“PROCURO O HOMEM
DA MINHA VIDA,
MARIDO JÁ TIVE.”
ou
(UMA CAÇADA
QUASE IMPOSSÍVEL.)
ou
(UMA COMÉDIA QUE
HONRA
O GÊNERO TEATRAL.)
Quando alguém se propõe a sair do conforto de sua casa,
enfrentar um trânsito “louco”, como o do Rio de Janeiro,
em plena noite de desfile de escolas de samba, num “carnaval fake”,
de abril, pode fazê-lo com vários propósitos, interesses e expectativas. Fiz
isso no dia 22 de abril de 2022, para assistir a uma peça, em
cartaz do Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, Rio
de Janeiro (VER SERVIÇO.) Era uma COMÉDIA, gênero pelo
qual já declarei, tantas vezes, minha total simpatia, desde que ela seja boa, o
que implica ter um texto engraçado e inteligente, contar com um elenco
de pessoas que saibam fazer rir, uma direção afinada e outros
fatores, no caso, menos importantes, porém não desprezíveis. Mas é que o tripé
de sustentação, para que uma COMÉDIA possa “funcionar”,
se resume nos três elementos acima destacados.
Quando me convidam para assistir a uma COMÉDIA, é para
me fazer rir; caso contrário, não só saio do Teatro maldizendo a hora em
que aceitei o convite, lamentando o meu tempo perdido e jurando, a mim mesmo,
que vou pensar se aceitarei, ou não, um próximo, para ver uma COMÉDIA
encenada. Isso já me aconteceu tantas vezes, e eu não me emendo, não cumpro o
juramento. Estou sempre em dívida comigo mesmo, que é a pior delas. De vez em
quando, “entro em cada fria”, que me faz ter pena de mim mesmo: “Chorei,
chorei, até ficar com dó de mim.” (Chico Buarque de Holanda).
Mas, para compensar, e me deixar muito feliz, também acontece, com menos frequência, infelizmente, de eu deixar o Teatro ainda rindo, sozinho, passando pelo “louco do riso frouxo”, até chegar a casa, e, mais raramente, preciso “massagear as bochechas”, que chegam a doer, de tanto que eu ri. Já cheguei, sem exagero, ao “desespero” de querer gritar, para quem estava no palco: “Para, pelo amor de Deus, que eu não aguento mais de rir e vou ter de dar uma saidinha estratégica, para aliviar a bexiga!”. Sim, isso é verdade. Sem fazer nenhum esforço de memória, posso citar, como um exemplo, as duas vezes em que assisti a “Teatro Para Quem Não Gosta”, com os impagáveis queridos amigos Marcelo Médici e Ricardo Rathsam.
Mas falemos da peça sobre a qual me propus a
fazer comentários críticos. Fui já sabendo que se tratava de uma COMÉDIA
e que eu queria me divertir muito naquela noite. Estava, sem a menor
chance de errar, indo ao lugar certo, porque já havia lido o “release”,
que JULYANA CALDAS (JC ASSESSORIA DE IMPRENSA) me havia enviado, conferido
o elenco, formado por gente que sabe o que faz num palco, havia gostado
da proposta e da SINOPSE.. Achei, portanto, que poderia render um
espetáculo que valeria a pena conferir. E adorei o título: “PROCURO
O HOMEM DA MINHA VIDA, MARIDO JÁ TIVE” (“Busco Al Hombre De Mi Vida, Marido Ya Tuve.”) Os títulos devem ser curtos, porém
precisam conter algo “que venda” o produto. O da peça aqui
analisada é bem longo, mas funciona muito. De imediato, faz-nos rir e aguça a
nossa curiosidade. Nele, está contida, de forma bem inteligente, uma boa
piada; piadas “burras” e mal ditas me irritam num grau...
A peça chegou ao Rio de Janeiro com um bom histórico e foi
baseada num livro que se tornou um “best seller” (mais de
duzentos mil exemplares vendido no mundo). Fora do Brasil, ela, cujo
original foi escrito, em 2001, por uma mulher, a escritora
argentina, DANIELA DI SEGNI, já foi encenada em vários
países, como Argentina, Chile, Uruguai,
México, Portugal, Estados Unidos,
Porto Rico e República Dominicana, depois de ter recebido
as devidas adaptações para os palcos. Além disso, a montagem a que
assisti vem de uma vitoriosa carreira, em São Paulo, onde estava sendo
apresentada, com casas lotadas, sucesso de público e de crítica, inclusive com
sessões extras, no Teatro J. Safra. E já tem uma longa agenda a
cumprir, quando terminar a temporada em curso.
