segunda-feira, 1 de agosto de 2022


“AMOR POR

ANEXINS”

ou

(UM TEATRO LEVE,

COM “SABOR”

DE DELÍCIA.)

 

 




           Depois de duas experiências, em dias seguidos, com um TEATRO denso, estilo clássico, duas OBRAS-PRIMAS, durante a minha mais recente visita a São Paulo, para assistir a espetáculos que, quase com certeza, não virão para o Rio de Janeiro, o que tenho o hábito de fazer algumas vezes, por ano, eu me vi numa plateia, para assistir a algo leve, do que eu estava precisando; alguma coisa “saborosa”, de “fácil digestão”, para puro e simples entretenimento, que não fizesse pensar em nada e apenas aproveitar uma hora de alegria e prazer. Mas que fosse algo com qualidade. E, assim, atendendo ao convite de minha amiga CÉLIA FORTE, na segurança de que não iria me arrepender, fui assistir, no Teatro Eva Herz, Na Livraria Cultura, dentro do Conjunto Nacional (VER SERVIÇO.), a “AMOR POR ANEXINS”, mais uma produção da “MORENTE FORTE COMUNICAÇÕES”, com direção de ELIAS ANDREATO, tendo, no elenco, CLAUDIO LINS e MARIANA GALLINDO. E não me arrependi mesmo.



       O texto é de ARTUR DE AZEVEDO, maranhense (1855/1908), que, além de um reconhecido dramaturgo, foi poeta, contista, prosador, comediógrafo, crítico literário e jornalista brasileiro, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letraspor cuja criação foi um dos mais ferrenhos entusiastas. AZEVEDO escreveu milhares de artigos sobre eventos artísticos e teve encenadas mais de cem peças, no Brasil e em Portugal. Foi um dos maiores defensores da criação do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cuja inauguração ocorreu meses depois de sua morte, infelizmente. Suas peças mais conhecidas são A Capital Federal”, “O Mambembe”, “A Joia” e “A Almanjarra”, entre outras, além daquela que é motivo para esta crítica, escrita em 1872, “quando o dramaturgo tinha apenas 15 anos”, transformada, agora, numa deliciosa COMÉDIA MUSICAL. Considero suas melhores criações as duas primeiras, das quatro que relacionei, as quais são, ainda hoje, bastante encenadas e apresentam, ambas, um retrato bem fiel da sociedade da época.


Fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

Foto: autor desconhecido. 

ARTUR DE AZEVEDO é o segundo, de pé, à esquerda.

Machado de Assis é o segundo, sentado, também à esquerda.


             Uma observação: Embora várias fontes digam que o autor escreveu a peça em tela aos 15 anos de idade, em 1872, considerando-se seu ano de nascimento (1855), se minha matemática não me trai, o dramaturgo tinha 17 anos, quando a escreveu, o que, evidentemente, não faz a menor diferença.

 



















 

SINOPSE:

Na história, uma “farsa(gênero teatral), o personagem ISAÍAS (CLAUDIO LINS), o “Velho Solteirão”, “de aparência não muito interessante”, é obcecado por anexins (ditados populares) e louco para se casar com INÊS (MARIANA GALLINDO), uma jovem e pobre viúva, distinta e costureira, que não se conforma em ser escolhida para ser a esposa desse solteirão.

ISAÍAS vive a enviar, a INÊS, cartas de amor, destacando suas qualidades e, sempre, terminando-as por uma proposta de casamento. 

Cabe, apenas, a INÊS, que estava noiva de Filipe, personagem que não aparece em cena, aceitar a proposta de ISAÍAS.

O velho é bastante insistente e, nas “missivas” (Entreguei a minha idade.) endereçadas à pretendente, faz uso de mais de uma centena de anexins, formas linguísticas, as quais, de forma bem sucinta, traduzem a sabedoria popular, reproduções do falar simples e cotidiano do povo.

INÊS resiste às inconveniências do velho, mas acaba cedendo ao embate, quando fica sabendo, por meio de uma carta, que Filipe a havia trocado por outra noiva, rica, visando a um casamento por conveniência.  

Desprezada, a moça resolve aceitar casar-se com ISAÍAS, que, apesar de incômodo, pelo excesso de anexins, que vivia soltando ao vento, era rico, impondo-lhe, porém, uma condição, muito difícil, para ele, porém aceita pelo velho: passar meia hora sem proferir um anexim.

