GILBERTO
GIL
–
AQUELE ABRAÇO
- O
MUSICAL
(“O
POETA, A CANÇÃO E O TEMPO”
ou
O GRANDE POETA, A BOA CANÇÃO E O ETERNO TEMPO.)
Aplaudo, sempre, qualquer iniciativa
que se propõe a homenagear artistas e personalidades em vida. Como já disse o
grande poeta Nélson Cavaquinho, em “Quando Eu Me Chamar Saudade”, “Sei
que amanhã, quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom
coração. Alguns, até, hão de chorar e querer me homenagear, fazendo, de ouro,
um violão. Mas, depois que o tempo passar, sei que ninguém vai lembrar que eu
fui embora. Por isso é que eu penso assim: se alguém quiser fazer por mim, que
faça agora. (...) Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade. Quero
preces e nada mais”.
É por isso que não poupo elogios a GUSTAVO GASPARANI, que idealizou, fez a dramaturgia e dirigiu
o musical “GILBERTO GIL – AQUELE ABRAÇO
– O MUSICAL”, um belo e comovente tributo a um dos nomes mais importantes
da MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, já na
casa dos 70 anos, a maior parte dessa existência dedicada à arte musical (50 anos de carreira), nome reconhecido
por grandes talentos da música universal e bastante respeitado pelo público,
até no exterior.
O espetáculo está em cartaz no Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea), no Rio
de Janeiro (VER SERVIÇO.). Assisti a ele na sessão para convidados, numa 2ª
feira, 13 de junho (2016).
Quando vou assistir aos espetáculos, sempre tenho, em mãos, um
caderninho e uma caneta, para anotar todos os detalhes da encenação, com o objetivo
de ser o mais profundo e detalhista possível, nas minhas críticas. Não foi
diferente naquela noite, contudo as anotações ficaram apenas na intenção, uma
vez que o espetáculo é tão envolvente, provocante, propõe - e consegue - uma troca de energia tão intensa com a plateia, que,
com menos de dez minutos de ação, eu e mais de quatrocentas pessoas cantávamos
e dançávamos, junto com os atores/cantores/musicistas, numa festa, que não dava
vontade de que terminasse.
SIM, O ESPETÁCULO É UMA FESTA. E
PARA TODAS AS IDADES. Assim, tive de voltar ao Clara Nunes, na mesma semana, no sábado (18) (e ainda quero rever
outras vezes), graças à gentileza de Kananda
Raia, que reiterou o convite, para que eu me extasiasse, outra vez, com
aquela maravilha e conseguisse me conter, a fim de fazer os meus registros
escritos. Consegui; em parte.
O espetáculo chega ao Rio, depois de
uma brilhante carreira em São Paulo, onde fez sua estreia, e traz, na bagagem,
a consagração do público paulistano e o reconhecimento da crítica local. Não é
nem será diferente aqui.
Antes
de mais nada, é preciso deixar bem claro que não se trata de um musical biográfico, que são ótimos, por sinal –
a maioria -, entretanto não foi essa a intenção de GUSTAVO GASPARANI, quando pensou em escrever este trabalho, que
traz, no elenco, o mesmo grupo que brilhou em “Samba Futebol Clube”, outro sucesso com a assinatura de GUSTAVO, com tantos prêmios,
merecidamente, conquistados: ALAN ROCHA,
CRISTIANO GUALDA, DANIEL CARNEIRO, GABRIEL MANITA, JONAS HAMMAR,
LUIZ NOCOLAU, PEDRO LIMA e RODRIGO LIMA, em ordem alfabética.
Atores imitam o jeito, característico, de falar de GILBERTO GIL.
SINOPSE:
A tríade “O POETA, A CANÇÃO E O TEMPO” conduz um
musical, que abraça uma carreira consagrada.
O espetáculo homenageia os
50 anos de carreira de um dos
maiores ícones da Música Popular Brasileira.
Através de sua própria
obra, ora falada, ora cantada, por oito atores/músicos multi-instrumentistas, o
musical lança um olhar contemporâneo às canções do artista, que refletem sobre
seu tempo, a história da música nacional e do próprio país.
Na dramaturgia e direção geral,
GUSTAVO GASPARANI, que, numa
profunda pesquisa, estudou todas as letras, ouviu todos os discos e leu todos
os livros publicados sobre GILBERTO GIL,
antes de, finalmente, conceber esta homenagem, cuidou de trazer, para o
espetáculo, o lugar de risco e ousadia, presente na carreira do compositor, sem
deixar de lado a delicadeza, que sempre o acompanhou.
