segunda-feira, 10 de outubro de 2022

 “PLUFT, O FANTASMINHA”

ou

(O FANTASMINHA “CAMARADA” DO OUTRO LADO DO MUNDO.)

OU

(NADA É TÃO BOM QUE NÃO POSSA MELHORAR.)




      “PLUFT, O FANTASMINHA” talvez seja o texto do TEATRO INFANTIL genuinamente nacional que tenha sido mais montado, no Brasil. Perdi a conta de a quantas encenações dessa peça eu já assisti, profissionais e amadoras, tendo eu mesmo assinado uma direção, há muitos anos, num curso em que dava aulas de interpretação. Torna-se, assim, uma responsabilidade muito grande, para uma Companhia de TEATRO, escolhê-lo, para mais uma nova montagem. Mas isso não parece ser problema, quando se trata da “CIA PEQUOD”, que resolveu levar para o palco mais uma produção desta peça, considerada, por pessoas do universo teatral e pelos que amam o TEATRO, e até por sua própria autora, a obra máxima de uma grande mulher do TEATRO, que sempre respirou TEATRO, até o fim de sua vida neste plano, aos 80 anos, em 2001: MARIA CLARA MACHADO.




       Sinceramente, conhecendo a obra completa da “CLARINHA” e sendo grande admirador dela, sinto uma grande dificuldade em colocar, no alto de um pódio, apenas uma de suas 30 peças infantis e infantojuvenis, sem falar nas destinadas ao público adulto, entretanto, no meio de, pelo menos uma meia dúzia, “PLUFT, O FANTASMINHA” estaria.



      Com relação à “CIA PEQUOD”, uma CIA carioca, cujo trabalho e trajetória acompanho há muitos anos, desde sua fundação, há 22, a cada nova produção, sempre digo a mim mesmo, e já deixei escapar a outras pessoas, que, ali, com um determinado espetáculo, eles haviam se superado e atingido o ponto mais alto de excelência, incapazes de realizar algo melhor.




        E nunca aprendia a lição. Toda vez que era anunciada uma nova peça da “PEQUOD”, eu ficava muito feliz, torcendo para que chegasse o dia da estreia, pois tinha a certeza de que assistiria a um grande espetáculo. Terminada a sessão – a primeira que contara com a minha presença, porque, normalmente, assisto às suas montagens, pelo menos, mais uma vez –, eu, profundamente feliz e me sentindo recompensado, além de agradecido a todos os envolvidos no projeto, dizia a mim mesmo: “Quebrei a cara; de novo!!!”. Finalmente, porém, afirmo que aprendi, agora, a lição e nunca mais pensarei dessa maneira.



      Quando assisti à montagem mais recente, anterior a esta, da “CIA”, no CCBB do Rio de Janeiro, “Pinóquio”, que também esteve em cartaz em São Paulo, um espetáculo que “corre em dois trilhos”, um observado pelo público infantojuvenil, e outro, pelos adultos (Há, até mesmo, quem afirme que tal montagem é apenas voltada aos adultos, com o que não concordo plenamente.), mais uma vez, diante de uma OBRA-PRIMA, pensei que algo igual a “Pinóquio” a “PEQUOD” conseguiria fazer; melhor nunca.



     

       Não sei se é pelo fato de “Pinóquio” ainda estar muito presente, vivo, na minha memória e no meu coração, por ser uma montagem muito recente, fico na dúvida quando me questiono se “PLUFT, O FANTASMINHA” “ganha” do boneco de madeira que se tornou “gente de verdade”. Ao mesmo tempo, acho essa dúvida algo excelente; quem GANHA, na verdade, é o público. Que dúvida boa, para mexer com a gente! Que ótima autoprovocação!!!




