“DESERTORES”
ou
(UM BRECHT BEM
CONTEMPORÂNEO.)
Mais uma vez, estou escrevendo sobre um excelente
espetáculo teatral que não está mais em cartaz, no Rio de Janeiro.
Foi uma “temporada meteórica”, de apenas quatro apresentações,
da peça “DESERTORES”, apresentada pelo COLETIVO DE TEATRO
ALFENIM, de João Pessoa, Paraíba, “acolhido”
pela Cia. Ensaio Aberto, no Armazém da Utopia, zona
portuária carioca, revitalizada. Prometi, ao COLETIVO, por uma rede social, escrever sobre a peça e estou cumprindo a promessa, com o
maior prazer. Será uma crítica curta, não muito aprofundada, por
falta de tempo para uma análise mais intensa e aguda, e está sendo escrita com
o objetivo maior de marcar essa passagem do COLETIVO pelo Rio de
Janeiro, para divulgar a sua existência, assim como o talento de
seus integrantes e a sua importância para o TEATRO BRASILEIRO.
Ademais, a assessoria de imprensa, por não ter tido acesso a muitos, me forneceu dados bastante insuficientes,
para um trabalho mais apurado. Não foi um “release” à altura do
merecimento do COLETIVO. Como exemplo, cito a FICHA TÉCNICA, que, no
referido “release”, contempla, APENAS, o nome do diretor
e dos atores, como se, para um espetáculo teatral ser encenado,
bastasse apenas o trabalho deles. É mais do que muito necessário dizer que cada “tijolinho” dessa “construção” é muito importante para a grandiosidade e relevância deste trabalho.
É sempre um motivo de imensa alegria
constatar, mais uma vez, o que eu já estou cansado de saber, porém é uma
informação desconhecida de muita gente. Muita gente mesmo!!! Refiro-me
ao fato de existirem, em outras praças, outros estados brasileiros, tanto nas
suas capitais como em cidades de seus interiores, grupos de TEATRO da melhor
qualidade, realizando trabalhos lindos e emocionantes, que
precisam ser mostrados pelo país inteiro, para que todos fiquem sabendo
que NÃO É SÓ NO EIXO RIO – SÃO PAULO QUE SE PRODUZ BOM TEATRO, NO BRASIL.
Conheço vários e tenho a honra e a primazia de ser amigo de muitos desses
artistas, a maioria de origem nordestina. Posso afirmar, não desmerecendo
outros estados e regiões, mas pelo que eu conheço, que o Rio Grande do
Norte, a Paraíba e Pernambuco estão
povoados desses excelentes grupos, como é o caso do COLETIVO DE
TEATRO ALFENIM. Mas eles estão espalhados pelo Brasil inteiro.
Confesso
a minha curiosidade, que ainda não tive a oportunidade de satisfazer, com relação ao
nome do COLETIVO, já que “ALFENIM” é o nome de “um doce,
feito com uma massa branca e dura, de açúcar e óleo de amêndoas doces, usada
para fazer doces delicados”. Pode, também, no sentido figurado,
se referir a uma “pessoa delicada, melindrosa ou elegante”. Vou
continuar desconhecendo o porquê do batismo do COLETIVO com esse nome, a
não ser que esta crítica chegue até os seus membros e alguém me faça o
favor de fazer esse esclarecimento, que, em nada interfere na magnífica
qualidade do trabalho do grupo.
A montagem é um experimento
cênico, livremente inspirado numa peça inacabada, de BERTOLT
BRECHET, chamada “O
Declínio do Egoísta Johann Fatzer”,
e reúne cenas, diálogos, poemas e apontamentos teóricos
que o grande autor alemão produziu durante o período de 1926 a
1930.
Nessa obra, BRECHT procura refletir, dialeticamente, sobre a catástrofe da Primeira Grande Guerra, o impasse dos movimentos sociais e revolucionários e o prenúncio de movimentos totalitários, como o Nazismo e o Fascismo.
SINOPSE:
Em 1918, durante a Primeira Grande Guerra, após a sangrenta Batalha de Verdun, quatro soldados abandonam seu tanque de guerra e decidem
desertar.
Tidos como mortos, os quatro homens
permanecem em clandestinidade, em Mülheim, bairro fabril, na Alemanha,
sob a constante ameaça de
serem presos e fuzilados como desertores.
Apesar das dificuldades, os clandestinos, lutam, para conseguir comida, e pactuam nunca se separar.
Eles têm a esperança de que uma revolução coletiva possa pôr fim à guerra sem sentido, de modo a que sejam perdoados, e também acreditam poder tomar parte nessa tão desejada revolução.
A ótima dramaturgia do experimento, bem ao estilo “brechtiano” e de sua proposta de “distanciamento”, a cargo de MÁRCIO MARCIANO, parte da tradução inédita do “Complexo Fatzer de Brachet”, por PEDRO MANTOVANI, que esteve em João Pessoa, no início do processo de estudos, para uma conversa com o grupo, acerca da obra do consagrado dramaturgo alemão, juntamente com SÉRGIO DE CARVALHO, da “Companhia do Latão”, e JOSÉ ANTÔNIO PASTA JR..
Esse processo de estudos também contou com a prestimosa participação do pesquisador e músico WALTER GARCIA, o qual compôs, juntamente com os integrantes do COLETIVO, a trilha sonora do experimento.
