PALAVRA DE MULHER
(QUANDO A MÚSICA É TEATRO.)
Música é
música; TEATRO é TEATRO; TEATRO MUSICAL é outra coisa.
E o que é PALAVRA DE MULHER, espetáculo em cartaz
no Teatro Maison de France, de 5ª a
domingo (5ªs e 6ªs, às 19h30min; sábados, às 20h30min; domingo, às 18h30min)?
É tudo isso e
muito mais. Resumindo, numa só palavra: TUDO!!!
Tudo
de bom! Tudo de belo! Tudo de emocionante! Tudo de perfeito! Tudo de
alegre! Tudo de leve! Tudo de solto! Tudo de profissionalismo! Tudo de CHICO
BUARQUE DE HOLANDA! Tudo; simplesmente,
tudo!!!
O
espetáculo, aparentemente, é um “show” musical, reunindo três lindas e
talentosas cantrizes - LUCINHA LINS,
TANIA ALVES e VIRGÍNIA ROSA -, para interpretar as canções do maior “macho feminino”
do planeta. CHICO BUARQUE é, sem dúvida, o poeta que mais sabe desvendar o
universo da mulher e projetar o seu lado feminino nas letras que escreve. Sabe expor ao mundo tudo o que vai na alma feminina. Um “homem feminino”, com a devida licença de
Pepeu Gomes. Assim foi, desde o início de sua carreira, e,
até hoje, entrado na casa dos 70 anos, mantém essa característica ímpar, entre
os grandes compositores brasileiros.
Fui
assistir à estreia do espeáculo, depois de algumas frustradas tentativas
anteriores, até em São Paulo ,
e não pensava em escrever sobre ele, por achar que seria um recital de música; ou
melhor, de boa música. Ocorre, porém,
que as letras de CHICO são tão teatrais,
tão carregadas de uma carga emotiva e dramática, que o que me esperava, no Teatro Maison de France, foi ouvir
as lindas canções de CHICO
interpretadas, teatralmente, pelas três cantrizes, impecavelmente em cena, sob
a irretocável direção geral de FERNANDO CARDOSO, que também é o
idealizador do projeto e seu produtor, junto com ROBERTO MONTEIRO.
Tania Alves, Lucinha Lins e Virgínia Rosa
Então, aqui
estou, para falar um pouco sobre o espetáculo.
Mas
não há muito o que falar, sob o risco de ser repetitivo. No palco, o cenário representa um cabaré luxuoso, cuidadosamente projetado pelo
próprio FERNANDO CARDOSO, requintado,
com detalhes que chamam a atenção, como as cortinas brilhantes, em tom de
cinza, e, o que me alegrou os olhos, logo que adentrei a plateia, alguns
vestidos longos, pendurados, bem no alto, à esquerda, realçados pela bela iluminação de WAGNER FREIRE, outro ponto de destaque do espetáculo, além dos
móveis de cena.
Os
figurinos, todos de excelente gosto,
foram criados pelas próprias cantrizes e por CLÁUDIO TOVAR, grande conhecedor do ramo.
Para
acompanhar as intérpretes, um trio de ótimos músicos, que valem por uma
orquestra: OGAIR JÚNIOR (direção musical, piano e acordeão), ROBERTINHO CARVALHO (contrabaixo) e RAMON MONTAGNER (bateria e percussão).
Com
relação aos arranjos musicais, irrita-me um pouco a mania de alguns músicos,
arranjadores e maestros quererem “entrar na parceria” das canções,
descaracterizando a melodia original.
Isso vem sendo muito observado ultimamente, mas, felizmente, não ocorre
aqui. Gostei muito dos arranjos (não
falo com especialista no assunto, mas como grande apreciador da boa música) e,
nas vezes em que o maestro OGAIR
ousou um pouco, conseguiu valorizar mais ainda, se isso é possível, as
belas canções de CHICO.
Graças à direção de movimento, de ALEX NEORAL, LUCINHA, TANIA e VIRGÍNIA, desfilam e deslizam pelo
palco, esbanjando sensualidade e beleza, sem, nem de longe, se aproximar da
vulgaridade, para onde bem poderia correr esse rio, em se tratando de "cantoras
de um cabaré". Não! Tudo é feito com muito bom gosto, requinte e
respeito ao espectador. Até nas cenas de
pateia, das quais, em geral, eu não gosto, TÂNIA e VIRGÍNIA, as duas que descem à plateia, para interagir com alguns
homens, são bem “comportadas” e respeitosas, sem qualquer ofensa e “saia justa”
para os escolhidos. Mesmo assim, faço
restrição a esse tipo de cena, quando penso que a plateia superior dos teatros
perde o que está ocorrendo na parte de baixo.
A
ficha técnica do espetáculo não fala em “desenho de som”, como é hábito
ultimamente, mas cita o nome de KIKO CARBONE, como técnico de som. Então, é a ele que cabem os elogios pela clareza
e pureza do som no teatro.
É
absolutamente impossível estabelecer qualquer diferença no nível de atuação das
três cantrizes. Todas são excelentes
cantoras e atrizes e têm seus momentos de solo e de foco, proporcionando ao público momentos
inesquecíveis de alegria e prazer, para os ouvidos e para os olhos. As três vozes são belíssimas, muito afinadas. As três, igualmente, cantam com o coração. Doação total. Emoção elevada à enésima potência. Cada uma sabe brilhar individualmente e,
ao cantar em duplas ou em trios, são fantásticas.
Não
se pode dizer que LUCINHA, TÂNIA e VIRGÍNIA sejam frequentadoras da mídia, entretanto é ótimo saber
que não foram “fabricadas” por ela.
Mantêm-se com sucesso, cada vez mais, graças ao talento de cada uma, que
não é pouco.
E o que dizer de um repertório que reúne clássicos, como O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE), BASTA UM DIA, TEREZINHA, MEU NAMORADO, TROCANDO EM MIÚDOS, MEU AMOR, FOLHETIM, EU TE AMO, ATRÁS DA PORTA, OLHOS NOS OLHOS, BASTIDORES...?
Para
coroar o sucesso desta montagem, só falta a gravação do espetáculo, em cd e dvd,
já que uma homenagem tão linda e tão bem feita a um dos maiores artistas brasileiros de todos os
tempos, vindo de três outras grandes personalidades da música e do TEATRO, tem de ficar perpetuada, para
que as próximas gerações possam se orgulhar dos nossos artistas.
Saí do teatro
em total estado de graça, com vontade de voltar no dia seguinte. Aliás, a vontade era de nem ir embora. Mas voltarei, com certeza.
(FOTOS: PRODUÇÃO / DIVULGAÇÃO DO
ESPETÁCULO e PÁGINA NO FACEBOOK.)
ADOREI. O espetáculo e a resenha.
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