terça-feira, 30 de agosto de 2022

 

“ESPERANDO

BELTRANO”

ou

(TEATRO GESTUAL

DA MELHOR

QUALIDADE.)


 

 


 

        Como é bom assistir a um excelente espetáculo teatral! Se é isso o que você está procurando, vá, o mais rápido possível, ao SESC Copacabana, para assistir, na sua Sala Multiuso, ao mais recente espetáculo do “CENTRO TEATRAL E ETC E TAL”, “ESPERANDO BELTRANO, cuja temporada, muito curta, infelizmente, já está em seu final.





      Quem seguir a minha sugestão verá, em cena, “o envelhecimento e o amadurecimento do artista”, num espetáculo adulto, “com humor ácido e lírico”.



    O “CENTRO TEATRAL E ETC E TAL” completará, no próximo ano, 30 anos de atividades, sempre a serviço do bom TEATRO BRASILEIRO, fundado em 1993, pelos gestores ALVARO ASSAD e MARCIO MOURA, que permanecem, até hoje, caracterizando-se pela técnica da mímica. Eles criam seus próprios textos, na pesquisa de junção entre a precisão gestual e o humor da comédia popular. O trabalho do “CENTRO...” se dedica à “pantomima literária”, que conjuga mímica e narração. Para melhor dizer, esta companhia carioca de repertório desenvolve pesquisa artística calcada na tríade Teatro-Mímica-Humor. Compõem o repertório permanente os seguintes espetáculos: “Fulano e Sicrano” (adulto), “Victor James” (infantil), “Onipotência do Sonho” (para todas as idades), “O Macaco e a Boneca de Piche” (infantil), “No buraco” (adulto), “¿Branca de Neve?” (infantojuvenil), “Draguinho - Diferente de Todos Parecido com Ninguém” (infantil) “O Maior Menor Espetáculo da Terra” (infantojuvenil), “João o Alfaiate – um Herói Inusitado” (infantojuvenil) e o mais recente, aqui analisado, “ESPERANDO BELTRANO” (adultos). Desde 2004, quando foi montado “No Buraco”, eles não apresentavam um espetáculo inédito, para adultos, como fazem agora, com o ótimo “ESPERANDO BELTRANO”. De todos os trabalhos relacionados, conheci, e gostei de todos, “Fulano e Sicrano”, “No buraco”, “O Maior Menor Espetáculo da Terra”, “João o Alfaiate – um Herói Inusitado” e este excelente “ESPERANDO BELTRANO”. São, ao todo, dez espetáculos de repertório, incluindo o atual.



     O “CENTRO...” não se limita, apenas, a montar espetáculos teatrais. ALVARO e MARCIO também oferecem oficinas, proferem palestras e fazem outras produções. A dupla de artistas já participou de turnês e Mostras de Teatro, internacionais (Alemanha, Dinamarca, França, Portugal, Argentina e Paraguai) e nacionais. Anualmente, o “CENTRO...” realiza temporadas e digressões pelas mais diferentes cidades do Brasil e tem representado o país em diversos Encontros e Festivais de Teatro Mímica, Novo Circo e Comicidade, na América Latina e Europa.



Em 2000, o espetáculo “Fulano e Sicrano”, que “serviu de base” para “ESPERANDO BELTRANO”, ou inspirou-o, recebeu convite e se apresentou nos/na FILO-Festival Internacional de Londrina/PR, II Semana de Teatro de Alagoas, I Festival Sesi de Teatro de Tocantins e em Festivais Competitivos (São José dos Campos/SP, Americana/SP, Pindamonhangaba/SP e Florianópolis/SC), acumulando 28 indicações e 20 prêmios. Também a montagem foi convidada para o “Anjos do Picadeiro 3”, no Rio de Janeiro.



Se fôssemos enumerar todos os feitos e prêmios ganhos pelo “CENTRO...”, ano a ano, ocuparíamos muito espaço, nesta crítica. Sugiro que acessem o “site” do grupo. Em 2022, foi agraciado com o “Prêmio do Humor”, idealizado por Fábio Porchat, e pelo Edital Pulsar Sesc RJ, que lhe conferiu o direito de encenar “ESPERANDO BELTRANO”.



Esta montagem, na qual os personagens de “Fulano & Sicrano” voltam, em nova roupagem teatral, traz um humor diferenciado – afiado e cáustico, não exatamente nesta ordem –, com o texto, como sempre, escrito por ALVARO ASSAD e MARCIO MOURA, uma dramaturgia que “coloca o fator ‘tempo’ como norte e revisita, de forma ácida, o universo do TEATRO CONTEMPORÂNEO, com doses de histrionismo e virtuosismo físico e gestual – apresenta a comicidade, na busca das diversas e inusitadas linguagens, da narração histriônica ao silêncio do gesto”. Faço questão de dizer que não tolero escatologia em cena, entretanto, a genialidade dessa dupla de atores mímicos é de tal magnitude, que consegui dar muitas gargalhadas, nas cenas em que, da forma mais engraçada possível, sem utilizar uma palavra, além de alguns sons guturais, a escatologia entra em cena e recebe focos de luz. Jamais pensei que, um dia, eu conseguiria rir de piadas gestuais sobre o “número 2”.