Aceito o desafio, o homem sofre, para cumprir a exigência, caindo, às vezes, na tentação, mas apenas os inicia e se cala.

Por outro lado, em função da convivência, INÊS acaba sendo contagiada pelos tais anexins e passa, também, a fazer uso deles.

Esquece a condição que havia sido imposta a ISAÍAS, e os dois passam a viver felizes, para sempre, como nas histórias de amor, bem "água com açúcar", sem nenhum menosprezo.

O espetáculo é construído por meio de jogos de palavras e ditados populares, promovendo uma reflexão bem-humorada sobre o amor, o dinheiro e o casamento por conveniência, muito mais vantajoso. 

Os diálogos falados, que são em menor quantidade, são entremeados por números musicais, interpretados pela dupla de atores, todos, ou a quase maioria, do repertório popular brasileiro dos anos 1950.

 

 




















 

        ANEXIM: o mesmo que adágio, apotegma, ditado, dito, máxima, rifão... Na língua portuguesa, eles existem “aos borbotões” e foram mais empregados por nossos pais, avós, bisavós..., porém ainda costumam ser usados, embora muitos jovens não compreendam seus significados. Não se pode negar que são uma forma bem interessante e, até mesmo, lúdica, de se empregar a língua-mãe, desde que não de forma exagerada, “patologicamente”, como o personagem da peça. Ninguém, de certo, suportaria conversar, durante cinco minutos, com um “isaías da vida”. Como exemplos de anexins, poderíamos citar: “A esperança é a última que morre.”, “Água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura.”, “Mais vale um pássaro na mão (do) que dois voando.”, “Quem espera sempre alcança.”, "Conhece-se alguém, quando se come um quilo de sal com ele."...




















               Num de seus grandes momentos de altíssima criatividade, o que sempre lhe é peculiar, Chico Buarque de Holanda escreveu a letra de uma canção, que fez muito sucesso, chamada “Bom Conselho”, composta para a trilha sonora do filme “Quando o Carnaval Chegar”, de Cacá Diegues, lançado em 1972, na qual ele brinca com alguns anexins e desconstroi alguns deles, num ato de “subversão”, dizendo, exatamente, os seus opostos. A título de ilustração, aqui vai a letra da canção:



 














 


 

“BOM CONSELHO”

(Chico Buarque de Holanda)

 

Ouça um bom conselho,

Que lhe dou de graça:

Inútil dormir, que a dor não passa.

Espere sentado

Ou você se cansa.

Está provado: quem espera nunca alcança.

Venha, meu amigo,

Deixe esse regaço!

Brinque com meu fogo,

Venha se queimar!

Faça como eu digo!

Faça como eu faço!

Aja duas vezes, antes de pensar!

Corro atrás do tempo.

Vim de não sei onde.

Devagar é que não se vai longe.

Eu semeio vento

Na minha cidade.

Vou pra rua e bebo a tempestade.

 

 




















 

           É inegável que ARTUR DE AZEVEDO consolidou, no Brasil, a comédia de costumes e é considerado um dos pontos de partida para a dramaturgia nacional, seguindo os primeiros passos, para isso, dados por Martins Pena, na primeira metade do século XIX. A propósito, como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, AZEVEDO criou a cadeira de nº 29, em homenagem, como patrono, a Martins Pena, tendo sido um de seus ocupantes. Além de ter tido um papel de destaque para a fundação da ABL e a construção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ARTUR DE AZEVEDO também participou, efetiva e intensamente, das campanhas para a abolição da escravatura e da proclamação da República.















             É bom que se diga que “AMOR POR ANEXINS” foi a peça mais representada de seu tempo e que, apesar de seu título, o “amor” não é o que mais lhe serve de foco, e sim a construção do texto, por conta dos anexins que saem, como a água de um chafariz, da boca de ISAÍAS. O amor é, apenas, um “mote”, para que a peça fosse escrita.

















               Esta montagem é própria para divertir e nos fazer esquecer, um pouco, as mazelas que vimos sofrendo, há mais de três anos e meio. É uma oportunidade, também, para adquirirmos um pouco mais de cultura, por meio de uma linguagem oral, que acabou sendo incorporada, oficialmente, ao nosso idioma, no Brasil. Outros países lusófonos devem lá ter os seus próprios anexins. Eles fazem parte da tradição oral de qualquer língua.

















