sexta-feira, 14 de novembro de 2014


O QUE O MORDOMO VIU? 
RESPOSTA:
ACABOU O PÓ!
 
 
 
(QUER RIR MUITO?  FAÇA A ESCOLHA; OU MELHOR, ASSISTA ÀS DUAS.)
 
 
 

Uma pesquisa sobre a função social do TEATRO poderá levar a várias respostas, mas, em todas elas, uma palavra estará sempre presente: “entretenimento”, vocábulo que, de acordo com a Wikipédia, “é qualquer ação, evento ou atividade com a finalidade de entreter e suscitar o interesse de uma audiência”.
 
            Vemos, portanto, que ele se presta a cumprir vários papéis e que o especatador seleciona o que deseja ver, de acordo com seus interesses, que podem ser diversos, na dependência de vários fatores.
 
            Sabemos que o TEATRO sempre foi um caminho para fazer denúncias, críticas, reivindicações, esclarecimentos; para fins didáticos ou, apenas, para divertir.
 
            Se o seu intento é dar boas gargalhadas, sem se ater a problemas sociais, discussões profundas sobre os mistérios da vida, o futuro da humanidade, dramas existencais e outros temas que levam à reflexão; se o que deseja é apenas se divertir, escolha entre dois espetáculos ora em cartaz no Rio de Janeiro; ou, melhor ainda, veja os dois: O QUE O MORDOMO VIU e ACABOU O PÓ, duas comédias rasgadas: a primeira, um “vaudeville” para ninguém botar defeito; a segunda, um típico “besteirol”, cujo único compromisso é com o humor pelo humor, se bem que, nas entrelinhas dos dois, possam ser detectadas críticas de toda sorte.  Aliás, no fundo, no fundo, por excelência, todo humor é crítico.
 
O “vaudeville” é um gênero teatral que se caracteriza por uma série de mal-entendidos, de “coincidências”, que vão se desenvolvendo, uns deflagrados por outros, num ritmo ligeiro, às vezes até frenético, com muita correria, gerando situações que beiram o ridículo, envolvendo intrigas e uma sucessão de portas que se abrem e fecham, permitindo inúmeras entradas e a circulação de atores em cena, o que provoca situações engraçadíssimas, de trocas de roupas, de enconde-esconde...  O termo “vaudeville” é, possivelmente, uma corruptela do francês "voix de ville", designação de uma forma de canção cortesã parisiense, em moda no século XVI.
 
Já o chamado “besteirol”, surgido, no Brasil, nos anos 80, e tendo como grandes pilares, nomes com o gabarito de Mauro Rasi, Vicente Pereira, Miguel Falabella, Pedro Cardoso, Felipe Pinheiro e Guilherme Karan, dentre outros, “é uma variedade de comédia ligeira, feita para um público urbano, recriando, ora com mais, ora com menos eficácia inventiva, elementos antigos e mesmo arcaicos da tradição cômica – estrutura geral de farsa, um pouco de grotesco caricatural, outro tanto de vaudeville’, uma pitada de sátira e farto tempero de “gags” (efeito cômico que, numa representação, resulta do que o ator faz ou diz, jogando com o elemento surpresa, os conhecidos ‘cacos’ – que se atualizam graças a referências jocosas à cultura de massa.”
  
            Pode-se atingir o mesmo objetivo, no caso, aqui, ir a um teatro, em busca de bom divertimento, apenas isso, trilhando dois caminhos diferentes; aliás, completamente opostos, no que se refere aos recursos utilizados, pelas produções em pauta, nas duas montagens aqui comentadas.
 
            Enquanto O QUE O MORDOMO VIU reúne nomes de destaque do TEATRO e da TV, como MIGUEL FALABELLA e ARLETE SALES, além de mais quatro atores, ACABOU O PÓ junta, no palco, dois excelentes atores, desconhecidos do grande público, porém pródigos em talento: ALEXANDRE LINO e LEO CAMPOS.
 

 
 
Um pouco de O QUE O MORDOMO VIU:
 
 

 
 
 
O texto é uma farsa, do escritor inglês JOE ORTON. 
 
