segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 “DESERTORES”

ou

(UM BRECHT BEM

CONTEMPORÂNEO.)

 

 






        Mais uma vez, estou escrevendo sobre um excelente espetáculo teatral que não está mais em cartaz, no Rio de Janeiro. Foi uma “temporada meteórica”, de apenas quatro apresentações, da peça “DESERTORES”, apresentada pelo COLETIVO DE TEATRO ALFENIM, de João Pessoa, Paraíba, “acolhido” pela Cia. Ensaio Aberto, no Armazém da Utopia, zona portuária carioca, revitalizada. Prometi, ao COLETIVO, por uma rede social, escrever sobre a peça e estou cumprindo a promessa, com o maior prazer. Será uma crítica curta, não muito aprofundada, por falta de tempo para uma análise mais intensa e aguda, e está sendo escrita com o objetivo maior de marcar essa passagem do COLETIVO pelo Rio de Janeiro, para divulgar a sua existência, assim como o talento de seus integrantes e a sua importância para o TEATRO BRASILEIRO. Ademais, a assessoria de imprensa, por não ter tido acesso a muitos, me forneceu dados bastante insuficientes, para um trabalho mais apurado. Não foi um “release” à altura do merecimento do COLETIVO. Como exemplo, cito a FICHA TÉCNICA, que, no referido “release”, contempla, APENAS, o nome do diretor e dos atores, como se, para um espetáculo teatral ser encenado, bastasse apenas o trabalho deles. É mais do que muito necessário dizer que cada “tijolinho” dessa “construção” é muito importante para a grandiosidade e relevância deste trabalho.




        É sempre um motivo de imensa alegria constatar, mais uma vez, o que eu já estou cansado de saber, porém é uma informação desconhecida de muita gente. Muita gente mesmo!!! Refiro-me ao fato de existirem, em outras praças, outros estados brasileiros, tanto nas suas capitais como em cidades de seus interiores, grupos de TEATRO da melhor qualidade, realizando trabalhos lindos e emocionantes, que precisam ser mostrados pelo país inteiro, para que todos fiquem sabendo que NÃO É SÓ NO EIXO RIO – SÃO PAULO QUE SE PRODUZ BOM TEATRO, NO BRASIL. Conheço vários e tenho a honra e a primazia de ser amigo de muitos desses artistas, a maioria de origem nordestina. Posso afirmar, não desmerecendo outros estados e regiões, mas pelo que eu conheço, que o Rio Grande do Norte, a Paraíba e Pernambuco estão povoados desses excelentes grupos, como é o caso do COLETIVO DE TEATRO ALFENIM. Mas eles estão espalhados pelo Brasil inteiro.




Confesso a minha curiosidade, que ainda não tive a oportunidade de satisfazer, com relação ao nome do COLETIVO, já que “ALFENIM” é o nome de “um doce, feito com uma massa branca e dura, de açúcar e óleo de amêndoas doces, usada para fazer doces delicados”. Pode, também, no sentido figurado, se referir a uma “pessoa delicada, melindrosa ou elegante”. Vou continuar desconhecendo o porquê do batismo do COLETIVO com esse nome, a não ser que esta crítica chegue até os seus membros e alguém me faça o favor de fazer esse esclarecimento, que, em nada interfere na magnífica qualidade do trabalho do grupo.




A montagem é um experimento cênico, livremente inspirado numa peça inacabada, de BERTOLT BRECHET, chamada  O Declínio do Egoísta  Johann  Fatzer”, e reúne cenas, diálogos, poemas e apontamentos teóricos que o grande autor alemão produziu durante o período de 1926 a 1930.



Nessa obra, BRECHT procura refletir, dialeticamente, sobre a catástrofe da Primeira Grande Guerra, o impasse dos movimentos sociais e revolucionários e o prenúncio de movimentos totalitários, como o Nazismo e o Fascismo.

  




SINOPSE:

Em 1918, durante a Primeira Grande Guerra, após a sangrenta Batalha de Verdun, quatro soldados abandonam seu tanque de guerra e decidem desertar.

Tidos como mortos, os quatro homens permanecem em clandestinidade, em Mülheim, bairro fabril, na Alemanha, sob a constante ameaça de serem presos e fuzilados como desertores.

Apesar das dificuldades, os clandestinos, lutam, para conseguir comida, e pactuam nunca se separar.

Eles têm a esperança de que uma revolução coletiva possa pôr fim à guerra sem sentido,  de modo a que sejam perdoados, e também acreditam poder tomar parte nessa tão desejada revolução.






  A ótima dramaturgia do experimento, bem ao estilo “brechtiano” e de sua proposta de “distanciamento”, a cargo de MÁRCIO MARCIANO, parte da tradução inédita do “Complexo Fatzer de Brachet”, por PEDRO MANTOVANI, que esteve em João Pessoa, no início do processo de estudos, para uma conversa com o grupo, acerca da obra do consagrado dramaturgo alemão, juntamente com SÉRGIO DE CARVALHO, da “Companhia do Latão”, e JOSÉ ANTÔNIO PASTA JR.



     Esse processo de estudos também contou com a prestimosa participação do pesquisador e músico WALTER GARCIA, o qual compôs, juntamente com os integrantes do COLETIVO, a trilha sonora do experimento.    

