quinta-feira, 6 de outubro de 2022

  “BOM DIA SEM COMPANHIA”

ou

(QUANTO MENOS PRETENSIOSO, MELHOR.)

ou

(A FÓRMULA PARA SE FAZER UM BOM TEATRO COM POUCO DINHEIRO.)

 



 

     Um texto leve e “saboroso”, com mensagens sérias e importantes, nas entrelinhas; um elenco homogêneo, liderado por um casal de jovens protagonistas; um diretor/coreógrafo muito competente e criativo, um cenário simples, que funciona a contento; bons figurinos; uma luz bonita; uma trilha sonora original excelente, uma corretíssima direção musical e... Pronto! Está montado um delicioso musical, com direito a indicações a prêmios. Está erguido um excelente musical, repito, com a duração de apenas uma hora, que nem um minuto a mais seria necessário, para divertir e alegrar tanto uma plateia. Seria essa a fórmula do sucesso, ainda que possam existir outras? Acho que sim.



        Com parcos recursos financeiros, sem nenhum patrocínio, porém repleto de muito trabalho, talento e amor ao TEATRO, tivemos, no Teatro VIVO, em São Paulo, uma montagem teatral, em horário alternativo, que, infelizmente, já saiu de cartaz, no dia 29 de setembro passado, mas que merecia uma temporada bem mais longa e em horário nobre. Os envolvidos no projeto estão empenhados numa nova temporada, inclusive no Rio de Janeiro (Que os DEUSES DO TEATRO digam AMÉM!!!), para o que estou tentando abrir alguma porta.



        E por que escrever sobre um espetáculo que já não está mais em cartaz? E por que o empenho, para que eles consigam uma nova temporada no Rio de Janeiro? Resposta à primeira pergunta: Porque não é a primeira vez que faço isso, e continuarei fazendo, sempre que me der vontade, quando uma peça teatral merece uma boa crítica (Só escrevo nessa condição.), e porque prometi a eles que iria fazê-lo, e promessa é dívida. Resposta à segunda pergunta: Quando travo contato com alguma obra de ARTE, em qualquer linguagem ou mídia, que me agrada muito, não consigo “domar” o meu desejo de divulgá-la e querer que todas as pessoas que me são caras também a conheçam. Gosto de repartir com quem amo os prazeres e as alegrias que a vida me reserva.



        Mesmo com uma temporada curta e em horário alternativo – quarta e quinta-feira -, o espetáculo foi grande sucesso de público e crítica, depois de uma outra anterior, tendo recebido indicações a prêmios, incluindo as mais recentes edições do “Prêmio Bibi Ferreira”, nas categorias de “Melhor Musical Brasileiro” e “Melhor Letra e Música Original” e “Prêmio Cenym”, nas categorias “Melhores Efeitos Sonoros ou Trilha Fragmentada”, “Melhor Musical” e “Melhor Texto Original”. Assim, eu não poderia, de forma alguma, deixar de dedicar uma crítica a este trabalho, que me agradou tanto, fruto, em primeiro lugar, da genialidade de um jovem ator e autor, VITOR ROCHA, o “pai da criança”, que, além de atuar, no espetáculo, foi seu idealizador e autor do texto e das letras das canções. Mas podemos dizer que a peça também tem uma “mãe”, LUIZA PORTO, que divide, no palco, o protagonismo com VITOR, assim como a parceria dos dois se estende à produção do musical. Além das indicações, o espetáculo já recebeu prêmio, na categoria “Destaque de Roteiro Original” e foi indicado a “Destaque Musical Brasileiro” no “Prêmio Destaque Imprensa Digital”.





       “BOM DIA SEM COMPANHIA”, um título, digamos, um tanto “estranho”, que me chamou a atenção, é uma comédia musical, “de bolso” (Pesquisem o significado da expressão.), com um formato inédito, criado durante o momento mais crítico da pandemia de COVID-19, também pensada para uma versão cinematográfica, por um jovem, às vésperas dos 25 anos, VITOR ROCHA, eleito, em 2019, pela revista “Forbes”, como “um dos 90 jovens mais bem-sucedidos no país”. Além de ator e dramaturgo, VITOR também é diretor, escritor e roteirista, vencedor de um “Prêmio Bibi Ferreira”, na categoria “Revelação”, o primeiro a “inaugurá-la”, pelo musical “Cargas D’Água – Um Musical de Bolso”, ao lado de Ana Paula Villar. Esse musical, traduzido para o inglês, sob o tírulo “Out of Water – A Brazilian Pocket Musical”, ganhou montagens em Londres e Nova Iorque. É preciso dizer mais alguma coisa, para justificar a minha empolgação, com relação a “BOM DIA SEM COMPANHIA”, e a minha admiração pelo talento, pelo pensamento empreendedor e pela coragem de VITOR, bem como seu amor incondicional ao TEATRO, principalmente pelos musicais?





