HOMINUS
BRASILIS
(UM DESAFIO ARREBATADOR
ou
UM BRASIL QUE CABE NA PALMA
DA MÃO.)
No dia 16 de
setembro deste ano, dois dias antes de terminar sua temporada, assisti a um dos
melhores trabalhos em TEATRO de 2014
e saí do Centro Cultural da Justiça Federal muito feliz e ratificando, mais uma
vez, a minha já certeza de que existe uma quantidade incomensurável de gente de
talento, artistas anônimos, ou quase, que, por não receberem as benesses da
grande mídia, continuam esquecidos, oferecendo, porém, a quem tem a sorte de
conhecê-los, o que há de melhor na arte que abraçaram.
Foi
isso o que aconteceu naquela 3ª feira, depois de ter assistido a HOMINUS BRASILIS, cuja temporada se
encerraria dois dias depois, quando, em função do grande sucesso de público,
graças à divulgação boca a boca, a melhor de todas as formas de divulgação, a
peça foi apresentada também numa sessão extra.
Um amigo, a quem eu recomendara o espetáculo, foi no último dia e, de
tão impressionado com o que vira, saiu de uma sessão e, imediatamente, comprou
ingresso para a extra. E me agradece,
até hoje, pela indicação.
Como
achei que não valeria a pena, em termos de divulgação da peça, já que sairia
logo de cartaz, escrever uma resenha sobre ela, e nem tempo eu teria para isso,
como forma de proporcionar aos meus amigos a oportunidade de assistir a um
espetáculo de extrema qualidade artística e profissional, e também para “dar
uma força” aos envolvidos no projeto, limitei-me, na ocasião, a escrever, do
fundo do meu coração, na minha página no Facebook ,
um comentário sobre o que vira e que me causara tanto impacto, deixando-me o
gostinho de “quero mais”. Os
responsáveis pela página do espetáculo, naquele rede social, compartilharam
meus comentários, que quase já valem como uma resenha, e que, aqui, reproduzo,
com algum possível erro gramatical, justificado pela grande emoção com quando
me pus a escrever:
A criação do mundo...
...e ele vai surgindo...
O mundo é maior que isto, quase igual ao tamanho do talento do elenco.
Felizmente,
esse espetáculo voltou ao cartaz, e eu fui revê-lo, ao lado de uma historiadora
e uma educadora, que também se encantaram por ele. Está sendo apresentado, apenas até o dia 14 de dezembro, no Teatro Maria Clara Machado (leia-se Planetário), um espaço simpático, porém muito mal localizado, ao
lado da PUC, e pior ainda
divulgado. A começar pelo nome, uma vez
que sempre foi chamado de “Teatro do
Planetário”, mas, com a morte desse grande ícone do Teatro Infantil, que é Maria Clara Machado, a prefeitura
resolveu fazer-lhe uma homenagem. Em vez
de construir um teatro e batizá-lo com o nome da grande e inesquecível Clara, trocaram o nome do outro, já bem
conhecido, pelo da grande dramaturga, o que faz com que as pessoas o confundam
com o Teatro Tablado, na Lagoa, fundado e administrado por ela, durante
décadas, berço de tantos grandes nomes do TEATRO
BRASILEIRO. Conheço muita gente que
já foi parar num, pensando estar indo ao outro.
Mas
voltemos ao nosso HOMINUS BRASILIS,
que, na verdade, deveria até receber outro título, por mostrar o nascimento e a
trajetória do HOMEM NO PLANETA. A ênfase maior, porém, é dada ao homem
brasileiro.
Criatividade,
originalidade, precisão, detalhismo, meticulosidade, síntese, apuro, talento
são algumas das palavras-chave relacionadas a essa montagem.
2001, Uma Odisseia no Espaço.
Uma
parte da plateia poderá sair do teatro sem entender algumas passagens, mas não será
outra a causa disso, senão sua própria falta de conhecimento da História da
Humanidade, ainda que as mímicas sejam perfeitas e possibilitem a identificação
de cada momento antropo-histórico encenado.
Tenho o hábito de ser um dos primeiros a sair do teatro, para poder
observar as reações das pessoas e ouvir seus comentários sobre a peça, e, nas
duas vezes em que tive a grata satisfação de assistir a ela, não ouvi um
comentário negativo sobre o espetáculo.
A maior parte da encenação é de “mais fácil percepção” para os menos
“preparados” para esse tipo de espetáculo.
Algumas cenas
são antológicas, como a da explosão do Big Bang, teoria que justifica, ou
explica, a origem da Terra; a da luta entre os dinossauros, para garantir a sua
sobrevivência, assim como a da sua destruição por um enorme meteoro, que
atingiu seu hábitat, aproximadamente há 65 milhões de anos. Não podem ficar de fora da lista de cenas
marcantes, no espetáculo, o triste episódio da Inquisição, com a queima de
humanos em fogueiras; o contato entre portugueses e indígenas e os métodos, “politicamente
incorretos”, empregados na sua “pacificação”; os maus tratos do branco ao
escravo negro; a miscigenação da nossa raça (europeus e índios, europeus e
negros)... E é claro que não poderiam
ficar de fora, também, os eventos que marcaram as páginas negras da nossa
história, escritas pelo Golpe Militar de 1964, e a luta do povo pela volta ao
regime democrático. Tudo isso, e muito
ainda, do que foi mais marcante na trajetória do ser humano na face da Terra,
lá está, mais representado por gestos e sons naturais do que por palavras.
Lambreta, na juventude transviada dos anos 50. Haja criatividade!
