CHÁ
DAS CINCO
(SUPERFICIALIDADE
APARENTE
+
PROFUNDIDADE,
NA ESSÊNCIA
=
DIVERTIMENTO
GARANTIDO.)
Está
em cartaz, no Teatro do Leblon, Sala Marília Pêra, até dia 28 de julho (2016), às 4ªs e 5ªs
feiras, às 21h, uma comédia, gênero
que costuma agradar muito ao público “menos sofisticado”, na visão de quem não
sabe o que é TEATRO.
Dizem alguns
que comédia é para o “povão”, o que considero, além de um grande preconceito,
uma tremenda inverdade e, mais que isso, uma burrice. Bem, até aí, estou sendo
redundante, uma vez que o “pré-conceito”
já é sinal de burrice.
Há
comédias e “comédias”. O humor, o bom humor – não há como escapar – foi, é e
sempre será crítico. Por trás de uma frase inteligente, que provoca o riso,
sempre há uma crítica, a alguém, a algo, a algum segmento social, a alguma
instituição...
A
comédia que faz “rir por rir”, realmente, não merece muito crédito, mas aquela
que provoca o riso e, em seguida, gera uma reflexão (Estou rindo de quê? Há motivos para eu rir?), essa merece a
admiração do público e da crítica, motivo pelo qual estou me dispondo a tecer
comentários sobre o espetáculo “CHÁ DAS
CINCO”, com texto de REGIANA ANTONINI e um elenco de nove
homens, todos vivendo personagens femininos, sobre os quais falarei adiante. Reproduzo,
antes, um depoimento de EDUARDO MARTINI
sobre esse fato: “O público (...) entende que o espetáculo não
é um show de ‘drag queens’, mas sim, uma interpretação feita por homens, que se
vestem de mulher, para mostrar uma hilária história de amor e ódio, de vingança
e traição, cenas da hipocrisia, que existem em nosso país, de maneira clara”.
A peça vem de
uma vitoriosa temporada, em São Paulo, e, aqui, sofreu algumas substituições no
elenco, liderado por EDUARDO MARTINI,
também responsável pela direção, figurino, cenário, iluminação e trilha sonora do espetáculo, além de ser
seu idealizador.
EDUARDO tomou contato com o texto no final
dos anos 90. O papel de MALVA ROSA,
uma das personagens da peça, foi escrito, especialmente, para ele, por REGIANA ANTONINI, com quem o ator já
vinha desenvolvendo uma profícua relação profissional, com destaque para o
sucesso de “O Filho da Mãe”, ao lado
de Bruno Lopes. Acabou ficando com
outra personagem.
Desejou montar
a peça, porém, diante de motivos vários, o projeto foi sendo adiado. Há dois
anos, reuniu recursos próprios e montou a peça, em São Paulo, com atores
locais. Para isso, confessa, com muito orgulho, que juntou todas as perucas e peças
de figurinos de espetáculos anteriores, que tinha em seu acervo, comprou um
carrinho de chá, uma cadeira de rodas e pediu as plataformas, que fazem parte
do cenário, emprestadas a uma empresa. Com, apenas R$2.280,00, o milagre se fez: o espetáculo estreou e ficou um ano em
cartaz, com casas lotadas, no Teatro Augusta.
O exemplo é a prova viva de que não é necessário gastar milhões, para se montar
um espetáculo digno e de qualidade.
Motivado
pela bela carreira que a peça fez em São Paulo, resolveu apresentá-la no Rio de
Janeiro, apesar de todas as dificuldades, ainda sem patrocínio. Pensando num
“up grade”, comprou luzes de “led” e juntou, novamente, tudo de que dispunha e
o milagre se repetiu. E, certamente, apesar de recém-estreado, o espetáculo já
vem sendo sucesso, o que, creio, pode ser,
facilmente, explicado por um simples substantivo abstrato: “simplicidade”. Este poderia, ainda, ser acrescido de mais dois: “verdade” e “naturalidade”.
Dona Campainha e sua fiel serviçal Açucena.
SINOPSE:
A
peça retrata o encontro de nove mulheres, reunidas, para o habitual chá das
cinco.