 O espetáculo problematiza o incentivo que as crianças recebem para que se tornem criadoras de conteúdo, além de temas como ansiedade, solidão e síndrome do impostor. Creio que nem precisaria dizer quão atual e necessário é o conteúdo da peça.

 


 

SINOPSE:

O musical conta a história de VINI (VITOR ROCHA) e LARA (LUIZA PORTO), dois ex-apresentadores mirins, da TV, que são convidados a reviver seu antigo programa, em um especial, que será transmitido ao vivo, dez anos depois do fim da atração que comandavam, o “Vini e Lara Show”.

Entre memórias boas e ruins, alegrias e frustrações, eles relembram os tempos em que eram amados pelo país inteiro e enfrentam as marcas que o sucesso deixou na história de cada um e na amizade deles também.

Com criatividade e músicas originais, até mesmo uma sessão de terapia pode ser divertida, enquanto passeia por temas tão temidos e atuais, como a síndrome do impostor, ansiedade, insegurança e comparação. 

 





       Com esta peça, iniciei a minha mais recente estada/maratona em São Paulo, com a finalidade de assistir aos espetáculos de TEATRO que têm pouca, ou nenhuma, chance de vir para o Rio de Janeiro, numa quarta-feira, dia 21 de setembro, e comecei “com o pé direito”, aceitando a sugestão de um amigo, que mora na capital paulista, já havia assistido ao musical e gostara muito dele, a ponto de me acompanhar e assistir, novamente, à peça, como, de costume, também faço.



        Via de regra, com raras exceções, nos dez primeiros minutos de uma peça, já começo a achar se valeu a pena ter ido ao Teatro ou se melhor seria se eu tivesse ocupado meu tempo com algo mais proveitoso. Neste musical, nem precisei chegar aos dez minutos. Acho que, antes dos cinco, eu já sabia que aquela noite seria muito agradável, especial e auspiciosa.



       O texto é muito interessante, agradável de se ouvir, com diálogos ágeis e escrito numa linguagem simples, sem nenhum vestígio de erudição ou extremo coloquialismo, capaz de atingir tanto os mais jovens quanto os de mais idade, como eu. A dramaturgia é muito bem “urdida” e se desenvolve numa sucessão de cenas bastante coerentes e bem encadeadas. “O convite para a gravação do tal especial para a TV leva-os a reviver memórias boas e ruins, as alegrias e as frustrações, e faz com que eles levem esses conflitos para suas sessões de terapia. A obra deixa evidente as marcas que o sucesso do passado deixou em suas vidas e na amizade entre os dois”. (Retirado do "release", enviado pelo próprio VITOR ROCHA.) Os assuntos abordados na peça são bastante atuais e discuti-los e refletir sobre eles nunca está fora da pauta. Os destaques vão para a terapia e o alerta sobre o incentivo a crianças gerarem conteúdo, principalmente por conta das redes sociais. Outros temas, como ansiedade, solidão e síndrome do impostor, grandes males dos nosso tempo, também são abordados na peça.



        As letras das canções, do próprio VITOR, realmente, fazem parte do corpo da peça e ajudam a desenvolver a trama. Letras inteligentes e divertidas ganharam vida, em forma de músicas, todas bem alegres e algumas meio “chiclete”, graças às ótimas melodias a elas agregadas, por ELTON TOWERSEY, um talentosíssimo multiartista: ator, autor, bailarino, sapateador, compositor e instrumentista. O que não falta a ELTON, desde há muito, quando o conheci, ainda na adolescência, é talento para as ARTES. A combinação de VITOR e ELTON, o trabalho em conjunto, já rendeu bons resultados, anteriormente, está dando agora e espero que não venha a se desfazer, uma vez que, com ambos, tão talentosos, quem ganha são os apreciadores de um bom TEATRO MUSICAL. Além de ter composto as melodias das canções da peça, ELTON ainda é o responsável pela direção musical e arranjos do espetáculo.



Foto: Autoria desconhecida.

     ALONSO BARROS é um poço, sem fundo, de talento, mormente quando coreografa, mas também nos apresenta ótimos resultados, quando dirige um espetáculo teatral. Sua direção, em “BOM DIA SEM COMPANHIA”, é muito criativa, jogando luz sobre os pontos mais importantes do texto e focando seu trabalho na simplicidade, visando a atingir gente de todas as idades, o que consegue facilmente. A peça é carregada de bastante dinamismo, por conta das ótimas marcações propostas pela direção de movimento e, também, graças às ótimas coreografias, também assinadas por ALONSO, cujo ofício principal, pelo qual coleciona prêmios, é a coreografia. Cronologicamente, o espetáculo dura 60 minutos, porém o tempo psicológico, interior, não medido por um relógio, parece que é de 10 ou 15, porque não sentimos, não percebemos o passar do tempo, o movimento do ponteiro que marca os minutos, e, quando as cortinas se fecham, ficamos com aquele desejo de “quero mais”, o que é um ótimo sinal.