            Na proposta de direção, como sempre correta, de ELIAS ANDREATO, a comédia (...) ganha ares ainda mais farsescos e musicado com o repertório da música popular brasileira”. Os atores cantam, basicamente, canções dos anos 1950, com uma inserção ou outra de algo mais recente, acompanhados pelo piano de JONATAN HAROLD, que assina a direção musical, e sopros de BIA PACHECO, a qual ainda “dá uma colher de chá”, de vez em quando, arriscando-se, também, numa modesta percussão. Na segunda sessão do sábado, dia 23 de julho (2022), quando assisti ao espetáculo, JONATHAN foi substituído, à altura, por RODOLFO SCHWENGER. Ambos são excelentes musicistas





















            A direção de ANDREATO é bem descomplicada, como pede o texto, e, ao mesmo tempo, de muito bom gosto, com ênfase no texto, também como acho que deveria ter sido. Reproduzo algumas palavras do diretor, extraídas do “release”, que me foi enviado por BETH GALLO ((MORENTE FORTE COMUNICAÇÕES): “O autor tinha sincera vocação para a alegria e via, na COMÉDIA DE COSTUMES, o melhor caminho para a dramaturgia nacional. Gostava de escrever algo que reproduzisse a verdade e a vida, que possuísse exposição, catástrofe e desenlace, que divertisse e, ao mesmo tempo, sensibilizasse. O texto trata, com humor, questões de interesses no amor, trazendo um inusitado jogo de linguagem e saberes coletivos dos anexins, que são evocados, a “toda prova”, na construção da história.”.




Elias Andreato.


             No pequeno palco, um casal de excelentes atores e cantores dá conta de uma ótima interpretação, tanto dos textos falados como das canções. CLAUDIO LINS, que “joga bem na defesa (dramas) e no ataque (musicais)” – poderia ser o contrário também -, se comporta com muita naturalidade em cena, revelando uma sua faceta, até então, para mim, pelo menos, desconhecida: o seu lado comediante. São suas palavras: “Montar ‘AMOR POR ANEXINS’ era um projeto antigo do ELIAS ANDREATO. E foi muita sorte tê-lo conhecido, no ano passado, quando conversamos e contei-lhe do meu fascínio pela linguagem do TEATRO DE REVISTA. Montar um texto do ARTUR DE AZEVEDO é, para mim, um sonho realizado. Além do mais, é a oportunidade de mostrar, para o público, uma faceta minha, que poucos conhecem: a comédia.”. O ator ratifica, assim, o que eu já disse. E, sim, o espetáculo se aproxima, em muito, de uma montagem do TEATRO DE REVISTA, de saudosa lembrança, que marcou, com bastante presença, a História do TEATRO BRASILEIRO. Além do texto, das piadas, das críticas, das canções, ainda há um pouco de interatividade com o público, de uma forma bem respeitosa, que eu aprovo.















           MARIANA GALLINDO, cantriz que já participou de alguns dos mais festejados musicais montados no Brasil, nos últimos dez anos, parece ter sido escolhida a dedo, para compor o par perfeito com CLAUDIO LINS. Sua bela presença física no palco, aliada ao seu talento, para representar, cantar e dançar, as bases do TEATRO MUSICAL, permitem que ela, de forma muito “brejeira” (Escorreguei e entreguei, mais uma vez, a minha idade.), assuma, com perfeição, a personagem. MARIANA resume sua participação, na peça, como: “Desejo, realização, alegria e gratidão.”. Ambos valorizam bastante a obra dramatúrgica.







      Embora possa ser considerada uma montagem franciscana, é mais uma prova de que não é necessário um orçamento “robusto”, “polpudo”, para se fazer um bom TEATRO. A cenografia, de ELIAS ANDREATO, por exemplo, é bem simples, mas atende, perfeitamente, às exigências do texto: uma mesa de um Café, duas cadeiras e painéis, ao fundo, forrados de cartazes, os quais têm em comum o tema “café”. Num dos cantos do palco, apenas um piano elétrico e um banquinho, para a musicista dos sopros e percussão.







     FABIO NAMATAME, para não fugir à regra, criou dois trajes elegantes e de lindo e fino acabamento, para os personagens. O de ISAÍAS, um belíssimo terno (completo) em risca de giz, me pareceu mais próprio da época em que a ação acontece. Já o de INÊS é um pouco mais “ousado”, o que, em nada, compromete a montagem.