        Tão logo terminou a sessão de “PLUFT...”, à qual assisti no dia 22 de setembro passado (Só estou escrevendo agora, por total falta de tempo.), no Teatro do SESI-SP, localizado no Centro Cultural FIESP, voltei a reforçar o pensamento de que não deveria, mesmo, continuar com aquela “ladainha” do “Eles não vão conseguir fazer mais nada melhor que isto.”, porque tenho a certeza de que, na próxima, deixarei o Teatro “nas nuvens”, como sempre ocorre pós-TEATRO com a “PEQUOD”. Estava eu lá, totalmente encantado, na primeira fila, cercado por mais de quatro centenas de crianças muito pequenas e pré-adolescentes, acompanhadas de seus professores, ocupando os 456 lugares daquele agradabilíssimo espaço, na Avenida Paulista. Não sei se o encantamento atingia mais a mim ou a elas. Acho a nós todos. Sinceramente, agora (Esta crítica começou a ser escrita, a mão, no quarto do hotel em que eu estava hospedado, na manhã seguinte ao dia em que assisti à peça.), a adrenalina sob controle, acho que ambas, “Pinóquio” e “PLUFT, O FANTASMINHA”, são duas OBRAS-PRIMAS, bem diferentes, uma da outra, e iguais em tudo o que há de melhor numa montagem teatral, mormente voltada para os pequenos. Mas o que interessa agora é o “PLUFT...”, visto que já escrevi sobre “Pinóquio” (Procurem no blogue - dezembro de 2021.), e é sobre aquele que continuarei escrevendo.

 

 




SINOPSE:

Inspirada pela estética dos animes e mangás, a “CIA PEQUOD” celebra os 100 anos de Maria Clara Machado, uma das maiores autoras brasileiras do TEATRO PARA CRIANÇAS.

A “PEQUOD” encena a obra mais famosa da dramaturga, “PLUFT, O FANTASMINHA”.

O célebre personagem, que morre de medo de gente, viverá uma grande aventura, ao encontrar a menina MARIBEL, sequestrada pelo temido pirata CARA DE MAU, que tinha a intenção de se apoderar de um tesouro que pertencia ao avô da menina.

Enquanto PLUFT tem medo de gente, a menina MARIBEL tem horror a fantasmas.

Inesperadamente, o fantasma e o ser humano criam, entre si, um forte elo de amizade, para combater o mal e resguardar o bem.

Esse encontro inusitado dá, ao protagonista, o impulso e a coragem para crescer e enfrentar o mundo.

 




O texto foi escrito e encenado, pela primeira vez, em 1955, no “Teatro O Tablado”, dirigido pela autora, fundadora daquele espaço, hoje, administrado por sua sobrinha, Cacá Mourthé, que preserva o trabalho e a memória da ilustre e querida tia.



        Um dos detalhes mais interessantes e lindos do espetáculo, e seu um grande diferencial, com relação a todas as montagens da peça a que assisti, se concentra no fato de o diretor, MIGUEL VELLINHO, ter acrescentado, à sua leitura de “PLUFT...”, um toque oriental, uma liberdade do artista encenador, visto que, no original, não já um lugar específico onde se passa a ação. Li, em várias fontes, incluindo o "release" que me foi enviado, que essa decisão do diretor teria surgido a partir do momento em que estava claro que a estreia seria na capital paulista, onde habita uma numerosa colônia oriental, principalmente de japoneses. Nesta encenação, não há nada, em nenhum momento, com um texto verbal, que faça tal indicação, contudo, pela cenografia, figurinos e outros detalhes, fica bem claro que a aventura acontece no Japão. “PLUFT...” do outro lado da Terra, QUE É REDONDA. E NÃO SE FALA MAIS NISSO!!!



       

        O primeiro sinal de que entraremos em contato, durante cerca de 45 minutos, com a cultura japonesa pode ser percebido, tão logo o espectador se acomoda, em sua poltrona, e olha para o palco, onde verá um cenário deslumbrante, um dos mais lindos, criados pelo talento de DORIS ROLLEMBERG, o qual nos transporta a um jardim japonês, com direito a um grande bonsai, de uma cerejeira em flor, árvore símbolo daquele país, colocado quase no proscênio, iluminado, propositalmente, para aguçar a curiosidade da plateia. Os que têm alguma familiaridade com a cultura nipônica notarão, também, nesse fascinante cenário, um traço de inspiração oriental, representado por uma janela, que indica o sótão da casa onde a ação acontece, dividindo o interior do exterior, pintado na tela de fundo. Afirmo reconhecer, nesta obra de DORIS, um de seus mais belos e bem acabados trabalhos de cenografia.


Foto: Gilberto Bartholo.


Foto: Gilberto Bartholo.


         A proposta de fazer com que “PLUFT...” atinja o outro lado do mundo está presente em referências de mangás (histórias em quadrinhos desenhadas no “estilo japonês”) e animes (versões animadas, para a televisão e o cinema, dos mangás.) infantis, como A princesa Mononoke”, “Ponyo” e “Meu amigo Tororo”. A marca do Oriente também se faz presente nos belos figurinos, desenhados por KIKA DE MEDINA. Destaco uma original e criativa ideia de os atores usarem uma miniatura de um típico leque japonês, aberto, preso à testa, que “oculta” a pessoa, deixando, porém, a boca livre, para que o som se propague sem qualquer prejuízo e para que o público possa ver os lábios em movimento. Achei lindo esse detalhe nos figurinos.