A proposta do
enredo bem poderia ser executada com o apoio de uma grande dramaturgia (texto
escrito, para ser decorado); o espetáculo poderia ser muito longo, em vez de
durar apenas 60 minutos, dividido num mosaico de cenas isoladas, representando
cada momento histórico desejado pelo dramaturgo, com muitas mudanças de
cenários, araras repletas de figurinos, uma superprodução. Exatamente por não acontecer nada disso é que
o espetáculo se reveste de todos os elogios que podem ser atribuídos a uma
montagem teatral, além, só para começar, do inusitado fato de tudo ser
representado por apenas quatro pessoas, sobre um praticável de cerca de 30 centímetros de
altura, medindo dois metros quadrados (juntam-se dois praticáveis de um metro
quadrado cada), que não se movem; não há um único elemento cenográfico ou que
sirva de adereço; o figurino é único: uma roupa de malha elástica, branca, para
cada ator/atriz; a luz é a mais simples e pouco variável possível; não há o
emprego de qualquer parafernália técnica, eletrônica. E o resultado de tudo isso? Simplesmente, um espetáculo lindo, simples,
original, encantador, de deixar saudade.
O elenco e o supervisor da montagem, Júlio Adrião.
Para
finalizar, apenas um pouco sobre a técnica da “plataforma” e como os atores
chegaram a ela, o que, certamente, dará aos que já assistiram à peça e aos que
ainda irão fazê-lo, um entendimento maior deste pequeno GRANDIOSO espetáculo.
Busca ela
utilizar um espaço de cena mínimo para a dramatização de histórias grandiosas e
épicas. Já vem sendo empregada, em
excelentes espetáculos, no exterior e tem sido objeto de estudo da CIA DE TEATRO MANUAL, desde 2011,
quando MATHEUS LIMA e HELENA MARQUES, casados, retornaram de
um intercâmbio de pesquisa, na Inglaterra, financiado pela Funarte, na Lispa (Escola
Internacional de Artes Performáticas de Londres), viagem fruto de um prêmio
que MATHEUS ganhara, por um projeto
seu.
Foi lá que o
casal foi apresentado a essa técnica. Já
em terras brasileiras, mostraram a ideia a DIO
CAVALCANTI, irmão de MATHEUS, e
PATRÍCIA UBEDA. Foram três ou quatro
anos de pesquisa e os ensaios de HOMINUS
BRSILIS começaram em 2012. Toda a
construção do espetáculo é de responsabilidade dos quatro, mas conta com a luxuosa
supervisão de JÚLIO ADRIÃO, grande
ator e diretor, que já faz parte da galeria dos grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO, por conta de seu
irretocável trabalho em A DESCOBERTA DAS
AMÉRICAS.
O mundo pela TV.
A propósito de
JÚLIO ADRIÃO, encontrei-me com ele, na saída do CCJF, quando da primeira
vez em que vi a peça, e conversamos um pouco sobre ela, o grupo e o casamento
do grande ator com o elenco. Era
indisfarçável a sua emoção, ao falar sobre os atores, sua garra e talento. Falou-me de toda a dificuldade que os quatro
tiveram de superar para pôr em prática esse maravilhoso projeto, ao qual ele, JÚLIO, se incorporou, sem ter pensado
duas vezes, e que espero que ainda continue em cartaz em outros teatros.
Não farei
comentários sobre a ficha técnica,
pois acho que, depois de tudo o que já disse, qualquer palavra se tornaria
desnecessária. Apenas para concluir e
reforçar: DIO CAVALCANTI, HELENA
MARQUES, MATHEUS LIMA e PATRÍCIA
UBEDA SÃO QUATRO MAGNÍFICOS ATORES!!!
Lírico, emocionante, engraçado, épico, dramático, irretocável,
genial...
Assistam à peça e acrescentem os adjetivos que acharem necessários!
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Matheus Lima e Helena Marques
Dramaturgia, Concepção e Direção: Cia de Teatro Manual
Supervisão de Cena: Julio Adrião
Elenco: Dio Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda
Colaboração Artística e Stand In: Camila Nhary, Bernardo Schlegel, Diego de Abreu
Iluminação: Gustavo Weber
Dramaturgia, Concepção e Direção: Cia de Teatro Manual
Supervisão de Cena: Julio Adrião
Elenco: Dio Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda
Colaboração Artística e Stand In: Camila Nhary, Bernardo Schlegel, Diego de Abreu
Iluminação: Gustavo Weber
Operação de Luz: Júlia Faria
Identidade Visual (Arte Gráfica): Thais Gallart
Identidade Visual (Arte Gráfica): Thais Gallart
Desenhos: Nicole Schlegel
Ilustrações: Nicole Schlegel
Figurino: Camila Nhary
Assessoria de Imprensa: Clarissa Cogo
Produção Executiva: Bernardo Schlegel e Juliana Trimer
Ilustrações: Nicole Schlegel
Figurino: Camila Nhary
Assessoria de Imprensa: Clarissa Cogo
Produção Executiva: Bernardo Schlegel e Juliana Trimer
Produção: Botão Cultural
Realização: Cia de Teatro Manual (Dio Cavalcanti, Helena
Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda
Não precisa de legenda.
Idem.
SERVIÇO:
Teatro Maria Clara Machado (PLANETÁRIO)
Temporada: Até 14 de dezembro
Dias e Horários: 6ªfeira e sábado, às 21h; domingo, às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 10 anos
Valor Ingresso: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
Temporada: Até 14 de dezembro
Dias e Horários: 6ªfeira e sábado, às 21h; domingo, às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 10 anos
Valor Ingresso: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
Patrícia, Helena, Matheus e Dio.
Um “selfie” com a plateia.
(FOTOS: BERNARDO SCHLEGEL,
MARIANA BARCELOS e JAQUELINE SAMPIN)
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