SINOPSE:
A peça é uma COMÉDIA,
que fala sobre encontros e, principalmente, desencontros amorosos de mulheres
na faixa dos 50 anos, que já passaram por, pelo menos, um casamento.
A história se desdobra
a partir de um divertido “papo”, regado a muito vinho, entre três
amigas, que refletem sobre suas vidas, indo do sonho com a entidade “homem
ideal” à descoberta do prazer de encontrar a si mesmas.
A adaptação trouxe as
questões do livro atualizadas aos dias de hoje, pois as mulheres mudaram
muito... e para melhor!
O relato, ágil e
divertido, cheio de observações agudas, mostra, com clareza, a trama de uma
sociedade que rompeu com quase todos os paradigmas, mas que, ainda, não se dispôs
a juntar os pedaços.
O que acontece depois
de um divórcio?
Como se diferencia um
homem casado de um solteiro?
Essas são algumas das perguntas com as quais muitas mulheres, a partir de suas próprias vivências, identificam-se.
Seria inviável a combinação “marido = homem perfeito”,
se é que existe “homem perfeito”, ou “mulher perfeita”?
É claro que isso pode existir, aos olhos de algumas pessoas. Da mesma forma,
qualquer bom dramaturgo poderia, a “título de vingança” (momento
descontração) escrever uma peça em que a figura “mulher
perfeita” fosse procurada por um homem, com uma lanterna na mão,
pelo fato de ele já ter tido a sua “esposa”. É lógico que todas as situações abordadas na COMÉDIA
não podem ser atribuídas – falo dos defeitos dos ex-maridos das três amigas -,
de uma forma geral, a todos os homens, porém fazem parte de um consciente
coletivo feminino, assim como os homens também têm o seu, em relação às
mulheres.
A
peça tem vários pontos positivos, que, facilmente, saltam aos olhos, e,
se há os negativos – e podem até existir -, estes estão muito bem “camuflados”,
porque os meus “olhos de lince” não conseguiram perceber.
O primeiro a ser comentado é a estrutura
do texto. Não conheço como o livro é dividido, mas a peça está
fragmentada em quadros, independentes, cada um mais hilário que o outro.
Há cenas de solo, ou quase isso, e outras em que o elenco atua em
partes ou o quarteto, formado por LEONA CAVALI, TOTIA MEIRELES, GRACE
GIANOUKAS e MAURÍCIO MACHADO. CLAUDIA VALLI é a responsável pela versão
brasileira. CLAUDIA, como em todos os outros lugares em que a peça
foi apresentada, teve que trazer, para os dias de hoje, as questões do livro, uma
vez que “as mulheres mudaram muito... e para melhor!”. Era
preciso, também como deve ter acontecido nos outros lugares, dar um toque local
aos conflitos, assim como escolher uma linguagem que fosse familiar aos
espectadores. Muito bom trabalho de adaptação! Ótima dramaturgia!
Outro
ponto positivo está concentrado na direção da peça, conduzida por
EDUARDO FIGUEIREDO, experto em dirigir esse gênero teatral. EDUARDO
assina uma direção muito dinâmica, com ótimas marcações e segurando as
rédeas, para que o engraçado não se transforme em ridículo nem deixando de
valorizar as melhores piadas e críticas do texto. Falei em “críticas”,
porque, por mais que a peça não tenha maiores pretensões, além de fazer
divertir, o que já é ótimo, uma “COMÉDIA para a pós-pandemia”,
QUE AINDA NÃO ACABOU – QUE ISSO FIQUE BEM CLARO -, todos sabemos que “todo
humor é crítico”, que, por trás de cada fala ou ação que provoca o
riso, há uma reflexão a ser feita, a começar por esta: “Estou rindo de
quê? Por quê? "Porque não sou o foco da piada, ou da crítica” é a
resposta. “Não sou eu quem está sendo exposto ao ridículo e ao julgamento
alheio”. “E eu não gostaria de que rissem, se fosse eu o motivo
da piada, ou da crítica”. E isso, no mínimo, pode acionar o gatilho da
empatia.
