quinta-feira, 30 de junho de 2016


GILBERTO

GIL

– AQUELE ABRAÇO

- O MUSICAL

 

 

(“O POETA, A CANÇÃO E O TEMPO”

ou

O GRANDE POETA, A BOA CANÇÃO E O ETERNO TEMPO.)

 

 

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            Aplaudo, sempre, qualquer iniciativa que se propõe a homenagear artistas e personalidades em vida. Como já disse o grande poeta Nélson Cavaquinho, em “Quando Eu Me Chamar Saudade”, “Sei que amanhã, quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom coração. Alguns, até, hão de chorar e querer me homenagear, fazendo, de ouro, um violão. Mas, depois que o tempo passar, sei que ninguém vai lembrar que eu fui embora. Por isso é que eu penso assim: se alguém quiser fazer por mim, que faça agora. (...) Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade. Quero preces e nada mais”.

 

            É por isso que não poupo elogios a GUSTAVO GASPARANI, que idealizou, fez a dramaturgia e dirigiu o musical “GILBERTO GIL – AQUELE ABRAÇO – O MUSICAL”, um belo e comovente tributo a um dos nomes mais importantes da MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, já na casa dos 70 anos, a maior parte dessa existência dedicada à arte musical (50 anos de carreira), nome reconhecido por grandes talentos da música universal e bastante respeitado pelo público, até no exterior.

 

            O espetáculo está em cartaz no Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea), no Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.). Assisti a ele na sessão para convidados, numa 2ª feira, 13 de junho (2016).

 

Quando vou assistir aos espetáculos, sempre tenho, em mãos, um caderninho e uma caneta, para anotar todos os detalhes da encenação, com o objetivo de ser o mais profundo e detalhista possível, nas minhas críticas. Não foi diferente naquela noite, contudo as anotações ficaram apenas na intenção, uma vez que o espetáculo é tão envolvente, provocante, propõe - e consegue - uma troca de energia tão intensa com a plateia, que, com menos de dez minutos de ação, eu e mais de quatrocentas pessoas cantávamos e dançávamos, junto com os atores/cantores/musicistas, numa festa, que não dava vontade de que terminasse.

 

SIM, O ESPETÁCULO É UMA FESTA. E PARA TODAS AS IDADES. Assim, tive de voltar ao Clara Nunes, na mesma semana, no sábado (18) (e ainda quero rever outras vezes), graças à gentileza de Kananda Raia, que reiterou o convite, para que eu me extasiasse, outra vez, com aquela maravilha e conseguisse me conter, a fim de fazer os meus registros escritos. Consegui; em parte.

 

            O espetáculo chega ao Rio, depois de uma brilhante carreira em São Paulo, onde fez sua estreia, e traz, na bagagem, a consagração do público paulistano e o reconhecimento da crítica local. Não é nem será diferente aqui.

 

 



 

 


            Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que não se trata de um musical biográfico, que são ótimos, por sinal – a maioria -, entretanto não foi essa a intenção de GUSTAVO GASPARANI, quando pensou em escrever este trabalho, que traz, no elenco, o mesmo grupo que brilhou em “Samba Futebol Clube”, outro sucesso com a assinatura de GUSTAVO, com tantos prêmios, merecidamente, conquistados: ALAN ROCHA, CRISTIANO GUALDA, DANIEL CARNEIRO, GABRIEL MANITA, JONAS HAMMAR, LUIZ NOCOLAU, PEDRO LIMA e RODRIGO LIMA, em ordem alfabética.

 


 


Atores imitam o jeito, característico, de falar de GILBERTO GIL.

 

 

 

 
 
SINOPSE:
 
A tríade “O POETA, A CANÇÃO E O TEMPO” conduz um musical, que abraça uma carreira consagrada.
 
O espetáculo homenageia os 50 anos de carreira de um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira.
 
Através de sua própria obra, ora falada, ora cantada, por oito atores/músicos multi-instrumentistas, o musical lança um olhar contemporâneo às canções do artista, que refletem sobre seu tempo, a história da música nacional e do próprio país.
 
Na dramaturgia e direção geral, GUSTAVO GASPARANI, que, numa profunda pesquisa, estudou todas as letras, ouviu todos os discos e leu todos os livros publicados sobre GILBERTO GIL, antes de, finalmente, conceber esta homenagem, cuidou de trazer, para o espetáculo, o lugar de risco e ousadia, presente na carreira do compositor, sem deixar de lado a delicadeza, que sempre o acompanhou.
 