Segundo o material de divulgação enviado pela assessoria de imprensa do espetáculo, MIGUEL FALABELLA e ARLETE SALES, pela primeira vez dividindo um palco, interpretam um casal que transita pelo universo farsesco do autor, que aborda temas como sexo, poder, corrupção, mentiras e traições, com fartas doses de humor e ironia.  A peça tem as principais características da obra de ORTON: a sagacidade subversiva, o humor negro, a capacidade de transformar situações trágicas em uma grande comédia, além da crítica ácida a valores e comportamentos do homem contemporâneo.  Traz, ainda, todos os ingredientes de uma farsa: personagens cheios de manias, enredos tortuosos, confusão de identidades, portas batendo, roupas que desaparecem, dentre outras.
 
 
O elenco: Ubiray Paraná do Brasil, Arlete Sales, Marcelo Picchi, Miguel Falabella, Alessandra Verney e Magno Bandarz.
 
 
 
O espetáculo conta a história do psiquiatra ARNALDO (MIGUEL FALABELLA), que é flagrado por sua esposa MIRTA (ARLETE SALLES), um casamento falido, em uma atitude suspeita com a secretária DENISE BARCCA (ALESSANDRA VERNEY).  Para não ser surpreendido em flagrante, ARNALDO forja uma situação e acaba provocando uma série de equívocos.  O jogo dos erros aumenta, porque MIRTA também tem algo a esconder: a promessa do cargo de secretário a NICO (MAGNO BANDARZ), por quem está sendo chantageada.  Como se não bastasse a confusão instaurada, a clínica passa por uma inspeção do governo, liderada por DR. RANÇO (MARCELLO PICCHI), atraindo, ainda, o detetive MATOS (UBIRACY PARANÁ DO BRASIL) para uma investigação.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

            A direção de FALABELLA segue, à risca, as imposições exigidas pelo gênero, sendo, portanto, correta. 
 
É bom o trabalho dos atores, totalmente ajustados ao objetivo do espetáculo, com destaque para a boa “química” que existe entre ARLETE e FALABELLA.  Como é bom ver a disposição, o vigor, dessa boa atriz, no palco, após a superação de problemas de saúde!  Uma atriz que tem um jeito próprio de respirar e de dar às falas da personagem as devidas entonações exigidas pela comédia, o que, muitas vezes, independentemente da qualidade do texto, colabora para provocar o riso na plateia. 
 
Apesar de seu brilho estrelar, FALABELLA se comporta com bastante generosidade, ao contracenas com os colegas, e o trabalho fica homogêneo, voltando-se o foco, ora para um, ora para outro, dando, a todos, oportunidades para brilhos-solo.
 
 
 
Arlete Sales e Miguel Falabella.
 
 
 
Ubiracy Paraná do Brasil e Miguel Falabella.
 
 
 
Falabella, Ubiracy, Arlete e Magno Bandarz.
 
 
 
Não posso deixar de fazer um comentário especial quanto ao trabalho de ALESSANDRA VERNEY, na pele da aspirante a uma vaga de secretária na clínica do DR. ARNALDO.  Digo isto, porque a atriz, na verdade, uma grande “cantriz”, das melhores no mercado brasileiro, faz, pela primeira vez, um espetáculo que não seja musical, gênero no qual ela é muito respeitada e cortejada pelos diretores e produtores.  Descobri-a em Império, a obra-prima de MIGUEL FALABELLA e Josimar Carneiro, e, a partir de então, tornei-me seu maior admirador e, com muita honra e alegria, seu amigo.  Para sua primeira experiência fora dos musicais, VERNEY está ótima em cena.  Passou no teste, e com louvor.
 
 

 
Boa “química” em cena.
 
 
 
Magno Bandarz e Miguel Falabella.
 
 
 
            Contando com uma produção de peso e do patrocínio de uma forte empresa do ramo dos seguros, não faltou verba para a confecção de um bom cenário, do consagrado cenógrafo JOSÉ DIAS e de ótimos figurinos, de SÔNIA SOARES.  Bom trabalho também demonstra na iluminação, AURÉLIO DE SIMONI.
 
 
 
A clínica do Dr. Arnaldo.
 
