quinta-feira, 25 de agosto de 2022

“NA COXIA, COM...

...FÁBIO PORCHAT.”

 



Foto: autor desconhecido.


Fazia tempo que eu não retomava esta “sessão”, neste blogue, porque não sobrava tempo para ela, em função da grande quantidade de espetáculos de TEATRO a que assisto, quase todos os dias. Ocorre que só escrevo uma crítica quando a peça me agrada e, felizmente, nos últimos tempos, a maioria daquelas às quais tenho assistido é de boa qualidade para cima (BOA, MUITO BOA, ÓTIMA ou OBRA-PRIMA), de acordo com a minha classificação, e lá vou eu escrever a crítica sobre várias peças.



     Resolvi tirar um tempinho e propus uma entrevista a um querido e talentoso amigo, que dispensa apresentações. Ele aceitou o convite, concedeu-me essa honra e, aqui, está o resultado do nosso “papo”. Sempre faço questão de lembrar que não tenho formação de jornalista, o que pode fazer com que as perguntas não sejam as melhores; mas as respostas, essas, com certeza, são ótimas.


Foto: João Pedro Bartholo.


   Combinei, pessoalmente, com o entrevistado, enviar-lhe as perguntas, para que ele respondesse a elas por meio de mensagem de voz, via WhatsApp, com o objetivo de facilitar-lhe, consumindo menos o seu tempo, que já é pouco, para tantas coisas que ele faz, E BEM, simultaneamente. Assim se deu. Eu transcrevi todas as respostas que ele me enviou, procurando ser o mais fiel possível às suas palavras, tentando adaptar a linguagem oral à escrita. Muito pouco tive de mexer aqui ou ali, sem, absolutamente, alterar o teor de qualquer respostaConfiram minha conversa com FÁBIO PORCHAT:



1) O TEATRO ME REPRESENTA (OTMR):       Quando a “luz verde”, do seu “semáforo”, ou “sinal”, acendeu, no sentido de ter a certeza do que você gostaria de fazer, profissionalmente?

FÁBIO PORCHAT (FP): Eu sempre fiz TEATRO, na escola, não profissionalizante, cursinhos de TEATRO.... Eu adorava estar ali, mas nunca era um desejo da minha parte. Se você perguntasse, para o FÁBIO de 15 anos, o que ele queria ser, quando crescesse, ele não diria “ator, artista, roteirista”; nada disso, mesmo eu fazendo TEATRO. Obviamente, eu estava totalmente desconectado de mim mesmo, porque, olhando hoje, era nítido que eu faria TEATRO. Eu cheguei a fazer um curso pré-profissionalizante, com 17 anos, lá no INDAC (Instituto de Arete e Ciência), em São Paulo, mas também sem uma meta. Era mais porque eu gostava muito daquilo, era um ambiente que eu adorava. A “luz verde” veio no “Programa do Jô”, no “fatídico” “Programa do Jô”, quando eu fui, com a faculdade, para assistir, e pedi, lá na frente, para fazer um texto de “Os Normais”, que eu tinha escrito, e ali é que eu descobri o que eu queria. Larguei tudo, em junho de 2002, e me mudei para o Rio de Janeiro, para ser ator. Vim para fazer a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras).



Foto: autor desconhecido.


2) OTMR: Depois de se formar, pela CAL, você estreou sua primeira peça, ao lado do querido, talentosíssimo, saudoso e inesquecível Paulo Gustavo, seu colega de turma, no palco, em 2005, no minúsculo Teatro Candido Mendes. Era “INFRATURAS”, um conjunto de esquetes, escritos por você, sob a direção da querida Malu Valle. Não foi sucesso de público, porque você mesmo já disse, em entrevistas anteriores, que “ninguém ia sair de casa, para ver dois moleques desconhecidos”. Como, porém, o meu lema, parafraseando o poeta Fernando Brant é “Todo crítico de TEATRO e jurado de Prêmios de TEATRO tem que ir aonde o ARTISTA está.”, eu fui testemunha daquele momento. Como você se sentiu, diante daquela expectativa, de público, não correspondida? Pensou em parar e, talvez, voltar ao curso de Administração de Empresas, ou fazer outra coisa na vida?