A COMÉDIA chega até nós com uma certa,
digamos, “defasagem de tempo”, visto ter sido escrita há 21
anos, mas o tema é universal e vem se tornando, infelizmente,
a cada dia, mais atemporal. Isso, aplicado ao Brasil, ganha um
certo relevo, já que, desafortunadamente, seguindo o péssimo e inadmissível
exemplo de alguém que ocupa o cargo de mandatário de uma nação, sem a menor
condição para exercê-lo, vivemos num país em que a misoginia cresce
a olhos vistos, uma sociedade em que o “poder do falo” sempre se
sobrepõe às mulheres, as quais, felizmente, estão “acordando” e “metendo
o pé na porta”, ainda que, por enquanto, de uma forma parcimoniosa. Mas
já é um bom início, que conta, totalmente, com a minha adesão, representando os
homens que respeitam e valorizam as mulheres, as quais se apresentam, na peça,
como seres independentes, pensantes, atuantes e “poderosas”, a
fim de viver o melhor que a vida nos reserva. Essa reação é mais que
necessária, já que vivemos num país onde a criminalidade contra a mulher é cruel
e absurda, o que se agravou bastante durante a pandemia de COVID -19, QUE
NÃO ACABOU AINDA!!! Que isso fique bem claro!!! (Repito mesmo!!!)
E, antes que
alguém já possa estar pensando que verá, no palco, uma batalha travada entre
machos e fêmeas, já vou adiantando que não se trata disso. As três “balzaquianas”
não se colocam contra os homens; não são misândricas; cada uma “desfia
o seu rosário”, aparentemente, de uma forma geral, mas, na verdade,
aplicando seus reclamos aos respectivos ex-maridos. Transcrevo uma declaração
interessante de LEONA CAVALI, com o que concordo plenamente: “Além
de engraçada, a peça traz uma crítica e uma reflexão de que a mulher, enquanto
ser humano potente, é capaz de se autotransformar.”.
Já tendo
expressado minha opinião sobre o texto e a direção, volto meus
holofotes para o afinado elenco, que concentra três atrizes e um
ator de grande versatilidade, num palco, todos num ótimo momento
profissional, assumindo vários personagens e nos surpreendendo, a cada um
novo que nos é apresentado.
Obedecendo
à ordem alfabética e, como “cavalheiro”, vou iniciar meus
comentários pelas “meninas”, por GRACE GIANOUKAS, que,
apesar de, por ser uma grande atriz, também ter a capacidade de fazer
papéis dramáticos, parece que nasceu para a COMÉDIA, para nos fazer rir,
o que, para ela, tudo nos leva a crer que seja uma tarefa bem fácil, que a atriz
faz bem naturalmente, a julgar pelo conjunto de recursos que reúne, como
máscaras faciais, pequenos trejeitos e uma excelente exploração da voz. Seus
silêncios são tão engraçados quanto o que ela diz. Não sei se por conta de
tê-la conhecido, há cerca de vinte anos, atuando na indelével e adorável “Terça
Insana”, um espetáculo em que vários atores apresentavam esquetes-solos, e pelo fato de, muito recentemente, ter assistido a um monólogo,
feito por ela, que vem apresentando, às terças-feiras, em outro Teatro,
comemorando 40 anos de profissão, sempre prefiro vê-la nos solos.
Nessa peça, o elenco me fez dar boas gargalhadas. Sua “princesa
da Disney” é extremamente hilária.
LEONA
CAVALI
interpreta seis personagens diferentes e é difícil dizer em qual delas a
atriz se supera, mas acho que a empregada doméstica que
interpreta numa deerminada cena tem a minha preferência, ainda que todas as outras também
me tenham agradado bastante. Se um espectador adentrasse, atrasado (PÉSSIMO
ESPECTADOR!!!), o Teatro, na hora dessa cena, não seria capaz de reconhecer
a atriz atuando, em função de seu visagismo, que inclui uma prótese
dentária, sua postura corporal, mudança de voz e de estilo de linguagem. Das
três atrizes, foi a que mais me surpreendeu, uma vez que ali estava
outra LEONA, não a que, até então, “eu conhecia”, mais
próxima a papéis sérios, dramáticos. Pensar em LEONA CAVALI me faz,
imediatamente, voltar ao ano de 2014, quando a conheci, no Teatro
Raul Cortês, em São Paulo, “reencarnando” (Atores,
em geral, detestam que se falem de suas atuações, usando esse verbo.)
uma Frida Khalo memorável, em todos os sentidos, num papel denso,
trágico e lindo. Frida Khalo, a pintora, é uma das “mulheres
da minha vida”, e LEONA/FRIDA foi incorporada à minha lista.
Se GRACE
parece ter sido escalada para o time da COMÉDIA e LEONA, para o
do DRAMA, TOTIA MEIRELES, por quem nutro uma grande admiração,
como atriz e pessoa, tem vaga garantida em qualquer escalação e ora
joga num “time”, ora “defende” o outro. TOTIA
transita, muito bem, nos dois e, principalmente, nos musicais, a minha
grande paixão, no baú onde estão guardados todos os gêneros dramáticos.