O resultado é uma montanha-russa de emoções, que podem ser sentidas pelo público, durante toda a apresentação, em um musical único e imperdível.
 
 

 

 


 


 

 

 

Para dar continuidade a estes comentários, farei uso, com as devidas adaptações, das informações contidas no “release” da peça, enviado pela assessoria de imprensa (Kananda Raia).

 

É muito interessante a estrutura do espetáculo, durante o qual as letras das canções, que vêm sendo cantadas por GIL e seus muitos e ótimos intérpretes, há tantos anos, mostram, além de poesia, o seu lado teatral. São elas que dão o tom dramatúrgico de 11 blocos temáticos, num passeio pela sua origem musical, o movimento tropicalista, a negritude, o amor, a religiosidade, a tecnologia, o futurismo, entre outros assuntos, que marcam as suas composições. Em todos eles, “vida e morte” estão inseridas, como dupla central e indispensável, tal qual o poeta fez em toda sua trajetória.

 

            A sequência dos blocos temáticos é esta: 1) Abertura – O compositor me disse; 2) Impressões à beira do cais; 3) E o mar virou sertão; 4) Os anos de chumbo e a Tropicália; 5) A paz invadiu o meu coração; 6) Negritude e fé – a Refavela; 7) Negritude e fé – o canto dos orixás; 8) A raça humana – dois mil e Gil: uma odisseia no espaço; 9) O poeta, a canção e o tempo; 10) Refestança – Gil de todos os ritmos; 11) A lata do poeta – metáfora.

 

 

De todos os blocos, só faço restrição ao oitavo. Não que eu não ache importante a temática e, menos ainda, que não goste das canções que fazem parte dele; muito pelo contrário. Acho, porém, e algumas pessoas, com as quais conversei, pensam como eu, que a concepção da cena não condiz com o resto do espetáculo. Parece que fica meio “solto”, fora do contexto. Foi meu pensamento primeiro, que ratifiquei, na segunda vez em que vi o musical. Espero, contudo, ainda retificá-lo.

 

 

 


Elenco.

 

 

As canções, em sua forma original, com todos os arranjos, tons e semitons, também não ficam de fora. Ao todo, 55 músicas são cantadas, total ou parcialmente, pelos atores/músicos, os quais tocam 39 diferentes tipos de instrumentos em cena.

 

No espetáculo, em doses totalmente iguais, junta-se o elemento musical com o plástico. A plasticidade é um dos destaques do musical. O toque de multimídia valoriza 100% a encenação. Tudo é “Divino e Maravilhoso”, a começar pelas projeções e os videografismos, trabalho impecável, feito pela equipe de THIAGO STAUFER, que ajudam a ambientar os momentos retratados, além de indicar cada bloco a ser explorado, o que é de grande valia para o público, tudo utilizando alta tecnologia e abusando dos “leds”, em dois telões, em forma de uma cruz “deitada”, assimétrica, detalhe inovador, parte do excelente cenário, de HÉLIO EICHBAUER, que conta, também, com alguns praticáveis baixos, no fundo do palco, e duas “estantes”, nas laterais, nas quais fica boa parte dos instrumentos musicais utilizados. Os outros estão espalhados no palco.

 

Ainda no campo da plasticidade, merecem destaque os lindos figurinos, de MARCELO OLINTO (alguns bordados e aplicações em alto-relevo são belíssimos), voltados para a estética da Tropicália, numa profusão de cores, para alegrar a festa.

 

Um espetáculo à parte fica por conta, mais uma vez, da competência e criatividade de PAULO CÉSAR MEDEIROS, na iluminação. Se há festa, a luz é essencial. Muito brilho!!! “Quanto mais purpurina, melhor”!!!

 

Um dos detalhes mais interessantes da peça é o fato de, em alguns momentos, os próprios atores, dirigindo-se, diretamente, ao público, deixarem seus depoimentos, acerca da importância de GIL em suas vidas e como ele entrou nelas, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. Alguns, em especial, são bastante comoventes. GIL, como poeta, músico, cantor, artista, é, quero crer, uma unanimidade. Imagino o quanto GUSTAVO GASPARANI sofreu, para fazer a seleção musical do espetáculo. Quantas pérolas ficaram de fora, por total falta de tempo, para abraçar toda a extensa e grandiosa obra de GILBERTO GIL!