FP: Não! A gente sabia que o TEATRO não ia dar público mesmo. Claro que contávamos com que fosse legal, mas imaginávamos que ninguém iria assistir mesmo! A gente ficou... Claro que ninguém quer fazer COMÉDIA para cinco pessoas na plateia! A gente queria mais gente. A gente divulgava muito, ia filipetar na praia, colava pôsteres por toda a cidade, ficava nessa vontade, mas a verdade é que sabíamos que não ia funcionar. A gente achava divertido o espetáculo, gostava, mas não tinha essa ideia de que o TEATRO iria dar público, de verdade. Isso foi uma coisa que a gente nunca criou, essa expectativa. 



3) OTMR:  Quando você “viu a luz acender”, era para ser ator ou, especificamente um ator de COMÉDIA?

FP: COMÉDIA!!! Desde o início, desde quando eu saí de São Paulo, para ser ator, eu vim para o Rio para fazer COMÉDIA, para escrever COMÉDIA, para ser um ator de COMÉDIA. Então, eu já sabia que essa era a minha facilidade, que era isso que eu sabia fazer e aí comecei a enveredar na COMÉDIA, na Escola de Teatro; eu, Marcus Majella e Paulo Gustavo, fazendo COMÉDIA, fazendo sempre cenas de COMÉDIA. Eu comecei a escrever muita COMÉDIA... Então, desde o início, eu já sabia que ia ser COMÉDIA.




Marcus Majella, Fábio Porchat e Paulo Gustavo.

Foto: autor desconhecido.


4) OTMR: Você sempre foi “o engraçado”?

FP: Eu sempre fui “o engraçado” da turma; na escola, na Escola de TEATRO, com a família... Eu sempre contava piadas, sempre contava histórias de forma divertida. Então, eu sempre acabava sendo “o engraçado”.



5) OTMR: Como surgem, de um modo geral, as ideias para um novo texto ou projeto?

FP: Ideias, eu vou tendo sem parar, aos montes, assim, olhando ao meu redor. Às vezes, vendo uma coisa de audiovisual ou de TEATRO mesmo, me dá uma ideia. Eu anoto e vou tentando botá-las em prática. Ideia de um esquete para o “Porta dos Fundos”, ou para um filme, ou para uma série, ou para o que quer que seja. Então, tudo gera piada, gera ideia. No fim das contas... Você percebe que ideia é uma coisa muito aleatória, porque tem poucos filmes sobre criatividade, sobre ter ideias, porque as ideias, elas vêm do nada. Às vezes, você está no trânsito e tem uma ideia de um negócio que não tem nada a ver com trânsito. De repente, um hipopótamo... Mas por quê? Freud explica, mas então... As ideias, elas vão vindo, vão surgindo, e eu tento deixar a cabeça muito aberta, para ter ideias me forrando de conteúdo, pra ele ir me inspirando.


 

6) OTMR: O que pode gerar uma piada?

FP: Tudo pode gerar uma piada. A piada é, também, o olhar pelo outro viés. Olhar pelo lado que o público não está esperando. Muitas vezes, a COMÉDIA está naquele lugar, que todo mundo já pensou naquilo, mas ninguém nunca falou, e, muitas vezes, está em surpreender o público com uma virada. A gente faz uma virada de expectativa e fala: “Poxa! A gente faz o público olhar para um lado e vira pro outro!". Então, tudo pode ter piada; da coisa mais pesada, mais triste, mais horripilante, mais escrota, mais preconceituosa, que seja, tem piada ali. Cabe a cada comediante escolher que tipo de piada quer fazer.



7) OTMR: Como tanta gente, eu, também, às vezes, fico tentando definir “humorista” e “comediante”. Já li várias teorias sobre isso. Como você difere um do outro, se é que existe uma diferença entre ambos? Se existe diferença, “que carapuça você coloca na sua cabeça”?

FP: Eu acho tudo meio a mesma coisa. Humorista e comediante é tudo a mesma coisa. Tinha uma definição, do Chico Anysio, de que comediante era o ator e humorista, o que escreve. Quem escreve a piada e o texto é humorista e quem só performa, na frente, é comediante. Eu não sei muito quão importante isso é, na verdade, para a carreira de alguém. Claro que é bom que a gente defina isso! Acho boa a pergunta, mas, no fim das contas, se você fizer o outro rir, está bom, não é?