O resultado é uma montanha-russa
de emoções, que podem ser sentidas pelo público, durante toda a apresentação,
em um musical único e imperdível.
Para dar
continuidade a estes comentários, farei uso, com as devidas adaptações, das
informações contidas no “release” da
peça, enviado pela assessoria de
imprensa (Kananda Raia).
É muito interessante
a estrutura do espetáculo, durante o qual as letras das canções, que vêm sendo
cantadas por GIL e seus muitos e
ótimos intérpretes, há tantos anos, mostram, além de poesia, o seu lado
teatral. São elas que dão o tom dramatúrgico de 11 blocos temáticos, num passeio pela sua origem musical, o
movimento tropicalista, a negritude, o amor, a religiosidade, a tecnologia, o
futurismo, entre outros assuntos, que marcam as suas composições. Em todos
eles, “vida e morte” estão inseridas, como dupla central e indispensável, tal
qual o poeta fez em toda sua trajetória.
A
sequência dos blocos temáticos é esta: 1)
Abertura – O compositor me disse; 2)
Impressões à beira do cais; 3) E o
mar virou sertão; 4) Os anos de
chumbo e a Tropicália; 5) A paz
invadiu o meu coração; 6) Negritude
e fé – a Refavela; 7) Negritude e fé
– o canto dos orixás; 8) A raça
humana – dois mil e Gil: uma odisseia no espaço; 9) O poeta, a canção e o tempo; 10) Refestança – Gil de todos os ritmos; 11) A lata do poeta – metáfora.
De todos os blocos, só faço restrição ao oitavo. Não que eu não ache
importante a temática e, menos ainda, que não goste das canções que fazem parte
dele; muito pelo contrário. Acho, porém, e algumas pessoas, com as quais
conversei, pensam como eu, que a concepção da cena não condiz com o resto do
espetáculo. Parece que fica meio “solto”, fora do contexto. Foi meu pensamento
primeiro, que ratifiquei, na segunda vez em que vi o musical. Espero, contudo,
ainda retificá-lo.
Elenco.
As canções, em
sua forma original, com todos os arranjos, tons e semitons, também não ficam de
fora. Ao todo, 55 músicas são
cantadas, total ou parcialmente, pelos atores/músicos, os quais tocam 39 diferentes tipos de instrumentos em
cena.
No espetáculo,
em doses totalmente iguais, junta-se o elemento musical com o plástico. A plasticidade é um dos destaques do musical. O toque de multimídia valoriza
100% a encenação. Tudo é “Divino e
Maravilhoso”, a começar pelas projeções
e os videografismos, trabalho
impecável, feito pela equipe de THIAGO
STAUFER, que ajudam a ambientar os momentos retratados, além de indicar
cada bloco a ser explorado, o que é de grande valia para o público, tudo utilizando
alta tecnologia e abusando dos “leds”, em dois telões, em forma de uma cruz
“deitada”, assimétrica, detalhe inovador, parte do excelente cenário, de HÉLIO EICHBAUER, que conta, também, com alguns praticáveis baixos,
no fundo do palco, e duas “estantes”, nas laterais, nas quais fica boa parte
dos instrumentos musicais utilizados. Os outros estão espalhados no palco.
Ainda no campo
da plasticidade, merecem destaque os
lindos figurinos, de MARCELO OLINTO (alguns bordados e
aplicações em alto-relevo são belíssimos), voltados para a estética da Tropicália, numa profusão de cores,
para alegrar a festa.
Um espetáculo
à parte fica por conta, mais uma vez, da competência e criatividade de PAULO CÉSAR MEDEIROS, na iluminação. Se há festa, a luz é
essencial. Muito brilho!!! “Quanto mais
purpurina, melhor”!!!
Um dos
detalhes mais interessantes da peça é o fato de, em alguns momentos, os
próprios atores, dirigindo-se, diretamente, ao público, deixarem seus
depoimentos, acerca da importância de GIL
em suas vidas e como ele entrou nelas, tanto do ponto de vista pessoal como
profissional. Alguns, em especial, são bastante comoventes. GIL, como poeta, músico, cantor,
artista, é, quero crer, uma unanimidade. Imagino o quanto GUSTAVO GASPARANI
sofreu, para fazer a seleção musical do espetáculo. Quantas pérolas ficaram
de fora, por total falta de tempo, para abraçar toda a extensa e grandiosa obra
de GILBERTO GIL!