São elas uma matriarca (DONA CAMPAINHA / EDUARDO MARTINI) e
suas cinco filhas (MALVA ROSA / RUBEM
GABIRA, MADRESSILVA / GLÁUCIO GOMES,
MARGARIDA / AÍLTON GUEDES, MAGNÓLIA / BRUNO TASCA e MIOSÓTIS / CAIO PASSOS), além de uma
neta (JASMIM / DANIEL ALMEIDA), a
empregada (AÇUCENA / TIAGO PESSOA) e
uma “amiga visitante”, DONA CLEMATITE
SOARES / MARCELO SABACK, em participação especial.
Uma família “comum”, como
tantas outras. Mulheres com diferentes personalidades, interesses, porém
movidas, todas, por sentimentos escusos, como ódio, inveja e vingança, que
tentam, inutilmente, dissimular, varrer para debaixo do tapete.
Uma surpresa as aguarda: a
presença de MAGNÓLIA, a filha mais
rica, a mais chique e a mais amada pela mãe, que mora no Japão, que nunca
comparece ao chás e é temida pela família. Ela aparece, na trama, para que seja
revelado um segredo.
Esse encontro apresenta
várias situações a que todas as pessoas estão expostas.
Na montagem, nove homens,
vestidos de mulher, abordam suas diferenças e revelam segredos, com muita
diversão e passagens hilárias, com as quais as famílias convivem diariamente.
Há uma
aceitação unânime do texto, por
parte do público, porque ele é simples e toca, com muita propriedade e
sutileza, nas feridas mal cicatrizadas, presentes em todas as famílias. Faz rir
e faz pensar.
O texto de REGIANA, aparentemente superficial, é muito contundente, provoca
risos e gargalhadas, sob os quais vão sendo revelados traços de comportamentos
humanos que estão bem próximos a nós, com os quais também convivemos, em
família ou em “família”.
REGIANA não complica nada, faz com que
a trama evolua naturalmente, num crescendo, a caminho de um clímax, que nem é
de provocar tanta surpresa. Há um detalhe que vai sendo revelado, nas entrelinhas,
aos poucos, que não causa tanta surpresa, e outro, este sim, mais inesperado,
com a chegada da personagem vivida por MARCELO
SABACK. Tudo no ponto certo, sem excessos, zero de “gordura”.
A direção, de EDUARDO MARTINI, também não procurou inventar a roda. Segue uma
linha muito horizontal, traçando boas marcações, tornando as cenas bem
dinâmicas, sabendo explorar as intenções provocadas ou sugeridas pelo texto e conduzindo
cada ator a uma composição de personagem bem afastada da caricatura e bastante
humana, verdadeira. Percebe-se, sem o menor esforço de atenção ou percepção,
que são homens, ótimos atores, vestindo uma pele feminina, mas não querendo ser
femininos.
O elenco, de uma forma geral, comporta-se
muito bem e não me atrevo a destacar ninguém, uma vez que cada um se sobressai
num aspecto particular, em termos de interpretação e construção da sua
personagem. O conjunto dos trabalhos é ótimo.
É evidente
que um foco maior estará voltado para EDUARDO
MARTINI, que se mantém em cena durante todo o espetáculo, pela composição
de sua DONA CAMPAINHA, a matriarca
da família, que não abre mão do chá das cinco mensal, para reunir as filhas,
muito embora saiba que nenhum deles será diferente do outro. Neste, porém,
acontece um “algo mais”. Ela insiste numa harmonia familiar, que sabe ser
impossível de ser alcançada, porque, no fundo, tem plena consciência dos
motivos que impedem a concretização de seu sonho.
Eduardo Martini.
Dona Campainha.
RUBEM GABIRA, que, no elenco carioca,
entrou no lugar de Hugo Picchi, é MALVA ROSA, a filha “encalhada”, a que
perdeu o namorado para a outra irmã, gêmea. É a mais ressentida de todas as
filhas, porque recebe um péssimo tratamento da mãe, e o corresponde, também, à
altura. Sua maior mágoa é não ter sua dedicação à genitora, que vive numa cadeira
de rodas, reconhecida por esta.
Rubem Gabira.