8) OTMR: Se considerarmos a definição, “ao pé da letra”, do que venha a ser o formato de um “stand up comedy”, chego à conclusão de que você não é um “stand upper” (Criei o termo. Neologista em inglês. Eu não quis fazer uma piada. Não levo o menor jeito para isso.), uma vez que, “ligado a uma tomada de 220 volts”, você não para quieto em cena, e, sozinho, ocupa o imenso palco do Teatro Casa Grande, por exemplo, como vem ocorrendo nesta vitoriosa temporada do espetáculo com o qual você está em cartaz, “HISTÓRIAS DO PORCHAT”, lotando aquele Teatro de quase mil lugares (926, para ser exato.) Como crítico de TEATRO, penso que você inaugurou um novo gênero teatral. O que acha disso?

FP: Desde o início, desde quando eu comecei a fazer “stand up”, eu tentei... Eu sou formado como ator, no TEATRO. Eu gosto de fazer no Teatro. As pessoas gostam muito de fazer “stand up” em bares, restaurantes, e tal, mas eu sempre gostei de fazer no Teatro, porque eu sempre precisei de espaço para criar, para correr de um lado para o outro, para usar o meu corpo. Então, eu sempre pensei nisso, eu sempre pensei o “stand up” assim: Eu só tenho um microfone na mão, mais nada. Então, como é que eu posso preencher o espaço teatral da forma mais completa possível? Então, é ressignificar o espaço, o meu corpo, o olhar, e sempre ação com palavra, palavra com ação, aquilo que Celina Sodré, uma diretora de TEATRO, de quem eu sou discípulo, sempre falou: “Nunca é o gesto; sempre é a ação. Tudo o que você está fazendo ali tem que ser de verdade, tem que ser valendo. Você tem que ver aquilo que você está falando,”. Eu vejo o gorila, eu vejo o hipopótamo... E só assim o público vê também, porque, no TEATRO, se eu falo assim: “Aqui, tem uma janela.”. O público aceita. Ele olha e fala: “Tá bom! Aqui tem uma janela.”. Agora, se eu falar: “Aqui, tem uma janela de madeira, vermelha, com detalhes em preto.”, você imagina imediatamente, imaginou a janela. E é isso que é a “mágica” do TEATRO.  



 

9) OTMR: Copiei da internet: “A fórmula universal da piada se aplica a qualquer forma de piada, seja uma anedota, esquete ou ‘bit’ de uma apresentação de ‘stand up’. Toda piada tem uma preparação (‘setup’) e uma quebra (‘punch’), que constituem a fórmula da piada”. Acho que perdi meu tempo, lendo isso, na internet. Existe, na sua opinião, uma fórmula universal de piada?

FP: Existe, totalmente, uma forma universal da COMÉDIA. COMÉDIA é matemática. Levanta, corta, levanta, corta... É o “setup” e o “punch line”, é inversão de expectativa. Há, inclusive, exercícios de piadas, de livros, para contar a piada, para mostrar como é, como é que faz, e tal. Então, é totalmente assim. Com certeza, tem esse tipo de pensamento por trás de uma piada, porque, é claro, o comediante faz de forma automática. A pessoa com um grau de experiência, ela faz, porque a COMÉDIA lhe vem automaticamente, mas, se ele estiver com algum problema, com alguma questão em fazer piada, se ele for na forma, ele acerta.



10) OTMR: Particularmente, não sou adepto da interatividade do ator com o público, porque já vi muita coisa que considero falta de respeito para com quem saiu de sua casa, pagou por um ingresso e vai servir de chacota, aos olhos do resto da plateia. As pessoas riem, porque não são elas que estão colocadas numa situação de ridículo e constrangimento. “No do outro é refresco”. Jamais poderia deixar de salientar que assisto a todos os seus espetáculos e jamais vi você agir dessa forma com alguém da plateia; pelo contrário, quando faz uma brincadeira com alguém do público, é sempre com muito respeito e elegância. Já aconteceu, alguma vez, de, ainda assim, alguém ter demonstrado uma reação negativa, quando de uma sua abordagem? Se isso acontecer, por exemplo, qual deve ser a reação do artista?

