NÃO
VAMOS PAGAR!
(ASSISTAM À PEÇA E PAGUEM!)
A
peça se chama NÃO VAMOS PAGAR! (NON SI
PAGA! NON SI PAGA!) e está em cartaz
no Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB) – Teatro II, de 5ª a 2ª feira, às 19h30min, e poderá ser vista até o dia 30 de novembro (2014).
Seu autor é DARIO FO e foi escrita em 1974, em meio
a uma conturbada crise política, econômica e moral pela qual passava a Itália. Quem não conhece o autor, muito menos sua
nacionalidade (italiana), depois de ter assistido à peça, há de pensar que ele
é brasileiro e que o texto está fresquinho, recém-saído da impressora, de tal
forma ele se aplica à realidade brasileira dos últimos tempos.
Qualquer
pessoa que acompanha os noticiários sobre o que vem acontecendo, no campo
social e político, no Brasil de um ano, ou pouco mais, para cá, tudo o que foi
publicado sobre a insatisfação popular com relação aos governos, nas três
esferas, ao custo de vida, à corrupção, à impunidade, há de achar que a ação se
passa em “terras brasilis”, porque todas essas mazelas são trabalhadas, com
maestria, pela cabeça privilegiada de DARIO
FO, Prêmio Nobel de Literatura, em
1997.
Luana Martau e Virgínia Cavendish.
Idem.
Ibidem.
Embora algumas
matérias sobre o espetáculo apontem a esposa do dramaturgo, Franca Rame, falecida em 2013, como coautora
do texto, ela, que, realmente escreveu, com o marido, alguns outros textos para
TEATRO, a quatro mãos, não aparece,
no programa da peça, como tal.
O
espetáculo chega ao Rio, depois de ter cumprido uma brilhante carreira em São
Paulo, e tem tudo para repeti-la aqui, embora a temporada seja curta. Espero que, encerrada esta, a peça se
transfira para outro espaço.
SINOPSE:
ANTÔNIA (VIRGÍNIA CAVENDISH) e
MARGARIDA (LUANA MARTAU) são duas donas de casa, que têm dificuldade para
chegar ao fim do mês com as contas em dia.
A primeira acaba de perder o emprego, e seu marido, JOÃO (MARCELO VALLE), trabalha em uma fábrica, ameaçada de ser fechado,
juntamente com LUÍS (FABRÍCIO BELZOFF),
marido de MARGARIDA.
Em protesto pelo aumento
dos preços em geral, um grupo de mulheres decide invadir e saquear um
supermercado. Entre elas, ANTÔNIA, que, a partir disso, se
envolve em uma sequência de peripécias, quando procura esconder o produto do
saque, contando com a cumplicidade da amiga MARGARIDA, que também fica com parte do que foi furtado e tem de
esconder tudo dentro da roupa, o que a faz parecer grávida.
JOÃO, cheio de valores e princípios éticos, prefere morrer de fome
a praticar algum ato ilegal – e não faz ideia do que sua mulher havia feito,
embora, depois, acabe por não honrar seus princípios.
Somam-se a isso os
problemas criados por MARGARIDA,
relutante em ajudar a vizinha e amiga, e os vários encontros e incidentes com a
polícia.
Virgína
Cavendish e Marcelo Valle.
Marcelo Valle
e Fabrício Belzoff.
Segundo a diretora do
espetáculo, INEZ VIANA, muito
empolgada, com muita razão, com o resultado do trabalho, “É notória a inspiração de Dario
Fo no popular, para chegar ao erudito, mantendo a crítica, sempre no tom
satírico, político e mordaz, sem perder a poesia e a esperança em dias
melhores.”. Isso é a mais pura verdade:
para escrever uma obra de arte, com o objetivo de ser encenada, DARIO tem o hábito de beber na fonte
dos personagens populares, para, através deles e de suas necessidades, em todos
os planos, criticar o “status quo”, os governos, os regimes políticos e a
sociedade, principalmente aqueles que exploram os menos favorecidos.
