LOVE
STORY
– O
MUSICAL
(“AMAR
É NUNCA TER DE PEDIR PERDÃO”.)
OU
NÃO?
NÃO!!!)
Em
1970, o mundo quase se desidratou, de tanto chorar, com a história de amor
entre um casal, sem final feliz. Era um filme, baseado num romance, chamado “Love Story”, traduzido, no Brasil,
para “Uma História de Amor”,
dirigido por Arthur Hiller, com
roteiro de Reich Segal, estrelado
por Ali MacGraw e Ryan O’Neal.
A
essência do enredo do filme era muito simples e bem pouco original: Um jovem, Oliver Barrett IV, de família
muito rica e estudante de Direito, conhece uma estudante de Música,
Jennifer Cavalleri, apaixona-se por ela e acabam se casando. O pai do rapaz, Oliver Barrett III, porém, não
aceita a nora, por ela ser uma moça de família humilde, e acaba deserdando o
filho. Algum tempo depois, a moça tenta engravidar e não consegue. Procura,
então, um médico, para fazer alguns exames, e descobre que está gravemente
doente, com pouco tempo de vida, acabando em óbito.
Cartaz do filme.
Piegas,
cafona, sentimentaloide ou outra qualquer qualificação negativa que lhe queiram
dar, mas o fato é que o filme se tornou um fenômeno de bilheteria, no mundo
inteiro, e o motivo é um só: o amor e a comiseração são duas molas,
interligadas, que movem o universo humano. Mais ou menos, de uma forma ou de
outra, todos sabemos que “qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer
maneira de amor vale amar”, que todos, ao seu jeito, amam e que é,
indiscutivelmente, sabido que se trata do maior e mais profundo sentimento
entre iguais. E, quando há amor, não importa a forma como ele se nos apresenta,
a comiseração está presente. Quem ama tem pena do sofrer do/a parceiro/a. Pena,
não como aquele sentimento pequeno, que nos leva a achar até indigno da raça
humana. “Não se deve ter pena de ninguém”. Falo da piedade, da compaixão, daquilo
que faz um sofrer pelo outro, querer estar em seu lugar, desejar, para si, a
dor alheia, quando quem sofre é o ser amado. É disso que falo.
Tudo começou aqui.
Quarenta anos
depois, em 2010, aquela que foi considerada, pelo American Film Institute, uma das mais emblemáticas histórias de
amor de todos os tempos (Não sei em que posição ficou “Ghost – Do Outro Lado da vida”.), ganhou uma versão musical, na Inglaterra, escrita por Stephen Clark (texto e letras), com música e letras de Howard Goodall. O
espetáculo teve sua primeira temporada no Chichester
Festival Theatre, em Sussex, Inglaterra, e recebeu críticas tão
entusiasmadas, que, ainda em 2010, estreou no West End de Londres, no Duchess
Theatre, quando recebeu três indicações para o Prêmio Laurence Olivier. O espetáculo ganhou turnês na Holanda e na Rússia (2013-2014), com produções locais. Nos Estados Unidos, teve uma montagem na Filadélfia, em 2012.
Agora, depois
da explosão do filme e do bem-sucedido caminho percorrido, em apenas seis anos,
pela peça, temos a oportunidade de assistir a “LOVE STORY – O MUSICAL”, num palco de TEATRO, no Rio de Janeiro,
em cartaz, até o dia 31 de julho (2016),
no Centro Cultural João Nogueira,
mais conhecido como Imperator, no Méier, bairro da zona norte carioca,
anunciado, numa ótima jogada de “marketing”, como “um
espetáculo que não vem da Broadway”, isso pelo fato, já citado, de ter sua
origem em Londres.
Trata-se
da primeira montagem do musical na América
Latina, tendo sido vertido, para
o nosso idioma, por ARTUR XEXÉO, com
direção de TADEU AGUIAR e assistência
de FLÁVIA RINALDI, direção musical de LILIANE SECCO e com um elenco
de 11 atores e sete músicos.
Um
grande diferencial do espetáculo, em termos de “novidade”, e que vem sendo
motivo de muitos comentários, favoráveis, como não poderia deixar de ser, é o
fato de todos os atores serem negros.
Aqui, já vou deixando bem claro que me recuso a utilizar o termo “afrodescendente”, que considero tão
ridículo quanto chamar “favela” de “comunidade”, “cego” de “deficiente
visual”, e outras tantas bobagens, depois que inventaram o abominável “politicamente correto”. Seria tão
“ofensivo” falar “negro” quanto “branco”, e não estou aqui para perder
tempo com inutilidades, futilidades linguísticas.