FP: Nunca aconteceu de ninguém ficar chateado, de ser chamado, de participar, e tal. É claro que eu, também, tento, ao máximo, não ser desagradável! A pessoa que vai ridicularizar a outra, a ponto de ela se sentir humilhada... Mas, ao mesmo tempo, não adianta também o ator querer ir para a plateia, chamar as pessoas que não querem ir para o palco. Se a pessoa, na plateia, diz que “Não, não, não!”, eu não levo; melhor não levar, senão o constrangimento dela é o constrangimento da plateia, porque, no fim das contas, aquela pessoa é um elemento daquele meio. A plateia se percebe, percebe ela como uma participante desse grupo, mesmo que eles nunca tenham visto aquela pessoa, antes, na vida. Então, se você desagradar a um membro da plateia, a plateia fala assim: “Pera aí! O próximo posso ser eu.”. Então, tem esse olhar meu, de carinhoso, com a plateia. “Que bom que vocês estão aqui! Que bom que vocês estão assistindo a esse “‘show’!” E eu pergunto quem nunca foi ao Teatro. Não é? Eu acho isso uma coisa mágica, a pessoa escolheu ir à minha peça. Ela nunca foi a um Teatro a vida toda. E, às vezes, não são adolescentes; são senhoras, são pessoas mais velhas, que nunca tinham ido ao Teatro. Eu acho isso emocionante e gosto de levar a pessoa para o palco, para ela entender o que é o TEATRO de verdade.



11)OTMR: Não quero, absolutamente entrar na esfera da política, para não criar nenhuma situação de constrangimento. Você sabe que temos o mesmo pensamento, a mesma posição, com relação a esse assunto. Antes de 2018, você já teve algum problema, por ter feito piada com algum político?

FP: Nunca fiz alguma piada, no palco, que tivesse alguma coisa com políticos, mas, no “Porta dos Fundos”, aí, sim, já deu questões, já deu problemas, porque a verdade é dura para os políticos. (RISOS) Quando você os ridiculariza, eles, que estão nos ridicularizando, eles se sentem ofendidíssimos, não querem. Mas não! Só no “Porta dos Fundos”. No “Porta dos Fundos”, alguns políticos já entraram nessa.



12) OTMR: Alguns atores costumam desenvolver uma excelente “química”, em cena, com determinado(a, os, as) colega(s). Um desses grandes exemplos é de você e Miá Mello, atriz e pessoa que eu adoro, que emplacaram um sucesso absoluto, na série, para a TV, “MEU PASSADO ME CONDENA”, e nos três filmes com o mesmo título. Vocês têm algum projeto, em mente, para um trabalho juntos?

FP: Miá Mello é minha mulher da vida jurídica. Eu amo a Miá, a gente, realmente, tem uma “química” muito boa e eu quero voltar com o “Meu Passado Me Condena”, de alguma forma; não sei como, se é uma nova série, se é um novo filme. Ideia é o que não falta. Eu e a Miá, a gente se dá muito bem. Então, com certeza, vai ter coisa nova vindo aí.



Fábio Porchat e Miá Mello.
Foto: autor desconhecido.


13) OTMR: Você prefere escrever para outros interpretarem ou para si próprio?

FP: Eu gosto muito de escrever, gosto de escrever para mim, porque, como aquilo saiu da minha cabeça, eu sei, exatamente, a entonação que eu pensei, quando tive aquela ideia, e não, necessariamente o ator que está lendo vai ter aquela mesma entonação. É claro que ele pode melhorar aquilo que está escrito, o jeito, tudo, mas, sempre que eu escrevo um texto, eu gosto de estar próximo de quem está interpretando, para eu poder tirar qualquer dúvida, olhar e, até mesmo, as mudanças serem feitas com uma compreensão do todo, e não só em busca de uma piada rápida, um “hahaha”, que você conquista ali, porque, também, aquele texto está contando uma história. Então, eu gosto de estar acompanhando, sempre, de perto, não importa o que seja, os textos que eu escrevo. Mas eu adoro escrever para outras pessoas também. Acho que as pessoas abrilhantam o seu texto, pegam o seu texto e melhoram ele, não é? O bom comediante, o bom ator, enfim... 



14) OTMR: Sempre que preciso escrever a palavra COMÉDIA, nas minhas críticas, faço-o grafando todas as letras em maiúsculo, em respeito a esse gênero, tão pouco reconhecido, de uma forma geral, pelo público brasileiro e, até mesmo, por alguns atores, que a consideram uma “arte menor”; pura estupidez. Louvo a sua iniciativa, ao criar um Prêmio de Teatro, especificamente voltado para a COMÉDIA, o “PRÊMIO DO HUMOR”. Você, quando encontra tempo, para ir ao Teatro, costuma privilegiar as COMÉDIAS?