     Outros elementos de criação contribuem para o sucesso do espetáculo, como a coreografia, de MARIANA GALLINDO e CLAUDIO LINS, simples, alegre e bem executada; a iluminação, assinada por WAGNER FREIRE, seguindo a linha da simplicidade, sem rebuscamentos, bastante satisfatória; o desenho de som, a cargo de JOÃO BARACHO, garantindo que não se perca nada do que é dito ou cantado; e o visagismo, sob a responsabilidade de DHIEGO DURSO.








FICHA TÉCNICA:

Texto: Artur de Azevedo

Direção: Elias Andreato

Assistente de Direção: Junior Docini

Direção Musical e Arranjos: Jonatan Harold

 

Elenco: Claudio Lins e Mariana Gallindo

 

Músicos: Jonatan Harold (piano) e Beatriz Pacheco (sopros e percussão)

 

Cenário: Elias Andreato

Confeção de Painéis: Augusto Vieira

Figurino: Fábio Namatame

Coreografia: Mariana Gallindo e Claudio Lins

Iluminação: Wagner Freire

Desenho de Som: João Baracho

Visagista: Dhiego Durso

Operador de Som e Luz: Eder Soares

Camareira: Jaqueline Basto

Coordenação de Comunicação: Beth Gallo

Assessoria de Imprensa: Morente Forte – Thais Peres

Programação Visual: Laerte Késsimos

Fotos: Priscila Prade e Erik Almeida

Filmagem: Erik Almeida

Redes Sociais e Textos: Ana Paula Barbulho

Coordenação Administrativa: Dani Angelotti

Assistência Administrativa: Alcení Braz

Produção Executiva e Administradora da Temporada: Martha Lozano

Produtoras: Selma Morente e Célia Forte


 



 








SERVIÇO:

Temporada: de 09 de julho a 28 de agosto de 2022.

Local: Teatro Eva Herz – Livraria Cultura – Conjunto Nacional.

Endereço: Avenida Paulista, 2073 – Bela Vista – São Paulo.

Dias e Horários: sexta-feira, às 20h; sábado, às 18h e 20h; e domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$80,00 (inteira) e R$40,00 (meia entrada).

VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/74657/d/146418/s/958213

Capacidade: 167 lugares.

Classificação: 12 anos.

Duração: 70 minutos.

Gênero: COMÉDIA MUSICAL.

 

 


Foto: Gilberto Bartholo






     Para encerrar esta crítica, acho bastante pertinente e justo a reserva de um espaço para falar da MORENTE FORTE COMUNICAÇÕES: Esta é a sexta estreia, em 2022, das produtoras SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE, colocando em cartaz seus projetos, que se acumularam, devido à pandemia. A MORENTE FORTE faz história, desde 1985, em São Paulo, e produzir seis projetos, simultaneamente, é um desafio, mas também um prazer. “Há muito tempo, queríamos montar um clássico da dramaturgia brasileira. Pensamos em várias possibilidades. ELIAS ANDREATO, nosso parceiro de ideias e conquistas, nos sugeriu ‘AMOR POR ANEXINS’, uma pérola de ARTUR DE AZEVEDO. Não pensamos duas vezes. Com um roteiro musical especialíssimo, convidamos CLAUDIO LINS e MARIANA GALLINDO, para viver esse casal inusitado e nada romântico, para compor essa comédia deliciosamente musical” diz CÉLIA FORTE.


Foto: Gilberto Bartholo






    SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE, sócias da MORENTE FORTE COMUNICAÇÕES, empresa especializada em assessoria de imprensa e produção na área cultural, direcionam, exclusivamente, suas atividades às ARTES CÊNICAS. Já tiveram participação em mais de 1500 espetáculos teatrais, com ampla experiência de relações públicas em assessoria de imprensa e planejamento para realização de grandes espetáculos, protagonizados pelos maiores artistas nacionais.






















      “Last, but not least”, fica aqui a indicação desta deliciosa COMÉDIA MUSICAL, um dos maiores sucessos da atual temporada teatral, na cidade de São Paulo. Oxalá os cariocas possamos assistir a este espetáculo, no Rio de Janeiro!






 

 


 


FOTOS:

PRISCILA PRADE

e

ERIK ALMEIDA

 

 

GALERIA PARTICULAR:

(FOTOS: CARLOS EDUARDO

SABBAG PEREIRA)

 

 



Com Claudio Lins


Com Mariana Gallindo


 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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