Por
oportuno, gostaria de “justificar”, sem que nem houvesse necessidade para isso,
a brilhante ideia da direção em se
decidir por ter, em cena, apenas atores negros. Um amigo de TADEU AGUIAR telefonou-lhe, quando soube
que ele estava para montar mais um de seus espetáculos, sempre grandes
sucessos, perguntando-lhe se não haveria um papel para um seu amigo. Recebeu,
como resposta, a orientação de que o rapaz ficasse atento aos testes e lá
comparecesse, para ser submetido ao crivo dos que selecionariam o elenco. Na ponta da linha, o outro
completou: “Mas há um problema: ele é
negro”. Claro que não havia, ali, nenhum tipo de “problema”, menos ainda de discriminação, por parte do amigo de TADEU; nada além da constatação de que,
infelizmente, há poucos papéis para atores negros, no Brasil. TADEU AGUIAR respondeu-lhe que não
havia qualquer problema, nada que impedisse o rapaz de tentar um papel na peça.
Deflagrado
o processo de seleção, durante a primeira fase do qual a produção recebe currículos e fotos dos candidatos, o diretor observou, após o encerramento
das inscrições, que 70% dos melhores
currículos eram de atores negros, momento em que teve um “insight” e
decidiu que todos os personagens seriam interpretados por atores daquela etnia,
partindo do princípio básico de que o amor não tem cor e de que os autores da
peça não tinham definido que os atores deveriam ser desta ou daquela raça. Se o
espetáculo não fosse bom, não levasse o selo de qualidade das produções de TADEU AGUIAR e EDUARDO BAKR, creio que, só por tal iniciativa, já seria merecedor
dos nossos aplausos. Dos meus, com toda a certeza! Mas, além de tudo, é um ótimo espetáculo!!!
Quase
repetindo a do filme, visto que a versão para os palcos seguiu, praticamente, a
das telas (digo “praticamente”, porque não vi o filme e, portanto, não posso
afirmar), eis a sinopse, bem enxuta,
da peça:
SINOPSE:
OLIVER BARRETT IV
(FÁBIO VENTURA ) estuda Direito, em Harvard, e JENNIFER CAVILLERI (KACAU GOMES) é
estudante de Música, em Radcliffe, uma universidade menos cotada do que a dele.
Ele é riquíssimo e ela é pobre. Ele pratica
esportes e ela toca piano. Mas se apaixonam perdidamente.
A família do rapaz, principalmente o pai, OLIVER BARRETT III (RONNIE MARRUDA)
condena a união.
Mesmo deserdado, OLLIE se casa com JENNY,
vivem felizes, até que uma descoberta muda, radicalmente, seus destinos.
Não
estaria eu sendo sincero, se dissesse que “LOVE
STORY – O MUSICAL” é uma obra-prima, o melhor trabalho de TADEU AGUIAR, como diretor. Seu nome sempre estará ligado aos magníficos “Quatro
Faces do Amor”, “Quase Normal” e “Ou Tudo Ou Nada”, todos,
indiscutivelmente, de qualidade superior à produção em pauta, no meu entender, os quais já lhe renderam um lugar de
destaque entre os grandes diretores de musicais,
sem falar de outros, dos quais participou, como ator e/ou produtor, como é o
caso de “Esta É A Nossa Canção”, “Baby – O Musical”, “Era No Tempo Do Rei”, “My Fair Lady” e “Bilac Vê Estrelas”.
Da
mesma forma estaria sendo injusto, se não reconhecesse que se trata de um ótimo
espetáculo, produzido, ainda que sob muito sacrifício, com míseros patrocínios,
imbuído de muito empenho e cercado de excelentes profissionais, o que gerou um
trabalho digno de recomendação.
Costuma-se
utilizar o termo “água-com-açúcar”
de forma quase pejorativa, entretanto não se pode esquecer que o açúcar é doce
e que esse detalhe “gustativo” é, sempre agradável. Portanto, que fique claro
que o “água-com-açúcar” me agrada
muito, desde que o açúcar não seja adicionado em dose excessiva. Neste musical,
a dosagem é perfeita.
FICHA TÉCNICA (resumida), acrescida de
comentários:
Nem
tanto pelo texto, na sua essência,
de STEPHEN CLARK (texto e letras),
com música e letras de HOWARD GOODALL,
ainda que muito bem traduzido por ARTUR
XEXÉO, agradou-me, sobremaneira, o musical por vários motivos:
1)
A direção firme e criativa de TADEU AGUIAR, dosando a mão no açúcar e
fazendo com que uma história fora dos nossos padrões culturais, latinos,
brasileiros, por excelência, pudesse se vestir de verde e amarelo, atingindo o
público brasleiro. Gosto muito da constante movimentação dos elementos do cenário,
o que concede à peça um grande e agradável dinamismo (as cenas são curtas e
muito bem ligadas umas às outras), assim como de algumas cenas, em especial,
como a do jantar de apresentação da namorada à família do rapaz e a cena final,
sobre a qual não farei comentários, para não tirar a surpresa da última imagem
da protagonista. Só posso adiantar que a morte é apresentada “pra cima”, como o
início, talvez, de uma outra vida.