FP: Na minha vida, não só o TEATRO, mas o cinema, séries... Eu assisto de tudo. Eu acho que, como ator, eu preciso assistir de tudo e saber de tudo. Eu adoro COMÉDIA. Eu sou daquele público bom. Eu rio bem, eu rio alto, eu gosto de ir ao Teatro, eu sento na primeira fila... Eu adoro ir a COMÉDIAS, ver peças. “A Casa dos Budas Ditosos”, com a Fernanda Torres; “Os Ignorantes”, com o Pedro Cardoso; Regina Casé... Pegar essa gente grandiosa e ir lá, assistir. É uma maravilha, quando você acerta na mosca. É excelente! Eu não privilegio COMÉDIA. De um modo geral, eu privilegio o conteúdo. Eu vou assistir àquilo que está acontecendo, o que está sendo feito. E, quando é uma boa COMÉDIA, é uma maravilha. Eu adoro rir






Fernanda Torres.
Foto: autor desconhecido.





Pedro Cardoso.
Foto: autor desconhecido.




Regina Casé.
Foto: autor desconhecido.


15) OTMR: Não gosto dessa coisa de “top não sei quantos melhores...”, mas quais os comediantes que marcaram sua vida, antes de se tornar um profissional da COMÉDIA, e os que, ainda hoje, o influenciam?

FP: Falar de COMÉDIA, no Brasil, é fácil, não é? A gente tem tantos grandes comediantes!!! A gente pode pegar a trinca máxima: Jô Soares, Chico Anysio e Golias. Eu botaria aí, também, o Lúcio Mauro, o Agildo (Ribeiro). Tem tanta gente boa, realmente. Dercy! Imagina, se a gente for lá para trás! Mas, para dizer os meus, assim de pertinho, aqueles que eu acompanhei, a minha trinca é Pedro Cardoso, Regina Casé e Fernanda Torres. Não à toa, eu citei os três, na resposta anterior, porque eles três formam, pra mim, o que eu quero ser, quando crescer. De COMÉDIA, de tempo, de olhar, de crítica, de entrega, de conversa com o público. Eles são aquilo que eu acho de melhor, assim. Mas eu amo o Falabella. Eu colocaria o Falabella aí, nesses mosqueteiros, que são quatro.



Chico Anysio e Jô Soares.
Foto: autor desconhecido.



Golias e Jô Soares.
Foto: autor desconhecido.




Lúcio Mauro.
Foto: Ivone Perez.




Agildo Ribeiro.
Foto: Rafael Sorin.




Dercy Gonçalves.
Foto: autor desconhecido.




Miguel Falabella.
Foto: autor desconhecido.


16) OTMR: Você disse, num recente “PAPO DE SEGUNDA”, ao prestar uma justa homenagem ao Jô Soares, que estávamos inaugurando uma nova era, em termos de TV: “antes de Jô e depois de Jô”. Você diria que, na sua vida, aquele dia em que, na companhia de colegas da faculdade, você foi assistir a uma gravação do “Programa do Jô” e lhe fez chegar às mãos aquele bilhete, que o levou a chamar você para apresentar um esquete, também poderia, para o FÁBIO, marcar duas eras: antes e depois do “Programa do Jô”?

FP: Com certeza, a minha vida é antes e depois do , porque foi lá que eu descobri o que eu queria fazer da minha vida e lá transformou a minha vida no que ela é hoje. Eu larguei tudo o que eu tinha, tudo o que eu estava fazendo, para fazer uma outra coisa que se mostrou a coisa mais acertada pra mim. Então, com certeza, aqueles meus 18 anos, no “Programa do Jô”, me transformaram completamente.



Fábio Porchat e Jô Soares.
Foto: autor desconhecido.

17) OTMR: Oficialmente, a censura, esse organismo de retrocesso, não existe mais no Brasil, entretanto, sei de casos em que colegas seus, de profissão, já receberam “sugestões” para “evitar” este ou aquele assunto. Isso já lhe aconteceu alguma vez?

FP: Eu acho que cada plataforma tem a sua própria censura, digamos assim, o seu limite. Assim, na TV aberta, você pode falar um tipo de coisa; no “streaming”, você pode falar outra; no TEATRO, é mais liberado. Então, em cada lugar, tem um jeito, um público que você atinge, que você pode falar. E é claro que há assuntos tabus, no Brasil, quando a gente quer falar de política, ou de religião, ou quer falar de aborto, racismo... Eu acho que, no humor, não pode ter nada sagrado. A gente tem é que, exatamente, dessacralizar tudo e falar de tudo.