Os trechos dos
depoimentos pessoais dos atores e alguns outros, frutos da pesquisa do autor da
peça, são os únicos que não pertencem às letras de músicas de GIL (estas correspondem, talvez, a mais
de 80% de todo o texto). Tudo,
entrelaçado, mistura ficção e realidade e mostra como as produções do artista
dialogam com a vida de tantas pessoas.
Chama a
atenção, também o fato da contemporaneidade
da obra de GIL, pois, apesar de
muitas das canções terem sido compostas nas décadas de 60 e 70, é como se
tivessem surgido agora, de tão representativas da atualidade que vivemos. Seria
uma postura “visionária” de GIL, na
opinião de GUSTAVO GASPARANI, que
gastou parte de seu estoque de criatividade e talento na direção do espetáculo. É difícil dizer que cena é melhor que a outra,
assim como – certamente – é impossível apontar qual é a mais bela canção de GILBERTO GIL, seja como compositor
único, seja em parcerias.
O elenco e o diretor.
Dentre os
tantos momento que emocionam e ficam fixados na memória do espectador, registro
a cena em que é interpretada a canção “Roda”,
encenada em forma de um comício, num tom panfletário, próprio das convocações
para a luta contra a repressão, na década de 60. A letra da canção é
atualíssima e se presta à excelente concepção de GASPARANI.
“Se Eu Quiser Falar Com Deus”,
interpretada, em solo, por DANIEL CARNEIRO,
é outro momento de fazer com que lágrimas brotem.
A execução de “Cálice” é outro motivo de profunda
emoção, não só pela interpretação, mas também pelo fato de serem projetadas,
enquanto a canção é ouvida, rostos dos atores, misturados aos de tantas vítimas
dos porões da ditadura militar, que tanto mal causou ao país. E causa, até
hoje.
“A Linha E O Linho”, uma das minhas
canções preferidas, do vasto repertório de GIL,
é outro momento mágico, quando CRISTIANO
GUALDA a canta, ao vivo, fazendo dueto com TATIH KÖHLER, sua mulher, em projeção, vídeo, num sincronismo digno
de aplausos. Profundamente linda e emocionante essa cena!
É muito interessante
a ideia da direção, na cena em que
os atores, colocados um ao lado do outro, quase no proscênio, em posições
diferentes, representam a evolução da vida do Homem, da “Raça Humana” (“A raça humana é uma semana do trabalho de Deus), de GIL, de bebê à idade bem mais velha,
que esperamos ele atinja, ao som da canção "Tempo Rei". Um belo trabalho de expressão corporal!
A cena acima referida.
É claro que poderia citar tantas outras, e
cansar os meus leitores, mais do que já possa estar fazendo, porém reservei,
como última citação, o momento em que crianças, filhos e parentes dos atores,
em vídeo, cantam e brincam de tocar instrumentos, ao som de “Sítio Do Pica-Pau Amarelo”, que marcou
a infância de tantos adultos presentes na plateia.
Sem, em
hipótese alguma, querer apagar, ou diminuir, a importância do homenageado, o elenco do musical merece muitos
aplausos. Muitos mesmo!!! É formado
por oito atores/músicos, excelentes
artistas, que dividem a missão de interpretar, cantar, tocar e dançar,
conduzindo, eles mesmos, todos os movimentos de cena. Grandes atores, músicos e cantores! Timbres de vozes bem distintos,
todos agradabilíssimos aos ouvidos, sempre bem afinados e combinados. Não ouso fazer – jamais ousaria - um
destaque, pois todos são dignos de tal distinção.
Em pé, da esquerda para a direita: Pedro
Lima, Cristiano Gualda (encoberto), Luiz Nicolau e Jonas Hammar.
Embaixo, na mesma ordem, Gabriel Manita,
Rodrigo Lima, Daniel Carneiro e Alan Rocha.
Há um total entrosamento
entre o octeto, mergulhado numa sinergia incrível. Quer em conjunto, quer em
solos, todos são merecedores da minha total admiração. A parceria entre eles e a
equipe criativa é, certamente, a chave para o sucesso nos palcos e nos
bastidores. Nota-se muita união e cumplicidade entre todos. E TEATRO é para ser feito em parceria;
nada funciona individualmente.
“EU SEGURO MINHA MÃO NA SUA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS FAZER AQUILO QUE EU NAO POSSO, AQUILO QUE EU NÃO DEVO E
AQUILO QUE EU NÃO VOU FAZER SOZINHO: TEATRO! MERDA!”
