POR QUÊ?
(PORQUE...,
PORQUE...,
PORQUE...
ou
VÁ VOCÊ SABER POR QUÊ.)
Domingo,
26 de agosto de 2018. Eram 15h55min. Estava eu, acomodado numa
cadeira da última fileira do Teatro
Ipanema, aguardando o início, marcado para as 16h, de uma peça infantojuvenil, chamada “POR QUÊ?” (VER SERVIÇO.), quando me dei conta de um fato muito
curioso e interessante, que me levou a fazer, na hora, uma postagem numa rede
social, acompanhada de uma foto da plateia (por trás), que fiz naquele momento.
Eis o conteúdo da postagem:
Plateia do Teatro Ipanema LOTADA, para a
sessão de "POR QUÊ?", que já vai começar.
E NÃO PARA DE CHEGAR GENTE...
Acho que vai ser LOTAÇÃO ESGOTADA.
Sim! É verdade! Já estão colocando bancos
extras.
Que lindo!!!
Adoro essa plaquinha!!!
E VIVA O TEATRO INFANTOJUVENIL!!!
E
a peça começou, com cerca de 20 minutos de atraso, o que não é
recomendável, principalmente para um público infantojuvenil, entretanto era por
uma “causa justa” (tentar acomodar todo mundo) e, por incrível que pareça,
ninguém reclamava, como é costume fazerem (E
COM RAZÃO!!!), entendendo as explicações pelo atraso, que eram dadas por
pessoas do Teatro e da produção, acompanhadas de pedidos de
desculpas e da compreensão de todos. O público não era egoísta e sabia esperar,
até que outras pessoas tivessem a mesma oportunidade que eles já haviam
conquistado: um lugar, para ver “POR QUÊ?”.
À
noite, em casa, impressionado com o que vi, resolvi partir para outra postagem,
acompanhando a arte da peça, copiada da mesma rede social:
Assisti, hoje, no Teatro Ipanema, que conta
com 222 lugares.
Fiquei impressionado com o que vi, em se
tratando de uma peça infantojuvenil, SEM NENHUM GLOBAL NO ELENCO, com a LOTAÇÃO
ESGOTADA, sendo que os responsáveis pela ocupação do Teatro e pessoas da produção
tiveram de colocar cadeiras e bancos extras, para atender à demanda de gente
que, do lado de fora, insistia em comprar ingressos e assistir à peça.
Isso é MUITO LINDO!
EVOÉ!!!
Parabéns a
todos os envolvidos no projeto!!!
E
agora, GILBERTO BARTHOLO? A peça acabou, o público aplaudiu, o
público gostou e foram todos para as suas casas, felizes. E agora, GILBERTO BARTHOLO? (Viva Carlos Drummond de Andrade!!!)
Não tenho o
hábito de escrever sobre espetáculos
infantojuvenis, embora os adore e os prestigie sempre que posso, por uma única razão:
falta de tempo. Não poderia, porém, deixar de escrever, pelo menos, um pouco
sobre “POR QUÊ?”. Vamos lá!!!
O crítico não é o dono da verdade.
Gostei do espetáculo? Sim. A ponto de encontrar um tempinho para escrever sobre
ele? Sim, com algum sacrifício, já que estou assoberbado de trabalho. Gostei,
sim, ainda que tenha percebido algumas falhas, as quais, absolutamente, não
chegam a comprometer tanto a montagem,
mas que precisam ser comentadas, a fim de que, se me derem ouvidos e a minha
opinião for merecedora de alguma credibilidade, procedam a algumas alterações,
que poderão fazer o espetáculo
agradar mais ao público do que já agrada. E
isso é o que interessa: agradar ao público. É bastante comovente e contagiante a participação das crianças.
A
base do espetáculo é um questionamento acerca das restrições de comportamento de meninas e
meninos. Vivemos numa sociedade em que a figura masculina tem mais peso, o que
leva a proibições e permissões ridículas, quanto ao que cabe a um menino ou
a uma menina fazer. Menino pode isso e aquilo, mas não pode aquilo outro.