18) OTMR: Você já passou por alguma situação de “saia justa”, no palco, que nunca tenha contado e possa ser tornada pública agora?

FP: Eu tive uma dor de barriga violenta, no meio de uma cena, num “stand up”, eu sozinho, no palco, e eu tive que sair, para ir ao banheiro, mas não avisei ao público. Fingi que deu um problema no áudio e saí correndo, para ir ao banheiro. Fui e voltei, em 30 segundos, e deu certo. Eu já tive uma apresentação em que a minha calça rasgou, bem na parte da bunda, e eu tive que fazer toda a peça sem poder virar para trás, para ninguém poder ver a minha bunda. Tudo bem que eu estava de cueca, mas, mesmo assim, não é uma situação boa, não é?



19) OTMR: Qual é a ética do ator de COMÉDIA?

FP: Não sei, exatamente, qual é a ética. Eu acho que o que existe mais é a ética de cada um, o que você está disposto a fazer, falar, e até que ponto você quer chegar ao lugar para fazer as pessoas rirem. Às vezes, tem piadas horríveis, escrotas, más, e você pode querer comprar essa briga. Essas piadas não são, necessariamente, ruins. Elas podem ter graça e serem de péssimo gosto, de péssimo caráter. Eu acho que a ética é de cada um. Sobre o que você quer falar, até onde você quer ir e o que você sente que é a sua COMÉDIA.



20) OTMR: A pergunta é bem “batida”, mas acho que sempre cabe um espaço para ela: Qual é o limite para o humor?

FP: Não existe limite para a poesia, limite para a ficção científica, limite para a aventura, como também não existe limite para o humor. O limite, para todas as formas de expressão, é a Constituição. Tudo o que está na Constituição não pode ser feito ali, não é? O resto, tudo pode. Acho que é simples assim.



21) OTMR: Até que ponto o projeto “PORTA DOS FUNDOS” alavancou a sua carreira?

FP: O “Porta dos Fundos” me popularizou, me fez ser conhecido e me fez estourar, como um novo comediante, um comediante da nova geração. Eu já fazia “stand up”, as pessoas, na internet, sabiam quem eu era, mas, quando veio o “Porta dos Fundos”, que ultrapassou tantas barreiras... Então, é um divisor de águas, sim, na minha vida, também, o “Porta dos Fundos”. Em 2013, que é quando o “Porta...”, estreou em 2012, mas 2013 foi um ano que mudou a minha carreira, porque eu fiz muita coisa, por conta do “Porta dos Fundos”.




22) OTMR: Vamos imaginar que estamos no “QUE HISTÓRIA É ESSA, PORCAHT?”, nas perguntas do final do programa. Que pergunta você gostaria que eu lhe fizesse e que não fiz?

FP: A pergunta: “Com quem você gostaria de ter trabalhado e que não está mais entre nós?” E eu diria: Nair Bello e Rogério Cardoso, porque são brilhantes, hilários, e eu gostaria de ter feito alguma coisa com eles.



Nair Bello e Rogério Cardoso.

Foto: autor desconhecido.


 

OBSERVAÇÃO Nº 1: Houve uma pergunta que não foi respondida pelo FÁBIO, por um lapso, certamente, mas eu faço questão de colocá-la aqui, para tornar pública uma opinião minha e que sustentarei sempre:   

OTMR: Pela minha experiência de mais de cinquenta anos dedicados ao TEATRO, sinto firmeza, ao dizer que todo ator de COMÉDIA pode vir a atuar bem, interpretando um personagem dramático, entretanto a recíproca não é verdadeira, na minha visão. Acho que ninguém pode  querer ser engraçado, se não o é, naturalmente. Tenho a certeza de que duas coisas são fundamentais para o indivíduo chegar a ser um bom ator de COMÉDIA: uma inteligência acima do normal e uma capacidade para improvisar sobre qualquer coisa que surja, de repente, o que implica um raciocínio muito ágil. Você concorda? Em caso de uma resposta positiva, o que mais não pode faltar a um ator de COMÉDIA? 

OBSERVAÇÃO Nº 2: Para mim, FÁBIO PORCHAT reúne essas “duas coisas fundamentais” e, consequentemente, consegue raciocinar “na velocidade de um raio”.


 


Foto: João Pedro Bartholo.


        Os meus maiores e sinceros agradecimentos ao nosso entrevistado.

 

 

Foto: Nataly Mega.




FOTOS: CRISTINA GRANATO


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