Harmonia,
entre eles, é o que não falta. Não são trabalhos individuais; o coletivo está
presente, da primeira à última cena, ainda que todos tenham seus momentos de
solo, sempre muito bem aproveitados, graças aos talentos individuais.
Segundo GASPARANI, “Esse musical é uma colcha de
retalhos, de músicas que contam a história da obra do compositor e de como ela
afeta e influencia a vida de todos nós. Ficção e realidade se confundem no
texto”.
É claro que,
sendo um musical, é de capital
importância uma boa direção musical,
que não é o que acontece neste espetáculo. E sabem por quê? É que “ÓTIMA” é mais do que “boa”. O diretor musical é NANDO DUARTE e faz um trabalho irretocável, assim como MAURÍCIO DETONI, no que se refere aos arranjos vocais. O que é produzido, em
forma de som, chega, perfeitamente, aos ouvidos do público, graças ao correto desenho de som, a cargo de BRANCO FERREIRA.
Musical não pode abrir mão da coreografia, aqui assinada por RENATO VIEIRA, também responsável pela direção de movimento. RENATO faz um belo trabalho de
valorização das canções, explorando a diversidade de ritmos e as temáticas,
combinando gestos, passos e marcações, o que gera um excelente resultado.
GUSTAVO GASPARANI tinha uma pretensão: “Quis
fazer um trabalho que fosse totalmente sensorial. É um espetáculo mais poético,
diferente de tudo que já fiz. Espero que o público tenha a mesma experiência
que a gente teve ao mergulhar no universo de Gilberto Gil”.
Fez, GUSTAVO! Vivenciamos, com certeza, a mesma experiência, sim! O seu
espetáculo é lindo, alegre, muito “pra cima”, à altura do homenageado, e eu o recomendo muito e quero trocar
mais energia, outras vezes, com aqueles queridos e talentosos amigos em cena.
Não precisa de legenda.
FICHA TÉCNICA:
Autoria e Direção Geral: GUSTAVO GASPARANI
Produção
Geral: Sandro Chaim
Elenco:
ALAN ROCHA, CRISTIANO GUALDA, DANIEL CARNEIRO, GABRIEL MANITA, JONAS HAMMAR,
LUIZ NICOLAU, PEDRO LIMA e RODRIGO LIMA
Direção
Musical e Arranjos: Nando Duarte
Direção
de Movimento e Coreografia: Renato Vieira
Cenografia:
Helio Eichbauer
Figurino:
Marcelo Olinto
Iluminação:
Paulo César Medeiros
“Designer”
de Som: Branco Ferreira
Videografismo:
Thiago Stauffer / Studio Prime
Preparação
e Arranjos Vocais: Maurício Detoni
Assistente
de Direção: Pedro Rothe
Cenógrafa
Assistente e Produtora de Cenografia: Marieta Spada
Assistente
de Coreografia: Marluce Medeiros
Figurinista
Assistente e Produtor de Figurino: Almir França
Visagismo:
Márcio Mello
Assistente
de Iluminação: Júlio Medeiros
Diretor
Residente: Cristiano Gualda
Preparador
Vocal: Pedro Lima
Diretor
de Produção: Giba Ka
Gerente
de Produção: Paula Rollo
Produção
Executiva: Felipe Argollo e Lia Sarno
Assistente
de Produção: Débora Rocha
Assessoria
de Imprensa: Ju Mattoni Comunicação
Produtores
Associados: Sandro Chaim e Rose Dalney
Apresentado
por: Ministério da Cultura
Patrocínio:
Sulamérica, Sem Parar, Atlas Schindler e Movida
Apoio:
Tozzini
Transportadora
Oficial: Avianca Brasil
Realização:
RGA Produções Culturais, Miniatura 9, Chaim Produções, Ministério da Cultura
SERVIÇO:
Temporada:
De 9 de junho a 14 de agosto de 2016.
Local: Teatro Clara Nunes – Rua Marquês de São Vicente, 52, 3º
andar – Shopping da Gávea – Gávea – Rio de Janeiro.
Dias
e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h.
Vendas:
Vendas na Bilheteria, sem taxa de conveniência. Pela internet, no site
www.ingresso.com, com taxa.
Mais informações pelo telefone (21)
2511-0800.
Valor
dos ingressos: De R$50,00 a R$120,00 (direito a meia-entrada).
Classificação
Etária: 12 anos.
Duração:
105 minutos.
(FOTOS: DIVULGAÇÃO.)
Muito obrigado Gilberto. Uma crítica completa finalmente! Abs
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