  

          

      Partindo, tão somente, da minha visão de espectador e amante do BOM TEATRO, antes da análise do crítico, em poucas palavras, deixo, aqui, as minhas impressões – AS MELHORES POSSÍVEIS - sobre a montagem, a começar pelo texto. Dizer o que sobre BRECHET? Absolutamente, mais nada, além de tudo o que já se disse ou escreveu sobre ele até hoje. Um gênio. Mas o que está em jogo, aqui, seriam outras duas coisas: a tradução e a dramaturgia. Sobre a primeira, não posso opinar, visto que desisti de aprender alemão, após um semestre de muito sofrimento, entretanto acredito na boa qualidade da tradução. Já em relação à dramaturgia, ela muito me agradou. A “arquitetuta dramática” foi muito bem construída, com excelentes diálogos, e a “costura das cenas” é muito perfeita.




      Trata-se de uma montagem um pouco franciscana e, creio eu, já pensada para ser apresentada em qualquer espaço que ofereça a oportunidade de se montar uma “arena”, em forma de um “corredor”, com arquibancadas dos dois lados. Um espetáculo, de certa forma, “fácil de viajar”.



A cenografia, assinada por MÁRCIO MARCIANO, reúne, no espaço cênico, poucos recursos, que servem, de maneira fantástica, à construção de vários ambientes, permitindo, ao público, o rico exercício da imaginação, a partir desses poucos elementos cênicos. Parabéns ao cenógrafo, pela criativa cenografia!



       Os figurinos, desenhados por MARIA BOTELHO, estão bem próximos à realidade dos personagens, da época e do local em que se dá a ação, todos perfeitamente ajustados às “personas” criadas pelo autor da história. Marece, também, o meu reconhecimento o correto trabalho de MARIA.



       Há uma ótima luz, desenhada por RONALDO COSTA, que colabora, para que sejam criados os espaços onde se dá cada cena, assim como cria momentos que mexem com o emocional do espectador, no sentido de aguçar a sua curiosidade e provocar nele a sensação de medo, de insegurança. Parabéns a RONALDO!



      A parte musical é excelente, pontuando e sublinhado quase todas as cenas, executada por um exímio e eclético músico, ao vivo, KEVIN MELO. A maior parte das canções, todas composições inéditas, é cantada, ao vivo, com intenso vigor, pelo elenco.



       Um bom diretor tem uma responsabilidade incomensurável, na condução de uma montagem teatral. Não conhecia o trabalho, nem a pessoa, de MÁRCIO MARCIANO, contudo, logo nas primeiras cenas do espetáculo, deu para eu perceber o dedo de alguém muito sensível, competente e comprometido com as intenções do autor do texto; alguém que percebeu os “recados” que deveriam ser passados ao público e trabalhou para isso, contando com um elenco fabuloso, TODOS, até então, desconhecidos para mim, de um enorme talento, jogando-se, “de cabeça”, em seus personagens, da forma mais visceral possível. Como não sei quem é quem, não posso destacar este ou aquele trabalho. No fundo, porém, penso que, se um ou outro, deles, “fez um prato da balança pender mais, foi por pouquíssimos gramas”. Aos seus nomes, pelo menos, tive acesso, por ordem alfabética. Aqui estão: ADRIANO CABRAL, EDSON ALBUQUERQUE, KEVIN MELO, LARA TORREZAN, MAYRA FERREIRA, MURILO FRANCO, PAULA COELHO,  VÍTOR BLAM e VICTOR DESSÔ.


 

FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Márcio Marciano

Direção: Márcio Marciano

 

Elenco (por ordem alfabética): Adriano Cabral, Edson Albuquerque, Kevin Melo, Lara Torrezan, Mayra Ferreira, Murilo Franco, Paula Coelho, , Vítor Blam e Victor Dessô

 

Cenografia: Márcio Marciano

Figurinos: Maria Botelho

Costura: Maria José

Iluminação: Ronaldo Costa

Composição Musical: Kevin Melo, Mayra Ferreira, Márcio Marciano, Paula Coelho, Walter Garcia e Vítor Blam

Projeção: Rebecca Dantas

Animação: Lívia Costa

Identidade Visual: Patrícia Brandstatter

Serralheria: Anderson Galdino

Produção Executiva: Gabriela Arruda

Realização: Coletivo de Teatro Alfenim





       Todas as apresentações foram gratuitas e fazem parte do projeto “Em Boa Companhia”, da “Cia Ensaio Aberto”, a grande anfitriã dos colegas paraibanos.



       Espero que o COLETIVO volte, outras vezes, ao Rio de Janeiro e que eu tenha condições de conhecê-los mais de perto, para trocarmos ideias sobre nossa paixão comum: o TEATRO.



       Em tempo: por só ter recebido três fotos, por parte da assessoria de imprensa, saí, gastando umas duas horas, ou mais, pela “internet”, à procura de outras imagens do espetáculo. Há, portanto, fotos captadas por pessoas cujos nomes desconheço, porém a grande maioria foi feita por THIAGO GOUVEIA e ALESSANDRO POTTER.

  

Bertolt Brechet
(Foto: autor desconhecido.)

 

E VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

 

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PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!















































































































































































Um comentário:

  1. Saudações querido Gilberto Bartholo! Felicidade enorme ler sua crítica ao nosso trabalho. Sensível e extremamente importante para o fortalecimento do nossa função como Artista em um país tão maltratado no reconhecimento de sua cultura. Obrigado

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