 

Os trechos dos depoimentos pessoais dos atores e alguns outros, frutos da pesquisa do autor da peça, são os únicos que não pertencem às letras de músicas de GIL (estas correspondem, talvez, a mais de 80% de todo o texto). Tudo, entrelaçado, mistura ficção e realidade e mostra como as produções do artista dialogam com a vida de tantas pessoas.

 

Chama a atenção, também o fato da contemporaneidade da obra de GIL, pois, apesar de muitas das canções terem sido compostas nas décadas de 60 e 70, é como se tivessem surgido agora, de tão representativas da atualidade que vivemos. Seria uma postura “visionária” de GIL, na opinião de GUSTAVO GASPARANI, que gastou parte de seu estoque de criatividade e talento na direção do espetáculo. É difícil dizer que cena é melhor que a outra, assim como – certamente – é impossível apontar qual é a mais bela canção de GILBERTO GIL, seja como compositor único, seja em parcerias.

 

 


O elenco e o diretor.

 

 

Dentre os tantos momento que emocionam e ficam fixados na memória do espectador, registro a cena em que é interpretada a canção “Roda”, encenada em forma de um comício, num tom panfletário, próprio das convocações para a luta contra a repressão, na década de 60. A letra da canção é atualíssima e se presta à excelente concepção de GASPARANI.

 

“Se Eu Quiser Falar Com Deus”, interpretada, em solo, por DANIEL CARNEIRO, é outro momento de fazer com que lágrimas brotem.

 

A execução de “Cálice” é outro motivo de profunda emoção, não só pela interpretação, mas também pelo fato de serem projetadas, enquanto a canção é ouvida, rostos dos atores, misturados aos de tantas vítimas dos porões da ditadura militar, que tanto mal causou ao país. E causa, até hoje.

 

“A Linha E O Linho”, uma das minhas canções preferidas, do vasto repertório de GIL, é outro momento mágico, quando CRISTIANO GUALDA a canta, ao vivo, fazendo dueto com TATIH KÖHLER, sua mulher, em projeção, vídeo, num sincronismo digno de aplausos. Profundamente linda e emocionante essa cena!

 

É muito interessante a ideia da direção, na cena em que os atores, colocados um ao lado do outro, quase no proscênio, em posições diferentes, representam a evolução da vida do Homem, da “Raça Humana” (“A raça humana é uma semana do trabalho de Deus), de GIL, de bebê à idade bem mais velha, que esperamos ele atinja, ao som da canção "Tempo Rei". Um belo trabalho de expressão corporal!

 


 


A cena acima referida.

 


 É claro que poderia citar tantas outras, e cansar os meus leitores, mais do que já possa estar fazendo, porém reservei, como última citação, o momento em que crianças, filhos e parentes dos atores, em vídeo, cantam e brincam de tocar instrumentos, ao som de “Sítio Do Pica-Pau Amarelo”, que marcou a infância de tantos adultos presentes na plateia.

 

Sem, em hipótese alguma, querer apagar, ou diminuir, a importância do homenageado, o elenco do musical merece muitos aplausos. Muitos mesmo!!! É formado por oito atores/músicos, excelentes artistas, que dividem a missão de interpretar, cantar, tocar e dançar, conduzindo, eles mesmos, todos os movimentos de cena. Grandes atores, músicos e cantores! Timbres de vozes bem distintos, todos agradabilíssimos aos ouvidos, sempre bem afinados e combinados. Não ouso fazer – jamais ousaria - um destaque, pois todos são dignos de tal distinção.

 


 


Em pé, da esquerda para a direita: Pedro Lima, Cristiano Gualda (encoberto), Luiz Nicolau e Jonas Hammar.

Embaixo, na mesma ordem, Gabriel Manita, Rodrigo Lima, Daniel Carneiro e Alan Rocha.

 

 

Há um total entrosamento entre o octeto, mergulhado numa sinergia incrível. Quer em conjunto, quer em solos, todos são merecedores da minha total admiração. A parceria entre eles e a equipe criativa é, certamente, a chave para o sucesso nos palcos e nos bastidores. Nota-se muita união e cumplicidade entre todos. E TEATRO é para ser feito em parceria; nada funciona individualmente.

 

 


 
“EU SEGURO MINHA MÃO NA SUA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS FAZER AQUILO QUE EU NAO POSSO, AQUILO QUE EU NÃO DEVO E AQUILO QUE EU NÃO VOU FAZER SOZINHO: TEATRO! MERDA!”
 