2)
O bom rendimento do elenco, com
destaque para o casal protagonista, KACAU GOMES e FÁBIO VENTURA, numa bela simbiose, poucas vezes desenvolvidas num
palco. Além deles, SÉRGIO MENEZES (PHIL CAVALLERI, um italiano, dono de
uma padaria, pai de JENNIFER), RONNIE MARRUDA e FLÁVIA SANTANA (os pais de OLIVER),
e mais ESTER FREITAS, RAFAELA FERNANDES, SUZANA SANTANA (quase sem texto, porém interpretando muito, sem verbalizar),
RAÍ VALADÃO, EMÍLIO FARIAS e CAIO GIOVANI.
FÁBIO, infelizmente, andava afastado dos palcos, porém retorna a
todo vapor, interpretando um personagem que, por trás de uma índole pacífica e
romântica, esconde um leão feroz, quando tem de enfrentar a intransigência do
pai, lutando por seu amor e por sua felicidade, chegando a abrir mão de ser o
herdeiro de uma fortuna. Além de seu bom trabalho de ator, é dono de uma voz
belíssima, que valoriza todas as canções de cuja interpretação participa, seja
em solos, seja em duetos com KACAU.
Fábio Ventura.
Com o devido respeito e
pedido de desculpas aos demais elementos do elenco, mas KACAU GOMES
é, sem dúvida alguma, o nome do espetáculo, uma unanimidade. Mais cedo ou mais
arde, a hora de cada um chega. A hora de brilhar. A hora de ter seu talento
reconhecido por todos. Não é de hoje que, por sua voz, KACAU GOMES é elogiada, desde os tempos em que atuava como “back
vocal” para alguns cantores de sucesso. Depois que se decidiu pelo TEATRO, mais propriamente, pelos musicais,
tornou-se uma das nossas mais disputadas e requisitadas cantrizes. Brilhou em
muitos espetáculos, com destaque para “Beatles
Num Céu De Diamantes”, quando era ovacionada, em cena aberta, e que a fez
conhecida e admirada por uma legião de seguidores. À voz, afinadíssima, de um
alcance quase infinito, somou-se um talento de atriz, que foi sendo forjado aos
poucos, até atingir o nível de uma protagonista.
Uma grande protagonista. Uma inesquecível protagonista. A sua hora chegou, KACAU! Paradoxalmente, a personagem, a quem
caberá o “ônus” da morte, apresenta uma vivacidade, um ótimo senso de humor,
uma vontade de viver, um astral tão elevado...
Kacau...
...Gomes.
3) As canções, de uma maneira geral, são muito bonitas, do ponto de vista
melódico, e receberam um bom tratamento, em termos de letras, por parte de XEXÉO. Ganham, ainda, maior destaque
pela interpretação dos atores/cantores e pelo brilhante acompanhamento de uma pequena e magnífica orquestra de cordas,
formada por ANDRÉ AMARAL (piano), ANDERSON
PEQUENO (violino), FÁBIO PEIXOTO (violino), ANDRÉ
DANTAS (violão), MATHEUS PEREIRA (violoncelo), LEANDRO VASQUES (contrabaixo)
e STOYAN GOMIDE (viola), todos sob o comando de LILIANE SECCO, sempre competente, na direção musical.
4) Fiquei encantado com o cenário, de EDWARD MONTEIRO, que causa belíssimos efeitos, valorizado pelo
ótimo desenho de luz do mestre AURÉLIO DE SIMONI.
5) NEY MADEIRA e DANI VIDAL
assinam os figurinos, bem de acordo
com os personagens, a época e o local em que se passa a trama.
6) O espetáculo também é
valorizado pela coreografia, de ALAN RESENDE, que não existe em grande
quantidade, para os padrões de um musical, porém é compensada pela qualidade.
7) GABRIEL D’ÂNGELO, no desenho
de som, caprichou no seu trabalho, para que o público possa ouvir,
distintamente, as falas e as letras das canções, tudo muito bem distribuído
naquele imenso espaço do Imperator.
Excelente a qualidade do som!
8) Não podem ser
esquecidos dois nomes, considerados os dois braços de TADEU AGUIAR, há anos, em todas as suas montagens: NORMA THIRÉ, na coordenação de produção e EDUARDO
BAKR, na produção geral.
9)
A produção é da Estamos Aqui Produções Artísticas.
SERVIÇO:
Temporada:
De 10 de junho até 31 de julho (2016).
Local:
Centro Cultural João Nogueira – Imperator.
Endereço:
Rua Dias da Cruz, 170 - Méier – RJ.
Telefone:
(21) 2597 3897.
Capacidade: 642 pessoas.
Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às
21h; domingo, às 19h.
Valor do Ingresso: R$60,00. (Meia-entrada
para os que, legalmente, fazem jus a ela.).
Duração
do Espetáculo: 100 minutos.
Classificação
Etária: 10 anos. 10 anos
www.imperator.art.br
RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO!!!
Amor!!!
(FOTOS: GUSTAVO BAKR.)
(FOTOS PARTICULARES, FEITAS,
NA SESSÃO DE ESTREIA, POR MARISA SÁ.)
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