O texto, muito bem traduzido,
por JOSÉ ALMINO, como característica
marcante do dramaturgo, é constituído de diálogos vivos, ágeis, com falas
curtas, porém bastante contundentes. Ótimas
são as adaptações feitas pelo tradutor para a realidade brasileira, o que aproxima,
em muito, o público das intenções do autor.
Bastante interessantes essas intervenções, ao original, o que não o
descaracteriza, de forma alguma; pelo contrário, valoriza-o.
Pode-se, sem medo de cometer
um erro, dizer que o texto é atemporal, uma vez que, embora tenha sido escrito
há quatro décadas, retrata o que ainda ocorre, no Brasil e no mundo, e, ao que tudo
indica, continuará a acontecer, a julgar pelos ridículos desdobramentos das
manifestações populares, há um ano em meio, em todo o Brasil. Isso faz dele um
texto contemporâneo.
Marcelo Valle e Zéu Britto.
Fabrício, Marcelo e Zéu
Brito.
Não seria errado dizer que FO se apresenta como um “subversivo”,
levando-se em conta a semântica do vocábulo (aquele que é responsável por subverter
uma ordem estabelecida), uma vez que o autor não se limita a apresentar os problemas,
a denunciar o que está fora da ordem, mas também, e principalmente, neste
texto, deixa bem claro (e esta é a grande mensagem da peça), que não é cruzando
os braços, abaixando a cabeça, assumindo o papel do pobre e coitado
“carneirinho”, que poderemos atingir nossas tão desejadas conquistas e nos
fazer respeitar como cidadãos. DARIO, num excelente subtexto, convoca
a plateia à luta; não armada, física, violenta, mas a uma luta através de
palavras e ações, capazes de desmascarar e enfraquecer os dominadores,
levando-os a pagar por seus erros.
Nada mais é necessário
acrescentar ao que foi dito sobre o texto e sua tradução, ambos
excelentes. Passemos, então, à análise
dos outros componentes da ficha técnica:
A direção, mais uma vez, pra lá de competente, é de INEZ VIANA, uma das minhas preferências
na área, além de, também, ser ótima atriz.
INEZ deu o toque de
brasilidade na condução do seu trabalho e extraiu, na dose certa, de cada ator,
o que há de humor e de seriedade na trama.
Quanto ao elenco, todos
potencializam, ao máximo, seus talentos individuais, jogando no mesmo time e
com o mesmo objetivo: golear. E o placar
é bem elástico, quando termina a partida.
Virgínia, Zéu e Marcelo.
Luana e Virgínia.
VIRGÍNIA CAVENDISH (ANTÔNIA), não muito frequente nos palcos
cariocas, mas sempre bem-vinda, interpreta a personagem que não tem certeza de
suas convicções, por temer a reação do marido, tão “certinho” e “politicamente
correto”, mas sabe exercer o seu poder persuasivo, quase “sedutor”, para
angariar a cumplicidade da amiga MARGARIDA. Por vezes, em cena, tem uma postura de atriz
de cinema. Refiro-me à maneira de dizer
o texto e à agilidade como anda pelo palco, como nos filmes em que a vi atuando,
área na qual ela circula com maior frequência.
Isso é um detalhe interessante, diferenciador e agregador ao espetáculo.
MARCELO VALLE (JOÃO, marido de ANTÔNIA), é um ótimo ator e, neste
ano, é o quarto espetáculo de que faz parte (um deles na Inglaterra), com boa
atuação em todos eles. Em comédias, como
esta, MARCELO costuma explorar
pequenas falas, quase se sobrepondo às de outros personagens, como uma espécie
de “cacos” (mas não o são; são uma
espécie de muxoxos), sem, entretanto, atrapalhar o colega ou
ofuscá-lo. Funciona muito bem esse
recurso, passando, ao espectador, a percepção de total envolvimento do
personagem na cena. Surpreende a plateia,
a partir do momento em que abre mão de seus valores éticos, em função de “certas
contingências justificáveis”. Sou um
grande admirador do seu trabalho.