 

            Para desopilar o fígado, um bom remédio.
 

 



 
FICHA TÉCNICA:
Texto - Joe Orton 

Versão Brasileira e Direção - Miguel Falabella

Codireção - Cininha de Paula
 
Elenco: Miguel Falabella (Dr. Arnaldo), Arlete Salles (Mirta), Marcelo Picchi (Dr. Ranço), Alessandra Verney (Denise Barcca), Ubiracy Paraná Do Brasil (Detetive Matos) e Magno Bandarz (Nico)

Cenário - José Dias

Figurino - Sônia Soares

Designer de Luz - Aurélio de Simoni

Trilha Sonora - Leandro Lapagesse
 
Fotos: Paula Kossatz
 
Produção Geral - Sandro Chaim
 
Assessoria de Imprensa: Uns Comunicação - Alan Diniz e Sidimir Sanches
 
 
 
 
 
 
Marcelo Picchi e Alessandra Verney.
 
 
 
Falabella e Verney.
 
 
 
 
 
SERVIÇO:
 
Teatro Clara Nunes - Shopping da Gávea (3º piso)
 
Telefone: (21) 4003-2330
 
Temporada: Até 14 de fevereiro/2015 
 
De quinta-feira  a sábado – às 21h30   /   domingo – às 20h
 
Preços:  quinta-feira - R$ 100,00; de sexta-feira a domingo - R$ 120,00
 
Duração: 90 minutos
 
Classificação etária: 16 anos
 
Gênero: Comédia
 
 
 
 
 
 
 
 
Agora, sobre ACABOU O PÓ:
 
 
 
 
 
 
 
            Este texto, o terceiro do jovem dramaturgo DANIEL PORTO, de apenas 22 anos, fez grande sucesso, num Ciclo de Leituras Dramáticas, no SESC Casa da Gávea, em abril deste ano (2014), e ganhou vida, no palco, com direção de VILMA MELO, contando com a interpretação de ALEXANDRE LINO (KELLY) e LEO CAMPOS (NENA), primeiramente, no Teatro Miguel Falabella, na zona norte da cidade (Cachambi, dentro do Norte Shopping), e, agora, também chega à zona sul (Ipanema), no Teatro Candido Mendes, em temporadas simultâneas.
 
 

 
 
 
 
 
 
            A peça se encaixa no humor besteirol e, de acordo com a sinopse, enviada pela produção, dois homens interpretam duas mulheres suburbanas, cariocas, que têm conflitos com marido, ex-marido e filhos.  A comédia ACABOU O PÓ (é pó de café) é um espetáculo que parte de um único princípio: a diversão. 
Na coleta de informações cotidianas, a peça faz a seleção de histórias do dia a dia de duas mulheres simples e divertidas, “sem papas na língua”, que fazem do humor a lente de aumento, para falar de suas vidas e (por que não?) das dos outros.  Aliás, é impossível não reconhecer, nas duas personagens de ficção, atitudes familiares, de gente real, de uma empregada, de uma amiga ou conhecida; enfim, de alguém que povoa o nosso conhecido universo humano. 
 


 


Ainda segundo a sinopse, observar a vida como uma espécie de “voyeur” é, ainda hoje, uma das manifestações mais comuns na humanidade, e as protagonistas desta peça, donas de casa, não fogem à regra.  NENA e KELLY são moradoras do subúrbio carioca e, entre os afazeres domésticos, o trabalho e o cuidado com os filhos, reservam o seu próprio tempinho, para se visitarem, tomar um café e colocar o papo em dia. 
De acordo com a diretora, VILMA MELO, “as personagens são mulheres absolutamente normais e o texto, feito por dois homens, acaba tendo uma ótica masculina.  NENA e KELLY, por mais problemas que tenham, partem do senso comum ao povo brasileiro, que sabe rir até das próprias desgraças.  E, no riso, nos damos conta da nossa humanidade.”
 