Também os bonecos, criações de MARIA CRISTINA PAIVA e MATHILDE PLISSON, usam trajes de inspiração oriental. Esses bonecos, verdadeiras obras de arte, são, habilmente, manipulados por gente que sabe tudo dessa ARTE, tão difícil, ou mais, para os atores, quanto representar sem eles. Todos têm uma sólida formação nesse ofício, e o resultado não poderia ser melhor, incluindo aí as variadas vozes que cada um encontrou para os seus manuseados. Todos o fazem com total requinte de perefeição, porém, aqui, com respeito às vozes de todos, registro um destaque para CAIO PASSOS.





 Quem foi que disse que TEATRO envolvendo manipulação de bonecos não combina com a alta tecnologia? MIGUEL VELLINHO apostou, e deu muito certo, na utilização da moderna tecnologia, que utiliza recursos especiais de iluminação, via Wi-Fi, assinada por RENATO MACHADO e MAURÍCIO FUZIYAMA. O que essa dupla de artistas de criação bolou, em termos de efeitos especiais, para esta nova roupagem de um texto de 67 anos, é de nos emocionar ao extremo, porque cada cena foi, milimetricamente, pensada, em termos de luz, para que a ambientação ficasse, além de linda, muito expressiva, realçando e valorizando os mínimos detalhes da cenografia. Um trabalho merecedor de prêmios: ambos: cenografia e iluminação.




 A dramaturgia e a adaptação do texto é um trabalho coletivo, da “CIA PEQUOD – TEATRO DE ANIMAÇÃO”, e não poderia ter sido melhor, para ganhar a brilhante direção de MIGUEL VELLINHO. Ele só fez aprimorar o que estava no papel, acarretando uma encenação extremamente dinâmica e agradabilíssima aos nossos olhos e ouvidos. O toque de modernidade aparece constantemente, até mesmo num detalhe, da perseguição do malvado pirata a MARIBEL, quando os dois bonecos cruzam o fundo do palco pendurados numa tirolesa. Houve algumas mudanças nas personalidades e nomes de alguns personagens. A mãe de PLUFT, uma mulher “recatada e do lar”, típica representante da dona de casa do século passado, reaparece de forma renovada e atualizada aos tempos de agora”. O personagem PIRATA PERNA DE PAU teve seu nome trocado para CARA DE MAU”.




Miguel Vellinho.

(Foto: autoria desconhecida.)


 Um detalhe que pode passar despercebido à grande maioria dos espectadores é que os fantasmas, diáfanos, como não poderia deixar de ser (QUE OBRA DE ARTE!!!), iluminados por dentro, um trabalho de MAURÍCIO FUZIYAMA, fazem voos incríveis, num “balé aéreo”, e têm a cor que os ilumina variando, de acordo com seus estados de ânimo e sentimentos, como medo, raiva e vergonha.







  Valorizo, extremamente, o trabalho de atores manipuladores de bonecos, porque exige cuidados especiais, no seu manuseio e controle, propriamente ditos, além de um profundo trabalho de interpretação, que envolve expressar a emoção dos “personagens-objetos”, sem utilizar seu próprio corpo e voz, além de uma atenção e concentração muito aguçadas. Qualquer deslize pode pôr a perder uma boa cena. Destarte, aplaudo, de pé e com a maior potência, o trabalho de todo o elenco - CAIO PASSOS, LILIANE XAVIER, MÁRCIO NASCIMENTO, MARIANA FAUSTO, MARISE NOGUEIRA e RAQUEL BOTAFOGO -, que têm seus personagens fixos, mas também fazem outros e ajudam nas manipulações, quando seus personagens não fazem parte da cena, sem destacar ninguém, uma vez que é por meio do coletivo que se chega a uma OBRA-PRIMA, como é esta montagem, que conta com uma FICHA TÉCNICA extensa, na qual todos os envolvidos no projeto são importantes e merecem a minha reverência. E, embora já tenha expressado a minha avaliação acerca do trabalho dos atores e atrizes do elenco, não poderia deixar de acrescentar, reforçando a opinião de que existe um total nivelamento, em termos de interpretação, que o sexteto me surpreende, a cada montagem da "CIA", pelo talento, dedicação e amor ao que fazem.   

