“BOM DIA SEM COMPANHIA”
ou
(QUANTO MENOS PRETENSIOSO, MELHOR.)
ou
(A FÓRMULA PARA SE FAZER UM BOM TEATRO COM POUCO DINHEIRO.)
Um texto leve e “saboroso”, com mensagens
sérias e importantes, nas entrelinhas; um elenco homogêneo, liderado por
um casal de jovens protagonistas; um diretor/coreógrafo muito
competente e criativo, um cenário simples, que funciona a contento; bons
figurinos; uma luz bonita; uma trilha sonora original excelente,
uma corretíssima direção musical e... Pronto! Está montado um delicioso
musical, com direito a indicações a prêmios. Está erguido um excelente
musical, repito, com a duração de apenas uma hora, que nem um minuto
a mais seria necessário, para divertir e alegrar tanto uma plateia.
Seria essa a fórmula do sucesso, ainda que possam existir outras? Acho que sim.
Com parcos recursos financeiros, sem nenhum
patrocínio, porém repleto de muito trabalho, talento e amor ao
TEATRO, tivemos, no Teatro VIVO, em São Paulo,
uma montagem teatral, em horário alternativo, que, infelizmente, já
saiu de cartaz, no dia 29 de setembro passado, mas que merecia
uma temporada bem mais longa e em horário nobre. Os envolvidos no projeto
estão empenhados numa nova temporada, inclusive no Rio de Janeiro
(Que os DEUSES DO TEATRO digam AMÉM!!!), para o que estou
tentando abrir alguma porta.
E por que escrever sobre um espetáculo que já não está
mais em cartaz? E por que o empenho, para que eles consigam uma nova
temporada no Rio de Janeiro? Resposta à primeira pergunta: Porque não é a
primeira vez que faço isso, e continuarei fazendo, sempre que me der vontade,
quando uma peça teatral merece uma boa crítica (Só escrevo
nessa condição.), e porque prometi a eles que iria fazê-lo, e promessa
é dívida. Resposta à segunda pergunta: Quando travo contato com alguma obra
de ARTE, em qualquer linguagem ou mídia, que me agrada muito, não consigo “domar”
o meu desejo de divulgá-la e querer que todas as pessoas que me são caras
também a conheçam. Gosto de repartir com quem amo os prazeres e as alegrias
que a vida me reserva.
Mesmo com uma temporada curta e em horário
alternativo – quarta e quinta-feira -, o espetáculo foi grande
sucesso de público e crítica, depois de uma outra anterior, tendo
recebido indicações a prêmios, incluindo as mais recentes edições
do “Prêmio Bibi Ferreira”, nas categorias de “Melhor
Musical Brasileiro” e “Melhor Letra e Música Original” e “Prêmio
Cenym”, nas categorias “Melhores Efeitos Sonoros ou Trilha
Fragmentada”, “Melhor Musical” e “Melhor Texto
Original”. Assim, eu não poderia, de forma alguma, deixar de dedicar
uma crítica a este trabalho, que me agradou tanto, fruto, em primeiro
lugar, da genialidade de um jovem ator e autor, VITOR ROCHA,
o “pai da criança”, que, além de atuar, no espetáculo,
foi seu idealizador e autor do texto e das letras das canções.
Mas podemos dizer que a peça também tem uma “mãe”, LUIZA
PORTO, que divide, no palco, o protagonismo com VITOR, assim
como a parceria dos dois se estende à produção do musical. Além das
indicações, o espetáculo já recebeu prêmio, na categoria “Destaque
de Roteiro Original” e foi indicado a “Destaque Musical
Brasileiro” no “Prêmio Destaque Imprensa Digital”.
“BOM DIA SEM COMPANHIA”, um título, digamos, um
tanto “estranho”, que me chamou a atenção, é uma comédia
musical, “de bolso” (Pesquisem o significado da
expressão.), com um formato inédito, criado durante o momento mais
crítico da pandemia de COVID-19, também pensada para uma versão
cinematográfica, por um jovem, às vésperas dos 25 anos, VITOR
ROCHA, eleito, em 2019, pela revista “Forbes”,
como “um dos 90 jovens mais bem-sucedidos no país”. Além de ator
e dramaturgo, VITOR também é diretor, escritor e roteirista,
vencedor de um “Prêmio Bibi Ferreira”, na categoria “Revelação”,
o primeiro a “inaugurá-la”, pelo musical “Cargas
D’Água – Um Musical de Bolso”, ao lado de Ana Paula Villar.
Esse musical, traduzido para o inglês, sob o tírulo “Out of
Water – A Brazilian Pocket Musical”, ganhou montagens em Londres
e Nova Iorque. É preciso dizer mais alguma coisa, para justificar
a minha empolgação, com relação a “BOM DIA SEM COMPANHIA”, e a minha
admiração pelo talento, pelo pensamento empreendedor e pela coragem de
VITOR, bem como seu amor incondicional ao TEATRO, principalmente
pelos musicais?