LUANA MARTAU, em sua carreira relativamente curta, apresenta, a
cada nova peça, uma evolução, seja num texto dramático ou numa comédia, como
esta, gênero em que ela se sai muito bem, amparada pelo seu timbre de voz,
único e inconfundível. Uma boa atuação
como MARGARIDA.
Luana, Virgínia e Zéu.
Com relação a FABRÍCIO BELZOLFF, sou meio suspeito
para analisar o seu trabalho, uma vez que esse ator faz parte da minha lista de
“top 10” de sua geração. Acompanho seus passos desde o início de
carreira, muitos dos espetáculos feitos com Os Fodidos Privilegiados.
Desde a primeira vez em que o vi atuando, percebi que, ali, estava
nascendo um grande ator. Jovem, ainda
tem muito mais a aprender e a mostrar, além das excelentes atuações que já tive
a oportunidade de ver, e é outro que cresce profissionalmente, a cada trabalho. Nesta peça, o seu personagem parece, de
início, um coadjuvante na trama, uma “escada” para outros, entretanto, graças
ao texto de FO e ao talento do ator,
vai ganhando uma dimensão de protagonista.
Aliás, neste espetáculo, torna-se, no mínimo, complicado falar em
“protagonistas”.
Para ZÉU BRITO, reservo o final destes comentários sobre o elenco. Mas não é por questão de ordem alfabética,
como já devem ter notado, mas, sim, porque gostaria de realçar o seu trabalho,
como em outros em que já atuou, porque ZÉU
é um ator diferenciado. Sua compleição
física e as máscaras que ele consegue fazer com o rosto dão a ele um destaque ímpar,
sem falar na sua voz. No que se refere à
parte física, me faz lembra certos atores cômicos, como os saudosos Costinha e Ronald Golias, os quais, sem qualquer texto, já despertavam
gargalhadas quando entravam em cena; bastava olhar-lhes o rosto e o riso já
brotava. A ideia da direção de colocá-lo
fazendo dois personagens, ambos policiais, cuja diferença se faz, praticamente,
pela adição de um bigode postiço, daqueles bem artificiais, que se usam no
carnaval, é um grande achado. Não há
quase nenhuma diferença na interpretação dos dois personagens distintos, o que
parece ser proposital, e isso é um detalhe que agrada bastante ao público. Só ZÉU
BRITO para interpretar um policial comunista, além de outro e de um senhor
de idade, em cuja casa fora escondida parte do produto do saque.
O policial “farejando” o produto do saque.
Mãos ao alto! Pegos
em flagrante!
Além de cuidar da produção executiva e da direção de produção, dividindo esta com
VIRGÍNIA CAVENDISH, a idealizadora do projeto, a atriz TATIANNA TRINXET é a eventual
substituta de LUANA MARTAU.
Como
há muita movimentação em cena e o palco do Teatro
II do CCBB não é dos maiores, o cenário
teria de ser bem funcional, para atender às necessidades do texto, o que foi
muito bem resolvido por OMAR SALOMÃO. Já que a questão dos salários dos operários
faz parte do enredo e o que se questiona é o aumento abusivo dos produtos no
supermercado, o que atinge a todos, mas, principalmente, ao proletariado, e
como a cidade do Rio de Janeiro virou um grande canteiro de obras, o cenógrafo
cercou, com tapumes de obras, todo o perímetro do palco, à exceção, obviamente,
da quarta parede, colocando baldes vermelhos, com lâmpadas dentro, pendurados
em cada um dos tapumes, criando um belo efeito plástico. Restaram, para identificar a residência modesta
do casal JOÃO / ANTÔNIA, apenas
alguns móveis bem simples e rústicos, ficando o palco bem livre, para a
necessidade de trânsito do elenco.