 

 



 

SINOPSE: 

Os personagens atravessam o tempo, rasgando, literalmente, a metalinguagem teatral, cena, figurinos, adereços, luz, música e cenário.

O que acontece, se atores envelhecem 200 anos?

Há quanto tempo o tempo dura?

Histórias sobre o tempo e as relações entremeadas dos personagens (artistas) com o tempo fazem parte do enredocom ambos envelhecendo no palco, ao vivo.

FULANO e SICRANO são diversos ou um somente.

Personagens que se encontram, em escombros de um tablado de Teatro, e, com ele, configuram a troca cênica do surreal.

O que fazer, falar e para onde ir?

E falar é necessário? 

 



As perguntas que se encontram na SINOPSE “sugerem como a Companhia trata, hoje, a questão do tempo, questões que seguram o espetáculo e são trazidas à tona pela pantomima - que é lugar de pesquisa milenar no TEATRO GESTUAL e marca registrada dos espetáculos do grupo”.



Extraído do “release” que recebi: “Ao final das apresentações, sobre quem seria o FULANO e quem seria o SICRANO, na montagem de 1999, a primeira do grupo, ASSAD e MOURA respondiam, sempre, da mesma maneira, a jogar com o público: ‘eu sou BELTRANO’. Desse fato, surgiu a ideia de criar o espetáculo “ESPERANDO BELTRANO”. ALVARO (E nem precisava dizer.) adianta que o título da montagem faz um trocadilho com uma das mais importantes obras do século XX, ‘Esperando Godot’, de Samuel Beckett.”.



E por falar em Becket, flertando, “despudoradamente”, com o TEATRO DO ABSURDO, a dupla de atores/mímicos/personas nos divertem, à farta, com as mais inusitadas situações cômicas. Podemos dizer, também, como está escrito no já referido “release”, que “o absurdo da mímica dialoga com o TEATRO DO ABSURDO, desde sempre”. É só prestar atenção às grandes obras dos maiores representantes, dramaturgos, desse movimento: o irlândes Samuel Beckett, considerado seu principal representante; o francês Arthur Adamov; o romeno Eugène Ionesco, que tive o prazer de conhecer e com quem tive “dois dedos de prosa”, quando eu era aluno da Faculdade de Letras, da UFRJ, bem no início da década de 70; o espanhol Fernando Arrabal; e o inglês Harold Pinter.



Este espetáculo tem um “sabor especial” para os que, como eu, tiveram a oportunidade de ter assistido à montagem de “Fulano & Sicrano”, que estreou em 1999, entretanto os que não conheceram aquela produção não são prejudicados, se, apenas, assistirem a “ESPERANDO BELTRANO”. A vantagem que levam os que viram aquela peça é que têm a oportunidade de constatar que “o mote principal e lugar de partida de ‘ESPERANDO BELTRANO’ é a mescla do envelhecimento/amadurecimento do espetáculo” (“Fulano & Sicrano”).



O que o “CENTRO TEATRAL E ETC E TAL” nos propõe, e põe em prática, é um espetáculo que “apresenta a comicidade, na busca das diversas e inusitadas linguagens do ‘Etc e Tal’. Do TEATRO DO ABSURDO às histórias narradas; da comicidade sem palavra ao inusitado do bufão; do lirismo à reflexão (leia-se: as raízes de cada um dos atores/personagens).”. Ocorre que, de onde, e quando, menos se espera, a dupla surge com algo surpreendente, em termos de inovação e criatividade, levando o público às gargalhadas e provocando aquele desejo de aplaudir ASSAD e MOURA em cena aberta. São dois grandes multiartistas, sem a menor dúvida.



Voltando ao “release”, ESPERANDO BELTRANO” resume, em cinco atos, a esfera trabalhada pela Companhia, ao longo do tempo: PRÓLOGO: termo, originalmente, usado na tragédia grega, para a parte anterior à entrada do coro e da orquestra, na qual se enuncia o tema da peça, também, sinônimo de prefácio, preâmbulo, proémio, prelúdio e prormônio, uma prática comum nas peças dos séculos XVII e XVIII, geralmente em verso; PANTOMIMA LITERÁRIA: técnica e característica cômica que carimbou o grupo, como linguagem cênica, nas últimas três décadas, com narração simultânea a ação em mímica (Uma das partes mais hilárias, a meu juízo, neste espetáculo.); TEATRO NARRATIVO ou TEATRO DOCUMENTÁRIO, com histórias verdadeiras e colocadas, no tablado, de forma crua e direta; PANTOMIMA CLÁSSICA: histórias clássicas, sem palavras, recriadas com o humor do grupo e sua virtuose física; PANTOMIMA COM BIOMBOcenas pantomímicas em que o público assiste somente a parte do corpo dos atores, dando a eles (os espectadores) o poder de imaginar aquilo que não está visível. Isso ocorre mais ao final do espetáculo e me lembrou bastante o admirável “No Buraco”, que vi duas vezes e gostaria, ainda, de rever. Tenho a certeza de que todos iriam adorar “No Buraco”, da mesma forma como receberam “ESPERANDO BELTRANO”. À saída da Sala Multiuso, do SESC Copacabana, enquanto aguardava a oportunidade de cumprimentar ALVARO e MARCIO, pude constatar uma unanimidade, por parte de todos os que lotavam aquele pequeno espaço; satisfação geral e total.