Excelente atriz, ou melhor, “cantriz”, TOTIA também
não deixa escapar nada que possa enriquecer cada uma das personagens que
interpreta na peça, a qual lhe dá a oportunidade de mostrar quão
versátil ela é, quando pisa as tábuas.
E, já que
falei em “versatilidade”, faltou, para encerrar os comentários
sobre o elenco, discorrer sobre MAURÍCIO MACHADO, o homem que “tem
de dar conta de três mulheres em cena”. A função dele é, sem qualquer
demérito, a de um “escada”, para cada uma das atrizes, só
que um “escada” de luxo, da maior importância, que enriquece
todas as cenas em que entra, já que, a cada sua nova aparição, vem assumindo um
personagem totalmente diferente do anterior e muito engraçados, todos
eles. Tais interpretações exigem, do ator, muito talento e criatividade,
além de um trabalho para encontrar posturas e vozes diferentes, para cada um
deles, nove, ao todo.
Para
terminar os comentários sobre a ficha técnica da peça, merecem destaque
os ótimos cenários e figurinos, de KLEBER MONTANHEIRO, que
utilizou pouco dinheiro e muita criatividade, com uma proposta, combinada, evidentemente,
com a direção, de muitas entradas e saídas de elementos cenográficos
em cena, uma movimentação frenética, que ajuda a dar ritmo à encenação.
Além disso, GUGA STROETER e MATIAS CAPOVILLA assinam a direção musical, onde incluo
uma deliciosa e muito bem selecionada trilha sonora; e destaco, também,
o nome de DICKO LORENZO, responsável por transformar atores em personagens,
com seu excelente trabalho de visagismo.
Mas não
falei, ainda, e, se me esquecesse dele, seria um erro imperdoável, de uma
figura muito importante, nesta montagem, sem a qual não consigo ver o espetáculo
na minha frente. Sério! Falo de GABRIEL MOREIRA, um multi-instrumentista, que toca ao vivo, durante todo o espetáculo,
inclusive fazendo a sua abertura. É um “apêndice”, indispensável,
do elenco.
FICHA TÉCNICA:
Livre
adaptação da obra de Daniela Di Segni
Dramaturgia:
Claudia Valli
Direção: Eduardo
Figueiredo
Assistência de
Direção: Alex Bartelli
Elenco (por
ordem alfabética): Grace Gianoukas, Leona Cavali, Maurício Machado e Totia
Meireles
Música ao
Vivo: Gabriel Moreira
Cenário:
Kleber Montanheiro
Figurinos:
Kleber Montanheiro
“Light design”: Ricardo Fujii
“Sound Design”: André Omote
Direção
Musical e Trilha Original: Guga Stroeter e Matias Capovilla
Visagismo:
Dicko Lorenzo
Coreografia:
Janaina Marlene
Preparação
Vocal: Roberto Anzai
Fotografia e
Programação Visual: Priscila Prade e Murilo Lima
Fotos de Cena:
Malu Vieira
Produção
Executiva: Paulo Travassos
Assistente de
produção: Jorge Alves
Administração:
Paulo Paixão
Assessoria de
Imprensa: Julyana Caldas (JC Assessoria de Imprensa)
Realização e Produção:
Manhas & Manias Projetos Culturais
SERVIÇO:
Temporada: de
01 de abril a 08 de maio de 2022.
Local: Teatro
das Artes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52 – Gávea - Rio de Janeiro (Shopping da
Gávea - 2º Piso).
Dias e
Horários: sexta-feira e sábado, às 21h; domingo, às 20h.
Horário de funcionamento da bilheteria: de segunda-feira a domingo, das
15h às 20h. Após às 20h, apenas para peças do dia.
Vendas “on-line”: https://divertix.com.br
Aceita
os cartões de débito e crédito. Não aceita cheques.
Telefone da bilheteria: (21)2540-6004.
Recomendação
Etária: 12 anos.
Duração: 1h15min.
Gênero: COMÉDIA.
Recomendo, com bastante ênfase, esta deliciosa
COMÉDIA, que é um espetáculo voltado para mulheres e para homens também.
E atinge pessoas de qualquer idade, além de ser um convite, para que cada um
aceite a sugestão de olhar para o seu interior e não ter pudor de rir de si
mesmo, quando se identificar com os personagens.
FOTOS:
PRISCILA PRADE,
MURILO
LIMA
e
MALU VIEIRA.
GALERIA PARTICULAR:
Com Grace Gianoukas.
Com Leona Cavali.
Com Maurício Machado.
Com Totia Meireles.
Com Paulo Paixão.
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
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