Os
figurinos, de JULI VIDELA, são simples e interessantes, como deveriam mesmo ser,
servindo a cada personagem, de acordo com os requisitos e as rubricas do texto.
A
iluminação, do sempre competente RENATO MACHADO valoriza o espetáculo.
Ainda
que não apareça tanto nesta montagem, a direção
musical, de RICCO VIANA, também
é boa, como tem sido em seus últimos trabalhos nesse setor, principalmente
quando atua na Armazém Companhia de
Teatro.
A
assistência de produção é de
responsabilidade de BRUNO FAGOTTI,
que sabe dar conta de sua função.
Batendo
na mesma tecla de que é mais difícil fazer rir que chorar, se conseguimos rir
numa comédia – e isso eu fiz, do início ao fim do espetáculo -, é porque valeu
a pena ter ido ao teatro. Neste caso, vale
muito, já que esta peça é uma das melhores da atual programação teatral do Rio
de Janeiro.
Marcelo, Luana (deitada, “grávida”) e Virgínia.
Luana, Zéu e Virgínia.
Assistam à peça e
PAGUEM!!!
É BEM BARATINHO,
E VALE, O PREÇO QUE SE PAGA!!!
Fim da farsa.
O policial “engravidou”.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Virginia Cavendish
Autoria: Dario Fo
Tradução: José Almino
Direção: Inez Viana
Elenco: Luana Martau (Margarida), Fabrício Belzoff (Luis), Marcelo Valle (João), Virginia Cavendish (Antônia), Zéu Britto (capitão, sargento e pai) e Tatianna Trinxet (substituta de Luana Martau)
Iluminação: Renato Machado
Direção musical: Ricco Vianna
Figurino: Juli Videla
Cenário: Omar Salomão
Cenotecnia: André Salles
Produção técnica e operação de som e luz: Kadu Moratori
Camarim e contrarregragem: Cedeli Martinusso
Design gráfico e fotos de divulgação: Omar Salomão
Assistência de direção: Luis Antonio Fortes
Assistência de produção: Bruno Fagotti
Produção executiva: Constelar
Direção de produção: Tatianna Trinxet e Virginia Cavendish
Autoria: Dario Fo
Tradução: José Almino
Direção: Inez Viana
Elenco: Luana Martau (Margarida), Fabrício Belzoff (Luis), Marcelo Valle (João), Virginia Cavendish (Antônia), Zéu Britto (capitão, sargento e pai) e Tatianna Trinxet (substituta de Luana Martau)
Iluminação: Renato Machado
Direção musical: Ricco Vianna
Figurino: Juli Videla
Cenário: Omar Salomão
Cenotecnia: André Salles
Produção técnica e operação de som e luz: Kadu Moratori
Camarim e contrarregragem: Cedeli Martinusso
Design gráfico e fotos de divulgação: Omar Salomão
Assistência de direção: Luis Antonio Fortes
Assistência de produção: Bruno Fagotti
Produção executiva: Constelar
Direção de produção: Tatianna Trinxet e Virginia Cavendish
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias Comunicação Integrada – Carlos
Gilberto e Fábio Amaral
Realização: Casa Forte Produções
Ih! Deu “M”!!!
SERVIÇO:
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) - Teatro II – Rua Primeiro de
Março, 66, Centro – RJ
Temporada: Até 30 de Novembro de 2014
Horários: de quinta-feira a segunda-feira, às 19h30min
Duração: 100 minutos
Classificação etária: 12 anos
Gênero: Comédia
Valores: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia entrada)
Temporada: Até 30 de Novembro de 2014
Horários: de quinta-feira a segunda-feira, às 19h30min
Duração: 100 minutos
Classificação etária: 12 anos
Gênero: Comédia
Valores: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia entrada)
Pega, que
ninguém viu!
Aplausos! BRAVO!
(FOTOS: OMAR SALOMÃO)
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