Com as meninas, idem. Mas quem determinou isso? Por que um menino, e, mais tarde,
um homem, não pode chorar? E por que uma menina, e, depois, uma mulher feita,
não pode gostar de jogar futebol? A grande importância deste espetáculo reside
no fato de ele incentivar os adultos, em geral, a dar um fim a essas convenções
idiotas e retrógradas, permitindo, sim, a uma criança, o sagrado desejo de se divertir
da maneira que bem entenda e manifestar suas emoções, sem repressão ou autocensura,
esta surgindo de uma censura externa.
Graças a Deus, e mais a uma
porção de outros fatores, essas ideias, machistas e esdrúxulas, castradoras,
totalmente desprovidas de qualquer lógica e sentido, vêm sendo destruídas, nos últimos
tempos, mas, infelizmente, ainda, muitas famílias conservam permissões e
proibições aos meninos e meninas, o que, de forma alguma, não vai contribuir
para a uma boa sanidade de seus pequenos, quando forem adultos. Crescerão
pessoas intolerantes e preconceituosas, tudo o que um ser humano não deve nem
pode ser. “POR QUÊ?” “incentiva a liberdade, a igualdade e a superação
dos estereótipos impostos pela sociedade”.
SINOPSE:
Como
criar crianças, livres de limites impostos sobre o que é ser uma menina e
o que é ser um menino?
A
peça chega, para renovar a perspectiva
sobre o que define as identidades masculino
/ feminino.
Livremente
inspirada no livro “Para Educar
Crianças Feministas - Um Manifesto”, da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, o texto apresenta CHIZALUM (ALINE BORGES / NOÊMIA OLIVEIRA), NORA (JOANA LERNER) e TOMÁS
(BRUNO MOTTA), duas meninas e um menino, cheios de questionamentos sobre
comportamentos impostos pela cultura da sociedade em que vivem.
Por que há coisa que um pode e o outro não? Por que
super-herói é coisa de menino? Por que meninas são tratadas como bonecas? Por
que homem não chora?
A partir de questionamentos como esses, o texto, de DIANA HERZOG, provoca o público e convida-o a embarcar na busca de
uma existência livre e igualitária, de forma sensível e bem-humorada.
As três crianças protagonistas
partem em uma jornada fantástica, atrás de uma carta voadora e, durante a
aventura, descobrem a importância das suas forças e fragilidades.
Segundo o “release” da peça,
enviado por GISELE MACHADO (MARROM GLACÊ
ASSESSORIA), “A
autora, DIANA HERZOG, que também é responsável pela direção do espetáculo,
elaborou o roteiro a partir de depoimentos de diversas crianças, das atrizes e
atores presentes durante o processo de ensaio. A coordenação dramatúrgica fica
por conta de RENATA MIZRAHI”.
Ainda que nada original, uma vez que muitos já o abordaram, o tema é bastante interessante e de
grande utilidade pública. Discutir o
porquê de existirem “caixas”, impostas, destinadas a comportar o que é adequado
a um menino ou a uma menina, será sempre bem-vindo. O grande desafio, no
caso, para quem faz a dramaturgia, é
bem grande, pois, como muita gente já escreveu sobre isso, faz-se necessário,
portanto, pegar um viés bem diferente, nunca antes explorado, ser original,
sobre o que não o é. Não acho que o caminho escolhido tenha sido o melhor.
Creio que a dramaturgia, com alguns
momentos confusos, vista do ponto de vista técnico, merecia outro tratamento,
para atingir, mais diretamente, o público-alvo, o qual se diverte à farta, é
verdade, muito mais pela movimentação dos atores, em cena, graças à boa direção de movimento de ORLANDO CALDEIRA, e pelo aspecto lúdico
do espetáculo do que pela mensagem
que ele deseja passar. Mas, tudo bem!!! Nada que impeça a comunicação entre
atores e público.
Acho
importante reproduzir outras palavras da diretora,
ainda retiradas do já citado “release”,
que justificam a peça montada: “O objetivo dessa peça é levar representatividade a essas
crianças (as que não se enquadram nas “caixas”) e mostrar que tudo que elas têm
de diferente é, justamente, o que elas têm de riqueza. A natureza individual de
uma criança não pode ser reprimida por preconceitos reproduzidos social e
culturalmente”.
A ideia
de começar o espetáculo na plateia é
boa, promove, de saída, a interação
atores/público, tão importante em espetáculos
infantojuvenis. Isso funciona muito bem. Ponto positivo.