Partindo, tão somente, da
minha visão de espectador e amante do BOM TEATRO, antes da análise do crítico, em poucas palavras,
deixo, aqui, as minhas impressões – AS MELHORES POSSÍVEIS - sobre a montagem,
a começar pelo texto. Dizer o que sobre BRECHET? Absolutamente,
mais nada, além de tudo o que já se disse ou escreveu sobre ele até hoje. Um
gênio. Mas o que está em jogo, aqui, seriam outras duas coisas: a tradução
e a dramaturgia. Sobre a primeira, não posso opinar, visto que desisti
de aprender alemão, após um semestre de muito sofrimento, entretanto acredito
na boa qualidade da tradução. Já em relação à dramaturgia, ela muito me agradou. A “arquitetuta dramática” foi muito bem
construída, com excelentes diálogos, e a “costura das cenas” é muito
perfeita.
Trata-se de uma montagem
um pouco franciscana e, creio eu, já pensada para ser apresentada em qualquer espaço
que ofereça a oportunidade de se montar uma “arena”, em forma de
um “corredor”, com arquibancadas dos dois lados. Um espetáculo,
de certa forma, “fácil de viajar”.
A cenografia, assinada por MÁRCIO MARCIANO, reúne, no espaço cênico, poucos recursos, que servem, de maneira fantástica, à construção de vários ambientes, permitindo, ao público, o rico exercício da imaginação, a partir desses poucos elementos cênicos. Parabéns ao cenógrafo, pela criativa cenografia!
Os figurinos, desenhados por MARIA BOTELHO, estão
bem próximos à realidade dos personagens, da época e do local
em que se dá a ação, todos perfeitamente ajustados às “personas”
criadas pelo autor da história. Marece, também, o meu reconhecimento o correto trabalho de MARIA.
Há uma ótima luz, desenhada por RONALDO COSTA, que colabora, para que sejam criados os espaços onde se
dá cada cena, assim como cria momentos que mexem com o emocional do
espectador, no sentido de aguçar a sua curiosidade e provocar nele a
sensação de medo, de insegurança. Parabéns a RONALDO!
A parte musical é excelente, pontuando e sublinhado quase todas as cenas, executada por um exímio e eclético músico, ao vivo, KEVIN MELO. A maior parte das canções, todas composições inéditas, é cantada, ao vivo, com intenso vigor, pelo elenco.
Um bom diretor tem
uma responsabilidade incomensurável, na condução de uma montagem teatral.
Não conhecia o trabalho, nem a pessoa, de MÁRCIO MARCIANO, contudo, logo
nas primeiras cenas do espetáculo, deu para eu perceber o dedo de alguém
muito sensível, competente e comprometido com as intenções do autor do texto;
alguém que percebeu os “recados” que deveriam ser passados ao público
e trabalhou para isso, contando com um elenco fabuloso, TODOS,
até então, desconhecidos para mim, de um enorme talento, jogando-se, “de
cabeça”, em seus personagens, da forma mais visceral possível.
Como não sei quem é quem, não posso destacar este ou aquele trabalho. No fundo,
porém, penso que, se um ou outro, deles, “fez um prato da balança pender
mais, foi por pouquíssimos gramas”. Aos seus nomes, pelo menos,
tive acesso, por ordem alfabética. Aqui estão: ADRIANO CABRAL,
EDSON ALBUQUERQUE, KEVIN MELO, LARA TORREZAN, MAYRA FERREIRA, MURILO FRANCO, PAULA COELHO, VÍTOR BLAM
e VICTOR DESSÔ.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia:
Márcio Marciano
Direção:
Márcio Marciano
Elenco (por
ordem alfabética): Adriano Cabral, Edson Albuquerque, Kevin Melo, Lara Torrezan,
Mayra Ferreira, Murilo Franco, Paula Coelho, , Vítor Blam e Victor Dessô
Cenografia:
Márcio Marciano
Figurinos:
Maria Botelho
Costura: Maria José
Iluminação:
Ronaldo Costa
Composição Musical: Kevin Melo, Mayra Ferreira, Márcio Marciano, Paula Coelho, Walter Garcia e Vítor Blam
Projeção: Rebecca
Dantas
Animação:
Lívia Costa
Identidade Visual: Patrícia Brandstatter
Serralheria: Anderson Galdino
Produção Executiva:
Gabriela Arruda
Realização:
Coletivo de Teatro Alfenim
Todas as apresentações foram
gratuitas e fazem parte do projeto “Em Boa Companhia”,
da “Cia Ensaio Aberto”, a grande anfitriã dos colegas paraibanos.
Espero que o COLETIVO
volte, outras vezes, ao Rio de Janeiro e que eu tenha condições
de conhecê-los mais de perto, para trocarmos ideias sobre nossa paixão comum:
o TEATRO.
Em tempo: por só ter
recebido três fotos, por parte da assessoria de imprensa, saí,
gastando umas duas horas, ou mais, pela “internet”, à procura de outras imagens
do espetáculo. Há, portanto, fotos captadas por pessoas cujos nomes
desconheço, porém a grande maioria foi feita por THIAGO GOUVEIA e ALESSANDRO
POTTER.
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!
Saudações querido Gilberto Bartholo! Felicidade enorme ler sua crítica ao nosso trabalho. Sensível e extremamente importante para o fortalecimento do nossa função como Artista em um país tão maltratado no reconhecimento de sua cultura. Obrigado
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