 

 


Harmonia, entre eles, é o que não falta. Não são trabalhos individuais; o coletivo está presente, da primeira à última cena, ainda que todos tenham seus momentos de solo, sempre muito bem aproveitados, graças aos talentos individuais.

 

Segundo GASPARANI, “Esse musical é uma colcha de retalhos, de músicas que contam a história da obra do compositor e de como ela afeta e influencia a vida de todos nós. Ficção e realidade se confundem no texto”.

 

É claro que, sendo um musical, é de capital importância uma boa direção musical, que não é o que acontece neste espetáculo. E sabem por quê? É que “ÓTIMA” é mais do que “boa”. O diretor musical é NANDO DUARTE e faz um trabalho irretocável, assim como MAURÍCIO DETONI, no que se refere aos arranjos vocais. O que é produzido, em forma de som, chega, perfeitamente, aos ouvidos do público, graças ao correto desenho de som, a cargo de BRANCO FERREIRA.  

 

Musical não pode abrir mão da coreografia, aqui assinada por RENATO VIEIRA, também responsável pela direção de movimento. RENATO faz um belo trabalho de valorização das canções, explorando a diversidade de ritmos e as temáticas, combinando gestos, passos e marcações, o que gera um excelente resultado.

 

GUSTAVO GASPARANI tinha uma pretensão: “Quis fazer um trabalho que fosse totalmente sensorial. É um espetáculo mais poético, diferente de tudo que já fiz. Espero que o público tenha a mesma experiência que a gente teve ao mergulhar no universo de Gilberto Gil”.

 

Fez, GUSTAVO! Vivenciamos, com certeza, a mesma experiência, sim! O seu espetáculo é lindo, alegre, muito “pra cima”, à altura do homenageado, e eu o recomendo muito e quero trocar mais energia, outras vezes, com aqueles queridos e talentosos amigos em cena.

 


 


Não precisa de legenda.

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Autoria e Direção Geral: GUSTAVO GASPARANI
Produção Geral: Sandro Chaim
 
Elenco: ALAN ROCHA, CRISTIANO GUALDA, DANIEL CARNEIRO, GABRIEL MANITA, JONAS HAMMAR, LUIZ NICOLAU, PEDRO LIMA e RODRIGO LIMA
 
Direção Musical e Arranjos: Nando Duarte
Direção de Movimento e Coreografia: Renato Vieira
Cenografia: Helio Eichbauer
Figurino: Marcelo Olinto
Iluminação: Paulo César Medeiros
“Designer” de Som: Branco Ferreira
Videografismo: Thiago Stauffer / Studio Prime
Preparação e Arranjos Vocais: Maurício Detoni
Assistente de Direção: Pedro Rothe
Cenógrafa Assistente e Produtora de Cenografia: Marieta Spada
Assistente de Coreografia: Marluce Medeiros
Figurinista Assistente e Produtor de Figurino: Almir França
Visagismo: Márcio Mello
Assistente de Iluminação: Júlio Medeiros
Diretor Residente: Cristiano Gualda
Preparador Vocal: Pedro Lima
Diretor de Produção: Giba Ka
Gerente de Produção: Paula Rollo
Produção Executiva: Felipe Argollo e Lia Sarno
Assistente de Produção: Débora Rocha
Assessoria de Imprensa: Ju Mattoni Comunicação
Produtores Associados: Sandro Chaim e Rose Dalney
Apresentado por: Ministério da Cultura
Patrocínio: Sulamérica, Sem Parar, Atlas Schindler e Movida
Apoio: Tozzini
Transportadora Oficial: Avianca Brasil
Realização: RGA Produções Culturais, Miniatura 9, Chaim Produções, Ministério da Cultura
 

 

 


 


 

 


 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 9 de junho a 14 de agosto de 2016.
Local: Teatro Clara Nunes – Rua Marquês de São Vicente, 52, 3º andar – Shopping da Gávea – Gávea – Rio de Janeiro. 
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 20h.
Vendas:  Vendas na Bilheteria, sem taxa de conveniência. Pela internet, no site www.ingresso.com, com taxa.
Mais informações pelo telefone (21) 2511-0800.
Valor dos ingressos: De R$50,00 a R$120,00 (direito a meia-entrada).
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 105 minutos.
 

 

 

 

 

 

(FOTOS: DIVULGAÇÃO.)

 

 

 

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