Agradaram-me
as atuações do trio de atores, sem motivo
para um destaque. Todos dão o seu recado, com competência, no mesmo nível de
qualidade. Na sessão em que assisti à peça,
o papel de CHIZALUM foi interpretado
por NOÊMIA OLIVEIRA. Falta-lhes, a meu ver, um maior treinamento para o canto.
Por não
se tratar de uma produção
dispendiosa, até mesmo porque os tempos são difíceis e não estão para isso, os cenários (GIGI BARRETO) e os figurinos (JULI VIDELA) são bem
simples, porém atendem às exigências da montagem
e se destacam pelo colorido que apresentam, o que, para crianças,
principalmente as menores, é um elemento de grande importância. Criança “curte”
mais pelos olhos do que pelos outros quatro sentidos. Acho que também
foi um acerto. Nada de especial a comentar sobre a boa luz, de LUIZ ANDRÉ ALVIM.
A direção não apresenta grandes falhas,
porém acho que alguma coisa deve ser modificada, como, principalmente na
utilização de dois rapazes, agindo como “kurokos”
(“kuroko”, em japonês, significa ”criança negra”.). No TEATRO, o termo é aplicado a uma
espécie de contrarregra especial,
que entra em cena, totalmente vestido de preto, da cabeça aos pés, com o objetivo
de parecer invisível, não fazendo parte
da ação, apenas para ajudar os atores em determinadas cenas. Tal recurso é
utilizado em “POR QUÊ”?, mas faltou
“combinar com os russos”. Por que, pergunto eu, não combinaram diretora e iluminador? Para funcionar bem, esse efeito precisa de uma luz muito apropriada, bem cuidada, de
modo a que não apareçam, para o público, os “kurokos”, o que não acontece nesta peça. Eu os percebi, no palco, perfeitamente, da última fileira do Teatro. Imaginem os que estavam mais próximos!
Não sei se isso possa ser de maior importância (Para mim, é.), mas penso que haja uma solução fácil de ser
aplicada, resolvendo-se o problema, e as cenas em que eles são utilizados
passarão a ter um efeito muito melhor e “mágico”.
No momento em que é utilizado o velho, e bom, efeito das sombras, principalmente
neste tipo de espetáculo, acho que a técnica merece um maior cuidado, para que
possa ser, realmente, atingido o efeito desejado.
FICHA TÉCNICA:
Texto
e Direção: Diana Herzog
Coordenação
Dramatúrgica: Renata Mizahi
Elenco:
Aline Borges / Noêmia Oliveira (Chizalum), Breno Motta (Tomás) e
Joana Lerner (Nora)
Kurokos
(contrarregragem especializada): Felipe Sampaio e Rodrigo Ladeira
Direção
Musical: Isadora Medella
Direção
de Movimento: Orlando Caldeira
Cenário:
Gigi Barreto
Figurino:
Juli Videla
Iluminação:
Luiz André Alvim
Fotos:
Pinolla Fotografia
Mídia
Digitais: Patrícia Vasquez
Direção
de Produção: Aline Mohamad
Ideia
Original e Colaboração Artística: Valéria Martins
SERVIÇO:
Temporada: De 11 de agosto a 09 de setembro.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: Sábados e domingos, às 16h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Duração: 50 minutos.
Indicação Etária: Livre
Gênero: Teatro Infantojuvenil
Longe
de mim a intenção de criticar, negativamente, a peça, que vale a pena ser vista, pelo conjunto da obra, mas não
ficaria em paz com a minha consciência, se não apontasse as pequenas falhas que
observei e que podem, e devem, a meu
juízo, ser sanadas, fazendo com que o espetáculo se torne ainda melhor.
Os
que me conhecem e/ou estão acostumados a ler as minhas críticas, sabem que só
escrevo sobre aquilo de que gosto, sobre espetáculos que merecem ser
recomendados, como este interessante “POR QUÊ?”.
Assim
como estou recomendando a peça, também lembro que os ingressos devem ser adquiridos
com antecedência, para evitar a frustração, principalmente para uma criança, de
ficar impedida de assistir à peça e ter de voltar para casa triste.
E VAMOS AO TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA,
PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!!!
(FOTOS: PINOLLA FOTOGRAFIA)
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