 


 




FICHA TÉCNICA: 

Texto Original: Maria Clara Machado

Dramaturgia e Adaptação: Cia PeQuod – Teatro de Animação

Direção: Miguel Vellinho

 

Elenco (por ordem alfabética): Caio Passos, Liliane Xavier, Márcio Nascimento, Mariana Fausto, Marise Nogueira e Raquel Botafogo

 

Cenografia: Doris Rollemberg

Figurinos: Kika de Medina

Iluminação: Renato Machado e Maurício Fuziyama

Trilha Sonora Original e Produção Musical: Maurício Durão 

Criação e Escultura dos Bonecos: Maria Cristina Paiva e Mathilde Plisson

Equipe de Confecção de Bonecos e Adereços: Arlete Rua, Diego Diener, Diirr, Eduardo Andrade, Fampa Artes, Gustavo Kaz, Miguel Vellinho, Rogerinho Assis e Thaisa Violante

Adereços Cênicos: Eduardo Andrade - Arte 5

Adereços de Figurino: Arlete Rua 

Iluminação dos Bonecos: Maurício Fuziyama 

Operador de Luz: Felipe Miranda

Operadores de Som: Edson Rubens Soldi e Alessandro Aoyama

Sonorização: Alessandro Aoyama

Cenotécnicos: Anderson Batista Dias Veiga e Djavan Costa

Equipe de Montagem de Luz: Felipe Miranda, Larissa Kalusinski e Maurício Fuziyama

Costureira Cenário: Nice Tramontin

Costureiras Bonecos: Maria Amélia da Silva e Maria do Carmo

Assistente de Adereços Cênicos: Marcely Soares 

Assistente de Produção: Gustavo Kaz

Programação Visual: Roberta de Freitas

Fotos: Renato Mangolin

Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Daniele Valério, Márcia Marques e Rafaella Martinez  

Assessoria de Mídias Digitais: Rafael Teixeira

Produção Local: Augusto Vieira

Produção Executiva: Thiago Guimarães

Direção de Produção: Liliane Xavier

Coordenação Geral: Lilian Bertin e Thiago Guimarães 

Idealização: Cia PeQuod - Teatro de Animação

Realização: SESI São Paulo

 

 

 

 

 


SERVIÇO:

Temporada: De 26 de agosto a 04 de dezembro de 2022.

Local: Teatro do Sesi - SP – Centro Cultural FIESP.

Endereço: Avenida Paulista, nº 1313 (Metrô Trianon-Masp).  

Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 11h; sábados e domingos, às 15h. 

Valor dos Ingressos: GRÁTIS - A reserva gratuita de ingressos pode ser feita pelo site www.sesisp.org.br/eventos

OBSERVAÇÃO: As sessões das 5ªs e 6ªs feiras são direcionadas aos grupos e escolas. O agendamento pode ser feito pelo e-mail: ccfagendamentos@sesisp.org.br

Duração: 45 minutos.

Classificação Indicativa: Livre.

Mais informações: http://www.centroculturalfiesp.com.br.

Gênero: TEATRO Infantil, de BONECOS.

 

 




 

Desde sua fundação, a “CIA PEQUOD – TEATRO DE ANIMAÇÃO” trabalha no sentido de aprofundar experiências que “deságuam” numa cena de renovação para o TEATRO DE ANIMAÇÃO e que tem refletido uma aproximação entre o cinema, a “performance”, a dança e a cultura pop contemporânea, todos esses elementos presentes na encenação aqui analisada. E, não posso deixar de dizer, essa “renovação” fica mais robusta e acentuada a cada nova montagem da “CIA”.





É importante enxergar as entrelinhas de um texto teatral e não ficar na superfície, presos, apenas, à história. Um olhar mais atento ao texto de “PLUFT, O FANTASMINHA” nos faz concluir que a peça, ao desenvolver a cumplicidade entre o fantasma com um humano, promove o encontro com o outro, com o diferente, com a aventura maior de todo ser humano que precisa crescer e enfrentar o mundo”.








  A minha RECOMENDAÇÃO DO ESPETÁCULO está implícita, em tudo o que escrevi, acima, sobre ele. É, realmente, um “trabalho de filigranas”, imperdível!!!


 


 

FOTOS: RENATO MANGOLIM

 

GALERIA PARTICULAR:

 

 Com o elenco da peça.

 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

 

 

 

 

 





















































































Nenhum comentário:

Postar um comentário