O
espetáculo problematiza o incentivo que as crianças recebem para que
se tornem criadoras de conteúdo, além de temas como ansiedade, solidão
e síndrome do impostor. Creio que nem precisaria dizer quão atual e
necessário é o conteúdo da peça.
SINOPSE:
O musical conta a história de VINI
(VITOR ROCHA) e LARA (LUIZA PORTO), dois ex-apresentadores mirins,
da TV, que são convidados a reviver seu antigo programa, em um especial, que será transmitido ao vivo, dez anos depois do fim da atração que comandavam, o “Vini
e Lara Show”.
Entre memórias boas e ruins, alegrias e frustrações,
eles relembram os tempos em que eram amados pelo país inteiro e enfrentam as
marcas que o sucesso deixou na história de cada um e na amizade deles também.
Com criatividade e músicas originais, até mesmo uma sessão de terapia pode ser divertida, enquanto passeia por temas tão temidos e atuais, como a síndrome do impostor, ansiedade, insegurança e comparação.
Com esta peça, iniciei a minha mais recente estada/maratona em São
Paulo, com a finalidade de assistir aos espetáculos de TEATRO
que têm pouca, ou nenhuma, chance de vir para o Rio de Janeiro,
numa quarta-feira, dia 21 de setembro, e comecei “com o pé
direito”, aceitando a sugestão de um amigo, que mora na capital
paulista, já havia assistido ao musical e gostara muito dele, a ponto de
me acompanhar e assistir, novamente, à peça, como, de costume, também faço.
Via de regra, com raras exceções, nos dez primeiros
minutos de uma peça, já começo a achar se valeu a pena ter ido ao Teatro
ou se melhor seria se eu tivesse ocupado meu tempo com algo mais proveitoso.
Neste musical, nem precisei chegar aos dez minutos. Acho que, antes
dos cinco, eu já sabia que aquela noite seria muito agradável, especial e auspiciosa.
O texto é muito interessante, agradável de se ouvir,
com diálogos ágeis e escrito numa linguagem simples, sem nenhum
vestígio de erudição ou extremo coloquialismo, capaz de atingir tanto os mais
jovens quanto os de mais idade, como eu. A dramaturgia é muito bem “urdida”
e se desenvolve numa sucessão de cenas bastante coerentes e bem encadeadas. “O
convite para a gravação do tal especial para a TV leva-os a reviver memórias
boas e ruins, as alegrias e as frustrações, e faz com que eles levem esses
conflitos para suas sessões de terapia. A obra deixa evidente as marcas que o
sucesso do passado deixou em suas vidas e na amizade entre os dois”. (Retirado do "release", enviado pelo próprio VITOR ROCHA.) Os
assuntos abordados na peça são bastante atuais e discuti-los e refletir sobre
eles nunca está fora da pauta. Os destaques vão para a terapia e o alerta
sobre o incentivo a crianças gerarem conteúdo, principalmente por conta das
redes sociais. Outros temas, como ansiedade, solidão e síndrome
do impostor, grandes males dos nosso tempo, também são abordados na peça.
As letras das canções, do próprio VITOR,
realmente, fazem parte do corpo da peça e ajudam a desenvolver a
trama. Letras inteligentes e divertidas ganharam vida, em
forma de músicas, todas bem alegres e algumas meio “chiclete”,
graças às ótimas melodias a elas agregadas, por ELTON TOWERSEY,
um talentosíssimo multiartista: ator, autor, bailarino,
sapateador, compositor e instrumentista. O que não falta a
ELTON, desde há muito, quando o conheci, ainda na adolescência, é talento
para as ARTES. A combinação de VITOR e ELTON, o trabalho em
conjunto, já rendeu bons resultados, anteriormente, está dando agora e espero
que não venha a se desfazer, uma vez que, com ambos, tão talentosos, quem ganha
são os apreciadores de um bom TEATRO MUSICAL. Além de ter composto
as melodias das canções da peça, ELTON ainda é o responsável pela direção
musical e arranjos do espetáculo.
ALONSO BARROS é um poço, sem fundo, de talento,
mormente quando coreografa, mas também nos apresenta ótimos resultados, quando dirige um espetáculo teatral. Sua direção, em “BOM
DIA SEM COMPANHIA”, é muito criativa, jogando luz sobre os pontos mais
importantes do texto e focando seu trabalho na simplicidade, visando a
atingir gente de todas as idades, o que consegue facilmente. A peça é
carregada de bastante dinamismo, por conta das ótimas marcações
propostas pela direção de movimento e, também, graças às ótimas coreografias,
também assinadas por ALONSO, cujo ofício principal, pelo qual coleciona
prêmios, é a coreografia. Cronologicamente, o espetáculo
dura 60 minutos, porém o tempo psicológico, interior, não
medido por um relógio, parece que é de 10 ou 15, porque não
sentimos, não percebemos o passar do tempo, o movimento do ponteiro que marca os minutos, e, quando as cortinas se fecham,
ficamos com aquele desejo de “quero mais”, o que é um ótimo
sinal.
