURTADO; e acertou em cheio. Ambos, aos quais já teci elogios, lá em cima, são iniciantes, como profissionais, e já começam pisando bem forte o palco e dizendo: “Este espaço me pertence!”.



  Este é o segundo trabalho profissional de CARLOS. O primeiro foi numa montagem recente, durante a pandemia, de “O Doente Imaginário”, à qual, infelizmente não assisti – não conhecia, portanto, seu trabalho -, porque me recuso a ir àquele Teatro, enquanto não for erradicada, de vez (Olha o pleonasmo aí, gente!), esta praga de COVID, por não me sentir confortável naquele compacto espaço. Lamento, profundamente, não ter aplaudido o rapaz antes, pois, segundo me informaram, depois da sessão de ontem, ele, lá, também se saiu muitíssimo bem.


(Foto: Autor desconhecido.)

PAULA também ainda tem pouca experiência profissional, porém já fez alguns trabalhos, em Brasília (Ela é de lá.), motivo pelo qual também não conhecia o seu rendimento, como atriz, ótimo, repito. PAULA, assim como CARLOS, vão da comédia ao drama com muita facilidade, demonstrando competência profissional, sem falar no grande entrosamento que há entre ambos, em cena, embora nunca tivessem contracenado antes. Na verdade, segundo CARLOS (Conversei com ambos e com JOÃO CÍCERO, após a sessão), os dois só se conheceram no dia da primeira leitura. Isso acontece raramente, um “casamento artístico”, na base do “amor à primeira leitura”. Já disse, pessoalmente, aos dois, e, agora, aos que me leem, que ambos são excelentes atores e tudo indica que têm duas brilhantes carreiras pela frente, atuando juntos ou separados.


(Foto: Autor desconhecido.)



FICHA TÉCNICA:


Texto: João Cícero

Direção: João Cícero


Elenco: Carlos Marinho e Paula Furtado


Direção de Arte: João Dalla
Iluminação: Rafael Sieg
Operação de Luz: Sandro Demarco
Trilha Sonora: Márcio Pizzi
Fotos: Sabrina Paz
Assessoria de Imprensa: Júnia Azevedo (Escrita Comunicação)
Produção: João Cícero e Gabriel Garcia
Apoio: Cantina Donanna, Rua Gastro Bar, Casa do Sardo e Teto Bar e Cozinha

 

 

 






SERVIÇO:

Temporada: de 08 de abril a 1o de maio de 2022.
Local: Sala Municipal Baden Powell.

Endereço: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, nº 360 – Copacabana – Rio de Janeiro.

Dias e Horário: sextas-feiras e sábados, às 19h30; domingos, às 18h.
Valor do Ingresso: R$30,00 inteira. Meia entrada para estudantes e maiores de 60 anos.
Vendas na bilheteria do Teatro.
Classificação Etária: 16 anos
Duração: 75 minutos
Instagram: espetaculomeucoracao

Gênero: Comédia Dramático-Romântica.

 

 


        Dormi muito feliz, ontem, e acordei, hoje, bem cedinho, para escrever esta crítica, a fim de que ela ficasse pronta, para ser publicada ainda hoje, dia 30 de abril de 2022, com o objetivo de poder ajudar na divulgação do espetáculo. Espero tê-los convencido de que que vale muito a pena assistir a esta peça. De onde, talvez, muita gente pouco espere, VEM MUITO.

Recomendo-a com muito empenho.

ANSIOSO POR COMPLETAR A TRILOGIA!!!

       

 



FOTOS: SABRINA PAZ

 

 

GALERIA PARTICULAR:

(FOTO: SANDRA NEY)



(Com Carlos Marinho, Wagner Corrêa de Araújo 
e Paula Furtado.
Foto: Sandra Ney.)


E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!

































































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