Foto: Autoria desconhecida.

        JULIANA PORTO se sai muito bem na assinatura da direção de arte, concepção do cenário e criação dos figurinos. Muitas cores e ótimas resoluções para os espaços em que se passam as ações, com a utilização de poucos elementos cênicos e muita criatividade e bom gosto. Quanto aos figurinos, a mesma profusão de cores e detalhes bem interessantes, em cada peça vestida pelos atores.





       O espetáculo nos faz lembrar, muito de longe, “Avenida Q”, nada que tenha ligação com o conteúdo entre ambas, mas apenas por conta da ótima utilização de bonecos, muito bem manipulados pelos atores ANA BIA TOLEDO, LETÍCIA HELENA (SWING), LUCI OLIVEIRA, MIKAEL MARMORATO, PAULO ALVES (SWING), RENAN REZENDE e THIAGO VENTURI. Não posso deixar de ressaltar o nome de quem é responsável pela criação e confecção desses bonecos, tão alegres e muito bem acabados: RENAN LUCHON.





       Tudo o que se vê, em cena, ganha destaques, graças ao belo desenho de luz, sob a responsabilidade de MARINA GATTIN, que abusa, no bom sentido da palavra, de uma paleta variada, muito colorida, e uma quase constante intensidade de luzes.



 Para finalizar os comentários sobre os responsáveis pelos elementos de criação, um elogio, também, ao trabalho de PAULO ALTAFI, que se ocupou em criar um desenho de som que nos permite ouvir, com bastante clareza, tudo o que é dito ou cantado, no palco.



       A “cereja deste bolo”, apesar de tantos outros elementos também excelentes, corresponde, a meu juízo, ao ótimo e corretíssimo trabalho de todo o elenco, mormente do par de protagonistas, VITOR ROCHA e LUIZA PORTO, muito bem coadjuvados pelos demais colegas de elenco. Um e outra interpretam, com muita alegria e demonstração de prazer, seus personagens, o que nos passa a impressão que estão “brincando em cena”, o que não deixa de ser apenas uma sensação, apenas, uma vez que “a brincadeira é séria”. É preciso bastante talento para interpretar, cantar e dançar, com tanta espontaneidade e firmeza, além de graciosidade, como os dois se apresentam. A “rivalidade” que há entre os personagens foi atingida, na representação, em consequência do bom relacionamento entre ambos, como artistas, interpretes. Não atribuo um destaque a um ou a outra, porque nivelo, igualmente, o trabalho da dupla, “coloco-os dividindo o mesmo lugar, de primeiros colocados, num pódio”. Que se multiplique a ótima cumplicidade cênica, a “química” que há entre VITOR e LUIZA, em trabalhos futuros! O público agradece.





 


FICHA TÉCNICA:

 

Idealização, Texto e Letras: Vitor Rocha

Músicas: Elton Towersey

Direção: Alonso Barros

Direção Musical e Arranjos: Elton Towersey

 

Elenco: Luiza Porto, Vitor Rocha, Ana Bia Toledo, Letícia Helena (swing), Luci Oliveira, Mikael Marmorato, Paulo Alves (swing), Renan Rezende e Thiago Venturi

Participação Especial: Anna Beatriz Simões, Lorenzo Tarantelli, Hugo Picchi e Marilice Cosenza

 

Direção de Movimento e Coreografia: Alonso Barros

Direção de Arte, Cenário e Figurinos: Juliana Porto

Confecção de Bonecos: Renan Luchon

Desenho de Luz: Marina Gatti

Desenho de Som: Paulo Altafim, através da AUDIO S.A.

Produção: Luiza Porto e Vitor Rocha

Assistência de Produção, Fotografia e Redes Sociais: Victor Miranda

Operador de Som: AUDIO S.A.

Operador de Trilha: Gustavo Fló

Realização: Encanto Artístico e Enxame Produções Culturais

Equipe Audiovisual: Vienna Filmes

 



    Por motivos óbvios, deixo de registrar o SERVIÇO do espetáculo.



         Que esta crítica sirva de incentivo a que outras pessoas possam se divertir tanto quanto eu me diverti, naquela noite que marcou o início da primavera – 21 de setembro de 2022 -, caso a peça volte ao cartaz, mais uma vez, em qualquer praça do Brasil!



        Não só recomendo o espetáculo, como também gostaria de ter a oportunidade de revê-lo.

 

 

(Adquiri esta, para acrescentar à minha 

coleção de canecas sobre TEATRO.)




FOTOS: VICTOR MIRANDA

 

 

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