JULIANA PORTO se sai muito bem na assinatura da direção
de arte, concepção do cenário e criação dos figurinos. Muitas
cores e ótimas resoluções para os espaços em que se passam as ações, com a
utilização de poucos elementos cênicos e muita criatividade e bom gosto. Quanto
aos figurinos, a mesma profusão de cores e detalhes bem interessantes, em
cada peça vestida pelos atores.
O espetáculo nos faz lembrar, muito de longe, “Avenida
Q”, nada que tenha ligação com o conteúdo entre ambas, mas apenas por
conta da ótima utilização de bonecos, muito bem manipulados pelos atores
ANA BIA TOLEDO, LETÍCIA HELENA (SWING), LUCI OLIVEIRA,
MIKAEL MARMORATO, PAULO ALVES (SWING), RENAN REZENDE e THIAGO
VENTURI. Não posso deixar de ressaltar o nome de quem é responsável pela
criação e confecção desses bonecos, tão alegres e muito bem acabados: RENAN
LUCHON.
Tudo o que se vê, em cena, ganha destaques, graças ao
belo desenho de luz, sob a responsabilidade de MARINA GATTIN, que
abusa, no bom sentido da palavra, de uma paleta variada, muito colorida,
e uma quase constante intensidade de luzes.
Para
finalizar os comentários sobre os responsáveis pelos elementos de criação,
um elogio, também, ao trabalho de PAULO ALTAFI, que se ocupou em criar
um desenho de som que nos permite ouvir, com bastante clareza, tudo o
que é dito ou cantado, no palco.
A
“cereja deste bolo”, apesar de tantos outros elementos também excelentes,
corresponde, a meu juízo, ao ótimo e corretíssimo trabalho de todo o elenco,
mormente do par de protagonistas, VITOR ROCHA e LUIZA PORTO,
muito bem coadjuvados pelos demais colegas de elenco. Um e outra
interpretam, com muita alegria e demonstração de prazer, seus personagens,
o que nos passa a impressão que estão “brincando em cena”, o que não deixa de ser apenas uma sensação, apenas, uma vez que “a brincadeira é séria”.
É preciso bastante talento para interpretar, cantar e dançar, com tanta espontaneidade
e firmeza, além de graciosidade, como os dois se apresentam. A “rivalidade” que há
entre os personagens foi atingida, na representação, em
consequência do bom relacionamento entre ambos, como artistas, interpretes.
Não atribuo um destaque a um ou a outra, porque nivelo, igualmente, o
trabalho da dupla, “coloco-os dividindo o mesmo lugar, de primeiros
colocados, num pódio”. Que se multiplique a ótima cumplicidade cênica,
a “química” que há entre VITOR e LUIZA, em
trabalhos futuros! O público agradece.
FICHA TÉCNICA:
Idealização, Texto e Letras: Vitor Rocha
Músicas: Elton Towersey
Direção: Alonso Barros
Direção Musical e Arranjos: Elton Towersey
Elenco: Luiza Porto, Vitor Rocha, Ana Bia Toledo, Letícia Helena (swing), Luci Oliveira,
Mikael Marmorato, Paulo Alves (swing), Renan Rezende e Thiago Venturi
Participação Especial: Anna Beatriz Simões, Lorenzo Tarantelli,
Hugo Picchi e Marilice Cosenza
Direção de Movimento e Coreografia: Alonso Barros
Direção de Arte, Cenário e Figurinos: Juliana Porto
Confecção de Bonecos: Renan Luchon
Desenho de Luz: Marina Gatti
Desenho de Som: Paulo Altafim, através da AUDIO S.A.
Produção: Luiza Porto e Vitor Rocha
Assistência de Produção, Fotografia e Redes Sociais:
Victor Miranda
Operador de Som: AUDIO S.A.
Operador de Trilha: Gustavo Fló
Realização: Encanto Artístico e Enxame Produções
Culturais
Equipe Audiovisual: Vienna Filmes
Por motivos óbvios, deixo de registrar o SERVIÇO do espetáculo.
Que esta crítica sirva de incentivo a que outras
pessoas possam se divertir tanto quanto eu me diverti, naquela noite que marcou
o início da primavera – 21 de setembro de 2022 -, caso a peça volte ao cartaz,
mais uma vez, em qualquer praça do Brasil!
Não só recomendo o espetáculo, como
também gostaria de ter a oportunidade de revê-lo.
(Adquiri esta, para acrescentar à minha
coleção de canecas sobre TEATRO.)
FOTOS: VICTOR MIRANDA
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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