Os comentários sobre a FICHA TÉCNICA só poderiam ser iniciados pelo texto original, de ALVARO ASSAD e MARCIO MOURA, da melhor qualidade: humor inteligente e ácido, sem ser agressivo nem apelativo.



Sobre a atuação da dupla, nada mais precisa ser dito: são dois artistas de primeira grandeza e ambos se incumbem, também, da direção e preparação mímica.



RODRIGO LIMA compôs uma música original, trilha sonora simples e discreta, executada num volume baixo, bem adequada às cenas.



FERNANDA SABINO assina os ótimos figurinos, sobre os quais pouco tenho a dizer, a não ser que servem muito bem ao espetáculo, sem nenhum destaque especial, o que, para mim, pelo menos, é uma grande coisa, quando o "menos é mais".



CLEBER DE OLIVEIRA é o responsável por um excelente trabalho de visagismo, que abrange a caracterização dos personagens, fazendo uso de maquiagem, perucas, próteses e adereços, a fim de que pessoas sejam transformadas em personagens, inclusive mais velhos, como é o caso aqui. CLEBER conta com a colaboração de ARISE ASSAD (adereços em arte) e MARCIA LAURA FONSECA (prótese dentária).



AURÉLIO OLIOSI, com um longo e belo currículo, se encarrega do difícil e acertado trabalho de iluminação, com um correto desenho de luz, o qual ajuda a criar “ilusões” em cena, as "ilusões, as mentirinhas', do TEATRO".



A FICHA TÉCNICA faz alusão a quem é responsável pela cenografia, sob a rubrica ambientação cênica, a cargo do "Centro Teatral E Et5c E Tal" e Hannah23. Quanto a este importante elemento de criação, tenho a dizer que o cenário é bastante simples, com a utilização de poucos elementos cenográficos, até porque eles seriam, se em grande escala, desnecessários, uma vez que os dois artistas não precisam de muito apoio, nesse sentido, já que, com seus corpos, dão conta do recado.




O TEATRO é a “arte do coletivo” e, quase sempre, o público leigo vê duas pessoas em cena e não faz ideia do “batalhão” de outros profissionais imprescindíveis, para que o espetáculo possa acontecer. Pode parecer de “menos importância”, mas não o é aquilo que faz LEVI LEONARDO, na montagem e contrarregragem. Um descuido desse profissional pode pôr o espetáculo a perder.  

 


 

FICHA TÉCNICA:

Concepção Cênica e Texto Original: Alvaro Assad e Marcio Moura

Direção e Preparação Mímica: Alvaro Assad

 

Atuação: Alvaro Assad e Marcio Moura

 

Música Original: Rodrigo Lima

Figurinos: Fernanda Sabino

Visagismo (maquiagem, cabelos e próteses): Cleber de Oliveira

Desenho de Luz: Aurélio Oliosi

Programação Visual: Hannah23

Ambientação Cênica: Centro Teatral E Etc E Tal e Hannah23

Adereços em Arte: Arise Assad e Cleber de Oliveira

Prótese Dentária: Marcia Laura Fonseca

Montagem e Contrarregragem : Levi Leonardo

Produção Executiva: Lu Altman

Fotografias: Levi Leonardo e Celso Pacheco

Tratamento de Imagens: Marcos Corrêa

Comunicação: Alexandre Aquino

Depoimentos (pela ordem): Rodrigo Lima, Cláudio Carneiro, Cleber de Oliveira, Lúcia Cerrone, Flávia Reis, Júlio Adrião, Rosiris Garrido e Alê casali 

 







 

SERVIÇO:

Temporada: de 11 de agosto a 04 de setembro de 2022.

Local: SESC Copacabana (Sala Multiuso).

Endereço: Rua Domingos Ferreira, nº 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.

Telefone: (21)2547-0156.

Dias e Horários: De quinta-feira a domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$30,00 e R$15,00 (meia entrada).

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: 16 anos. 

Capacidade: 48 espectadores.

Gênero: Humor Lírico e Ácido.


 


 

  

    Pelo fato de fazerem muitas viagens, para atender a tantos convites, dentro e fora do país, é, de certa forma, um evento não muito frequente a encenação de algum espetáculo da formidável Companhia “CENTRO TEATRAL E ETC E TAL”, no Rio de Janeiro, o que me faz recomendar muito o espetáculo e dizer, aos que me leem, que não devem deixar escapar esta grande oportunidade de aplaudir o trabalho desses impagáveis artistas: ALVARO ASSAD e MARCIO MOURA.

 

 

 

 

FOTOS: LEVI LEONARDO

e

CELSO PACHECO

 

 

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