GLÁUCIO GOMES, substituindo Lécio Rabello, é MADRESSILVA,
a filha gordinha, desprezada e muito censurada pela mãe, esta sempre reclamando
a presença das duas netas naqueles encontros “familiares”.
AÍLTON GUEDES (MARGARIDA)
faz a filha esotérica, que leva tudo para o lado místico. O ator já fazia parte
do elenco paulista.
Aílton
Guedes, em destaque,
contracenando
com Eduardo Martini.
BRUNO TASCA entrou no lugar
de Alessandro Ramos e vive a personagem
MAGNÓLIA, a filha rica, que se deu
bem na vida, mora no Japão, com o marido, um bem-sucedido homem de negócios, e
com a filha, JASMIM, que comparece,
pela primeira vez, ao “CHÁ DAS CINCO”,
papel que, em São Paulo, era vivido por Félix
Graça e, aqui, é interpretado por DANIEL ALMEIDA.
MIOSÓTIS é a “filha adotiva”, a caçula, vivida por CAIO
PASSOS, que substituiu PAULO
TARDIVO, titular do papel em São Paulo. Os “detetives” de plantão devem
atentar para as aspas que dão destaque à expressão “filha adotiva”. Pista dada...
O papel da fidelíssima empregada, AÇUCENA
(nem esta fugiu ao “jardim” da matriarca), é defendido por TIAGO PESSOA, que já fazia a personagem no elenco original.
Tiago Pessoa, em
destaque, com Eduardo Martini.
Por último, temos DONA CLEMATITE
SOARES, uma senhora, “velha visitante”, homossexual, que vai àquela casa,
para pegar uma espécie de “bolsa família”, criteriosamente preparada por MALVA ROSA, por conta de uma, digamos, “dívida”
entre ambas. O papel, em São Paulo, era feito por Blota Filho, depois substituído por MARCELO SABACK, em
participação especial.
Marcelo Saback, em
quatro tempos.
Os elementos técnicos do espetáculo, todos
assinados por EDUARDO MARTINI, são
bem simples e modestos, por falta de recursos financeiros, mas nem por isso
deixam de ter sua importância e funcionalidade na montagem: cenário, iluminação, trilha sonora
e figurinos, estes merecendo um
maior destaque. A ficha técnica não
faz menção a um visagista, em
especial. Creio que cada ator é responsável pelo seu visual. E aí todos acertam
em cheio.
FICHA TÉCNICA
Texto: Regiana Antonini
Direção: Eduardo Martini
Elenco: Aílton Guedes,
Bruno Tasca, Caio Passos, Daniel Almeida, Eduardo Martini, Gláucio Gomes, Rubem
Gabira, Tiago Pessoa e Marcelo Saback (Participação Especial)
Assistente de Direção: Carina Sacchelli
Fotografia: Cláudia Martini
Figurino, Cenário, Luz e Trilha Sonora: Eduardo Martini
Assessoria de Imprensa: Minas de Ideias
Assistente de Produção: Juliana Paltrinieri
Direção de Produção e Administração: Valdir Archanjo e Bira Saide
Produção: Val Archanjo
Produções e U.S. Saide Produções
Realização: Eduardo Martini
Produções
Recomendo o espetáculo a quem quer se
divertir e se emocionar, ao mesmo tempo. E garanto que todos vão voltar
para suas residências com um dever de casa para fazer: repensar a sua própria
família e tentar se despir do que é peso nela, a fim de levar uma vida mais
leve e harmoniosa. Realmente, em família.
SERVIÇO:
Temporada: De 1º de
junho a 28 de julho.
Local: Teatro do Leblon
– Sala Marília Pêra
Endereço: Rua Conde de
Bernadote – nº 26 - Leblon – Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2529-7700
Dias e Horários: 4ªs e 5ªs feiras,
às 21h.
Valor do Ingressos: R$60,00 (Inteira) R$30,00 (Meia-Entrada).
Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a
domingo, a partir das 15h.
Capacidade: 432 Lugares.
Gênero: Comédia.
Duração: 80 Minutos.
Classificação Etária: 12 anos.
Vendas online: Ingresso.com
Aplausos!
(FOTOS: CLÁUDIA MARTINI.)
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