 

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ACABOU O P+ô-By Janderson Pires-8620
 


Embora a preocupação primeira do jovem e talentoso dramaturgo, DANIEL PORTO, nesta peça, seja fazer rir, divertir o público, o texto permite que cada espectador também possa mergulhar, nem que seja superficialmente, nas relações sociais do dia a dia, que vão desde os conflitos conjugais até as ligadas a todas as pessoas que cercam as duas bizarras personagens, no enfrentamento dos obstáculos impostos pela vida que encaramos, ao escolher viver numa sociedade, injusta e cruel, egoísta e hipócrita, que acusa, cobra e condena.
Com parcos recursos financeiros para levantar esta produção, a equipe de criação, num esforço hercúleo, consegue apresentar um trabalho muito honesto e simples, no que se refere aos elementos cênicos, como cenários, figurinos e iluminação, por exemplo; por outro lado, a competência dos profissionais envolvidos no projeto e o seu comprometimento com o trabalho e o respeito ao público conseguem apresentar um espetáculo de muito boa qualidade.
Merece destaque a ideia de colocar dois homens, interpretando personagens femininos, com vozes e trejeitos de mulheres, porém sem qualquer caracterização física que as lembre.  Rende muito bem, é muito bom, o trabalho de ambos os atores, em níveis semelhantes de atuação.
Também merece elogio o trabalho de direção, porque, ainda que contasse com um bom texto, para o que ele se propõe, e uma dupla de ótimos atores, VILMA MELO teve de “tirar leite de pedra”, para, com tão pouco dinheiro, ter de encontrar soluções criativas e interessantes na condução do seu bom trabalho, o que atingiu satisfatoriamente.


 
      
 




 

 

 
Quem assistiu ao magnífico espetáculo O PASTOR, primeiro texto do neófito, mas já tão bem-sucedido, dramaturgo DANIEL PORTO, não vá assistir a ACABOU O PÓ com o mesmo olhar com que viu o outro espetáculo, nem com a mesma expectativa, a não ser a de que vai assistir a um espetáculo de qualidade, com piadas muito engraçadas e atuais, durante a conversa das duas amigas e comadres, quando KELI se vale de NINA e lhe faz uma visita, porque acabou o pó de café na casa daquela.
 


Daniel Porto, o autor.
 
 
            Sem nenhum demérito, já que optei por traçar um paralelo entre dois espetáculos com a mesma proposta, fazer rir, divertir, ACABOU O PÓ pode ser chamado de “o primo pobre” de O QUE O MORDOMO VIU.  Mas a riqueza, aqui, só se aplica ao plano material, porque, em suas propostas, são dois espetáculos ricos.
 

Para desopilar o fígado, um outro bom remédio.
 
 
 
FICHA TÉCNICA:
Texto: Daniel Porto

Direção: Vilma Melo

Elenco: Alexandre Lino (Kelly) e Leo Campos (Nina)

Cenário e Figurinos: Karlla de Luca

Iluminação: Binho Schaefer

Fotografia Artística: Janderson Pires

Ilustração: Ana Moura e Guilherme Lopes Moura

Design Gráfico: Guilherme Lopes Moura

Webdesign: Mariana Martins

Assessoria de Imprensa: Gabriela Mota

Produção: Alexandre Lino, Daniel Porto, Leo Campos e Paulo Amaro

Realização: Cineteatro Produções

 
 
 
 
SERVIÇO:
 
TEATRO  MIGUEL FALABELLA
 
Temporada até 25 de novembro - todas as terças-feiras, às 20h
 
Ingressos: R$ 40 (Inteira)
 
Local: Teatro Miguel Falabella – Rua Avenida Dom Helder Câmara, 5332, Norte Shopping – 2º piso - Cachambi
Tel: (21) 2595-8245
 
Duração: 60 minutos                                                                 
 
Classificação Etária: 12 anos
 
Vendas: www.ingresso.com.br
 
 
TEATRO CÂNDIDO MENDES
 
Temporada até 11 de dezembro - todas as quartas e quintas-feiras, às 21h
 
Local: Teatro Candido Mendes, Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema
 
Telefone: (21) 2523-3663
 
                                                     
 
 
 
 
 (FOTOS: PAULA KOSSATZ (O QUE O MORDOMO VIU)
e JANDERSOM PIRES (ACABOU O PÓ).
 
 
 
 
 
 

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